Amar Você escrita por Marcela


Capítulo 25
Tempestade


Notas iniciais do capítulo

A música que acompanhará esse capítulo é:
Teardrops on my guitar - taylor Swift
Pra quem quiser escuta-la no youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=jx1Uj7hW7SY&feature=related



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Aquele par de olhos penetrantes me fitavam com angustia e o ato me fazia estremecer de leve. Os cabelos negros, já não mais com apenas cinco fios, oscilavam com o vento gelado que batia contra nossos corpos, ao mesmo tempo que grudavam em sua face molhada. O aroma das flores e o cheiro da chuva, se misturavam, entrando em minhas narinas, arrancando-me um longo e profundo suspiro. Corri com os olhos para o chão assim que ele me perguntou novamente:

 

- Era de mim que você estava falando não era, Mô? - Cebola insistia em uma resposta para sua pergunta.

 

- Se era ou não, isso importa agora? - Minha voz era seca.

 

- Para mim... Importa. - Ele rolou os olhos para o chão também e seus dedos deslizaram pela corrente do brinquedo.

 

- Pra Irene também? - Encarei-o sem medo.

 

O garoto ficou quieto durante um certo tempo, mas tentou pronunciar algo, mas sua voz falhou. Mordi o lábio inferior de minha boca trêmula de frio, pois a dor e a angustia me corroíam por dentro do peito. Tentei não ficar com raiva nem do meu amigo e da garota loira, a qual ele estava ficando, gostando, eu não sabia o que era ao certo. Tal sentimento não me faria sentir melhor, pois eu sabia que ela queria me ver péssima - Irene me odiava, dava pra ver aquilo estampado em seu rostinho de anjo. Aqueles seus olhos de um verde esmeralda eram maravilhosos, seus cabelos eram como uma cortina dourada e lisa que escorria pelos ombros. As roupas de marca se moldavam no corpo delicado da menina-moça, deixando à mostra todas suas curvas. Aquele seu jeitinho sedutor e sexy acabava totalmente com o meu jeito ‘doce’ de ser.

 

- É, Cebolinha? - Me levantei rapidamente, ficando de frente para o moreno - Isso importa para aquela loira oxigenada também? - A raiva havia conseguido se libertar e agora faria o maior e pior estrago possível.

 

- ‘Loira oxigenada’, Mônica? - Ele ficou em pé também, levantando as sobrancelhas - Olhe pra você primeiro, antes de falar dos outros! - Suas mãos haviam se fechado, mostrando a sua frustração.

 

- É! Oxigenada! - Aumentei o tom da minha voz - Quer que eu soletre também?

 

- P-para com isso, Mônica! Eu... Eu gosto da Ilene! - Notei ele corar.

 

- G-gosta... Gosta d-dela? - Como era de se esperar, as lágrimas, que escorriam dos meus olhos negros, se misturavam com a chuva gelada que não cessava em cair das nuvens que estavam no céu, naquela noite estrelada.

 

- Gosto... É... Não sei... - Ele gaguejou - Ela é legal e me faz feliz.

 

- Te faz... Feliz, Cê? - Tentei lutar para que os soluços não escapassem da minha boca trêmula - E... E eu?

 

- Como assim, Mô? - Ele levantou as sobrancelhas novamente.

 

- Achei que a sua melhor amiga fosse eu. - Disse rapidamente para evitar que ele notasse meu constrangimento ao saber que tinha perdido aquele precioso cargo de vários e vários anos.

 

- E é! - Cebola tentou sorrir - Por isso que vim aqui... Pra te pedir uma opinião, mas acho que já descobri o que você pensa a respeito dela...

 

Olhei profundamente em seus olhos durante um tempo - o bastante para que minha alma se desprendesse do meu corpo e me deixasse sem vida, sem esperanças, sem amor. Sem demorar muito, dei meia volta e corri para os dormitórios, indo em direção ao meu aposento vazio. Tranquei a porta ao fechá-la e me joguei rapidamente na cama. Aquele travesseiro macio, foi o lugar onde afoguei minhas lágrimas, minha angustia, meu sofrimento e minha dor de ter um coração despedaçado, um amor não-correspondido. Agarrei o objeto com toda minha força, quase rasgando-o. Eu queria, eu precisava descontar meu arrependimento em algum lugar. Arrependimento de não ter aproveitado mais e melhor cada momento que passamos juntos, arrependimento de ter lhe machucado com o sansão, de o ter maltratado e de ter pedido meu melhor amigo por uma garota que ele conheceu esse ano. Eu o amava demais e não suportaria perde-lo pra sempre. Aquele tesão incontrolável, eu prometo tentar controlá-lo de agora em diante. Aquela minha obsessão louca por seus beijos tentadores, e tudo mais. Eu não poderia viver sem meu melhor amigo... Sem o Cebolinha. Dentro do quarto, só conseguia ouvir meus próprios soluços acompanhados pelo som da chuva ao fundo. Minha maquiagem poderia estar borrada, mas isso não importava. Meu rosto poderia estar inchado, mas ele não notaria. Ele, em que meus olhos não desgrudavam por um segundo e mesmo estando longe do coração, era ele que ocupava minha mente. Apesar disso, o mesmo nunca me notaria como eu queria, mesmo eu estando tão perto. Passava o dia todo com ele, rindo de suas piadas sem graças, contando cada cor que havia em seus olhos, perdendo meu tempo pensando em que aquelas cores seriam para mim. Levantei-me e forcei meus pés para irem até a janela fechada. Passei a mão por ela, que estava embaçada. Eu poderia ver seu rosto ali, me encarando. Bati no vidro, que só vibrou com o encontro. As lágrimas caiam cada vez mais, mas a dor só me corroia por dentro. Junto comigo o céu estava chorando, jogando suas lágrimas frias pela minha janela. A noite estava triste, junto à mim. O cara em que eu desperdicei meu tempo, deveria estar feliz da vida agora, pois tinha tudo que ele sempre sonhou. Não era justo ele me tirar de sua vida, como uma boneca de uma prateleira. Não conseguia enxergar nada, tudo lá fora estava embaçado. Com certeza amanhã eu estaria um horror, mas eu não me importava, a pessoa que eu queria que me notasse, não me via...

