On The Road escrita por Hanna_21


Capítulo 1
Capítulo 1:Entrevista




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/184527/chapter/1

PRELUDE 3.0

Capítulo 1: Entrevista


– Alexis Foster! – berrou a voz de dentro da sala.


Eu hesitei um momento antes de levantar. Uma garota baixinha com cabelos vermelhos e piercings por todos os lados acabara de sair chorando daquela sala. Levando em conta que era a sétima pessoa que saía dali naquele estado, a perspectiva não era a das melhores.


Caminhando até onde eu fora chamada, pensei em como eu tinha parado ali.


Já fazia quase dois anos que eu trabalhava em um estúdio em Seattle, tentando convencer produtores que não dá mais certo contratar covers do Nirvana ou do Pearl Jam. À noite, eu dava aula de Yoga para um monte de madames que gostavam de trair seus maridos. Enfim, dois empregos que eu queria urgentemente largar.


Nasci e morei em Boston, Massachusetts. Sempre me interessei por música, mas nunca tive talento e coragem o suficiente para entrar em um palco. Percebi que eu preferia estar ligada à algo atrás da cortina – algo como organização e apoio. Entrei na Berklee College of Music, uma das grandes escolas de músicas, e me formei no curso de songwriting.


Logo após me formar na Berklee, então, decidi que queria fazer algo relacionado à Comunicação. Consegui uma bolsa de estudos na Universidade de Washington, onde me formei em Interação Social.


Saí da minha segunda faculdade e consegui o emprego no estúdio, achando que estava arrasando graças aos meus diplomas, mas até se eu fosse uma roqueira suja com letras depressivas eu seria contratada, como constatei depois, ao conhecer Liam, o responsável por eu estar indo à sala do sujeito que fazia pessoas chorarem.


Liam era vocalista de uma das bandas que alugava o estúdio semi-profissional que eu trabalhava. Ele se achava a reencarnação do Kurt Cobain com as bênçãos de Dave Grohl, e escrevia letras péssimas. Foi meu dever ajeitá-las um pouco e torná-las menos terríveis. No fim das contas, Liam era um cara legal e até bonitinho quando eu o convencia a tomar banho e cortar o cabelo azul marinho dele. A banda dele era um bando de escrotos e se chamava The Lamps. Sim, eu tentei de todas as formas convencer cinco caras de que “As Lâmpadas” não é um bom nome para uma banda de rock, mas quem disse que eu consegui?


De qualquer forma, o “The Lamps” conseguiu o que Liam disse ser o show da vida deles. “Nós vamos ser a banda de abertura para a banda de abertura do show de uma banda grande que vai fazer show em Auburn!”, ele me disse, com um sorriso de orelha a orelha. Ou seja, eles vão abrir para uma banda de abertura. Isso não é grande coisa, mas convenhamos, para um cara que tem uma banda chama As Lâmpadas, não é nada mal.


A banda de abertura DE VERDADE eram uns caras famosos, mas agora não lembro quem. Quando perguntei qual era a “grande banda”, ele me respondeu, com os olhos castanhos brilhando, que seria o Slipknot. E então ele começou a tagarelar sobre como aquilo seria maneiro e não sei mais o quê, enquanto eu ainda digeria a informação de que ele iria tocar no mesmo lugar que o Slipknot. Quero dizer, É O SLIPKNOT!


E é aí que eu entro. No meio da falação, Liam soltou que os caras da organização disseram que a maior parte das pessoas envolvidas nos preparativos do show eram contratados pelos organizadores do show e que foi uma grande bagunça arranjar pessoal porque era difícil falar com o empresário e aparentemente faltavam porta-vozes, porque a banda está no começo da turnê e ainda não está muito bem definida a questão dos roadies e suas funções.


Isso significava, como eu descobri depois de muito bajular Liam, que a banda precisava de gente de apoio para turnês. E que estavam sendo entrevistados, apenas por recomendação de algumas pessoas que estivessem envolvidas no show em Auburn.


