POV Hermione Granger

Amanheceu e eu era uma das únicas já acordadas no dormitório feminino. O dia estava bonito, o céu estava limpo do jeito que fica só depois de uma tempestade daquelas. O sol brilhava e umas pequenas nuvens brancas se espalhavam naquela expansão de azul.

- Gina, vai acordando. Não podemos nos atrasar – avisei sacudindo o ombro da ruiva.

- Só mais um minutinho – ela reclamou e se cobriu até a cabeça com o lençol.

- Não mesmo, minutinho nada – ela nem se mexeu e eu decidi pular para o plano B – Neville já deve estar na sala comunal.

- Você não presta – ela se levantou e passou por mim, deu um tapa na minha bunda e foi para o banheiro.

- Você também não – respondi rindo, colocando mais um livro na mochila. Chequei meu horário, teríamos aula de Trato de Criaturas Mágicas agora – Gina! Já vou descendo. Vou te esperar lá no Salão Comunal! – gritei e pude escutar um “tudo bem” abafado pelo som de água que caía do chuveiro.

Saí do quarto e desci as escadas. O salão estava bem vazio. Fred estava sentado no sofá, olhando para a lareira já apagada. Fui até ele e me sentei ao seu lado.

- Bom dia.

- Dia – ele respondeu frio. Nem se deu ao trabalho de me olhar.

- Tá tudo bem?

- Por que você quer saber? – ele disse seco, novamente mirando à lareira.

- Porque eu me preocupo com você? – respondi fazendo outra pergunta.

- Se importa mesmo? – ele foi frio novamente – Não é o que parece.

- O que deu em você?

- Em mim nada, quanto a você...

- O que tem eu?

Ele soltou um “tsc” e revirou os olhos, levantou e saiu pelo buraco do retrato.  Fred estava muito estranho, nunca foi assim comigo na vida. O que será que deu nele?

- Oi Hermione – Neville estava ao meu lado e eu nem havia notado.

- Oi Neville – respondi forçando um sorriso.

- Você viu a Gina? – ele perguntou e suas bochechas ficaram num tom escarlate.

- Vi sim, ela já deve estar descendo.

- Ah, certo. Obrigado – ele levantou do sofá e foi até Simas e Dino, que estavam em um canto da sala.

- Então, você sabe quem pode ter feito aquilo? – Ron e Harry desciam as escadas conversando.

- Não tenho nem ideia, Ron – Harry respondeu e puxou o ruivo até o sofá onde eu estava – Bom dia, Mione.

- Oi Harry – olhei para o moreno em minha frente. Seus cabelos estavam especialmente rebeldes hoje de manhã – Oi Ron – O ruivo deu um sorriso e um aceno de cabeça.

- Vamos tomar café? – Ron perguntou passando a mão na barriga – To morrendo de fome.

- E quando é que você não está? – Harry disse e Ron deu um empurrão no ombro dele.

- Vamos, só preciso esperar a Gina – falei e eles concordaram.

- Então a espera acabou – Gina surgiu atrás de mim e eu levei um susto, com direito a gritinho e tudo.

- Hey, você me assustou – coloquei a mão no peito e respirei fundo.

- Vamos, então? – Harry foi indo na frente com Ron, e eu atrás com a Gina. Neville veio até nós e ficou ao lado de Gina, enquanto eu me sentia uma tocha olímpica ambulante. Sorri para ela e apressei o passo, alcançando Harry e Ron.

- Vocês sabem o que aconteceu com o Fred? – perguntei e os dois me olharam confusos.

- Fred? O que tem ele? – Ron perguntou.

- Não sei, ele estava meio estranho comigo mais cedo, lá no Salão Comunal.

- Ah, não deve ser nada. Relaxa Mione – Harry me tranquilizou.

Entramos no Salão Principal e vi Fred sentado na mesa da Grifinória, afastado de todos. Assim que me viu, ele se levantou e passou por nós, sem dizer uma palavra.

- Isso não me parece ser nada – disse chateada e Harry e Ron ficaram mais confusos ainda. Definitivamente havia acontecido alguma coisa. E pelo que notei, o problema era comigo. Ai meu Deus, eu mereço mesmo. Sempre que eu acordo feliz, Merlin tem que me lembrar de que a minha vida é um inferno, que nada pode ser fácil nem que seja uma vez só. Depois dessa até perdi a fome.

