Clube Do Imaginário escrita por ShoutOut


Capítulo 14
14 – Um psicopata amigável. Uma música.




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14 – Um psicopata amigável. Uma música. E o romance vem como um Strike.

2ª relato de Ramone Brücke

Monstrinhos, eu sei que demorou, but i am back, don’t worry! Todos aplaudem. [ Me deixe em paz com as minhas loucuras Senhor “sou psicopata” Hetfield]

Acho que devo contar uma coisa para vocês que eu esqueci de falar no primeiro relato que eu sou meio... Ligada demais a emoções, e o que elas proporcionam, e talvez isso me torne estranha para o mundo.

Sou uma garota que escreve versos de músicas no corpo ou em blusas, que usa boinas que nem mímicos, que rouba a bengala do avô para andar que nem o Charles Chaplin e que no principal tem uma mania que ninguém geralmente percebe: desenhar lágrimas abaixo do olho esquerdo, como aquelas usadas em teatros e em alguns palhaços de circo.

Eu acho que adquiri aquilo desde a primeira vez que fui ao circo, nunca consegui desenhar muito bem, não tenho jeito para a coisa, mas eu fazia por paixão a toda aquelas cores e à magia.

No final, adoro arte. Música, teatro, livros, quadros, roupas... Tudo. Tudo tem um significado único para mim, me sinto como uma eterna apaixonada.

Naquele dia era aniversário de três meses do clube, e de alguns dias, ou talvez um mês, não sei, da Detenção.

Só a título de curiosidade, a pichação deu o que falar na nossa escola. Primeiro vistoriaram os armários atrás de alguém que tivesse spray de tinta e a Miranda deu um sermão de quase uma hora sobre isso. A Detenção assistiu a tudo junta, com uma vontade de rir que parecia uma corrente elétrica.

No final, Otto praticamente nos sequestrou para a sua casa e começamos a rir por causa do acontecido.

- Detenção? Que nome genial! –ele falou chorando de tanto rir. – Agora a Miranda está uma pilha de nervos para saber quem fez aquilo, e a pegada? Golpe de gênio! Genial!

No final das contas, nós todos tínhamos virado quase uma família. Claro que o clube era mais unido, porque tínhamos mais tempo de convivência, mas você me entendeu, não foi?

Você pode pensar que nossa vida só tendia a melhorar não é? Primeiro nós sete viramos amigos, depois entra a SSD e a Detenção é formada e tudo mais.

Só que era como uma ilusão de ótica provocada por uma grade. Sim. Na janela do seu quarto tem grade de ferro?

Já percebeu que de longe, às vezes, nós não notamos que a grade está lá, parece que está tudo aberto, que até mesmo uma folha ou um pássaro desventurado pode acabar entrando no seu quarto? Só que ela está lá, e continuará lá imóvel, igual há uma jaula, você pode abri-la, mas uma hora ela voltará a se fechar. Sempre voltará a se fechar. E só há um jeito de se sobressair a jaula, sendo um leão.

E eu acho que conheço algumas pessoas que entendem esse meu pensamento, acho que vocês também monstrinhos.

Continuando, naquele dia teria uma espécie de gincana para os alunos do fundamental, Baco até tinha falado nela uma vez. E no final meus irmãos acabaram indo dormir na casa de uma amigo deles, só que fizeram o favor de esquecer tudo que precisariam para essa gincana dos infernos em casa.

- Vamos lá, filha, faça esse favor aos seus irmãos. – meu pai falou me entregando as duas caixas enormes e o meu skate. – É só até a sala deles.

E então, sangue começou a rolar na minha cabeça, de maneira imaginária é claro, e eu adorei isso.

- Mendokse. – sim, eu estava começando a viciar em japonês também, tudo graças ao Ryuu e aos animes que a Harley estava me fazendo ver, tava começando a falar palavrão em japonês.

- Menta? – sim, meu pai é um humorista e tanto.

Virei de costas e tentei andar até a entrada da escola. Ou melhor. Comecei a tentar andar. Parecia que meus irmãos iriam para uma competição de quem comia mais chumbo.

Eu nem conseguia enxergar para onde estava indo, só papelão, até que alguém tirou a caixa se cima.

