Come Back escrita por sankdeepinside


Capítulo 3
Um dia com ele


Notas iniciais do capítulo

Esse não foi betado por que eu escrevi depois que a minha beta viajou, então perdooem qualquer erro



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Já estava há cerca de 15 minutos sentada no meio-fio da calçada da porta do hotel, o sol estava tão quente que me fazia considerar a possibilidade de fritar um ovo na minha cabeça, era uma boa alternativa, levando em conta que já passava do meio dia e eu estava morrendo de fome. Mas o fato é que eu estava eufórica demais pra me estressar muito com o atraso da minha carona, na verdade se ele realmente viesse já seria um grande alivio, não ligaria se pegasse uma insolação ou qualquer coisa do tipo por causa disso, eu só queria que ele chegasse.

Por volta das 11h o telefone do hotel tocou e a voz da recepcionista brevemente me passou a ligação, a voz meio rouca de quem estava com um pouco de ressaca soava deliciosa ao telefone, fazendo com que um ligeiro arrepio percorresse meu corpo

- Wade? Bom dia garota!

- Jimmy! – mesmo depois de ele ter pegado meu telefone ontem a noite e confirmado que realmente me ligaria eu ainda assim estava surpresa, na verdade eu tinha impressão de aquilo tudo era um sonho e logo eu acordaria em 2013 novamente, sozinha e frustrada pelo falecimento dele – Bom dia pra você também!

- Te acordei?

- Não! Eu já estava de pé a algum tempo

- Legal. Hum, e então, ta mesmo afim de ter James Sullivan como seu corretor imobiliário? Olha que passei mais da metade da minha vida morando em cafofos mal iluminados! – Ele soltou uma risada sonora

- Se isso for te atrapalhar Jimmy, você não precisa...

- Não é nada disso Allie – ele disse meu nome em um tom descontraído, fazia parecer até algo bom de ouvir – É só que não sei se os lugares que eu conheço são bons o suficiente pra uma garota, são lugares de bom preço, que cabem uma pessoa e meia, alguns são verdadeiros cortiços

- Bom, eu estou disposta a conhecer, mas vamos fazer o seguinte, você me mostra os que você achar melhor e eu vejo se me interessa, se não eu procuro ajuda profissional. Quero algo só para uns cinco meses

- Hum, é, me parece sensato, mas porque só cinco meses?

- Não vou ficar aqui pra sempre, é mais como uma... experiência nova no litoral

- Ahm, tudo bem então. Posso te pegar já pro almoço? Sei de um lugar bacana aí na Pacific Cost

- Tudo bem mas, ahm, a Leana não vai se importar?

Ele ficou mudo alguns instantes no telefone

- Não, ela não vai ligar.

- Ah, então tudo bem – não sei por que, mas o meu coração estava batendo tão forte que eu tive medo de que ele pudesse ouvir pelo telefone. O fato é que eu o amava, e cada palavra trocada com ele, cada risada e cada vez que eu ouvia a voz dele significava muito para mim. Sei que Max me advertiu sobre isso, mas era inevitável controlar o que minha alma de fã apaixonada sentia.

- Ótimo, chego aí em uma hora Allie.

Desde essa conversa no telefone já se passaram uma hora e quinze minutos, ele estava atrasado. Minha pele já ardia embaixo do sol, de onde eu vinha o sol não ardia tanto, a salvação é que por estamos relativamente perto da praia uma brisa fria vez ou outra refrescava um pouco, não colaborava muito em manter o cabelo desarmado, mas refrescava.

Eu brincava um pouco com os cadarços do All Star quando o Hyundai preto parou na minha frente, a porta do carona se abriu e um rosto sorridente me analisou por alguns segundos

- Entra aí garota

Me levantei do meio fio e bati a areia dos shorts, sentei no banco do carona e fechei a porta do carro.

- Você está atrasado!

Mesmo por trás dos óculos escuros que ele usava consegui distinguir a expressão de ‘What this fuck’ que se formou no rosto dele

- Desculpe – ele abriu um meio sorriso – Não sabia que tinha que ser tão pontual

Minha expressão congelou

- N-não! Você não precisava, me desculpe, você só está querendo ajudar e eu aqui bancando a chata, realmente me desculpe.