 

Drew looks at me
I fake a smile so he won't see
That I want and I'm needing
everything that we should be
I'll bet she's beautiful,
that girl he talks about
And she's got everything
that I have to live without
Drew olha pra mim
Eu finjo um sorriso para ele não perceber
O que eu quero e preciso
E tudo que deveríamos ser
Eu aposto que ela é bonita
A garota que ele fala,
E ela tem tudo
Que eu tenho que viver sem

Dedilhei minha imagem na janela e notei como eu estava acabada. Meu cabelo chanel e negro, agora estava molhado e grudado em minha face lúgubre e chorosa. Meus olhos da cor da noite choravam lágrimas de dor e angustia. Minha boca, antes vermelha, estava roxa e tremia de frio. Minhas vestes permaneciam molhadas e pesavam contra meu corpo, me fazendo ir até o banheiro e as colocar no respectivo cesto de roupas sujas. Liguei o chuveiro e deixei a água esquentar meu corpo nu, com sua temperatura agradável. Recordei de cada cena do passado, desde quando éramos duas crianças inocentes e vivíamos brigando, até os dias de hoje, onde ele é um galinha que não liga para o sentimento dos outros, inclusive de sua melhor amiga; eu. Aquela boca, a qual eu tanto desejava ter só para mim, todos os dias, já beijou os lábios de Denise, Carmem, Irene, e eu sei lá quem mais. Cebolinha tinha mudado tanto, que eu preferia brigar com ele por o mesmo tentar roubar meu cargo de ‘dona da rua’ e não por garotas que disputam sua boca, seu coração. Tenho saudade da época em que pronunciar o ‘Eu te amo’ não era clichê - apenas dizíamos tal frase quando o sentimento era, simplesmente, verdadeiro, quando nos amávamos ou sentíamos algo forte e prazeroso brotar dentro do coração. Não preciso de um príncipe encantado, montado em seu cavalo branco, que presenteia a amada com horrores de dinheiro e fortunas. Eu precisava apenas de... De amor.

 

Drew talks to me,
I laugh cause it's so damn funny
That I can't even see
anyone when he's with me
He says he's so in love,
he's finally got it right,
I wonder if he knows
he's all I think about at night
Drew fala comigo
Eu rio porque isto é muito engraçado
Mas eu não consigo ver
Ninguém quando ele está comigo
Ele fala que está tão apaixonado,
Que ele finalmente acertou
Eu me pergunto se ele sabe
Que ele é tudo o que eu penso a noite

 

Desliguei o chuveiro e enrolei minha respectiva toalha pelo meu corpo, prendendo-a no busto. Me dirigi até o quarto para vestir o confortável pijama e deitei-me na aconchegante cama. Lutei para conseguir dormir e me desligar daquele mundo e entrar no lugar onde os sonhos eram bons - ou nem tanto - mas o sono não vinha e eu não estava nem bocejando. Ao cansar de ficar rolando na cama, me levantei e trajei um vestido não muito curto, mas ao mesmo tempo bonito. Lá fora não estava tão frio, apesar de estar chovendo. A sua cor vermelha me trazia lembranças de quando eu era mais jovem e não tirava meu ‘vestidinho vermelho’ do corpo. Calcei uma sapatilha, parecida com que Rosinha estava usando quando a revi, assim que chegamos ao sítio e peguei meu celular que descansava sobre o criado ao lado de minha cama, para enviar um torpedo à meus pais.

 ______________________________

 

Torpedo SMS enviado as XX:XX

 

Oi mãe e pai. O sítio é lindo e está bem diferente da última vez que viemos pra cá. Vocês iriam gostar de estar aqui. Estou bem. Os vejo daqui alguns dias. Amo vocês.

 

Mônica.

 

______________________________

 

No corredor me deparei com uma das últimas pessoas que eu queria ver: o Renato. Ele tinha um sorriso malicioso estampado em seu rosto bonito. Seu cabelo estava seco, o que dava entender que ele não havia se molhado com a chuva. Logo suas mãos másculas envolveram minha cintura, assim que seu corpo se aproximou do meu. Sua boca encostou de leve no lóbulo da minha orelha esquerda e as sua voz ecoou em meu ouvido, me fazendo estremecer.