- É, ou eu te ajudo, ou você bate de cara no portão de entrada da escola. – Era o Rudy na minha frente apontando para o portão da entrada da escola que estava logo atrás dele.

- É. –sim, eu ainda tinha certo medo dele, acho que foi toda a “pressão” que a minha mãe tinha feito para eu não chegar perto dele.

Ele ajeitou uma das caixas em baixo do braço e ficamos parados num silêncio desconfortável por alguns segundos. Coloquei meu skate em baixo do braço.

- Sala dos meus irmãos...

- Quinto ano não é? – ele movimentou o braço direito com cuidado.

Foi nessa hora que eu percebi alguns símbolos sobre a pele de Rudy. Era em Kanji, um dos três alfabetos japoneses, eu tinha certeza, era...

- Liberdade? – perguntei apontando sem jeito para o braço do garoto.

- É. – ele me olhou meio sem jeito. – Eu queria cobrir a cicatriz com alguma coisa.

- Ótima “coisa”. – falei sorrindo um pouco.

Eu não sei o que me deu, talvez fosse intuição feminina ou só pelo fato dele ter feito aquilo acho que vi outra face de Rudy Hetfield. Rudy parecia o tipo de cara que só fazia uma coisa quando queria de verdade, e liberdade parecia ter um significado forte para ele, assim como para mim.

Seguimos normalmente com do lado do outro só com resquícios de conversa como “Porque você fez isso?”, “Foi na impulsividade, queria algo que tivesse significado pelo resto da minha vida, liberdade foi a primeira palavra que me veio a cabeça”, “Japonês?”, “Gosto da escrita deles”... E nisso fomos parar em música e tudo mais.

Não era um tipo de conversa que eu esperava ter com o Rudy. Definitivamente. Mas é assim que a vida é, não é monstrinhos? Quando você acha que ela vai te dar um limão para uma limonada, ela te dar leite e pó para fazer Nescau.

Alguém esbarrou em mim um pouco antes de chegarmos a sala dos meus irmãos com força, e era óbvio que era de propósito, aquilo sim foi estranho.

Rudy olhou para a pessoa e começou a rir e balançar a cabeça:

- Garota possessiva.

Olhei para trás curiosa. Era a Luna da Detenção me dando língua.

E que história era aquela de possessiva? Será que... Não, Rudy não era o tipo do tipo de cara que pegava garotinhas, mesmo que elas tivessem mais de 1,70 de altura, ou será que era?

- Não é isso. – minha cara devia escancarar o que eu estava pensando.

- Então o que é? – perguntei confusa e curiosa ao mesmo tempo e em dosagens máximas.

- Adotei ela como irmã mais nova um tempo atrás. –ele falou como se fosse coisa mais óbvia do mundo. – Ela é uma amiga. Uma amiga com problemas na cabeça.

- Entendo... – eu não entendia porra nenhuma, quando foi que aqueles dois tinham virado amigos?

Ele só balançou a cabeça de leve, bagunçando o cabelo e continuou a andar normalmente até parar bem na frente da sala dos meus irmãos.

- Garotos... – a fala da Harley era a única coisa inteligível que parecia poder sair da minha boca naquela hora.

Joguei o skate no chão e fui empurrando ele com o pé até a sala.

A única coisa que eu realmente entendia era o meu skate. Meu fiel skate vermelho-sangue.

Deixamos as coisas dos meus irmãos com a professora deles, que eu juro que não lembro o nome da mulher e saímos normalmente.

- Não vou apostar corrida com você nisso. – Rudy se manifestou do meu lado com as mãos nos bolsos.

- Então só assista ao show, te encontro na frente do meu armário, certo? – dei um sorriso involuntário.

Ele acenou com a cabeça. Foi como um tiro de partida.

Eu me sentia como vento passando pelas pessoas, voando por cima de corrimãos, fazendo curvas estranhas. Travando uma batalha contra o tempo e o que era certo.

Se eu fosse uma piloto, que nem a Harley, mas numa corrida de skates, eu seria da Equipe “Sem regras” onde não importava vencer, e sim, fazer o que quisesse.

