Running Away From Hell escrita por GabanaF


Capítulo 23
Cap. XXIII — On Their Way


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, como vocês estão? Espero que bem, e que não queiram me matar por causa da demora. Sinceramente? Eu teria escrito esse capítulo em uma semana, mas eu não consegui por que eu não quero que a fic acabe tão rápido KKK Então eu fiquei no dilema de escrever e entregar para vocês ou me sabotar para ficar mais tempo com a fic em mãos.
Mas enfim, eu agradeço a todo mundo que mandou reviews com opiniões, sugestões e tudo mais, muito obrigada mesmo. E bom capítulo para vocês!



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26 de Abril de 2012

Milam Cemetery, Hickman, TN

12:22 PM

— À sua direita, Puck! — exclamava Quinn, tendo problemas com seus próprios walkers para poder ajudar o amigo.

O garoto virou para o lado indicado, assustado, mas antes que ele pudesse reagir, a pequena adaga de Rachel perfurou o crânio do errante com um tiro certeiro de mais de cinco metros de distância.

Rachel abriu um sorriso ao ver o errante caindo aos pés de Puck e acenou para o garoto animadamente, esperando algum agradecimento. Ele apenas deu de ombros, guardando o facão na bainha da calça. Mas Quinn pôde ver Puck revirar os olhos e sorrir logo depois.

Passava do meio dia e aquela era a segunda parada depois de três horas de viagem. Na primeira parada, Santana insistira que queria ir ao banheiro e acabou levando os dois carros a ficarem parados no meio da estrada por quase dez minutos. Brittany teve que apressar Santana com promessas que Quinn sabia que ela não cumpriria.

Como Santana arruinara todo o planejamento de Quinn, e visto que todos acabaram por comer alguma coisa durante o período em que ela estava se aliviando, a garota achou melhor demorar a parar para o almoço — que na verdade não seria um almoço, mas sim uma pequena lata de qualquer vegetal que tinha sobrado.

— Você sempre querendo se mostrar, não é, Berry? — Puck disse, olhando para Rachel com desdém.

A garota riu.

— Você sabe como eu sou, já namorou comigo — Rachel retrucou no mesmo tom, se aproximando e dando um soco no braço bom dele.

Puck reclamou falsamente da dor e foi se juntar ao grupo na beira da estrada, dividindo os vegetais entre si agora que tudo estava livre dos walkers. Não eram muitos, mas Puck e Quinn teriam dado conta fácil se Rachel não tivesse se intrometido.

Eles estavam no meio do nada. Pior do que Horn Springs. Nada, a não ser árvores de um lado e pasto do outro. Se ela estreitasse os olhos, poderia ver alguns errantes caminhando lentamente a uns cem metros dali. Eles não poderiam descansar naquele local, era muito perigoso.

— Por que não vai comer? — indagou Quinn no ouvido de Rachel quando seu cinto de gravidade a puxou para perto da namorada. — Eu ouvi dizer que os pepinos são melhores enlatados.

Rachel riu na curva de seu pescoço. O seu hálito fez os pelos da nuca de Quinn eriçar. Por cima do ombro de Rachel, ela viu Santana as mandar parar com os abraços e beijos, fingindo vomitar. Brittany socou seu ombro e bronqueou, irritada. Quinn somente revirou os olhos.

— Lembra quando chegamos a Horn Springs? — Rachel levantou a cabeça para encarar Quinn, que fez uma careta confusa. — Tínhamos doces, bolachas, bebidas... Macarrão instantâneo! — Rachel sacudiu os ombros de Quinn, os olhos arregalados.

Quinn assentiu, rindo da reação de Rachel. Era verdade. O grupo tinha tudo. Mas aqueles eram outros tempos. A quantidade de alimento diminuíra bastante, a cada cidade ou vilarejo que eles passavam até ali estava silenciosamente aterrorizante. Não havia muito do que salvar dos supermercados ou das casas. Mesmo se eles não chegasse ao tal abrigo de Hanna, precisavam agir, e rápido, para garantir alimentos.

Quinn não se preocupava consigo, e nem com Rachel, na maioria das vezes. Beth era o que geralmente passava pela cabeça dela quando pensava sobre racionamento de comida. Ela era somente uma criança, e todas as crianças precisam de uma alimentação balanceada.

Naquele momento, por exemplo, Puck dava-lhe algumas colheres de seu enlatado. Beth refugava, mas via que não tinha opção e aceitava. Sem leite ou alimentos necessários, como eles esperavam criar um bebê num apocalipse zumbi?