POV Fred Weasley

Hermione chegou ao Salão Principal com Harry e Ron. Assim que nossos olhares se encontraram, eu o desviei. Larguei a torrada no prato e me levantei, passei por eles e segui andando. Cheguei à sala da Minerva. Minha primeira aula de hoje seria Transfiguração. Obviamente, fui o primeiro a chegar à aula. Nem mesmo a própria professora estava lá. Sentei em uma carteira e me permiti mergulhar em pensamentos.

Flashback on:

Estávamos jantando, todos juntos na mesa da Grifinória. De repente, Hermione se levantou do banco e saiu andando. Olhei para trás e vi Draco a seguindo. Depois de um minuto ou dois, disse a todos que ia dormir. Segui para fora do salão e fui procurar os dois. Escutei vozes vindas de um corredor a minha esquerda. Virei e vi Draco atrás dela.

– Hermione, por favor, me escuta – ele falou e eu me escondi atrás de uma pilastra, não queria ser visto – Saiba que eu não desisto fácil – ele tornou a falar e a segurou quando ela tentou fugir. Deixei de olhar os dois por um momento, respirei fundo e tentei me acalmar, estava a ponto de ir até lá e dar um soco naquela cara de fuinha albina que ele tem. Segurava minha varinha com força, mas por um ato de consciência, a guardei mais uma vez no bolso do uniforme. Voltei a olhá-los e me deparei com aquilo. Ele a beijava e ela retribuía. Era querer ser idiota né? Ele praticamente a humilha na frente de todos e ela mesmo assim morre de amores por ele.

Senti meu rosto ferver e um leve calor em volta de pescoço. Decidi sair dali antes de fazer qualquer besteira. Eu não acredito que pude pensar que ela se interessaria por mim. O que ele tem que eu não tenho? Dinheiro? Cabelo oxigenado? Cara de furão? Não, ele a tem.

Flashback off

Passei as mãos pelos cabelos e abaixei a cabeça. Eu que era o verdadeiro idiota da história.

- O que faz aqui tão cedo, meu amorzinho? – Lino apareceu seguido de Jorge.

- Não ato afim hoje, gracinha – respondi ao Lino e ele se fingiu de triste.

- Bem que mamãe disse que era melhor eu ter ficado com seu irmão – Lino disse com uma voz irritantemente fina, se agarrando em Jorge.

- Eu hein – Jorge saltou para o outro lado – Não sou dessas coisas, não!

- Ih, amarelou já, só falta virar lufano – Lino deu uma risada e Jorge sorriu de lado.

- O que houve contigo, Fredoca? – Jorge sentou na mesa e colocou os pés na cadeira onde eu estava.

- Nada – respondi sério.

- Sei – Lino desconfiou – Se não aconteceu nada contigo, então a Minerva é um elfo doméstico disfarçado.

- Posso confirmar que não, senhor Jordan – Minerva apareceu e com ela, vários outros alunos entraram na sala – Senhor Jorge, saia de cima da mesa, Lino, vá para seu lugar e Fred – ela pareceu procurar algo de errado em mim – arrume sua gravata – disse por fim e eu dei um sorriso fraco. A aula começou e eu tentei me concentrar. Tentei né.

- Muito bem, sentem-se todos, e sem brincadeirinhas aí no fundo – ela apontou para a parte de trás da sala, onde por coincidência Lino estava sentado. Comecei a ficar disperso. Eu estava longe, meus pensamentos me tiravam daquela sala.

Jorge estalou os dedos na frente dos meus olhos e eu pareci ter voltado à realidade.

- Você vai ficar aí? A aula já acabou – Ele colocou a mochila em um dos ombros enquanto eu comecei a guardar minhas coisas – Eu sei que tem algo acontecendo Fred, eu sinto. Sou seu gêmeo.

- Não tem nada, Jorge. Não se preocupe.

- Nada é? Aham deve ser mesmo – ele desconfiou e saímos da sala. Próxima aula, História da Magia. Ótimo, pelo menos vou poder dormir nessa. Ninguém merece o Binns, minha atenção não fica com ele e eu acabo pensando coisas, coisas essas que me fazem querer arrebentar a cara de certo loiro. Tudo bem, se controla Fred.

POV Harry Potter

Aula de Trato de Criaturas Mágicas com a Sonserina. Eu deveria estar chateado com isso, mas por incrível que pareça, eu estava até animado.