Quando eu subia no skate, perdia a noção do tempo e espaço, só “Vamos rodar”(No maior estilo Optimus Prime, para a alegria da Harley que parece ser complemente apaixonada por aquele robô alienígena) e pronto. Nada mais importava.

- Ei. – chamei Rudy antes de parar o Skate, mas já tinha o visto encostado no meu armário olhando as pessoas e olhando nada, ao mesmo tempo, era algo dele. – Você é meio avoado sabia?

- Eu só estava conservando energias, observando qualquer coisa da escola. –ele riu baixo das próprias palavras. – Mas eu vi você humilhando o mundo com o skate e o Max sendo protagonista de novela mexicana bem ali. – ele apontou para onde um poste humano quase loiro dos olhos verdes e uma garota com parte do cabelo laranja conversavam.

Novela Mexicana em 3D, era tudo que eu pensava.

- Mas que merda é aquela? – peguei meu skate para guardá-lo no meu armário.

- Sem definição para mim, isso é coisa que só garota consegue fazer. – Rudy falou dando os ombros em sinal de indiferença.

Respirei fundo e disse:

- Esses dois combinam dando que chega a doer na minha cabeça.

Rudy só soltou uma risada abafada.

- Sério, pensei que o Max tivesse mais atitude.

- Quer dar uma de cupido por acaso?

Rudy tinha que aprender que não se deve dar ideias ao diabo, ou seja, eu.

Virei meu rosto devagar para o psicopata, com um sorriso involuntário surgindo no meu rosto.

- Eu acabei de fuder com a vida do Max, não é?

Rudy era um exímio observador, não acham monstrinhos?

- Vou precisar de você como motorista.

Os olhares dele foram de “Como?” e “Você é doida” para “Ah, que se foda”. E depois voltaram a ser aquela coisa neutra e azul que já estamos familiarizados.

- Ei. – ele segurou de leve no meu queixo. – Lágrima?

Percebeu que Rudy Hetfield é um garoto de poucas palavras não é? Eu acho que é por pura preguiça (não só eu, todo mundo que conhece um pouco melhor o psicopata acha isso).

- É só uma mania minha. – falei meio sem graça. – Mas eu nunca consegui fazer direito.

Ele ergueu uma das sobrancelhas e mexeu no meu armário.

- Achava que meninas deixavam os lápis de olho no armário. – ele parecia está falando consigo mesmo, acabei ajudando a achar meu lápis de olho.

- Fica paradinha que nem uma estátua, e depois, só espia no espelho e tenta copiar tá?

Muito, muito, muito estranho o fato de Rudy fazer aquilo. A mão dele se mexia de maneira hábil, como se fizesse aquilo pelo menos uma vez ao dia. Era como se o psicopata tivesse ido dar uma volta deixando outro Rudy, completamente desconhecido por mim.

- Pronto, ajeitei. – ele deu um meio sorriso quase imperceptível, mas eu o vi, e tive uma sensação diferente ao recebê-lo. – Você tem uma mania bem legal.

- Cada doido tem sua etiqueta.  – eu sei, sem um pingo de sentido.

Ele pós a mão sobre a minha cabeça e depois seguiu com as mãos nos bolsos, se tornando invisível com o tempo.

Era como se a luz fosse aos poucos passando por ele e ele virasse parte da atmosfera, nada demais.

The Big Revelation, quando eu vi que na verdade, ele não era nenhum maluco, ou coisa parecida.

Era invisível, mas não um invisível do tipo que virava transparente ou coisa assim, ele fazia parte da luz, parecia uma peça natural da escola. Ninguém sabia o que o movia, ninguém sabia o que se passava na sua cabeça. Ele passava despercebido quando queria. Só que ele fazia parte da luz, era forte, alcançaria vários lugares, sobreviveria no vácuo.

Existia a face invisível, misteriosa, e existia a face psicopata, briguenta, que eu conhecia bem. O garoto era muito paradoxal.

Cheguei a minha sala logo, com minha bolsa logo do lado ainda meio pensativa por causa do Rudy, sei lá, talvez a “doença” da minha mãe de tentar encontrar uma linha de raciocínio lógico para tudo que era pessoa no mundo fosse genética, e mesmo que eu odiasse a lógica, acabasse fazendo isso.