Ele gargalhou alto, eu inclusive preciso ressaltar que a risada dele era a maravilha acústica mais perfeita do universo

- Tudo bem então Allie

Virei uma das saídas de ar condicionado para o meu rosto, ainda estava com muito calor, Jimmy pareceu notar

- Muito calor?

- É, ainda não estou acostumada com o calor daqui

- Hum – ele tirou os olhos da direção por uma pequena fração de segundos e me olhou, bem rapidamente – Você está bonita Allie

- Acho que você é retardado

- Que?

- É cara, de onde você tirou que eu sou bonita?

Ele continuava com os olhos na direção, mas moveu a cabeça dando a entender que eu estava falando o maior absurdo

- Você se acha feia?

- Não, só não acho que tenha nada atrativo.

- Por quê? – ele ainda sorria

- Não vou discutir minha falta de beleza com você Jimmy – Desviei o olhar e encarei as ruas da cidade pela janela

- Eu hein, você é estranha Wade

- Isso com certeza eu sou

- Eu gosto de gente estranha – o olhar dele ainda se mantinha no transito, e eu dei graças a deus porque não queria que ele visse que meu rosto ardia feito pimenta.

Ele dirigia o carro com o pé fundo no acelerador, a cada curva que ele fazia eu me agarrava com força no banco do carro, eu estava quase me mijando nas calças depois que ele ultrapassou o sinal vermelho correndo e escapando muito pouco de bater em uma caminhonete que vinha do outro lado. Quando ele freou o carro e estacionou em frente ao Sugar Shack senti que todo o sangue tinha fugido do meu rosto.

- Chegamos! Hey o que você tem? Ta branca feito papel

- Eu vi toda a minha vida passando diante dos meus olhos! Jimmy você corre demais, acho que meu estomago foi parar nas minhas costas

Ele sorriu e deu de ombros

- Relaxa, você se acostuma. Agora vamos que eu estou morrendo de fome.

Descemos do carro e entramos no restaurante, estava bem cheio, acho que era norma naquele horário, conseguimos uma mesa sem muita dificuldade e assim que sentamos um garçom foi até a nossa mesa, bastante sorridente, ele tratou Jimmy com muita intimidade, perguntou pelas irmãs dele e por alguns amigos que eu desconhecia, sobre a banda e sobre o tempo que ele ficaria ali em Huntington Beach, por fim o olhar dele caiu sobre mim

- E ela? Quem é?

- Ah, essa é a Allie

- Alison – eu o corrigi porque não tinha certeza se ele havia falado o meu apelido por não se lembra do meu nome. Mesmo assim sorri e estendi a mão para o rapaz, que a apertou e disse se chamar Samuel. Ele pareceu não estranhar o fato de Jimmy estar com uma mulher que não fosse Leana ou Val, na verdade ele não deu muita importância a minha presença.

- Mas então, o que vão comer?

Jimmy me convenceu a acompanhá-lo em um prato a base de pescados, típicos da região e especialidade da casa, que ele garantiu que eram os melhores, acompanhados de duas latas de coca-cola, espera aí, coca-cola?

- Sério que vai beber só refrigerante

- Sim, qual o problema?

- Nada, só que eu achei que você só consumia álcool. Eu sou uma idiota mesmo

Ele tinha a expressão de um pouco perplexa

- E o que te fez acreditar nisso? Só porque me conheceu em um bar não significa que eu não beba outras coisas – É claro, ele pensava que eu o havia conhecido apenas naquela noite no bar, ele não tinha ideia do quanto a minha obsessão de fã tinha me permitido saber sobre ele, tinha sido idiotice achar que ele vivia 24h por dia bêbado – Espera aí, a não ser que...

Ele estava prestes a descobrir alguma coisa, tentei desconversar

- Hum, legal essa decoração daqui – ele não deu ouvidos e continuou seu raciocínio

- A não ser que você me conheça! Você conhece a banda não conhece Alison?

Eu abaixei o olhar

- Acho que conheço um pouco sim

 Ele bateu os punhos na mesa e sua voz saiu em um tom mais elevado

- E por que você não falou isso pra gente? Ta querendo me fazer de idiota?