Era a minha chance. Quero dizer, soava absurdo e distante, mas se eu conseguisse que o cara que toca na banda de abertura para a banda de abertura me recomendasse para o organizador do evento, para POR FIM chegar aos empresários e contratadores da banda, eu podia largar meus empregos e cair na estrada.


Pense comigo: ser roadie é o trabalho perfeito para mim. Eu sabia afinar guitarras e baixos, eu era uma excelente organizadora. Eu posso ser QUALQUER COISA para aquela banda! Além disso, eu analisei as estatísticas: Jimi Hendrix, Noel Gallagher e Kurt Cobain já foram roadies antes do Jimi Hendrix Experience, Oasis e Nirvana, respectivamente. E Ke$ha, Lady Gaga e Bruno Mars eram compositores antes do sucesso. Analise meu estilo, faça as contas e veja qual me parece mais próspero e atraente (sem ofensas).


Tenho certeza de que eu JAMAIS darei essa sorte de novo, mas ali estava eu, na frente de um dos caras responsáveis por montar o staff da banda. Eu prometi ao Liam que, se eu conseguisse o emprego, eu compraria 20 cópias do CD dele – que não estava ruim, para ser sincera.


Agora, depois de contar com a ajuda de um vocalista de cabelo azul para fazer o impossível por mim, eu só precisava enfrentar um Godzilla comedor de aspirantes a roadie.


Moleza.


Oh, sim. E mais umas dez pessoas MATANDO por essa mesma vaga. Só pra constar, já estava anoitecendo e tinham passado por ali umas cinquenta pessoas. E eu ainda tinha que voltar pra Seattle.


– Se for para me oferecer sexo selvagem, é melhor dar meia volta- disse o Godzilla assim que sentei na sala dele e encostei a porta.

– Droga, pensei que fosse a única que tivesse tido essa ideia – eu retruquei com um sorriso simpático, adentrando a sala. O cara à minha frente era moreno, barba por fazer, com quase uns quarenta anos, vestia uma camisa do Black Sabbath e usava tênis surrados. Eu definitivamente podia ser sarcástica com esse sujeito. Quero dizer, eu não faria o mesmo se ele estivesse usando terno e gravata e o tom dele tivesse sido sério. Eu lia bem as pessoas – Muitas garotas já ofereceram isso?

– Garotas não. Mas garotos... – ele disse, com um sorriso

– E nem estamos em San Francisco. – respondi. Ele me olhou com interesse.

– Acaba de concluir a pré-entrevista, senhorita. Espontaneidade e respostas rápidas. Saiba que quando fiz essa pergunta para uma garota, ela realmente virou as costas e foi embora. Você está interessada em ser roadie na área de assistência aos artistas, certo?

– Certo – eu disse rapidamente – Desculpe, mas você é...

– Oh, sim, é mesmo. Jullian Hart, braço direito do empresário da banda, porta-voz, seleciono os roadies. Está um tanto difícil no momento, porque eu não posso sair contratando qualquer um para trabalhar num espetáculo de nove caras. São mais ou menos umas quinze pessoas em cada equipe, e precisamos MUITO de pessoal. Mas vamos falar de você, Srta. Alexis Ann Foster – ele concluiu, olhando minha ficha - A senhorita deve saber que essa é a área mais difícil para se contratar alguém. Vocês são quem tem mais contato com a banda. São vocês quem perseguem os caras lembrando-os sobre roupa, maquiagem, máscaras, horários, regras que você sabe que não serão cumpridas. Você deve saber onde eles estão, porque se um desses caras some e não aparece pro show, já era. Então responda sinceramente: é fã da banda? Ou melhor, você é uma maggot? Aliás, conhece o termo?

– Conheço – eu disse, me lembrando que “maggot” é o termo para fãs da banda - Fã, sim. Maggot, não – respondi – Gosto das músicas, conheço alguns álbuns. Sei os singles e músicas mais famosas, algumas mais desconhecidas por aqueles que só ouvem Slipknot superficialmente, mas não sou maggot. Não ouvi todos os discos e demos, nem sei como metade deles é sem as máscaras.