- Porta fechada.  – Teddy alegou apontando para a porta da nossa sala.

Eu nem o tinha visto ali, mas depois, foi difícil não perceber.

- Mas você vai fugir com o circo né, Ramona?

- Ah, não enche. – lindo a primeira pessoa que nota minha mania vai logo zuar com a minha cara.

- Encare isso como um elogio. – ele seguiu na minha frente, indo falar com um dos funcionários da coordenação.

Pergunto-me, até agora, se ele já tinha me notado antes, e se tinha preparado isso a mais tempo porque raramente fico parada com o cérebro travado olhando um cara andar.

Bem, na minha sala eu não conseguia prestar atenção na aula de literatura. Porque era romantismo, e adivinha o que me lembrava?

Quem falou “Max e Valentina”  aperte o botão “idiota” e a mensagem “você só fez adivinhar o óbvio, não vou te dar nada por isso.” Aparecerá.

[ME DEIXA GAR! É óbvio que esse botão não existe, todo mundo sabe]

- Tessie. – eu não aguentava mais. – Eu preciso da sua ajuda.

- Para que? Começar a Terceira Guerra Mundial? Quem morre dessa vez? As patricinhas? – A imaginação daquela garota devia ser estudada pela NASA.

- Quase isso.

Era loucura, das grandes, e eu não tinha um pingo de escrúpulos por pensar nisso, mas o que eu queria era... Ver o Max sorrindo com a garota que ele obviamente gostava.

Acho que criamos uma espécie de superprotecionismo entre nós. Não sei. Não tinha sentido.

- Isso é pior que a Terceira Guerra Mundial. – eu tinha dito tudo a foguinho. – Sabe que vamos precisar de todas as meninas da Detenção não é?

- Essa era intenção desde o começo. – eu sorri, nem sei por quê. – Você está dentro?

- I thought that you’ll never ask. – Tessa estava andando demais comigo, estava começando a pegar minhas manias com falas clichês de cinema hollywoodiano.

Era como se tivéssemos uma música de fundo. Uma muito boa que nos deixava leves como penas que flutuavam com o vento no ritmo da música. Quando nos reuníamos com as outras meninas a sensação pareceu aumentar e virar a bomba de Hiroshima.

Harley parecia feliz por fazer isso pelo irmão, praticamente articulou o plano inteiro sozinha, mas Frank e Samara pareciam ter um talento para isso, algo assim.

- Então, isso vai ser hoje? – Frank perguntou mexendo no cabelo loiro dela.

- Sim, já tenho um motorista para nós. – olhei para os lados, podia dar problemas ao Rudy sem querer. – Rudy vai nos levar.

Fantine riu alto e disse:

- O Psicopata vai se dar bem com esse monte de menina no carro dele.

Luna riu também e balançou a cabeça concordando.

- Logo após a reunião do clube, né? – Harley perguntou. – Vamos avisar aos meninos?

- Podemos precisar do Hansel. – Luna se manifestou. – A não ser que queiram que eu toque.

Olha só, o que a convivência nos faz descobrir. Não é que a Chaminé do primeiro ano (A do segundo era o Hansel e vocês sabem porque não é?) me surpreendia cada vez mais?

- Só vamos avisá-los. – explicou Tessa. – A carona vai ser só nossa, isso é coisa nossa.

Samara olhou para trás, o que me assustou um pouco porque era realmente parecia a Samara Morgan e disse:

- Mas o melhor agora é nos separarmos, Hansel e Marcos estão olhando para nós como se estivéssemos planejando o assassinato do presidente.

Que coisa mais linda.

- Beleza, separar, eu vou falar com o meu irmão e vocês avisam aos meninos e falam com o Rudy. – Harley falou séria, ela parecia um menino nessas horas.

            Não me lembro de mais nada que tenha acontecido naquele dia antes do encontro do clube.

            Sim, ainda aconteciam os encontros, só que eles eram muito relevantes, mal lembramos deles porque nos sentíamos presos dentro daquela sala onde mentíamos até que ficarmos sem forças.

