Ano Novo. escrita por AnaBonagamba
Notas iniciais do capítulo
s novym godom - feliz ano novo.
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Coloque o casaco branco, Tom. - Mary correu e fechou nossas malas. - Branco trará paz e harmonia para nosso lar. Vista-se, e mantenha seus dedos aquecidos. Subiremos em breve.
Tão rápido os tripulantes chamaram os passageiros estes foram amontoando-se pelos corredores com suas bagagens. As crianças gritavam, e alguns adultos também. A ansiedade de minha mãe era tão intensa que passei a achar que desmaiaria a qualquer momento, então dei meu braço a ela e não soltei de nossas malas.
- Deixe que eles saiam primeiro. - orientou-me. Estão com menos tempo que nós.
Assim que o navio estacionou em alto mar as pessoas enlouqueceram. Os mais velhos foram tirados com cautela, enquanto os mais jovens pulavam do convés para a calçada do porto. Cheguei com mamãe numa dificuldade extrema, e a ajudei a descer. A bagagem foi levada em um carro, por mim desconhecido, enquanto Mary conversava com o motorista em uma língua que eu jamais ouvira antes.
O frio ali era cortante. Peguei o recipiente de ferro onde ela guardara as últimas doses da vodka e tomei um gole pequeno. O corpo pareceu reanimar-se e meu coração bombeou mais sangue para minhas veias. Minha mãe voltou, apressada, e tomou minhas mãos nas delas.
- Aqueça suas mãos ou ficará sem dedos. - ela riu. - Tome minhas luvas... não sei porque nunca te comprei luvas.
- Mãe... onde estamos? - perguntei pela primeira vez.
- Até a meia noite você saberá... é um moço inteligente.
- Está frio. - reclamei.
- E ficará ainda mais se não nos movimentarmos. - gargalhou graciosa. - Vamos, vamos... ou as pessoas chegarão primeiro que nós!
- Não verificaremos estadia?
- Só depois da meia noite, querido. - afirmou. - Agora, vamos andando!
As ideias foram amamentando minha cabeça a medida que andávamos, nem nexo, numa calçada larguíssima, cheia de novos rostos e vários desejos de felicidade. Cada pessoa ali trazia uma confiança diferente daquela que eu já estava acostumado, enquanto, de mãos dadas com mamãe, não deixei de assistir, perplexo, os sorrisos e as demonstrações de afeto daquele povo.
Tão diferentes de mim, eles pareciam distantes de si mesmos. Os rostos, mesmo desconhecidos, eram tão familiares que comecei a insistir na ideia de que tudo isso fora um sonho, e eu estava despertando. Mas não queria. Eu não queria que minha única promessa fosse em vão. Apertei mais a mão de Mary Riddle, como se aquela noite fosse a ultima. Caminhamos juntos, de mãos dadas, como se fossemos amantes, amáveis, não filho e mãe. Esse contato me era estranho, esse carinho que ela demonstrava apenas com os olhos, mas nunca praticava em mim. Todos esses anos e ela sabia que estava me perdendo. A vida estava me arrancando dela.
- Mãe?
- Sim, Tom?
- Não importa onde estamos. - falei por fim.
Ela parou no meio da multidão aglomerada e olhou-me perplexa.
- O que disse?
- Não importa pra mim onde estamos agora. - eu disse. - Posso estar em qualquer lugar do mundo se estiver com você.
O povo começou a contagem regressiva para o novo ano e, mesmo sem entender o que gritavam, peguei nas mãos de Mary uma última vez naquela noite e continuei caminhando, rapidamente, procurando por algo que nem ela procurava mais. E ali, no meio de todos embalados em seus casacos compridos e seus olhos marejados, descobri por fim onde eu estava.
Eu estava na Rússia.
- Moscou. - suspirou minha mãe. - Era uma promessa do ano passado... que eu olhasse de perto a pintura que tão arduamente sua avó dedicou a mim.
- Mãe... a catedral de São Basílio?
- Uma das maiores criações do homem.
A multidão explodiu em fogos de artifícios, abraços, gritos de euforia. Mary Riddle deixou que o vento levasse seus cabelos negros para trás de seu rosto, e pude admirá-la como fiz tantas horas observando as cascatas dos lustres de cristal.
- A foto que a senhora observava... era a vovó? - tentei impressioná-la despojando um mínimo de atenção. Mary apenas olhou-me com os olhos molhados, desviando sua visão dos fogos que iluminavam ainda mais aquele palacete religioso.
- Não. Era o quadro que ela pintou. Foi a última coisa que me restara dela, além de minha memória conturbada. - olhou novamente a catedral, e apertou meus dedos. - "Eis um lugar diferente de todo o mundo, Mary, e deves vê-lo antes que eu parta!"
- E você não a cumpriu... a promessa. - conjecturei.
- Promessas mudam. A vida muda, Tom. Estamos aqui hoje e isto é uma prova concreta. É ano novo.
- Feliz Ano novo, mãe. - abracei e deixei que chorasse em meus braços.
- É tempo de mudanças, meu filho... mas o calor de teus olhos sempre serão mais fortes que qualquer cegueira possa nos causar. O amor de mãe é mais forte que isso.
- Até que nossos olhos fechem para sempre, mãe. Até lá.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Espero que tenham gostado...eis um especial, diferente e criativo, "suspiro de ano novo" (como eu o apelidei). Foi um desafio adorável da minha grande amiga Ari_Elric, um presente para minha criatividade.
Eu desejo toda a felicidade do mundo nesse novo ano de 2012, cheio de realizações e muito amor para dar e receber. Que Deus nos abençoe sempre e mantenha-nos unidos, seja por palavras ou desenhos!
FELIZ 2012 (: