Capítulo III –O segredo das estrelas

O francês abriu vagarosamente os olhos pesados de sono. Olhou para a janela e viu que há muito o sol tinha nascido. Mirou o relógio digital sobre a cômoda que marcava 10:00am. Fitou depois o semblante tranqüilo do grego deitado ao seu lado, profundamente adormecido, lembrando a face de uma criança. Buscou com o olhar suas roupas e encontrou-as jogadas por todo quarto, junto com as de Milo.

“Mon Dieu... não foi um sonho então...?” pensou não contendo um sorriso ao lembrar-se da maravilhosa noite que tivera junto de Milo. Nunca havia feito nada disso com outro homem, mas fora melhor do que qualquer noite que tivera com qualquer mulher em sua vida. Sacudiu de leve o escorpiano, tentando acordá-lo.

–Mon ange, acorde... já são dez horas –murmurou ao ouvido de Milo, que espreguiçou-se demoradamente antes de abrir os olhos. Ao fitar o rosto do aquariano e recordar-se de tudo o que ocorrera noite passada, sorriu.

–Bom dia –disse aproximando-se de Kamus e dando-lhe um suave beijo –Dormiu bem?

–Como um anjo –sorriu –E você?

–Como um anjo nos braços de outro anjo –disse Milo com seu costumeiro bom humor.

–Lembra-se de tudo que me disse ontem? –perguntou ele tentando não mostrar seriedade na voz.

–Ontem... –começou Milo pensativo –hum... o que eu disse ontem mesmo? –ao ver que Kamus cruzara os braços e carregara o semblante, riu –Bobo, claro que lembro! Disse que te quero, que não é apenas por uma noite e que te amo. E eu repito: EU-TE-AMO, KAMUS!

–Também te amo Milo –disse com um suave e doce sorriso –Agora é melhor comermos alguma coisa, senão Mu e Shaka podem estranhar –levantou-se e começou a vestir-se.

–Duvido que eles não tenham se divertido. Até como nós inclusive –disse ao terminar de juntar suas roupas e vesti-las –Escuta...

–Sim?

–Hum... nós vamos, sabe, contar... que...

–Estamos juntos? Não sei petit, simplesmente não sei.

–Sabia que você fica muito sexy falando francês? –disse Milo chegando mais perto do francês e beijando-o carinhosamente.

Ao chegarem à cozinha, encontraram Mu e Shaka trocando um doce e meigo beijo. Kamus parou de chofre, achou melhor não atrapalhá-los. Milo, porém, adentrou a cozinha sem pudor algum.

–Bom dia! –exclamou ele, sua mão entrelaçada a do francês. Mu, ao ver-se pego em flagrante, sentiu o rosto enrubescer violentamente –Finalmente o casalzinho decidiu dar as caras, foi? –comentou o grego em tom de deboche.

–Não fomos nós somente... –comentou de forma astuta Shaka, seus olhos pousando nas mãos entrelaçadas dos dois, o que fez Kamus sentir-se um tanto encabulado.

–Algo contra? –perguntou Milo fingindo-se de ofendido.

–Nada –disse Shaka –Tinha certeza de que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde.

–Então vocês estão juntos? Parabéns –sorriu Mu de uma forma extremamente meiga.

–Como foi a festa do Dite? –perguntou Milo ao sentar-se numa cadeira a sua frente, pegando uma torrada e levando-a a boca em seguida.

–Você sabe como são as festas do Afrodite –disse Shaka em tom entediado –Estavam todos lá, exceto vocês obviamente. Muito barulho, comida, música, bebidas e, como sempre, brigas.

–Opa! Quem brigou com quem dessa vez? –perguntou o grego curiosíssimo enquanto servia um copo de suco ao aquariano.

–Marco e Saga, quem mais? –perguntou Shaka revirando os olhos em desaprovação a atitude infantil dos dois.

–Outra briga por causa do Dite, certo? –arriscou-se a perguntar.

–Parece que o Saga já estava meio alto e passou a mão no Afrodite –comentou Mu –que por sua vez gritou e chamou o Máscara. Até o Aiolos e o Kanon entraram na discussão, o que acabou gerando uma baita briga.

–O Dite já namorou por um tempo o Saga –explicava Milo a Kamus –Mas o largou por causa do Mask. Acho que ele não superou o toco... afinal ele é quem dispensava todo mundo. Feriu legal o orgulho dele. Sempre que ele bebe demais tenta algo com o Dite. Mas bem que o Dite adora ver o Mask morrendo de ciúmes e o defendendo.

