Era festa no Milênio de Prata. A Rainha preparou um baile, comemorando mais um ano abençoado pelos Deuses. O palácio de cristal estava enfeitado em toda sua extensão. As Senshis, a pedido da princesa, iriam naquela noite como realezas, nada de cetros, espadas, nenhum uniforme de guardiã, seriam apenas convidadas.

Venus estava sozinha em seu quarto, acabava de se arrumar para a noite de festa. Colocou o vestido de tecido fino e levemente alaranjado e a coroa Venusiana no topo da cabeça. Depois de anos era estranho se olhar como algum tipo de realeza. Levantou fazendo menção de sair do quarto, mas não sem antes prender a pequena caneta de transformação ao vestido. Sim, havia sido um pedido de sua princesa que ela e as outras Senshis se divertissem aquela noite, mas Venus não se sentia bem com a situação. Se algo ruim pudesse acontecer, que não fosse por displicência dela.

Olhou-se no espelho pela última vez, para sua surpresa, havia uma figura mascarada parada na porta do quarto. Kunzite notou o olhar assustado dela pelo reflexo, tirou a máscara do rosto e mostrou um sorriso debochado. Venus sentiu a face pegar fogo, estava visivelmente vermelha, afinal, há quanto tempo ele poderia tê-la observado?

– Ao que me consta, lady, canetas não combinam com vestidos de festa. - Ele debochou.

– General... - Gaguejou quase que imperceptível – Há quanto tempo está aí e o que faz aqui? Terrestres estão prontamente proibidos de vir à lua! Vocês não fazem parte da Aliança de Prata!

– Eu sei, mas meu príncipe é teimoso e, ainda, é um baile de máscaras. Mas isso não importa, é a única Senshi que ainda não está no salão. - O rapaz apoiou-se na porta. - Sua princesa ficou preocupada e Endymion pediu para que lhe procurasse, não foi difícil, o símbolo venusiano na porta denunciava seu quarto.

– Creio, General, que invadir o quarto de uma mulher seja muito deselegante. - A loira ainda se mantinha de costas para ele. - Ainda mais de uma mulher se trocando.

– Se está preocupada se a vi se vestindo, lady Venus, isso não aconteceu. - Embora a ideia lhe soasse muito interessante. - Porém, deselegante é o seu atraso.

– Desculpe General, mas creio que não marquei hora com ninguém. - Bufou. - Agora, se puder me dar licença, vou terminar de me arrumar.

– Tem toda, mas você ficaria mais bonita se retirasse esse laço, deixe seus cabelos soltos, combinam melhor com a coroa. - Ele saiu do quarto.

Venus encarou o espelho novamente e antes de continuar verificou se ele ainda não estava por perto, já estava ficando desconfiada de tantas vezes que ele desaparecia e aparecia de novo. Olhou o reflexo e soltou o laço, deixando a cascata de fios dourados caírem sobre os ombros, não acreditava que estaria levando em consideração a opinião de Kunzite, riu e corou para si mesma no espelho, ajeitando a caneta presa a alça do vestido. Pegou a máscara vermelha em cima da penteadeira, colocou-a no rosto e seguiu para o salão.

– Está atrasada. - Resmungou Mars.

– Desculpe. - Foi indiferente.

– Perdeu a entrada da família real, Venus. - Mars dizia visivelmente irritada, bastante típico - É um desrespeito!

– Não vamos brigar hoje, meninas! - Serenity se aproximou agarrando as amigas pelo pescoço. - É um ano novo, e temos de comemorar! E tem tudo para ser um ano maravilhoso! - Serenity olhou para Venus sorrindo e mostrando cumplicidade.

– É... - A Senshi sorriu de volta. - Um ano maravilhoso.

As danças foram iniciadas, Serenity logo foi convidada pelo príncipe Endymion, que estava mascarado, os dois rodopiavam pelo salão em meio a vários casais, entre eles as Senshis com alguns soldados da guarda lunar. Venus se recusava a dançar, queria manter-se alerta, não era porque ali havia uma festa, que algo ruim não podia acontecer.