Eu estava assustada, a reação dele me pegou de surpresa

- Você está zangado comigo?

Ele soltou o ar pela boca e seu semblante normalizou

- Não, me desculpe por gritar com você. É que eu to cansado de gente que se aproxima da gente querendo se aproveitar sabe? Principalmente...de mim – ele esboçou um pequeno sorriso – mas por que não contou que nos conhecia?

- Não quis parecer chata – abaixei a cabeça, eu realmente não tinha a intenção de mentir pra ele, mas eu precisava me aproximar dele, caso contrário daqui a alguns meses eu não vou conseguir ficar próxima o suficiente para impedi-lo de ingerir qualquer coisa que o prejudique e o leve a morte.

- Tudo bem, mas hum, o quanto exatamente você sabe sobre nossas vidas? – ele agora tinha o tom mais suave

Tentei não encará-lo, era muito difícil ser sensata olhando nos olhos dele

- Bom, basicamente o que rola na rede é que vocês são um bando de alcoólatras infiéis – ele abriu um sorriso maior

- Bom, isso não é uma mentira – os olhos azuis dele cintilaram na direção dos meus – E o que mais?

- Hum, além disso? Tirando o que se lê na Wikipédia, também sei que você é um ótimo caçador de patos

- Sou o melhor, com certeza. E o que mais?

- Só isso

- Só? Achei que vinha muito mais coisa – Nunca que eu vou falar tudo o que eu sei, é capaz que ele pense que sou uma obcecada louca e saia correndo daqui

- Não

- Hum

Silencio, ele não tinha nada pra dizer, nem eu. Olhei em volta, nenhum sinal de Sam com a nossa comida, comecei a ficar um pouco incomodada com o silencio dele e tentei desviar minha atenção, peguei o saleiro e fiquei girando-o na mesa, com os olhos baixos, eu sabia que ele estava me encarando. Logo as mãos dele começaram a tamborilar na mesa, bem rápido, quase tive certeza que era uma melodia que eu conhecia. Levantei os olhos pra ele e o encarei

- O que foi?

- Que melodia é essa que você acabou de fazer com os dedos?

- Melodia? Não tinha melodia nenhuma, só dedos batendo na mesa

- Hum – voltei a olhar para o saleiro

- Por que perguntou isso?

- Por nada, achei que fosse alguma musica que eu conhecia

- Ah, acho que era assim – ele repetiu o movimento com os dedos, uma onda atravessou o meu corpo, meus olhos se abriram espantados – Que foi? É mesmo alguma música que você conhece? Talvez eu tenha ouvido algo no radio e deve ter ficado na minha cabeça

- Não, eu não conheço essa música, acho que ela não existe

- Ah

Na verdade eu conhecia sim, reconheceria a bateria da introdução da Nightmare até embaixo d’agua, mas a música de fato ainda não existia. O mais espantoso era a rapidez que ele conseguia reproduzir o som apenas com o tamborilar dos dedos.

Sam chegou com os pratos, a principio eu relutei um pouco, não tinham sido muitas as vezes que eu comera peixe na minha vida, mas depois que provei melhor, o sabor me pareceu bastante agradável.

- E então, o que achou?

Ele mastigava com o canto da boca e olhava pra mim

- É melhor do que eu imaginava

- Acho que vou considerar isso como sinal de aprovação – ele me deu uma piscadela e sorriu

Depois do almoço ele me levou ao nosso primeiro imóvel, o que eu posso dizer do lugar? Bom, era bem peculiar

- Mas que porra é aquela na parede? É uma infiltração?

- Não fale dela assim, ela tem sentimentos! – Olhei incrédula para ele e então ele me puxou pelos ombros, me obrigando a encarar aquela coisa na parede. De perto era ainda pior, mofada, úmida e com um cheiro esquisito – Se você olhar bem, ela tem o formato do Godzilla, tudo bem que quando eu morava aqui era bem menor, mas agora está bem mais legal, olha só

- Isso é nojento Jimmy!