            Só que aquele foi diferente por um simples motivo: Max levou sua bola de basquete para lá e ficou quicando a bola, ou a girando. Eu e as meninas ficamos conversando num canto, enquanto os meninos faziam a roda da testosterona logo do nosso lado, mas o Max...

             Ele ficou calado o tempo inteiro olhando para a bola. Eu quase conseguia ver seus olhos verdes funcionando como um telão de lembranças.

            Foi um daqueles momentos que você vê alguém sofrendo, está óbvio que algo a afligi e você não pode fazer merda nenhuma só ficar parado, tentar limpar a mente e seguir em frente.  É um daqueles momentos que você se sente um inútil e você realmente é um inútil.

            Harley era presa às pistas pelo pai, tinha a obrigação de estar lá. Max tinha a alma nas quadras, amava o basquete e o hóquei, e não podia voltar a jogar. Como o Garrett: sinta a ironia negra no ar.

            Senti pena do poste loiro [Sim, é seu novo apelido, Max] por um tempo.

            “Espero te ajudar, Max.”

            Sei que quando temos aquela sensação de falta de algo, nada ajuda, nem beijar aquela pessoa que você queria a muito tempo, mas podia fazê-lo sorrir por mais tempo, tornar tudo mais suportável e talvez ele superasse a falta dos esportes.

            “Talvez, vai ser uma questão de talvez” – eu mesma respondi meu pensamento anterior.

            Sei que a ideia começou comigo, mas nunca pensei que acabaria acontecendo tudo aquilo.

            Rudy foi comigo pegar todas as garotas, menos a Harley(essa já tinha ido com o Max), num carro vermelho-sangue muito bonito  [ Lá vem os Wikicarro] segundo Harley, Gar, Max e Rudy o carro é da Chevrolet, o nome dele é Impala e ele foi lançado em 1958.

            Na boa, vocês precisavam mesmo saber disso? Eu precisava saber disso? É exatamente como trigonometria, eu nunca vou usar o fato de saber o modelo do carro do irmão do Rudy para algo útil na minha vida. Mas ok, vamos deixar os Wikicarro felizes.

            - Carro do meu irmão, roubado na maior cara de pau do século com a carteira de motorista dele como brinde, serve? – ele falou me olhando com uma das sobrancelhas erguidas.

            - Claro. – sorri.

            Rudy não era um psicopata, mas era maluco de pedra, isso eu tinha certeza.

            Fomos pegar as outras meninas e a iludida Valentina.

            “Noite das meninas em pela uma quarta-feira no boliche da cidade com um garoto gigantesco como motorista.”

            Eu sei, é claro que Tessa não disse isso para a coitada (a foguinho usou outras palavras que só elas duas entendem e que para mim fazem parte do dialeto grego) porque ela quase caiu para trás quando viu o Rudy ao volante, mesmo assim, não acredito que ela caiu que nem um patinho nessa história.

            Foi fácil achar a Harley. Se você encontrasse um ponto azul com uma blusa com figuras douradas de símbolos de filmes hollywoodianos famosos, não tinha nem o que pensar.  

            Era como achar uma barra de chocolate no meio de uma bomboniere.

            - Olha a Harley está ali. – Luna falou com o maior sorriso “Sou o diabo em forma humana” que tinha.

            - Devíamos ir falar com ela. – Rudy acompanhou Luna colocando o braço com a tatuagem sobre os ombros dela e dando o mesmo sorriso. 

            Literalmente, eles pareciam irmãos quando viravam personificações do diabo.

            Foi algo rápido que provavelmente deixou a Vale tonta. Chegamos lá normalmente e Max surgiu das pistas segurando uma bola meio colorida que ele tinha dito que se chamava Galaxy.

            Harley adorou aquela bola, parecia garotinho quando ganha uma coleção de carrinhos da Hot Wheels.

            Max cumprimentou a todos e até nos chamou para jogar. Rudy, Luna e Samara aceitaram, acabei indo com eles.

            Era a hora da primeira parte do plano.

            Tínhamos que nos tornar invisíveis, nos distanciar o máximo para que eles esquecessem que estávamos ali. Harley também tinha que fazer isso.