– Vai ficar sentada como uma velha? - Kunzite parou galante a sua frente.

– Apenas não quero dançar. - Ela virou o rosto visivelmente irritada.

– Desculpe o incomodo, mas não posso permitir que se entregue tanto ao trabalho. - O prateado levantou-a com uma facilidade imensa, tirando os pés dela do chão.

– O que pensa que está fazendo? - Venus se debateu no colo dele. - Me coloque no chão, já! Todos irão ver que estou sendo erguida por você! Que vergonha!

– Seu vestido é longo, lady. Ninguém irá ver seus pés erguidos... - Ele a apertava mais contra o corpo enquanto rodopiava pelo salão. - E, além disso, se acha que está passando alguma vergonha, apenas ceda a esta dança e deixe que eu coloque de novo seus pés no chão.

– Você é inacreditável! - Ela bufou e revirou os olhos. - Mas prometa que será só uma dança e nenhuma mais!

– Eu cumpro minhas promessas, acredite. - Colocou-a no chão levemente, sorrindo.

Kunzite encaixou a mão em torno na cintura da loira, fazendo-a sentir um leve arrepio por baixo do tecido fino do vestido, e sua outra mão na mão dela, depois ele a puxou mais para perto, guiando-a pelo salão. Venus apoiou a cabeça no peito dele, fechou os olhos e podia sentir seu coração bater. Era tão calmo e combinava tão bem com o ritmo da música lenta do salão. Ele, por sua vez, sentia o perfume que vinha dos cabelos, um perfume que ele não saberia definir, mas que era tão bom para ele que o fazia sentir-se inebriado. Afastou seu corpo do dela e a fez girar, trazendo-a de volta, mas dessa vez fazendo-a olhar dentro dos seus olhos. Aqueles olhos azuis, como perturbavam seus dias desde que a dona deles havia pisado na Terra e bloqueado seu caminho. Não somente os olhos, mas a boca, os cabelos, o corpo que agora tinha tão perto do seu. Seu corpo todo parecia queimar em brasas, precisava tê-la, precisava dela mais perto e tão urgente. Ela, também, estava ansiosa e precisava daquilo. Era como se uma força sobrenatural os mantivessem juntos, como se mesmo com tão poucas vezes tendo se visto ou falado, tudo se encaixasse.

Kunzite chegou perto o suficiente para sentir a respiração da loira, era descompassada e muito quente.

– Com licença, General. - O rapaz de cabelos loiros e máscara branca tocou o ombro do homem, interrompendo a dança. - Permite-me dançar com a dama?

– Claro, Danburite. - Kunzite consentiu entregando a mão da loira nas mãos do soldado com um sorriso. - Mas já lhe aviso que é arisca!

Danburite colocou a moça em posição de dança, e começaram a rodopiar pelo salão.

– Tem muito tempo que não fica no portão, Venus. - Ele disse.

– Encantei-me pelos jardins, desculpe.

– Pelos jardins... - O loiro revirou os olhos de forma sarcástica não percebida por ela. - Sim, os jardins.

– Prometo estar no portão da próxima vez. - Sorriu para o amigo.

– Venus... Eu realmente sinto sua falta.

– Também sinto a sua, temos boas conversas!

– Posso pedir uma coisa?

– O que quiser.

– Me chame por quem sou não pelo soldado que sou. - Apertou a mão que a guiava. - Adônis, esse é meu nome.

– Tudo bem... Adônis. - Ela sorriu. - Acho que vou me sentar e beber alguma coisa.

– Obrigada pela dança, Majestade Venusiana! - Adônis reverenciou com certo tom de graça.

– Pare de gracinhas! - A loira lhe deu um tapinha amigável no ombro. - Obrigada a você!

– Venus... - O soldado rodopiou com ela nos braços uma última vez e parou a dança, chegando os lábios próximos do ouvido da loira. - Está belíssima esta noite. - Sussurrou, deu-lhe um beijo na mão e saiu.