– Certo. E então você é letrista formada em Berklee, nada mal. E estudou Interação Social aqui em Washington... Você diria que sabe lidar bem com as pessoas?

– Absolutamente. E trabalhar em equipe também.

– Como eu disse, são NOVE caras. Eles são totalmente diferentes um do outro. Acha que agüenta a pressão de ter que cuidar de NOVE caras? E assumir a culpa se algo der errado?

– Há o resto da equipe também. Como disse, trabalho em equipe...

– Ok. Você parece não estar entendendo muito bem a dimensão disso. – senti meus músculos relaxarem. Merda, aquilo era um “não”?

– Então...

– Então que todos que trabalham nessa parte são veteranos. Já foram roadies de outras bandas e do Slipknot também. E que so precisamos de umas ou duas pessoas para isso. – ele parou e pensou um pouco – Depois da costa oeste do país, passaremos por alguns estados do sul. E depois, Europa.


Eu permaneci em silêncio. Ele bufou e perdeu um pouco a postura profissional.


– Quer saber de uma coisa?

– Diga.

– Já apareceram aqui os maiores filhos-da-puta que você pode imaginar. Fãs malucos, menininhas, gente doida, gente querendo matar a banda, satânicos, um imbecil dizendo ser filho do Slash, enfim, literalmente, o caralho a quatro. Você é uma garota sem um pingo de experiência que em circunstâncias normais nem deveria estar aqui. Aliás, você nunca conseguiria. Eu tenho um cara aqui que já foi roadie do Metallica. Ele já está contratado. Na verdade, eu só contrato você se eu quiser. Senão, não preciso achar mais ninguém pro seu lugar. Fechamos.

– Eu...

– Mas – ele me interrompeu - eu gostei de você. Você tem presença. – ele fez uma pausa – Vamos ver. Se você conseguir sobreviver aos shows em – ele pegou uma lista - em Sacramento, Los Angeles, Vegas, Portland e Phoenix... E, é claro, o da semana que vem, voltamos a conversar melhor.

– Quer dizer...

– É, é, o emprego POR ORA é seu.

– Obrigada, Sr. Hart! – eu exclamei

– Jullian.

– Certo, Jullian. MUITO obrigada. – eu comecei a sair da sala, tremendo de felicidade.

– Lembre-se de que é temporário. E eu nem precisava fazer isso.

– Claro!

– Ei, garota. – eu olhei para trás - Não vai ser fácil.

– Eu sei.

– Você vai correr de um lado para o outro sem parar.

– Eu sei.

– Talvez você nem venha a conhecer todo mundo. Talvez você nem venha a ter contato com todos os caras da banda antes de seu prazo acabar. Sabe, são muitas pessoas a serviço deles, e se você não ficar de olho, nem sobra serviço pra você. Todo mundo quer garantir seu emprego, querida.

– Tudo bem.

– Putz, você é realmente otimista. Vamos ver até quando dura. – ele me estendeu um cartão com um telefone e um endereço – Esteja pronta pra cair na estrada na quinta que vem. As estadias são 45% por nossa conta. Você recebe por show e...

– Quanto eu recebo?


Ele me disse o valor.


EU DEFINITIVAMENTE QUERIA AQUELE EMPREGO!


– Bem, eu, uau, certo! Ok. Então, até quinta! – eu exclamei, e saí da sala quase aos pulos, não sem antes ouvir Jullian resmungar “Duvide que ela dure um dia”.


Eu ignorei o comentário. Estava excessivamente feliz.


Liguei para meus dois empregos, pedindo as duas semanas de férias que eu tinha direito em ambos, e já antecipando que eu poderia vir a me demitir em breve, mas que depois de duas semanas eu avisaria. De qualquer forma, os dois eram tão informais que se eu saísse, nem faria falta.


Depois, liguei pra Liam, falando para ele reservar 20 cópias do CD do The Lamps para mim.




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? Gostaram? Odiaram?
Deixe sua opinião em uma review!!
Sugestões, críticas são bem aceitas!
Provavelmente só volto a postar ano que vem, então antecipo um feliz Ano Novo pra todos!