- Não é nada, todos os meus amigos achavam irado

- Garanto que as garotas que você trazia aqui não achavam

Ele abriu um sorriso malicioso

- Quando elas vinham aqui estavam ocupadas demais pra reparar em alguma coisa

Eu gargalhei alto

- Me poupe dos detalhes

- Tudo bem, já que não gostou dessa podemos ir para a próxima

- Ótimo, não vejo a hora de sair desse lugar horroroso

- Eu disse que nenhum deles eram hotéis cinco estrelas

- Eu sei, não espero que nenhum deles seja, só espero poder dormir sem que caia um pedaço de reboco na minha cara

Ele riu

- Sendo assim, vamos ao próximo

Ele saiu me empurrando pelos ombros até a porta, assim que chegamos à rua reconheci Leana, do outro lado da calçada, beijando um homem, eu fiquei estática, Jimmy que vinha logo atrás de mim logo parou ao meu lado, seu rosto não tinha expressão

- E-eu sinto muito por isso Jimmy – eu falei baixo por ele

- Anda, vamos embora – ele me puxou pelo pulso

- Como assim, você não vai fazer nada?

- O que você quer que eu faça? – ele virou bruscamente pra mim, tentei ler seus olhos, mas estavam indecifráveis

- Sei lá Jimmy, enche o cara de pancada, grita com ela, sei lá, faz o caralho, mas faz alguma coisa!

A expressão dele se normalizou

- Pelo menos esse é mais alto, o outro devia bater na minha cintura

- Que?

- É da natureza dela trair Alison, e eu não a culpo por isso. Não tenho nenhuma moral pra chegar lá e bater em ninguém ou você acha que eu também sou fiel a ela? É claro que não

- Mas...

- Finge que você não viu nada okay? Vamos olhar sua próxima casa

Ele abriu a porta do carro e eu entrei, depois ele assumiu o volante e conduziu o carro, dessa vez bem mais devagar. O silêncio ártico voltou, escorei o cotovelo na janela e encarei a cidade pelo vidro, pra onde quer que se olhava era possível ver rapazes com pranchas, mulheres bronzeadas de saída de banho, garotos andando de skate, donos de lojas varrendo as respectivas calçadas.

- Jimmy, será que pode me deixar no hotel agora?

Os olhos dele desviaram do transito pra mim rapidamente, pareciam surpresos

- Por quê? Está se sentindo mal?

-Não eu só, prefiro olhar o restante das casas outro dia – eu continuei fitando as ruas que agora passavam a uma velocidade razoável

- Foi por causa da Lea que você ficou assim?

- Não, eu só... estou sem energias

Ele franziu o cenho, notei os nós dos dedos dele embranquecerem a medida que ele apertava o volante com força

- Por que eu tenho a impressão de que você está mentindo?

- Porque talvez eu esteja – Eu fiz uma pausa breve – Só me deixa lá okay?

- Eu fui tão ogro assim?

- Não eu só, estou um pouco envergonhada

Um meio sorriso se abriu no rosto dele

- Por que?

- Por tudo

- Eu é que devia estar envergonhado oras, eu é que fui descoberto

- Descoberto? – um sorriso brincou no meu rosto

- É, você descobriu que eu sou corno! – Nós dois sorrimos, ele mesmo brincava com a situação – Mas já que você não quer mais olhar casas, nós podemos fazer algo mais legal, que acha?

- Tipo o que?

- Encher a cara, talvez

- Isso confirma a minha teoria de ‘bêbados infiéis’, sabia?

- Que se foda

- Okay, encher a cara me parece uma boa, mas não sou uma boa companhia pra beber muito

- Por quê?

- Não sou uma grande conhecedora de bebidas

Ele riu

- Então você está andando com a pessoa certa, eu conheço TODAS!

- Uau!

Ele deu uma piscadela para mim com um ar brincalhão no rosto

- Ótimo! Vamos para a casa do Matt, é sempre mais divertido encher a cara lá

- Por quê?

- Por que em um piscar de olhos todos aparecem lá, a Val bebe com a gente e o Matt não se importa com a bagunça.

- Será que não vai parecer estranho eu chegar lá assim do nada?

Ele gargalhou

- É claro que não

E então ele afundou o pé no acelerador novamente, o bom humor voltou aos seus olhos e isso me soou no mínimo fascinante.


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