— Quinn? — Rachel estalou os dedos na sua frente, chamando a sua atenção. Ela piscou duas vezes, assombrada; tinha se esquecido de Rachel e mergulhado em seus pensamentos novamente.

Para a surpresa de Quinn, Rachel se desgrudou dela e cruzou os braços, arqueando a sobrancelha de modo questionador. Quinn a olhou pensativamente por um tempo até descobrir que ela era o problema. O que fez depois, no entanto, irritou Rachel ainda mais: sorriu.

— Meu Deus, como posso namorar alguém tão babaca? — Rachel se perguntou em voz alta, fazendo Quinn soltar uma gargalhada.

— Me desculpe, estava pensando no que você tinha dito — Quinn tentou dizer em meio aos risos. Na beira da estrada, Santana e Brittany tinham as testas franzidas para ela.

Quinn suspirou quando Rachel bufou irritadamente e passou por ela decidida na direção do grupo. Puck acenou para ela animado, junto com Beth, e Rachel foi sentar-se ao lado deles. Quinn continuou rindo e foi se juntar a Sam e Hanna, que pareciam os mais silenciosos.

— O que aconteceu? — indagou Hanna curiosa enquanto a garota pegava um enlatado de algum vegetal desconhecido. Quinn estendeu-o a Sam, e o garoto o abriu com um rolar de olhos.

— Nada, mas Rachel vai dirigindo até a próxima parada — Quinn falou desnecessariamente alto para que a namorada, na outra ponta do grupo, a ouvisse. Ao lado de Sam, Brittany bufou.

— Vocês são hilárias — falou Hanna, rindo. Quinn sentiu o rosto ficar quente. — É sério.

— Obrigada.

Eles comeram em silêncio depois disso. Rachel continuou a rir de Beth e suas brincadeiras enquanto os outros tentavam aproveitar o sol que começava a esquentar. Era outra preocupação, mas Quinn preferia deixar aquela de lado. O calor não era tão importante quanto à falta de comida.

Vinte minutos mais tarde, todos estavam embarcados de volta aos carros. No Impala de Puck, Sam dirigia e Hanna continuava no banco da frente. Puck ia no banco de trás entre Harmony e Sugar, que tinham sumido novamente e voltavam segundos antes de Brittany adentrar na floresta. Quinn estava curiosa para saber o que as duas aprontaram na pequena excursão, mas sentia que não deveria perguntar.

Os assentos do Cadillac não tinham mudado, a exceção de Rachel no banco do motorista e Quinn ao seu lado, os pés encostados no porta-luvas e balançando a cabeça no ritmo do rock. Brittany segurava Beth e Santana estava com a cabeça deitada em seu ombro, dormindo.

Típico dia na estrada, Quinn pensou, acenando para que Rachel e Sam ligassem os carros e avançassem.


26 de Abril de 2012

Buffalo River Country Club, Lobelville, TN

01:57 PM

Rachel não gostava do rádio ligado; dizia que ela iria cantar junto com a música e atrapalharia seus sentidos motores. Por essa razão, Brittany agora sentava no banco de trás do Cadillac, com Santana dormindo em seu ombro e segurando Beth, também sonolenta, bem entediada. Quinn dormia de boca aberta no encosto do banco da frente, sobrando para ela uma Rachel muito afiada em suas repostas, e com quem tinha medo de conversar de vez em quando.

Por isso, Brittany permaneceu em silêncio nos vinte minutos que se seguiram, tentando trabalhar com o GPS enquanto sacudia Beth em seu colo até os olhos dela fecharem lentamente. De acordo com o GPS, Germantown estava a menos de três horas. Quinn planejara mais uma parada antes de chegarem à cidade, mas isso não a preocupava muito.

O problema era Germantown. Brittany perguntara à Hanna se ela conhecia a cidade ou que acontecera com ela, mas a resposta foi curta e simples: não. Tirara as informações do diário de Jackson e de algumas fotos que encontrara. Portanto, ninguém sabia ao certo o que acontecia com a cidade. Poderia estar em ruínas ou poderia estar de pé. Era uma problemática que Brittany tinha medo de descobrir.

— Ah! — Quinn acordou em um sobressalto, batendo a cabeça na janela do carro e amaldiçoando o vidro fechado. — Eu... hm...

