Amar Você escrita por Marcela
Naquela noite eu havia sonhado que morava em um castelo, mas não era exatamente igual ao que eu sempre ouvira falar. Não haviam riquezas, servos, ouro e outras coisas do gênero, mas existia um príncipe encantado - o meu príncipe. Talvez estivesse enganada quando disse que não precisava de um príncipe encantado para viver, pois ele sempre esteve ao meu lado, mas nunca demonstrou afeição - talvez fosse o medo de se libertar da capa protetora que o encobria de amar verdadeiramente. E eu sabia que o castelo que agora eu morava era, literalmente, o seu coração, onde os portões de ferro haviam se transformado em uma cortina a qual me permitia entrar facilmente em seu interior e ali desfrutar de tudo o que tinha direito.
Talvez eu tenha sido ingênua, tenha me perdido em seus olhos amendoados e nunca ter tido a chance de perceber que o único erro ali, era de eu estar perdidamente apaixonada pelo meu melhor amigo, mas agora, eu finalmente tinha notado e conseguido entender que a vida não era, simplesmente, um conto de fadas, onde vivíamos felizes para sempre, mas sim um conto que apenas será contado por nós, e vai ser a gente que vai decidir o nosso final e se ele vai ser feliz ou não. Eu não era uma princesa, mas ele estava dentro da minha história, tornando o meu ‘conto de fadas’ em um lindo final feliz.
O despertador tocou consecutiva e irritantemente - era o meu aniversário.
Rolei na cama, enrolando o cobertor em meu corpo e afundando, pela última vez, meu rosto no travesseiro macio. Embora fosse mais de onze horas da manhã, eu ainda estava sonolenta e certamente estaria parecendo um zumbi, pois a viagem de volta do sítio fora muito cansativa. Levantei-me, me dirigindo rapidamente ao banheiro, mas a presença da minha melhor amiga, parada, fitando minha cama, me impediu de continuar.
- Bom dia, Magali! - Sorri convidativamente para ela.
- Ah, oi. - A garota parecia distraída com alguma coisa - Só vim avisar que não vai dar pra sair hoje com você.
- Por que? - Franzi o cenho - Não está esquecendo de nada não, amiga? - Ela, realmente, não poderia ter esquecido do meu aniversário.
- Não, eu trouxe seus tênis que você esqueceu comigo no sítio. - Magali deixou o meu pertence ao lado da cama e se dirigiu para fora do quarto - Tchau!
Quando dei por mim, estava boquiaberta. Aquilo, sinceramente, não era normal. Ela não se lembrara da minha data comemorativa pela primeira vez e havia cancelado o que tínhamos combinado para fazer hoje. Fiquei realmente chateada com a situação.
- Tchau né. - Cabisbaixa, voltei a andar em direção ao banheiro.
Teria que programar meu dia novamente. Quem sabe poderia ligar para o Cebolinha - ele certamente sairia comigo, mas o que realmente me estranhou, foi o fato de meus pais não terem me cumprimentado hoje. Acho que acordei de vez quando a água extremamente gelada caiu do chuveiro, molhando meu corpo, antes quente.
- AAAAAH! PAIÊ, ESSA DROGA QUEIMOU! - Berrei com o susto que havia levado.
Esperei um minuto, depois cinco, logo dez e nada. Acho que ele não tinha escutado meu grito pouco histérico. Me enrolei na toalha e fui até a sala, a qual se encontrava vazia. Definitivamente, isso estava ficando muito estranho para mim. Meus passos tensos não faziam barulho no assoalho, mas minha respiração ofegante preenchia todo o espaço como um trovão. Droga, onde eles haviam ido? Será que esqueceram do meu aniversário também, assim como Magali? Tudo estava confuso.
***
- Alô, Dona Cebola? É a Mônica. - Tentei ser educada - O seu filho está em casa?
- Olá querida. - Ela parecia alegre, diferente dos outros - Vou chamá-lo.
- Obrigada.
- Mô? - A voz delicadamente doce me chamou do outro lado da linha.
- Cê? Tudo bem? - Me animei.
- Hum... É... Estou. - Ele parecia um pouco diferente - Sabe o que é? Estou um pouco ocupado agora. A gente se fala depois. Beijos.
- Mas...
Aquela era a segunda vez no dia que eu ficava falando sozinha e eu já estava um tanto irritada. Nem meu próprio namorado tinha me dado os merecidos parabéns e isso era constrangedor. Decidi então, pegar alguns filmes na locadora e passar a tarde toda, sozinha, curtindo minha solidão embaixo das cobertas, comendo pipoca.
Já era quase oito da noite e eu estava no quarto filme da sessão, quando o telefone tocou e, sem muita vontade, levantei-me para atender. Os pés cobertos com as meias quentes deslizavam pelo chão, como no gelo, indo em direção ao objeto que berrava consecutivamente pedindo para ser atendido. Suspirei cansada e respondi pela chamada.
- Quem é? - Minha voz seca ecoou pela linha.
- Mô... Me ajuda! Eleterminoucomigo... EU NÃO SEI O QUE FAZER! ACHO QUE VOU MORRER! - A voz trêmula do outro lado chorava desesperadamente, dificultando meu entendimento.
- Magali? Fala devagar. - Implorei.
- O QUINZO TERMINOU COMIGO, AMIGA!
- Calma Maga! Fica tranqüila! - Tentei acalmá-la - Já estou indo até sua casa.
Quando ela desligou o aparelho, eu corri trocar de roupa e acabei vestindo o básico - calça jeans e uma blusa de frio bem quentinha, acomodando os tênis em meus pés. Graças à Deus não chovia, pois meus pais ainda não estavam em casa e eu teria que ir até a residência da minha amiga, a pé e sozinha. Abri a porta da frente e visualizei bem a rua, que por sinal estava escura e deserta. Senti um arrepio passar pela minha coluna - há muito tempo não andava por um lugar assim, sem ninguém.
Fim do 31º Capítulo.
Desculpem-me a demora, pois tive alguns problemas pessoais :/ Mas já passou. Espero que tenham gostado desse capítulo e eu acho que está chegando ao fim... Comentem o que acharam :) Beijos e obrigada pelo carinho.
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