–Bem típico dele –comentou o francês.

–Ah, o Afrodite até convidou aquele colegial que fica te chamando de “sensei”, Kamus –disse Mu.

–Argh! Aquele pirralho que vive atrás do Kamus desde que este o ajudou a publicar aquelas histórias entediantes que escreveu? –Milo fez uma careta.

–O Hyoga? –perguntou Kamus.

–Ele mesmo! –disse Mu –Foi acompanhado do namorado, um garoto muito simpático... Shun, se não me engano.

–Ele até que é legal. Só não gosto daquele loiro aguado, que fica que nem um patinho atrás do Kamus –comentou fazendo uma emburrada.

–Milo... não fale assim do Hyoga. É um bom garoto.

–Só que ele não desgruda de você. Fica “sensei” pra um lado, “sensei” pro outro. Não vou com a cara dele e sei que ele não vai com a minha.

Kamus não pôde deixar de rir com a cara que Milo fazia.

–Como você é ciumento...

–Sou sim. Você é meu! Não deixar nenhum pato loiro roubar você de mim. Ele que volte pra Rússia! Vá fazer parte do Lago dos Cisnes, sei lá.

–Esqueci de dizer –começou Shaka –O Afrodite quer todos reunidos na Frutaria as quatro.

–Certo, estaremos lá –disse Milo levantando-se ao terminar o café –O que acha de darmos uma caminhada? –perguntou ao aquariano.

–Ótima idéia. –disse o francês que levantou-se também, ambos saindo da cozinha.

–Agora que eles já foram podemos aproveitar –disse Shaka assim que escutou a porta da frente fechar, aproximou-se de Mu e enlaçou-o pela cintura.

–Preciso lavar a louça do café –disse Mu sem muita convicção. Tentou escapar do abraço do virginiano, porém não fazia real esforço para soltar-se.

–Depois você faz isso –disse o indiano colando seus lábios aos do ariano.

OooOooO

Era sem dúvida uma bela manhã. A luz solar iluminava as árvores, dando-lhes milhares de tons em verde. O céu maravilhosamente azul apresentava poucas nuvens, branquíssimas. O calor da estação o incomodava bastante, porém não havia como recusar a um convite de Milo. Desconfiava que não conseguiria negar nada a ele e isso o deixava ligeiramente preocupado.

–Tudo bem? –perguntou o escorpiano que lançou um olhar preocupado ao aquariano.

–Hã...? –disse acordando de seus devaneios –Ah... tudo. Só estava pensando em algumas coisas –acrescentou ao notar o olhar de descrença do grego que caminhava ao seu lado.

–Não é porque Shaka e Mu já sabem que estamos juntos, é?

–Claro que não! Por que acha isso?

–Sei lá... Como você nunca se relacionou com um homem antes pensei que estivesse... com vergonha, talvez –comentou o escorpiano visivelmente desconfortável, o olhar baixo, como se de repente o piso de pedra fosse algo interessante de se observar –Afinal você é tão reservado...

–Milo... –disse o francês que parara de frente ao grego, forçando a encará-lo –Eu nunca sentiria vergonha de você. Mesmo que você seja possessivo, ciumento, impulsivo e um tanto infantil eu NUNCA me envergonharei por te amar, certo? –disse ele colando seus lábios aos de Milo num breve e suave beijo.

–Certo. –sorriu o grego aliviado –Ah, antes de sairmos peguei a lista de compras da semana. Quer me acompanhar até o mercado?

–Sim, vamos –disse o aquariano.

OooOooO

O restante da manhã e o início da tarde passaram rapidamente. Faltava apenas uma hora para a reunião que Afrodite convocara.

–Por que afinal o Dite quer todo mundo reunido? –pensou alto Milo enquanto escolhia uma roupa no armário.

–Não sei. Talvez tenha algo importante para informar –opinou Kamus que acabara de voltar do banho e encontrava-se apenas com uma toalha em torno da cintura.

–Já sei! Aposto que o Dite vai informar que casará com o Mask. Tenho certeza que é o sonho dele vestir-se de noiva –comentou em ar de riso.

–Quanto veneno...

–Bem que você gosta cubinho de gelo, bem que você gosta –disse ainda rindo –Sabe de uma coisa? –comentou sério, com malícia nos olhos –Eu não resisto quando te vejo assim, só de toalha –colou seu corpo ao do francês e tomou-lhe os lábios com lascívia.