Quinn olhou para Rachel, que esforçava para manter a expressão séria. Depois, seu olhar voltou-se para Brittany confusamente. Brittany arqueou as sobrancelhas, com a sombra de um sorriso perpassado pelo seu rosto. Quinn corou fortemente e abaixou os olhos. Beth remexeu-se no colo de Brittany.

— O que foi? — indagou Rachel, falhando miseravelmente na sua missão e soltando uma risada.

— P-pesadelo — murmurou Quinn, ainda com os olhos abaixados. — Nada demais.

A expressão de Rachel mudou drasticamente. Brittany também se preocupou — a última vez que Quinn tivera um pesadelo, encontraram a mansão de Sam em chamas.

A buzina do Impala foi ouvida logo depois: Rachel parara o carro, virando-se para Quinn e fitando-a com atenção, analisando suas feições. Brittany olhou para trás e viu Sam saindo do carro. Santana rolou para o outro lado e roncou alto.

— Que tipo de pesadelo? — perguntou Rachel. A outra desviou os olhos. — Quinn! Olhe pra mim.

— Tudo bem aí? — Sam enfiou a cabeça para dentro da janela de Rachel, assustando as garotas. — Por que pararam?

— Nada, eu sonhei que estávamos em Germantown e walkers nos atacaram, o que provavelmente acontecerá, não é? — Quinn falou tudo muito rápido.

Beth se enroscou mais no corpo de Brittany. Rachel estreitou os olhos na direção da namorada, desconfiada. Sam assentiu com o que a garota havia dito, dando tapinhas no ombro de Rachel. Santana, para mostrar seu total apoio à conversa, soltou mais um ronco.

— Claro que vai — disse Sam. Quinn o olhou agradecidamente. — Mas nenhum de nós vai morrer dessa vez. Agora vamos, são quase duas da tarde.

Sam saiu como se fosse o dono da razão enquanto Rachel bufava e ligava novamente o carro. Quinn se esparramou no banco, ganhando um chute de Rachel na canela e soltando outro grito. Brittany analisava a briga de longe, sem se intrometer. Sabia, após um mês preparando o seu casamento ao lado de Rachel, que as coisas podiam sair do controle se interferisse.

Ela não adorava isso, mas admirava. Rachel Berry estava de novo tomando o controle de Quinn e Sam, coisa que não devia acontecer. Ela era a líder do Glee Club desde o início e, mesmo com walkers e novas pessoas na trama, continuaria sendo até o fim.

— Ela tá bem? — Quinn perguntou para Brittany após o término de sua discussão de sussurros com Rachel. Seus olhos estavam postos em Santana.

— Claro que tá. — Brittany cutucou o braço bom da mulher para ter certeza. Santana tentou se afastar com um grunhido. — É o remédio, a deixa com sono.

Ou pelo menos era o que esperava, ela pensou. A bebida da noite anterior ainda deveria estar correndo por suas veias — e a mistura com os últimos comprimidos dos antibióticos de Hanna não deveria ser algo muito bom. No entanto, Hanna a checara na última parada e falara que a garota estava bem. Só restava a Brittany confiar nela.

— Beth está dormindo? — indagou Quinn, virando-se para olhar a filha, descansando calmamente nos braços de Brittany.

— Pelo menos estava — ela respondeu ao notar os olhos de Beth abrindo preguiçosamente.

— Mama — Beth disse assim que avistou Quinn.

Rachel sorriu quando Beth estendeu os braços para Quinn. Ela a pegou facilmente dos braços de Brittany, que respirou um tanto aliviada. Não que não gostasse de Beth, mas mesmo com a falta de alimentos ela continuava a crescer e consequentemente ficar mais pesada.

Brittany sabia que não jamais poderia adotar uma criança. Então, ela se agarrava à Beth; afinal todos tinham que cuidar dela. Ela poderia dizer que ela e Santana eram as segundas mães de Beth, atrás somente de Rachel e Quinn. Brittany se sentia na obrigação de também dar-lhe o carinho e a atenção que a garotinha precisava.

— Tudo vai ficar bem, sabia? — Brittany escutou Quinn dizendo a Beth minutos mais tarde. Sua mulher jazia dormindo profundamente e a namorada de Quinn estava ocupada demais disputando um pequeno racha com o Impala para prestar atenção. Quinn pressionou o corpo da menina contra o seu, murmurando uma canção de ninar. — Vai ficar tudo bem.