            - Minha. – Ela falou puxando a jaqueta do garoto com força para colocá-la sobre os ombros.

            Não é que logo ela, que tinha medo dele, tinha virado amiguinha do Hetfield? Isso pedia pensamentos inúteis sobre besteiras que muitas chances de vir a se confirmar.

            Segunda parte era só: tempo.

            Tínhamos que deixar eles sozinhos, isso foi fácil, e depois deixar eles com a verdadeira sensação de estarem sozinhos.

            Frank, Tessa e Fantine resolveram andar pelo boliche para despistar mais, deixando só eu, Luna, Harley e Samara com Rudy do outro lado do boliche, longe dos olhares do casalzinho.

            - Vamos jogar. – falei depois de uns dez minutos de puro tédio só olhando Samara sentada numa mesa olhando para todo mundo com aquela cara de assombração.

            - Vou só assistir. – Harley estava largada do meu lado. – Eu sou péssima nisso, só falto partir o chão ao meio.

            Luna riu alto, provavelmente imaginando Harley quebrando o chão com a bola Galaxy e Rudy cruzou os braços sobre o peito e falou a frase que sentenciou a loucura inesperada que estava por vir.

            - Você é tão medrosa

            Nunca, nunca, nunca, jamais, em hipótese nenhuma, desafie uma garota que é piloto de kart. Essas meninas parecem que toma energético a base de loucura.

            Harley foi a terceira a jogar, e quase fomos expulsos quando ela jogou.

            O lugar era bem grande, sabe? Eu acho que cabia a quadra poliesportiva do meu colégio lá dentro, afinal não era só boliche ainda tinha uma lanchonete do lado com música ao vivo.

            E ela conseguiu fazer um barulho que deve ter sido ouvido de fora do boliche e acertou na pista ao lado da nossa, não na nossa.

            Eu estava vendo uma daquelas cenas de fim do mundo onde tudo começa com um som grave enorme ai vem, sei lá, o Godzilla e mata todo mundo. Todos os funcionários do boliche nos olharam com raiva, eram segundos para que o gerente parecesse.

            - IDIOTA! Quer que seu irmão nos veja? –perguntei revirando os olhos.

            Aquela garota tinha algum problema, só podia.

            - Pensei que tinha rolado um tiroteio lá fora. – Samara se manifestou.

            Fui me sentar ao lado da Samara, estava com sede, então aconteceu.

            Rudy foi buscar a bola que Harley quase parte ao meio jogando-a no chão e disse algo no ouvido dela.

            Com uma mão ele prendeu seus corpos deixando quase nenhum espaço entre eles, com a outra colocou o cabelo dela sobre o ombro oposto ao que ela segurava a bola e foi colocando a mão sobre a dela, que estava um pouco trêmula.

            Vi Harley vacilar um pouco, qualquer uma vacilaria, colocou um pouco a cabeça para trás, provavelmente de olhos fechados porque vai saber o que ela sentiu [Acho melhor você nem contar Harley].

            Teve uma hora que eu pude jurar que os dois se beijaram. Rudy segurava Harley com tanta força que parecia querer unir os dois em um só corpo.

            Eles se mexiam com uma sincronia incrível. O que um tinha de leve, o outro dia de pesado, a habilidade que um tinha o outro não tinha. Um perfeito ying-yang que só podia resultar em um strike.

            Harley deu um pulo de felicidade e depois pulou de novo para se agarrar ao pescoço do psicopata.

            - Infinito. – Samara sussurrou.

            Eram infinitas as chances daquilo não acontecer, as chances de estarmos delirando, do destino ter endoidado de vez, de tudo está errado.

            Tudo, parecia infinito, até um nanossegundo, e isso que deixava aquela atmosfera de luta contra a realidade no ar. E isso que deixava tudo cada vez melhor.

            - Hey. – Tessa nos chamando me assustou um pouco. – Acho que vamos ter que empurrar os dois ali, eles mal se mexeram esse tempo todo.

            - Meu irmão não sabe lidar com mulheres mais velhas. – Harley falou revirando os olhos. – Ainda mais se gostar dela, morre de medo, aquele bunda mole.