–Milo... –disse enquanto o grego beijava-lhe o pescoço e ameaçava tirar-lhe a toalha –Não falta nem uma hora para sairmos... –disse em tom racional, mas não fez o menor esforço para afastar-se.

–Ah... chato –disse afastando-se do aquariano, uma expressão infantil no rosto –À noite você não me escapa, viu? –piscou, dando um de seus sorrisos característicos.

Kamus sorriu ao pensar que não faria absolutamente nada para escapar do escorpiano.

–Deixe-me colocar uma roupa agora. Mu e Shaka já devem estar nos esperando na sala –comentou ao tirar a toalha e começar a vestir-se.

–Isso se não estiverem no quarto, aproveitando –disse Milo que olhava de forma desejosa para o corpo nu do outro, que por estar de costas não reparou no olhar faminto do grego. –Agora entendo porque os dois sempre quiseram dividir o quarto...

–Estou pronto –disse Kamus minutos depois, mirando-se no espelho –Vamos...

–Está lindo –comentou Milo abraçando-o por trás, afundando o rosto entre os cabelos verde-azulados –E perfumado também.

–Vamos mon ange –sorriu –Já são 3:30 pm e se não nos apressarmos, seremos os últimos a chegar.

–Tá bom, tá bom, tô indo... –disse o escorpiano fazendo birra, abrindo a porta do quarto.

Mu e Shaka, conforme Kamus previra, já os esperavam na sala. Trancaram a casa e começaram a caminhar rumo ao lugar do encontro.

–O Dite realmente não comentou nada sobre o que queria falar? –perguntou Milo.

–Já disse que não –disse Shaka impaciente –Se tivesse por que não contaria?

–Vai saber... Você pode estar metido em mais um dos planos dele. Como aquela vez em que ele resolveu juntar o Mime e o Sorento.

–Foi naquele dia que jurei por Buda nunca mais fazer parte dos planos dele –respondeu Shaka ao grego.

–Bem, mas que deu certo deu. O Mime e o Sorento estão juntos há quase um ano. –comentou Mu.

–Graças ao empurrãozinho do Dite –completou Milo.

–O Afrodite tem gosto em ser conselheiro amoroso ou é apenas impressão? –perguntou Kamus.

–Como a deusa que lhe dá nome –disse Shaka.

–Se vê um casal em potencial sempre dá um jeito de juntá-los –disse Mu –O Shura e a Shina também estão juntos por sua ajuda.

Ao ouvir o que Mu comentara Kamus de repente começou a entender o provável motivo que o levara a programar tal reunião. “Casal em potencial... planos... ajudazinha... mania de juntar casais... tenho 99 por cento de certeza de que sei o que ele pretende”. Olhou de soslaio para Mu e Shaka e confirmou que ambos realmente desconheciam o possível plano de seu amigo. Não conseguia decidir-se, porém se contava sua desconfiança ou não. Depois de caminhar algum tempo em silêncio, decidiu-se pela primeira opção.

–Acho que sei o motivo da reunião –comentou Kamus aos demais –E se for mesmo o que penso, tenho um plano...

–Oba, um plano –exclamou animadamente Milo.

–Você também acha que Afrodite quer...? –perguntou Shaka ao francês.

–Sim. E meu plano é o seguinte...

OooOooO

Pouco tempo depois chegaram a Frutaria, onde a maioria de seus amigos já se encontrava. Afrodite foi o primeiro a avistá-los e a cumprimentá-los.

–Finalmente vocês chegaram! Achei até que tinham me dado um bolo –disse Afrodite fazendo charme.

–Imagina Dite, já chega ontem que tive um trabalho gigantesco pra terminar –disse Milo.

–Mas você deve ter se divertido um pouco que seja Miluxo. Afinal o Kamus estava lá também –perguntou mal podendo conter sua curiosidade.

–Que nada! Eu fiquei num canto fazendo meu trabalho e ele em outro. Nem nos falamos direito o dia todo, não é? –virou-se para o francês.

–É verdade. Assim que terminamos, jantamos algo rapidamente e fomos direto para a cama –disse sério mas sentiu uma incrível vontade de rir ao pensar na dubiedade de suas palavras. Evitou olhar o grego, mas tinha certeza que ele tentava conter um risinho a todo custo.