Brittany sorriu com o gesto. Por que, de alguma forma, sabia que tudo terminaria bem.


26 de Abril de 2012

Main Lagoon Road, Lobelville, TN

02:30 PM

— O que houve lá? — perguntou Hanna curiosa.

— Quinn e seus pesadelos — respondeu Sam dando de ombros e ligando o Impala. Acelerou-o rapidamente, seguindo Rachel na estrada.

Hanna franziu a testa. Quinn e seus pesadelos era uma resposta muito vaga. Provavelmente Rachel teria surtado porque a namorada não contara o que era e elas tinham parado. Imaginar a expressão de Rachel a fez sorrir minimante.

Ela preferia estar no Cadillac. Não que Harmony, Sugar e os seus atos melosos, ou o som alto de Puck, fossem irritantes de algum modo; ela só queria ficar longe de Sam. Hanna sentia o ar ficar tenso quando eles estavam no mesmo espaço, queria apenas poupar constrangimento.

As coisas estavam confusas entre os dois novamente. Eles tinham se deixado levar pela bebida da noite anterior e se beijaram tantas vezes que Hanna ainda conseguia sentir o gosto dos lábios de Sam nos seus. Era um gosto bom, incrivelmente parecido com chiclete. Hanna poderia não admitir, mas ela queria aquele gosto na sua boca por mais tempo.

Hanna queria Sam; o seu lado bêbado já havia admitido na noite anterior. Queria chegar a Germantown com o garoto ao seu lado — não fraternalmente falando. Naquele momento, sentada ao lado de Puck no Impala, ela sentia a falta dos braços do garoto ao redor da sua cintura. Hanna fizera a última coisa que desejava fazer no meio daquela loucura.

Ela se apaixonara.

Hanna observou Sam pelo canto do olho. Ele olhava, concentrado, a estrada, acelerando sempre que o Cadillac de Quinn o ultrapassava. O garoto estava brincando de racha com Rachel enquanto Puck balançava a cabeça recém-tirada das bandagens ao ritmo do rock pesado e Sugar e Harmony trocavam carícias no banco de trás, sozinhas.

Hanna normalmente o faria parar, citando trinta e três acidentes que vira durante uma aula relativamente traumática sobre trânsito que tivera no segundo período, mas naquele dia não. O sorriso que Sam deu ao ultrapassar Rachel pela terceira vez apagou tudo da sua mente. Ela queria que o garoto fosse feliz. Para isso, no entanto, algumas palavras precisavam ser ditas.

— Sam... — Hanna chamou, um fiapo de voz.

Sam acenou com a cabeça, dando a entender que estava ouvindo, muito embora Hanna soubesse que não. Ele ficava sempre muito focado em alguma coisa quando o interessava. Aquele racha poderia durar até a próxima parada, mas, pensando bem, ela nem tinha pressa em dizer o que sentia mesmo...

Não, uma voz determinada disse em sua cabeça. Tinha que ser ali, no Impala, não importava onde eles estavam ou o que estavam fazendo, a hora era aquela. Hanna respirou fundo — três vezes para ter certeza de que estava pronta —, no entanto, antes que pudesse falar algo, Puck disse:

— Espero que nesse lugar tenha garotas.

Seu tom era tão tristonho que Hanna afundou no banco do carro, vencida, e fez Harmony e Sugar pararam de se beijar para ouvi-lo. Sam desacelerou um pouco; segundos mais tarde, o carro de Quinn passou correndo por eles. Hanna viu, de longe, a mão de Rachel para fora dele fazendo um gesto obsceno para o Impala.

— Vai ter — garantiu Sugar, dando tapinhas de consolo no ombro de Puck.

Hanna estava tão focada na ideia em contar o que sentia a Sam que esquecera que Puck estava sozinho, apenas acompanhado por Beth. A garota ficava na maior parte do tempo com ele, mas aquilo não era de muita ajuda. Puck precisava mais que aquilo, alguém para substituir o furo que a sua antiga namorada — Shannon ou algo assim; Hanna não sabia seu nome — deixara em seu coração.

— Você vai encontrar alguém — disse Sam prestativo, lançando a Hanna um olhar preocupado.

— Ninguém vai gostar de mim com esse rosto deformado. — Puck apontou para a própria cabeça, deprimido. Ainda havia alguns pontos vermelhos em sua cabeça careca, mas Hanna sabia que era questão de dias até que eles melhorassem.

