- E aí? Tá pronta? Credo, mulheres enrolam - Lauren disse.

- Olha quem fala. Era eu que estava te esperando até agora, tá?

- Tá pronta?

- Tô. Só vou pegar as chaves.

Ele revirou os olhos.

- Devia ter ficado de toalha mesmo.

- Cala a boca. Vamos.

- A gente vai no meu carro ou no teu? - ele disse rindo.

- Para de fazer piada, Lauren!

- Como uma milionária não tem um carro na garagem?

- Falta de tempo?

- Mentira!!!

- O que foi então?

- Saudade do meu Beatle. Pronto, falei.

- Vamos, loirinha.

Entramos no cinema umas oito da noite. Só tinha filme romântico. Mas Lauren não tava nem aí.

- A gente não vai assistir mesmo - ele disse, rindo.

- Como assim.

Ele me olhou, de cima a baixo, perverso.

- Vamos estar muito ocupados lá no fundinho.

- Que horror, Lauren.

Sentamos. O filme já tinha começado.

Ficamos lá no fundo ( nas últimas cadeiras, lá no canto) do jeito que Lauren queria.

Olhei pro filme. Mais um daqueles romances melosos. Ok, eu adoro romances. Mas alguns são muito exagerados. E alguns misturam comédia, esses ficam quase inassistíveis.

As cadeiras estavam quase vazias, e nas que estavam ocupadas, tinha gente se beijando. A julgar por Lauren, percebi que a ideia dele era a mesma.

Duas fileiras à frente, vi uma cena chocante. Um garoto com duas garotas, e os três se atracavam brutalmente, como se o cinema fosse um motel, ou algo do tipo.

Pior não foi isso. Pior foi quando percebi de quem se tratavam.

- Para tudo, Lauren - sussurrei, chocada.

Ele me olhou, com aquela cara "zen" dele que me dá nos nervos.

- Não dá. Cinema não tem pause.

- Não, seu besta. Olha aquilo ali na frente.

- Wow. Três se agarrando. Que divertido.

Dei um tapa no ombro dele.

- Eu conheço - eu disse, revirando os olhos.

- Quem são? - ele perguntou, indiferente.

-  Taylor, Alexia e Ness. Também conhecida como Vanessa Frankie. A número dois do Clube que fui stripper por um dia.

Ele olhou de novo.

- Aquele ali então que é o filho da puta que te fez sofrer? - ele disse, irritado.

Eu ri.

- Sim. Ele é o filho da puta.

Ele deu de ombros, sério.

- Então tomara que a loira tenha AIDS.

- Que horror, Lauren. não se deseja o mal a outra pessoa.

Ele riu, debochado.

- Falou a santa da caixa de leite estragada.

- Isso é diferente.

- Jura? - ele perguntou, tentando me entimidar com os olhos.

Dei de ombros.

- Pelo menos me arrependi.

- Se arrependeu mesmo?

Não quis responder à pergunta. Pois nós dois sabíamos que a resposta era não. Por mais que eu tenha quebrado a cara com Taylor, e me rabaixado ao nível dela, foi a única vez em que não me arrependi de ter feito mal a outra pessoa. Descarreguei nela tudo que ela havia feito comigo por alguns anos.

Sou um montro por isso? Sou? Então que se dane.

Suspirei.

- Que foi? - ele perguntou.

- A cada vez que olho pra frente, fico enojada.

Ele sorriu.

- Então acho melhor a gente sair. Esse filme é horrível mesmo.

- Acho que estraguei nosso primeiro encontro.

- Não. Foi o filho da puta, a puta e a loira. E eu sempre tenho um plano B.

Já íamos saindo do cinema, quando Taylor chamou:

- Ashley?

Eu devia ter seguido em frente, fingir que não ouvi. Mas, por algum motivo, parei. Parei. Assim, do nada, como uma estátua.

Ele levantou rindo, e veio na minha direção.

Lauren me puxou, e me levou pro lado de fora, mas Taylor no seguiu, junto com Alexia e Ness.

- Espera aí, princesa - ele disse, em tom de deboche - Não vai falar com seu amiguinho, não?

Mentira que ele queria começar com aquele jogo ridículo de novo. Da última vez, ele quis fingir que éramos um casal perfeito. Agora, ele queria ser meu "amiguinho"?

Olhei pra Lauren. A cara dele não era muito boa. Parecia rosnar, com os punhos fechados e apertados, como se quisesse socar a cara de Taylor ali mesmo.

- Eu até iria te comprimentar, "amigo". Mas você parecia muito ocupado e eu não queria atrapalhar.

Ele ficou me encarando, com um sorriso forçado.

- Sabe que você é sempre bem-vinda a interferir na nossa reuniãozinha. Sei que você adora uma rapidinha.

Lauren avançou, e eu o segurei. Discutir com Taylor era perda de tempo. Ele é complicado, adora ver o circo pegar fogo. E agora que finalmente a fama de "bonzinho" dele havia acabado, ninguém mais o via da mesma forma. E o pior é que ele achava bom.

- E você? Quem é? - ele perguntou, olhando para Lauren.