–Oh... –Fez Afrodite um tanto decepcionado –Bem, ao menos o Kamus veio hoje... –sorriu, jogando charme como sempre. Desde que chegara a cidade Afrodite tinha criado um carinho especial por ele. Não chegava a ser algo carnal, parecia mais um carinho de irmão mais velho –Tenho algumas coisas para resolver, daqui a pouco volto. –disse afastando-se do grupo enquanto um jovem de cabelos loiros aproximava-se, junto de um lindo garoto de cabelos verdes.

–Olá sensei –disse o loiro em voz baixa.

–Hyoga. Como vai? –perguntou o aquariano educadamente.

–Bem, obrigado. Não sei se já conhece o Shun. Ele é meu...

–Seu namoradinho, já sabemos disso –respondeu rispidamente Milo, que lançara um olhar feio ao loiro fazendo o garoto de cabelos verdes enrubescer com o comentário. –Tudo bem com você Shun? –sorriu simpático para o garoto.

–Tudo –respondeu educado –E com vocês? Muitos trabalhos, pelo que ouvi dizer.

–E bota muitos nisso! –exclamou o escorpiano que ignorara totalmente a existência de Hyoga –Você verá quando entrar na faculdade. Ouvi dizer que você veio à festa ontem. Gostou?

–Foi a primeira vez que viemos a uma festa de Afrodite. Foi divertido.

–Sensei –disse Hyoga a Kamus- Andei publicando mais algumas histórias no site que o senhor me ajudou a fazer. Quando puder ler e me dar sua opinião, eu agradeceria muito.

–E quem iria querer ler suas histórias maçantes, seu loiro aguado? –comentou o grego venenosamente.

–Pelo menos eu sei usar o alfabeto e a gramática... –retrucou o russo no mesmo tom repleto de acidez, lançando um olhar gélido ao grego muito similar aos de Kamus.

–Chega de discussões –disse em tom severo o francês –Pode deixar Hyoga que as leio sim e tenho certeza que está progredindo bastante.

–Obrigado sensei. –sorriu o loiro –Vamos dar uma volta Shun? –ao ver que o japonês assentira, prosseguiu –Até mais sensei! –disse sem nem olhar para Milo.

–Depois nos vemos –sorriu Shun antes de afastarem-se.

–Argh, moleque sem graça! Não sei o que o cabelinho de espinafre viu nele. –bufou Milo

–Você não devia implicar tanto com o Hyoga. Ele é um bom rapaz e anda escrevendo histórias de ótima qualidade e conteúdo.

–Ele é um mala que só sabe grudar em você. Aff... não o suporto.

–É quase uma criança...

–Ah, Kamus faça-me o favor! Ele tem praticamente 16 anos. Não é tão criança assim. Eu com 16... prefiro nem comentar –um sorrisinho malicioso escapou-lhe dos lábios –Além do mais, ele só gruda em você. Detesto isso.

–Você é ciumento demais... mas –acrescentou ao ver que Milo abrira a boca para protestar –não pretendo discutir sobre isso.

–Tá... Ei, onde o Mu e o Shaka foram parar?

–Enquanto você se ocupava em discutir com Hyoga, Afrodite chamou-os para um canto.

–Acha que é sobre o plano dele?

–Tenho certeza. Pelas perguntas que ele nos fez já tenho 100 por cento de certeza que ele planeja nos juntar nessa reunião.

–Pobre Dite, nem sabe que já estamos juntos.

–Mas faremos como se fosse ele quem nos juntou. Cairemos direitinho no plano dele.

–Quanta maldade nesse coração, heim?

–Não é isso petit. Só... fiquei com vontade de saber o que ele fará.

–Olha que a curiosidade matou o gato, heim? Mas tudo bem, pelo jeito vou me divertir nessa reuniãozinha. E mais tarde também –completou lançando um olhar significativo ao aquariano.

–Lá vêm eles –comentou Kamus –não se esqueça do que combinamos.

–Fica tranqüilo... Até agora desempenhei meu papel direitinho, não?

–Se divertindo? –perguntou Afrodite aproximando-se sorridente junto de Mu, Shaka e Máscara.

–Você convidou todo mundo, né Dite? –perguntou o escorpiano olhando em volta e vendo muitos rostos conhecidos, como Saga que conversava animadamente com Aiolos, Kanon, Marin, Aiolia, Shina e Shura.

–Claro Milo, e eu lá sou do tipo de reuniões simples? De jeito nenhum! Por isso pedi para que, as 6:30pm, nossos amigos Sorento e Mime façam uma apresentação que com certeza agradará a todos os corações apaixonados –sorriu ele procurando os músicos com o olhar –Ah, ali estão eles. Sorento! Mime! –chamou fazendo gestos para se aproximarem.