— Eu gosto — retrucou Harmony indiferente, cutucando a cabeça do garoto apenas por diversão. Sugar a repreendeu com um olhar. — É verdade! Você fica mais legal careca. Te dá uma expressão maldosa.

— Obrigado. — Puck deu um meio sorriso, corando.

— É, todas as garotas de Germantown cairão aos seus pés — Sam emendou, rindo.

— Eu apenas quero uma — murmurou Puck. Hanna tinha certeza de que só ela o ouvira.

A frase dele permaneceu na cabeça de Hanna mesmo depois da discussão terminada e Puck voltando a cantar suas músicas. O garoto mudara; Puck não era mais o menino que vivia lhe dando cantada dois meses antes. A bebida, o incêndio... alguma coisa o transformara num homem. Um grande homem. Ela se orgulhava dele, de alguma forma.

— Ei! — chamou Sam de repente, passando o braço por Puck e cutucando Hanna no ombro. — Você queria me contar algo.

O estômago de Hanna deu uma volta completa. Ela jamais deveria subestimar a concentração de Sam novamente. Com a tristeza de Puck, ela pensara que estava livre de dizer o que sentia, que poderia ter outra oportunidade para o tal.

Aparentemente, estava muito enganada.

— Não é nada. — Hanna deu de ombros, fingindo desinteresse. — Uma coisa boba.

— Hanna pensando coisas bobas — comentou Sugar sorrindo —, essa é uma coisa muito estranha de se ver hoje em dia.

— Talvez os tempos estejam mesmo mudando — completou Puck, o senso de humor bobo de volta.

Hanna revirou os olhos, se perguntando quando havia deixado os garotos a zombarem daquela forma. Duas semanas antes, a sua opinião valia mais que de todos. O respeito que aqueles garotos tinham para com ela havia acabado completamente.

— Aposto que não é bobo — contrapôs Sam, os olhos atentos na estrada, enquanto os outros continuavam caçoando de Hanna. — Você pode dizer, somos seus amigos, não?

Sam Evans tinha uma estranha maneira de fazer você, ao mesmo tempo, se sentir um lixo e a sétima maravilha do mundo. Entretanto, naquele momento, Hanna se sentiu como a sétima maravilha do mundo. George era a única pessoa com que se preocupara em chamar de amigo. Em dois meses, ela ganhara sete.

— Eu gosto de você, Sam — Hanna disse rapidamente, sentindo o rosto corar intensamente.

As caçoadas pararam. Sam quase os jogou para fora do Impala ao freiá-lo bruscamente. Por um minuto inteiro, o único som que se ouviu foi as batidas viciantes de Elvis Presley cantando Hound Dog.

— E-eu também... gosto de você, Hanna — respondeu Sam calmo, voltando a acelerar o Impala, já que o Cadillac avançara vários metros.

Pelo retrovisor, Hanna podia ver Sugar contendo o riso. Harmony sorria suavemente a ela, como se aprovasse o que estava acontecendo. Puck, por outro lado, fingia estar incrivelmente interessado nas alças da sua camisa regata.

Era isso, então? Sam a forçara para descobrir o que ela sentia, os dois tinham se embebedado e se beijado durante a noite, para que tudo pudesse ser resolvido tudo em uma frase?

Relacionamentos não eram tão ruins assim, pensou Hanna com um sorriso bobo no rosto.


26 de Abril de 2012

Henderson, TN

03:03 PM

— Vamos, Puck! — incentivou Rachel, levantando o braço do garoto em uma tentativa de subir sua guarda.

A segunda parada do grupo não estava sendo tão divertida quanto a primeira, Santana pensou, observando Rachel tentando ensinar suas técnicas (que ela dizia serem dignas de algum prêmio) a Puck e Sam. Os dois pareciam entusiasmados no começo, porém suas expressões agora não eram as mais felizes do mundo.

Ela e Brittany estavam no banco de trás do Cadillac, esperando o tempo passar. Já haviam descido e andado um pouco, porém achavam que precisavam de algo só delas — afinal, o casamento da tarde anterior fora delas.

Encostada no peito de Brittany, abraçando-a da melhor forma que conseguia no espaço pequeno do banco, Santana sabia que não existia outro lugar para ela na Terra. Ela ainda estava sonolenta por causa da dose de remédios de Hanna, mas a sanidade lhe voltava aos poucos.