 

- Sabia que é um perigo, uma moça tão bonita como você, andar sozinha pelo corredor de uma casa? - A malicia insistia em permanecer ali.

 

- Oh, jura?! - Encarei-o secamente, ao me afastar um pouco, ficando frente à frente com ele - E você sabia que eu estou pouco me lixando com isso? - Agora foi eu quem colocou os lábios em sua orelha, pronunciando tais palavras, friamente.

 

- Olha gata, não me atiça não... Isso pode não dar muito certo. - Ele riu.

 

- Por que, amor? - Sorri com malicia - Você pode... Broxar?

 

- Q-que isso, Mônica? - O sangue subiu até sua face, deixando-o totalmente vermelho - Não sou disso não.

 

- Ah, bom pra você! - Disfarcei um sorriso breve - Mas eu não quero pagar pra ver, ta? - Disse, descolando nossos corpos e acenando para o moreno.

 

He's the reason for the teardrops on my guitar
The only thing that keeps me wishing on a wishing star
He's the song in the car I keep singing, don't know why I do
Ele é a razão das lágrimas no meu violão
A única coisa que continuo
Pedindo para uma estrela cadente
Ele é a canção dentro do carro
Que eu continuo cantando
Eu não sei porque eu canto.

 

Continuei meu caminho, um pouco enjoada de tanta perseguição do Renatinho. Lá fora uma música tocava um tanto baixa, mas em uma altura muito boa. Corri com os olhos por todos que ali se encontravam, mas não achei a Magali - com certeza ela estaria no maior amasso com o namorado, mas isso não era da minha conta e não vinha ao caso. Não achei a Irene também, pois o Cebolinha estava sozinho, um pouco molhado, mas nada exagerado, e descansava sobre uma cadeira de plástico, com um copo na mão. Seu olhar castanho estava perdido antes de encontrarem os pretos dos meus olhos que o fitavam. Ele não sorriu, permaneceu completamente sério, me deixando bastante sem graça, e me fazendo rolar os olhos para o chão. Estávamos todos sob um teto que nos protegia da chuva. Notei que Marina me acenava de longe e corri até ela, fazendo meu corte chanel cambalear com o vento que beijava meu corpo.

 

- Senta aí, Mô! - Ela tinha um sorriso convidativo estampado em sua face bronzeada - O Fran me abandonou mesmo... - Sua voz era tristonha, mas ao mesmo tempo doce.

 

- Claro. - Sorri de volta, me sentando ao lado da minha amiga.

 

Drew walks by me,
can he tell that I can't breathe?
And there he goes, so perfectly,
The kind of flawless I wish I could be
She'd better hold him tight, give him all her love
Look in those beautiful eyes and know she's lucky cause
Drew passa por mim.
Sera que ele percebe que eu não consigo respirar?
E lá vai ele, tão perfeito.
O tipo impecavel que eu queria ser
É melhor ela abraça-lo bem apertado
Dar todo o amor dela,
Olhar naqueles olhos lindos
E saber que ela é sortuda porque

 

Marina era tão linda. As ondas de seus cabelos desciam pelos ombros em mechas castanhas escuras e claras. Seus olhos eram penetrantes e dóceis. Seu corpo era desenhado em curvas perfeitas, que ficavam ainda mais amostras por causa da calça jeans e da blusinha agarrada que ela trajava. Eu adorava passar os dias com ela, quando era possível, pois me sentia tão bem, tão calma. Mas aquele momento não durou muito, porque o Franja já estava de volta com dois copos nas mãos - provavelmente um para ele e um para a namorada. Não estava afim de permanecer de vela entre um casal feliz, e me retirei, voltando para dentro da casa. Antes de sair dali, corri com os olhos novamente para todos meus amigos e não encontrei o Renato nem o Cebolinha. Agora já eram cinco que haviam sumido e isso estava me deixando constrangida. Entrei na sala e me sentei no sofá, sozinha.

 

He's the reason for the teardrops on my guitar
The only thing that keeps me wishing on a wishing star
He's the song in the car I keep singing, don't know why I do
Ele é a razão das lágrimas no meu violão
A única coisa que continuo
Pedindo para uma estrela cadente
Ele é a canção dentro do carro
Que eu continuo cantando,
Eu não sei porque eu canto.

 

A luz estava apagada e eu podia ouvir o barulho da chuva e da música se misturarem em um ritmo perfeito e gostoso de escutar. Arrumei a almofada e me deitei, apoiando a cabeça na mesma. Os olhos permaneciam abertos, quando um trovão ecoou lá fora, conseqüência de um raio que iluminava a sala, me possibilitando de enxergar a presença de alguém ali no mesmo espaço que eu me encontrava.

 

Fim do 25º Capítulo.

 

Oi amores, desculpem a demora, estou com muitas provas e tá dificil postar sempre. Espero que entendam e me deixem feliz com os reviews :D Beijos, amo vocês ;*


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