            Rudy ficou com uma cara pensativa por alguns segundos e disse:

            - Música.

            Todas olhamos para ele surpresas.

            - Só foi uma sugestão.

            Esperamos mais algum tempo, acho que foram uns vinte minutos, talvez Hansel aparecesse e resolvesse isso, o garoto tinha um dom para música eu não podia negar. Mas parecia que ele tinha evaporado e só quem apareceu, dos meninos, foram Teddy, Baco, Ryuu, Garrett e Marcus.

            - Luna. – Harley chamou a garota de cabelo com cara de sorvete napolitano tão séria que me deu medo. – Acha que consegue um violão ou uma guitarra emprestado com aqueles caras ali?

            A garota só saiu andando normalmente em resposta. Planejando algo que ninguém poderia saber.

            [Sim, eu tenho medo da Luna, Rudy]

            - O que você vai fazer? – perguntei confusa. – Não vai me dizer que a Luna canta?

            Harley sorriu e saiu andando.

            Foi um sorriso que foi brotando aos poucos, mas no final parecia que ela tinha virado algo sereno e forte como o mar.

            Acho que você deve está pensando que eu deveria ter descrito o lugar onde estamos, que placar os jogos tiveram e tudo mais.

            Não. Assim está bom.

            Harley subiu no pequeno palco olhando para baixo pensativa, parecia estar procurando em algum lugar alguma coisa, não sei dizer ao certo.

Max e Valentina acabaram vindo para perto de nós, provavelmente porque Max viu a irmã indo par ao palco e nós estávamos bem próximos a ele.

Ele não falou nada, só colocou o braço sobre o ombro de Valentina e olhou para a irmã com um sorriso bobo no rosto.

            - Eu pensei que nunca mais fosse ver isso. – Max falou olhando fixadamente para a irmã.

            Harley segurou no microfone, um pouco envergonhada a principio e então o baterista do local começou a tocar. Era Shine do Mr. Big, uma boa música, cantada por uma garota que amava o irmão e o queria feliz.

            Pessoas começaram a dançar e as que sabiam a letra cantaram junto, nossos cérebros estavam desligados e parecia que uma força sobrenatural nos guiava nos arrancando sorrisos. O tempo parecia ter nos dado um momento a todos para que esquecemos do que nos afligia e só... Brilhar.

            E é assim como acontece.

            Você nunca vai saber exatamente o que fazer, ou talvez fique nervoso sem motivo, ou simplesmente faça como nós fizemos e demita a razão e tudo mais e só diga ou para “O aquilo”.

            Sim, pode ver, depois que qualquer pessoa vive um momento como aquele vai pensar nesse como aquilo. É porque definir coisas as deixa fracas. “O aquilo” não tem definição. Você pode até tentar defini-lo de um jeito que o deixe como ele foi, um verdadeiro paradoxo prazeroso que foi eterno, mesmo que só tivesse durado o tempo de uma música.

            É, eu sei que o nosso “Aquilo”, daquele dia, com Max finalmente beijando Valentina quase no final da música, Garrett e Rudy sentados em cima de uma mesa fingindo ser o baterista, Baco e Marcus comendo uvas, Teddy e Ryuu dançando com as meninas e tudo mais o que aconteceu vai virar história algum dia. Tudo o que aconteceu conosco vai virar história para alguém, e talvez essa pessoa nem acredite quando escutar.

            Só que naquele momento, poderíamos dizer que estávamos vivos, que mesmo estando nessa merda de mundo, estávamos vivos contra tudo e todos.

            E isso que nos fez sorrir naquele dia.

Últimas palavras deste relato:

            “Shine on this life that's burnin' out”

            Mr.Big conseguiu resumir em uma frase o lema da impulsividade.

            Por isso que eu digo que música é um presente deixado no meio do caos para que sejamos plenos por alguns minutos. Algumas pessoas, sortudas, a fazem para outras pessoas e nisso fica continuamente.

            A vida inteira é como uma orquestra, onde músicas sempre estarão tocando fazendo a trilha sonora.

            Então, faremos um bom refrão, que fique na cabeça das pessoas que diga “Isso é viver, não é uma rotina que parece ter 


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