Santana sabia que tinha bebido além da conta na noite anterior e tentara fazer coisas com Brittany. Ela suspirou pesadamente no peito da mulher, passando a mão pela sua pele delicadamente, apreciando o que tinha em mãos. Ela se casara. O anel retirado de um walker estava ali para provar. A reunião em Horn Springs, que parecia tão longe nesse momento, também.

Santana desejava ser mulher de Brittany desde o momento que a conhecera. Não tecnicamente — elas ainda eram crianças, tinham tudo para explorar ainda —, mas sabia, lá no fundo, que o seu futuro tinha a ver com Brittany. E, agora, as duas tinham se casado. Tudo parecia tão irreal quanto o mundo em que viviam.

— Está pensando em quê? — indagou Brittany num murmúrio, o que assustou Santana.

— Ontem — ela disse simplesmente, entrelaçando sua mão com a de Brittany quase que inconscientemente. As alianças se roçando fizera um barulho engraçado. — Nós nos casamos.

— É... — A voz de Brittany estava embargada; Santana sabia que ela também não acreditava muito naquilo. — É estranho.

O silêncio voltou a preencher o Cadillac — pelo menos do lado de dentro, visto que Rachel ainda insistia em ensinar a Puck e Sam suas técnicas. Quinn tentava controlar o ânimo de todos, porém sem sucesso. Sobrava Harmony e Sugar, cuidando de Beth, e jogando conversa fora com Hanna no capô do Impala.

Mas o que importava era apenas ela e Brittany. O abraço quente, a respiração calma em seus cabelos, os beijos periódicos na testa... Era o paraíso no meio do inferno. Ela sequer se lembrava de que não fazia sexo em quase um mês. Queria que o resto de seus dias fosse daquela forma, nos braços de Brittany, para sempre.

— Eu sinto muito — Santana sussurrou no pescoço de Brittany, sem querer. — Por ontem à noite.

Santana teve de levantar o rosto para ver a expressão de Brittany, e a encontrou com um sorriso maroto no rosto. Ela franziu o cenho, se perguntando qual era a graça de ter se desculpado.

— Sem problemas — respondeu Brittany ainda sorrindo, puxando Santana para seu peito novamente, afagando seus cabelos. Santana se aconchegou mais na mulher, embora ainda quisesse saber o motivo do riso. — Você é tão boba.

— Por quê? — retrucou Santana, levemente ofendida. Quinn era a única a lhe chamar de boba; Brittany jamais tivera coragem.

Brittany preferiu não responder. Santana bufou impaciente, mas a garota se recusou a falar por vários minutos, somente acariciando os braços de Santana despreocupadamente. Se Brittany não fosse o amor de sua vida, e nem estivesse no poder de suas Cocas, Santana na certa já teria lhe dado um tapa.

— Daqui a alguns dias nós vamos fazer o que você quiser — disse Brittany misteriosa, deixando Santana mais irritada. — Seus ferimentos não estão lá tão ruins mais. Nós vamos chegar em — ela soltou Santana por um segundo para olhar no GPS — duas horas em Germantown. E aí, as coisas vão ficar tranquilas novamente.

Santana tinha que aplaudir o avanço da inteligência de Brittany no meio do apocalipse. Mas ela entendera o que a mulher queria dizer. O significado a atraia, e muito.

— Oi gente! — exclamou Rachel animada ao abrir a porta do carro, fazendo Santana pular do colo de Brittany e bater a cabeça no teto. Seu rosto ficou vermelho imediatamente, enquanto Brittany ria.

— Pega no flagra, hein? — Quinn assumiu o banco do motorista e olhando para Santana pelo retrovisor.

— Cale a boca, Fabray — retrucou Santana, passando a mão pela cabeça e sentindo um galo se formar. — Um dia eu lhe pago por essa.

— Ei, não fui eu! — disse Quinn indignada. — Culpe Rachel.

Rachel socou o ombro de Quinn com força, mas ela não pareceu se importar. Brittany soltou outra gargalhada, o que aliviou um pouco a dor de cabeça de Santana — ouvi-la rir era um dos melhores remédios do mundo.

— Onde está Beth? — indagou Brittany ao conseguir parar de rir.

— No Impala — respondeu Quinn, ligando o Cadillac e seguindo o carro de Puck pela estrada de terra. — Falei para eles que estava muito cheio lá, mas Puck não se importou.