- Sou o namorado dela. Lauren Manson - eu o olhei, pasma. Ele tinha acabado de dizer que era meu namorado.

Namorado...

Taylor riu.

- Mais uma peça sobressalente, Ashley? Ainda bem que eu fui o primeiro. Aproveita, Lauren. Aproveita enquanto essa prostitutazinha ainda não tá rodada.

Dessa vez não teve quem o segurasse. Lauren jogou Taylor no chão e o encheu de chutes. Taylor, que havia sido pego de surpresa, não conseguia se defender.

Por fim, Lauren deu um soco bem dado no olho.

Taylor ficou gemendo, jogado no chão, enquanto Alexia e Ness o olhavam, chocadas.

- Vamos, Ashley. Vou te levar em um lugar melhor.

Já eram uma nove horas da noite. Todos os restaurantes da cidade estavam lotados. Parasse que todo mundo resolveu jantar fora aquela noite.

-Já sei - Lauren disse - A gente pede comida chinesa e come na praia.

- Na praia? A essa hora?

- Sim. O que é que tem? Ninguém vai te fazer mal enquanto você estiver comigo. Eu não vou deixar.

Até hoje (como se fosse muito tempo) essa foi a coisa mais linda que ele me disse.

- Tudo bem - eu disse, tentando esquecer o que tinha acabado de ver: Lauren acabando com Taylor, como se fosse a coisa mais fácil do mundo.

Estávamos sentados na areia. A comida ainda não havia chegado. Um grupo de amigos, ali perto, estava rindo, com violão, foqueira e marchmallows.

Lembrei-me de quando eu era apenas uma aluna do ensino médio, e que a única coisa que me preocupava era a roupa que eu ia usar no baile de formatura.

- E aí, me fala - Lauren disse, me encarando.

- Falar o que?

- Fala alguma coisa da sua vida.

- Por quê? - perguntei, confusa.

Ele riu.

- Porque quero saber tudo sobre você. Por mais que você só me conheça há dois dias, eu penso em você há semanas e é como se eu quisesse passar a eternidade com você. Só não te digo isso, só faço essa de quem não tá nem aí pra isso, porque sei que você não tá muito certa sobre isso. Por mais que você minha pra mim e até pra você mesma, sei que   você tá confusa. E a gente tem que se conhecer e confiar um no outro pra isso dar certo.

Eu sorri. Simples assim. Lauren não usa muito as palavras, normalmente é só pra falar merda, mas quando as usava pra ser sincero, assim como ele tinha sido agora, ele me cativava. Cada vez mais. E, mesmo parecendo loucura (já que eu conheci ele ontem) eu meio que já sentia alguma coisa por ele. De verdade.

- Isso é tão estranho, Lauren. A gente tá indo tão rápido, e ainda assim, eu me sinto tão... Tão confortável... E é muito confuso... Muito. Eu fico pensando... Santo Deus, eu tô ficando louca? Porque um dia desses eu juraria que Taylor era o único que me importava. No mundo. Depois me apaixonei por Nathan. E descobri que amava ele. De verdade. Mas como amigo. Mais nada. E veio você, todo fofo, com cerveja, pizza, pirulitos e esse coração enorme. E eu me abalei, sabe? Depois de você, nada mais fez sentido.

Ele ficou quieto por um tempo.

- E isso é bom? - perguntou.

Eu sorri pra ele.

- É a melhor coisa do mundo.

Ele me envolveu mais perto, e beijou meu rosto. Uma coisa tão boa... Aquela ligação, que acontecia naquele momento: eu/Lauren/praia, me fazia bem, muito bem. Me fazia esquecer todos os problemas que eu tinha que resolver.

- O que você pretende fazer depois que se formar? - ele perguntou.

Levei um susto. Acho que não tinha parado pra pensar no que eu realmente queria fazer. Nem ao menos que faculdade escolheria.

- Acredita que eu não faço ideia? Não costumo parar pra pensar nisso.

- Porque você não gosta de planejar... - ele completou.

- É... Acho que sim.

- Às vezes, pensar no futuro é nescessário, Ashley. Se você não planeja, se você não pensa antes  de agir, pode acabar se dando mal. Ir pela emoção é bom, mas já pensou o quanto a razão é importante?

Eu o olhei. Aquela perfeição, com aquele sorriso lindo e aquele olhar cativante. Me apaixonei por um cara de um dia pro outro. Isso é possível? Talvez seja...

- Eu tive tanta sorte de ter te encontrado, sabia? E isso não foi planejado... Nem um pouco.

Ele sorriu.

- Eu que tive sorte, Ash.

Um cara do nosso lado suspirou.

- Dá 35,95 mais a gorjeta - ele disse, com a voz fanha.

Lauren se levantou rapidamente e tirou o dinheiro do bolso.

- Obrigado - ele disse.

- Não tem de que - o cara saiu andando, intrigado.

Lauren se sentou novamente.

- Prontinho.

- Escritora - eu disse.

- Oi?

- Quero ser escritora, Lauren.

Ele sorriu.

- Sabe que pode ser o que quiser. Sabe porque?

- Porque eu tenho potencial?

- Não. Porque você tem um milhão de dólares.

- E é por isso que você me ama.

- Essa doeu.