Fomos nos aproximando da orla da floresta, perto da cabana de Hagrid, mas o próprio não estava lá. Quem daria a aula de hoje seria a professora Grubbly-Plank.

- Que será que aconteceu com o Hagrid? – perguntei a Ron e Hermione, que andavam do meu lado.

- Não tenho nem ideia – Ron respondeu, enquanto Hermione estava absorta em pensamentos – Hermione? – Ron chamou, mas ela não respondeu, tinha o olhar desfocado e estava no além.

- Mione? – chamei e ela saiu do conflito interno consigo mesma, me olhou e fez uma cara confusa – Hey, o que aconteceu contigo?

- Nada Harry, nada aconteceu – ela respondeu e abaixou a cabeça.

- Acredito – desconfiei.

- Você se importa se não falarmos disso agora? – ela ainda não me olhava, apenas encarava seus sapatos com grande interesse.

- Tudo bem, mas mais tarde você vai me contar.

- Me contar nada – Ron se pronunciou enquanto arranjávamos lugar no meio dos alunos – Nos contar!

- Vocês hein, desde quando minha vida pessoal se tornou da conta de vocês dois? – Hermione perguntou com um pouco de indignação em sua voz.

- Desde que você andou toda estranha no café da manhã – Ron disse e Hermione revirou os olhos – Na verdade, sempre foi da nossa conta, Mione – ele acrescentou e levou um pequeno tapa no braço da castanha.

Acabamos por achar Blaise, Draco, Pansy e Astória encostados em um amontoado de pedras grandes que havia ali perto.

- E ai? Como estão? – Astória foi a primeira a falar, como sempre.

- Bem – respondi e senti Ron me cutucar. Vai começar agora.

- Ótimo. Vocês sabem o que aconteceu com o Hagrid? – ela fez a mesma pergunta que eu há uns minutos atrás.

- Não. Na verdade, acho que ninguém sabe ainda – Draco falou, enquanto dava um abraço na Mione e um selinho nos lábios dela.

- Muito bem alunos, se aproximem. Hoje iremos falar de algo muito interessante. É uma criatura muito curiosa, na verdade – a Professora Grubbly-Plank chegava com uma gaiola realmente grande flutuando ao seu lado. A gaiola aterrissou ao chão e uma pequena fumaça de areia levantou da terra.

- E o que seria, professora? – Hermione perguntou com a mão levantada.

- Bom, hoje vamos falar sobre amassos – a professora respondeu e todos os alunos ali começaram a abafar risadas.

- Ah, disso eu sei bem – Blaise disse, gerando mais risadas dos presentes.

- Amassos? – Ron sussurrou pra mim – Realmente, muito interessante – ele riu e eu fiz o mesmo.

- Antes que vocês pensem em coisas inapropriadas para essa aula – a professora falava sorrindo -, saibam que os “amassos” de que falaremos hoje são criaturas!

- E eles vão nos beijar? – Blaise falou novamente, e mais risadas vieram.

- Não, senhor Zabini. Não irão beijá-los. Amassos são pequenos felinos com pelo pintado ou malhado, grandes orelhas e rabo igual ao de um leão. Eles têm uma capacidade excepcional de detectar pessoas suspeitas ou indesejáveis.

- Pronto Blaise, agora você já pode ir embora – Astória falou e Blaise ficou confuso – Você já é indesejável o bastante – a turma inteira deu gargalhadas.

- Eu sei que você me ama, loira – ele a abraçou rapidamente, e eu senti uma pontadinha de ciúmes.

- Deixa de ser convencido, garoto – Astória sorriu e se afastou do moreno.

- Muito bem, depois dessa linda troca de gentilezas, vamos voltar à aula – a professora se pronunciou e prendeu novamente a atenção dos alunos - O amasso é inteligente, independente e por vezes agressivo... – ela foi falando e eu fui deixando de prestar atenção.

Lilá acenou para Ron, e ele me olhou duvidoso.

- O que você acha que foi aquilo? – Ron perguntou para mim aos sussurros.

- Sei lá, só ignora – respondi olhando para Astória. Ela era tão linda, tão brincalhona e inteligente.

- Vai querer um balde? – Ron perguntou e eu não entendi.

- Por que eu iria querer um balde?