— Falta pouco para chegarmos de qualquer maneira. — Brittany deu de ombros, checando o GPS novamente. Era incrível como aquela coisinha funcionava mesmo depois de tanto tempo, Santana pensou. — Estaremos lá em menos de duas horas.

— Legal! — exclamou Rachel, abrindo um sorriso enorme.

Ela ligou o aparelho de som do Cadillac, colocando uma das fitas antigas do avô de Quinn. Era uma do Elvis, com músicas apaixonadas e completamente bregas. Mas Santana gostava. Por que, quem sabe, dez ou vinte anos depois daquela viagem, poderia contar aos filhos e netos o que tinha passado. E ela se lembraria daquelas músicas, e do grupo, e de Brittany, que estaria ao lado dela até o fim dos tempos.


26 de Abril de 2012

Kylie Gayle Road, Oakland, TN

04:01 PM

— Brittany, onde estamos? — perguntou Quinn curiosamente, andando lentamente pelas ruas, os olhos atentos à procura de algum sinal. Para quê, ela não sabia.

— Em um lugar chamado Kylie Gayle — disse a outra, conferindo o GPS. — A cerca de uma hora de Germantown.

— Vazio — resumiu Rachel ao olhar para fora do carro. Sabia que o que dissera fora óbvio, mas precisava de uma confirmação. Ela virou-se para Quinn e perguntou: — Vamos parar?

— Por quê? — a namorada devolveu, dando de ombros. Depois, a garota apontou para o Impala, que seguia na frente. — Puck não parou.

Rachel estava com uma sensação estranha. Não era os walkers ali perto ou a aparência abandonada dos comércios — ela já se acostumara com aquilo. Era quase uma certeza: eles tinham que ficar em Kylie. Não era noite, e estava muito longe do crepúsculo, porém Rachel sentia que a próxima parada deles não devia ser Germantown; deveria ser ali.

Seria difícil explicar para Quinn, ou qualquer um, aquilo. O grupo não tinha mais como acreditar em visões e sensações — precisavam do fato concreto, precisavam de algo além das suposições dela. Mesmo ela sendo uma das líderes (e a única com experiência nisso, além de Quinn), tinha que aceitar o voto da maioria. Era assim que eles sobreviveriam.

Quinn ainda movia o carro lentamente, como se também estivesse esperando por algo. Ela e Rachel tinham uma conexão especial, um laço que as unia mentalmente. Seus olhares se encontraram rapidamente; a garota logo desacelerou o Cadillac, vencida.

— Por que parou? — indagou Santana, acordando de repente. — Eu não estou com vontade de ir ao banheiro.

— Rachel... — Quinn sequer conseguiu continuar, acenando para a namorada chamar Puck pelo radiocomunicador.

Ei, por que vocês pararam? — Foi o primeiro som que veio pelo radiocomunicador. Harmony parecia preocupada. — Hanna disse que a cidade ainda está à uma hora de distância.

— A gente sabe — retrucou Rachel, engolindo em seco. Como ela contaria seus “sentimentos”? — Paramos por que...

Quinn teve outro pesadelo? — Do outro lado, ouviu-se risadas. Rachel revirou os olhos.

— Não! É o seguinte...

Rachel ia começar a explicar, ia mesmo, mas algo a atrapalhou. Nos segundos seguintes, o radiocomunicador foi tirado de sua mão, sua garganta foi prensada por uma lâmina afiada e sua cabeça foi puxada para fora do carro, mantendo-a presa em uma chave quase mortal.

— Tire as mãos dela! — Rachel ouviu o som da arma de Quinn ser carregada; depois, as armas de Brittany e Santana. Ela só conseguia ver o céu azul-anil, bonito demais para uma tarde em que seria decepada.

Ela não conseguia ver o que ou quem lhe pegara. Tinha certeza de que não era um walker, porque ainda estava viva e sem nenhum sangue jorrando de seu corpo, embora a lâmina em sua garganta estivesse lhe apertando o bastante para começar a sufocá-la.

— O que você sabe sobre pistolas, garotinha? — zombou o raptor de Rachel, puxando os cabelos dela mais forte. Rachel tentou se soltar, mas o aperto era violento. — Já usou uma, por acaso?

Homem, na casa dos 30 anos, Rachel presumiu por sua voz e seu aperto. Ela podia sentir a barba malfeita dele raspando em seus cabelos. Tentou se desvencilhar novamente, porém o cara apertou mais a lâmina contra seu pescoço.