Ao juntarem-se aos demais, Kamus os observou atentamente. Era, sem dúvidas, um belíssimo casal. Mime possuía longos cabelos alaranjados e olhos exoticamente rosados. Dos dois, parecia ser o mais calado. Sorento também tinha olhos da mesma cor, seus cabelos eram de um azul claríssimo e chegavam mais ou menos até a nuca.

–Creio que vocês já conhecem o Kamus, não é? –perguntou Afrodite.

–É a primeira vez que conversamos. Muito prazer, me chamo Sorento –disse de forma polida, estendendo-lhe a mão.

–E eu sou Mime –disse o outro repetindo o gesto.

–O prazer é todo meu. Afrodite acabou de comentar sobre uma apresentação especial que vocês farão.

–É, já está quase tudo pronto, inclusive o repertório –disse Sorento.

–Sorento toca flauta divinamente e Mime é um gênio na harpa –disse Afrodite. Os dois músicos ficaram sem-jeito com o comentário.

–Apreciam música erudita? –perguntou Mime.

–Até escuto, mas não sou fã –respondeu Milo com sinceridade.

–Já eu aprecio. Uma apresentação apenas com uma harpa e uma flauta? O repertório abrangerá apenas músicas leves, estou certo? –perguntou Kamus.

–Sim, escolhemos músicas em tons etéreos –explicou Sorento que virara ligeiramente para Mime e sorriu.

–Espero que gostem da apresentação –disse Mime, sua mão enlaçando carinhosamente a mão do outro.

–Com licença –pediu Sorento –Temos alguns detalhes a acertar –concluiu afastando-se, ainda com as mãos entrelaçadas as de Mime.

–Eles não formam um casal lindo? –comentou Afodite –Fui eu quem os juntou.

–O Dite tem essa mania de bancar a deusa do amor –disse Máscara que franzira a testa.

–Não me chamo Afrodite à toa –sorriu –Tenho o dom de juntar casais em relacionamentos duradouros e isso sem precisar de poção do amor, heim?¹ Sinto cheio de interesse amoroso de longe. E sei que hoje mais um casal se forma...

“Jogando indiretas... é competente no que faz” –pensou Kamus sorrindo internamente.

“Tadinho do Dite. Mal sabe ele que esse casal aqui já está junto desde ontem” –pensou Milo que olhara de soslaio para Kamus, fitando Afrodite em seguida.

–Milo... preciso de uma ajudazinha sua, será que poderia me acompanhar? –perguntou o sueco em tom inocente.

–Claro Dite! –respondeu o grego que, ao afastar-se junto de Afrodite e Máscara, virou-se e deu uma leve piscadela a Kamus.

–Alguma coisa relativa ao plano? –perguntou o francês poucos minutos depois a Mu e Shaka.

–Afrodite nos chamou e pediu nossa ajuda para juntar vocês –começou Shaka –Pediu que falássemos com você, disséssemos indiretas, enquanto ele falava com o Milo, para ver se alguém tomava a iniciativa.

–Disse também que essa reunião foi feita com o intuito de juntá-los, já que o plano original era juntá-los ontem na festa, o que não aconteceu, pois vocês não puderam vir. Se bem que ele ficou radiante por ter conseguido que Shaka e eu... ficássemos em público –disse Mu certificando-se que Afrodite não estava por perto.

–Ele chegou a perguntar algo a vocês? –perguntou Kamus.

–Sim. Quis saber o que achávamos de vocês juntos, se dava para perceber algo diferente em casa –disse o indiano.

–E como você disse, falamos a ele que com certeza você e o Milo ficariam hoje –concluiu Mu.

–Uma reunião só para nos juntar... agora é que não podemos voltar atrás. Imagino como ele ficaria se soubesse que já estamos juntos –o aquariano sentiu uma certa culpa invadi-lo –O que era apenas curiosidade agora é algo mais sério...

–Já são quase 6:30 –disse o virginiano após consultar o relógio de pulso –Melhor arrumarmos lugares para ouvirmos a apresentação.

Sentaram-se nos primeiros lugares em frente ao palco. No percurso cumprimentaram os demais amigos, todos animados, alguns ligeiramente ansiosos com a apresentação, outros já um tanto altos, devido ao número excessivo de bebidas alcoólicas ingeridas. Pouco depois Milo ocupou a cadeira vazia ao lado de Kamus e o olhou significativamente.