- Vê se para de babar, Harry – Ron colocou a mão abaixo do meu queixo e fechou minha boca. Senti meu rosto ferver. Um misto de vergonha e timidez me preencheu.

- Ron, você quer fazer dupla comigo? – Lilá apareceu na nossa frente e olhava para Ron, mexendo compulsivamente no cabelo.

- Dupla? – Ron disse meio abobalhado. Dessa vez fui eu que o cutuquei.

- É, a professora Grubbly-Plank mandou nos dividirmos em pares para analisarmos o amasso – ela mordeu o lábio inferior – mais de perto.

- É, hmm... – Ron começou com essa enrolação e eu o cutuquei mais uma vez, ele olhou para mim e eu fiz um sinal negativo com a cabeça.

- Ron, venha – Pansy apareceu e encarrou Lilá.

- Lilá, eu vou fazer dupla com a Pansy – Ron respondeu e Lilá pareceu surpresa.

- Com ela? Caia na real, Ronald, eu sou bem melhor pra você! – Lilá se jogou em cima do Ron e Pansy abriu a boca, pasma.

- Melhor do que eu? – Pansy pegou Lilá pelo braço e a afastou de perto do Ron – Francamente, minha filha, você nem se compare a mim!

- Não, é? – Lilá estava ficando vermelha, de raiva, acho.

- Claro que não, eu sou bem melhor do que você.

- Melhor? Ah, faça-me rir! Eu já fiquei com bem mais garotos do que você!

- O que só prova o quanto você é vagabunda e precisa de atenção para que alguém se lembre de você! – Pansy revidou e eu só ouvi um “UUUUUH” de todos os colegas. Agora todos prestavam atenção nas duas, inclusive a professora.

- Vagabunda? – Lilá estava chocada – E quem ficou se agarrando com o Neville no meio do corredor?

- Eu só o beijei pra você deixar ele em paz! Ele estava fugindo de você e de suas amiguinhas malucas.

- Nossa, que criativo – Lilá revirou os olhos – Até parece!

- Cala a boca garota! Você é só mais uma vadia que só pensa em homem e maquiagem. Tá pensando o que? Mais da metade de sua “beleza” – Pansy desenhou aspas no ar – sai com água.

Foi então que Lilá voou pra cima da Pansy. As duas saíram no tapa e no puxão de cabelo. Rolavam pelo chão se batendo enquanto só se ouvia “briga, briga, briga” de todos em volta.

Puxei Ron e tentamos separá-las. Eu segurei Lilá e ele a Pansy. As duas se debatiam em nossos braços e tentavam estapear uma a outra. A sineta tocou e eu agradeci por isso. Todos foram se dirigindo para o castelo, enquanto Ron puxou Pansy para um canto.

- Me solta Potter – Lilá saiu de perto de mim, batendo o pé.

- Ela é muito boba, mesmo – Astória apareceu atrás de mim e eu me sobressaltei.

- Boba? – perguntei sorrindo.

- É, boba de acreditar que fica com homens. Aquilo que ela diz beijar são apenas garotinhos interessados em uns “amassos” – ela explicou e eu ri com esse final.

- Então, Astória Greengrass, o que é um homem de verdade pra você? – disse oferecendo o braço, o qual ela aceitou e se abraçou nele, andando comigo em direção ao castelo.

- Você não é homem porque pega várias, e sim porque faz uma feliz. Um homem de verdade não se importa com o tamanho dos seios ou a largura das coxas de uma mulher, porque sabe que a curva mais linda da mulher é o sorriso. Um homem de verdade repara na forma tímida com que as mulheres colocam o cabelo atrás da orelha, na risada, na forma como os lábios dela se movimentam, nos movimentos leves ou exagerados, na forma como ela pronuncia seu nome. Isso faz um homem de verdade – ela olhou para mim e sorriu. Fiz o mesmo e continuamos andando juntos até chegar à entrada do castelo – Harry, preciso ir. Minha aula de Adivinhação começa em menos de dez minutos.

- Tudo bem – notei como eu fiquei feliz dela ter pronunciado meu nome. Ela deu alguns passos e eu fui sentindo um vazio – Astória!

- Oi? – ela se virou para me olhar.

- Você tem razão.

Ela apenas sorriu, acenou com a cabeça para mim e retornou seu caminho, enquanto eu tinha certeza de que estava com uma cara de bobo, a olhando virar um corredor e ir embora. Mal posso esperar para estar com ela de novo.