Um silêncio se seguiu, hesitante. Quinn estava calculando tudo, o que deveria fazer para pegar Rachel e quanto tempo levaria até Puck e o grupo chegasse. Eles não deveriam estar longe, Rachel esperava. Porque sentia sangue de sua garganta pingando em sua blusa vagarosamente. A expressão de Quinn deveria estar aterroriza. Ela tentava não mostrar o que sentia, mas a dor em seu pescoço estava ficando terrível.

— O que você quer? — perguntou Quinn, a voz trêmula.

— O que vocês tiverem. — Rachel sentiu o homem dar de ombros. — Precisamos de armas, principalmente. Acho que essa Hi-Power seria de grande ajuda.

— “Precisamos”? — repetiu Brittany, duvidosa. Rachel revirou os olhos; estava morrendo, pelo amor de Deus! Para quê se preocupar com erros de gramática? — Você está em um bando?

— Agora não, mas tenho uma comunidade ao norte — respondeu o homem, a voz tranquila. Pelo jeito, elas não eram uma ameaça grande para ele. — Ouvi dizer que somos os últimos nos Estados Unidos. Bem, até agora.

Ele apertou ainda mais o pescoço de Rachel. O sangue começava a pingar mais torrencialmente. Rachel se preparara nos últimos meses para sua morte, mas jamais chegara a pensar que ela seria nas mãos de um ser humano que sequer podia ver o rosto. Ela torcia para que Quinn atirasse, embora soubesse que a namorada não faria isso. Matar alguns errantes é uma coisa; matar o primeiro ser humano que encontrara em semanas, é outra.

— Solte-a — outra voz ordenou à sua esquerda, e ela reconheceu como Sam. Rachel abriu um sorriso sofrido ao escutar o clique da arma dele, brilhando contra o sol e mirando na cabeça do homem.

O homem soltou Rachel vagarosamente para dentro do Cadillac, erguendo os braços em rendição. Rachel checou o pescoço e encontrou-o com o sangue quase coagulando. Antes que pudesse ver o estrago na sua blusa, Quinn a envolveu num abraço de urso, beijando-lhe a face.

Rachel viu o rosto de seu raptor pela primeira vez: tinha cicatrizes na testa, nas bochechas e uma cortando o rosto praticamente ao meio. Fora isso, e sua expressão de puro desgosto por ter sido rendido por um garoto de dezoito anos, ele era bonito. Tinha cabelos dourados e usava um par de óculos redondos. Suas roupas estavam desgastadas.

— Sam! — Hanna chamou ao longe, correndo desesperadamente para chegar perto do Cadillac. — Sam, não!

O semblante do homem mudou completamente. De contrariedade, passou a surpresa. A cor de seu rosto mudou de amarelo a verde, para depois virar cinza. Rachel notou imediatamente que Hanna o conhecia. Hanna abriu um sorriso a ele; o homem tentou retribuir, porém Rachel pensava que ter uma arma apontada para sua cabeça não ajudava fazer uma expressão agradável.

— Quem é ele? — perguntou Puck, do lado direito de Sam, a arma também apontada para o homem. Rachel continuava dentro do Cadillac, ainda abraçada a Quinn; Brittany e Santana também estavam no banco de trás.

— Hanna?! — O homem finalmente conseguiu falar, surpreso. Os braços ainda estavam erguidos, mas os abaixou quando Hanna passou por Sam e o agarrou num abraço apertado.

— Que porra é essa? — perguntou Santana, o que definia muito bem o que Rachel pensava no momento.

Somente quando as quatro saíram do Cadillac, Hanna limpou o pescoço de Rachel e o grupo todo (incluindo o homem que ela recusava a apresentar) se reuniu em uma igreja perto, que Hanna disse:

— Ele é a nossa porta para Germantown. O nome dele é Joe. Era um dos cientistas do CDC.



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Notas finais do capítulo

E aí, o que vocês acharam? Espero que não estejam começando a pensar na Rachel como alguém meio metida e tudo mais, por que não é a minha intenção mostrá-la assim (se bem que todos nós sabemos que seria mais ou menos a forma dela de agir em um apocalipse zumbi, né KKK)
E eu prometo dar um final feliz para esse grupo, tá legal? KKK Bem, é isso. Os últimos capítulos já estão planejados e até o fim do mês nós teremos o - triste, depressivo e muito aguardado - fim da fic.
Espero que tenham gostado, mandem seus reviews com sugestões e críticas e até o próximo capítulo!