–E então? –perguntou deixando escapar a curiosidade em sua voz.

O grego olhou discretamente em volta e ao ver que Afrodite localizava-se longe o bastante para não escutar, respondeu.

–Ele me chamou de lado e começou a fazer inúmeros elogios a você, como você era bonito, inteligente, charmoso, sexy quando fala francês, enfim, nada que eu não tenha reparado –deixou um sorriso brotar em seus lábios –Eu, me fazendo de sonso, perguntei onde ele queria chegar com todos esses elogios, até brinquei que ele tava querendo trocar o Mask por você. Aí ele me disse que não era bobo, que estava escrito na minha testa que eu me interessava por você. Fingi que estava envergonhado, desconversei e ele retrucou dizendo que não adiantava negar, que tinha um luminoso em néon escrito “I Love Kamus” brilhando bem no meio da minha testa, e começou a me estimular para tomar a iniciativa. Disse que não estava certo, que nem sabia se você também tava a fim. Ele me disse que tinha certeza que sim, para tentar conversar a respeito quando a apresentação começasse. Me confessou que está fazendo tudo isso por nós, para termos uma chance de nos entendermos. E concluiu dizendo que quer nos ver felizes.

–Estou sabendo disso... –murmurou sentindo novamente um peso na consciência.

–E o plano vai seguir em frente?

–Agora mais do que nunca. Não tem como voltar atrás agora. Faremos isso como um... agradecimento por tudo.

–O Dite ficaria puto se soubesse que estávamos brincando com ele. Contar a verdade agora seria suicídio. Ah... –suspirou –vai ser um sacrifício tãoooo grande fazer isso por ele –riu, deixando subentendido que estava se deliciando com o plano do aquariano.

–Vai começar... –murmurou Kamus ao ver Sorento e Mime subirem ao palco sob uma chuva de aplausos.

Uma melodia suave e hipnotizante começou a soar. Envolvente e romântica, na opinião de Milo.

“Isso porque nunca fui fã de música clássica” –pensou ele colocando inconscientemente a cabeça no ombro de Kamus, que não pareceu incomodar-se.

Olhando em volta o aquariano viu que os acordes da melodia haviam contagiado a todos os presentes. Afrodite encostara-se em Máscara que lhe acariciava distraidamente os cabelos azul-piscina. Mu e Shaka estavam de mãos dadas. Marin era abraçada por Aiolia. Shina e Shura trocavam beijos nada discretos. Saga, Aiolos e Kanon trocavam olhares cúmplices. Hyoga tinha o braço em torno da cintura de Shun . Parecia até que os próprios músicos trocavam olhares repletos de carinho e declarações de amor expressas na doce melodia.

Ao concluírem a apresentação foram aplaudidos de pé, entusiasticamente.

–Vamos para um lugar mais sossegado? –murmurou Milo ao ouvido de Kamus, enquanto todos iam cumprimentar Mime e Sorento pela brilhante apresentação.

–Vamos –disse ele pouco antes de ser puxado levemente pelo escorpiano.

Afrodite, ao vê-los saindo, de mãos dadas, sorriu, pensando consigo mesmo: “Mais um casal que junto”.

Saíram da Frutaria, caminharam até um parque próximo, vazio àquela hora. Apenas a fraca iluminação pública e a estonteante luz do luar os iluminava.

–Dite deve estar orgulhoso de si mesmo. Me diverti muito pondo seu plano em prática.

–Foi um bom dia realmente –disse ele olhando para o céu repleto de estrelas.

–Nossa... só vi um céu tão cheio de estrelas assim uma vez –sorriu ele olhando duas constelações que se encontravam mais brilhantes no manto azul-marinho, como se trocassem um segredo. –Você me dá sorte.

–Essa cidade me deu sorte, mon ange. Tenho aqui mais do que já tive em toda minha vida na França. Foi aqui que consegui um bom emprego, uma boa casa, ótimos amigos e foi aqui também que conheci você –disse carinhosamente, aproximando seu rosto do de Milo, que encostou-se numa frondosa árvore, tomando-lhe os lábios num beijo repleto de sentimento, um beijo que por ele duraria toda a eternidade.

–Já vi que a noite será longa, beeeem longa –sorriu Milo repleto de malícia, ambos caminhando de mãos dadas sob o luar.

Fim

¹-Não resisti, uma homenagem a uma das fics da Bélier-sama que não canso nunca de ler: “A Poção do Amor”. Quem não leu, peço que leia, não se arrependerá.