Come Back escrita por sankdeepinside


Capítulo 27
Nada mais importa


Notas iniciais do capítulo

Olááá. Ai gente acho q demorei um pouquinho dessa vez né? Me desculpem por isso, coloco a culpa no fato de eu ter demorado muito pra decidir a respeito do que aconteceria com o Sam. Recebi sugestões muuito boas mesmo, tão boas q eu acho q nem dei a resposta de algumas pq eu realmente decidi a uma hora atrás o que aconteceria. Eu fiquei muito em dúvida com duas sugestões, a da HallsdePimenta e da Snow_Angel q ficaram martelando a semana inteira na minha cabeça, quando eu conclui que eu não conseguiria me decidir pedi a ajuda da minha beta, a LaísBarcelos e ela acabou me dando uma terceira opinião que eu achoo que acabou dando mais certo com o desfecho da história, eu adorei a sugestão de vcs, adorei mesmo, mas a sugestão da Lalis deu mais certo com a história. Mas muito obrigada por terem se dado ao trabalho, muito obrigada mesmo.
A maior reclamação do capitulo passado foi tipo "Ah Lara pq vc parou na melhor parte?" eu fiquei comovida com o apelo de vocês e resolvi fazer um big capitulo pra vcs, o maior capitulo q eu ja fiz na minha vida. Ainda tem muita coisa pra acontecer então here we go, espero que gostem do capitulo.
Boa leitura
beeijos *u*



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- Me desculpem por isso – Eu disse enquanto recolocava o microfone que eu acabara de derrubar de volta no apoio, as crianças na platéia sorriam e gritavam, o show tinha terminado nesse exato instante e por distração eu acertara o cotovelo no microfone que ficava perto da bateria – Eu juro que não estou bêbado – eu disse sorrindo e eles gritaram mais uma vez – Pelo menos não ainda. Boa noite Madison! Até a próxima.

Depois disso enfim consegui sair do palco, eu estava um pouco distraído hoje, não sei nem como consegui tocar sem derrubar a baqueta, acho que já não preciso mais da minha consciência pra tocar, é algo tão natural quanto respirar.

Passei pelo corredor ganhando alguns tapinhas no ombro, alguns parabéns pelo show e coisas do tipo, eu estava exausto, tirei a camisa ali mesmo enquanto caminhava, grande merda essa cidade que diziam ser fria. Frio o cacete, eu tava suando em bicas. Peguei uma garrafa d’água e continuei caminhando, encontrei Jason guardando o baixo do Johnny.

- Hey princesa – ele disse sem tirar os olhos do trabalho – Ótimo show

- Obrigada Jay. Hey man, fez o favor que eu te pedi?

- Fiz sim, os garotos estão te esperando na terceira sala no fim do corredor, depois da sala com o lanche.

- Ah já estou indo pra lá, tenho que resolver logo esse lance pra deixar o moleques caírem na estrada.

- Ta brincando? Os carinhas tavam surtando aqui, achei que iam ter um treco! Ainda quero meu pagamento okay? Mas nada de me pagar com esse seu pau mole, eu quero dinheiro meu caro, isso que eu fiz se chama hora extra!

- Nossa como você ficou interesseiro Berry. – falei fazendo cara de tristeza – Pensei que o nosso caso envolvesse sentimento, mas prometo que pago os serviços dessa vez meu amor – logo depois de dizer isso saí quase correndo por que ele atirou alguma coisa em mim

Fui sorrindo pelo corredor, mas antes de alcançar a sala onde os garotos estavam alguma coisa chocou de leve em minha perna.

- Porra Berry eu só tava zoando – me virei e acabei me assustando com o que eu vi – Menina?

A pequena perecia muito atordoada e os olhinhos estavam levemente vermelhos e úmidos de lágrimas, mas ela abriu um sorriso no meio delas.

- Gigante!

Allie

- Não largue minha mão okay? – eu falei para Shannon que insistira em descer do meu colo, apesar de ela já estar ficando pesada para carregar no braço eu achei que seria mais seguro ficar com ela no colo, mas infelizmente minha filha não era muito compreensível.

- Não vou largar mamãe. – ela falou distraída enquanto olhava para uma garota de cabelos azuis.

Conseguimos um lugar na arquibancada do estádio, foi só o que deu para conseguir comprando na última hora, pelo menos ali não era tão tumultuado e eu conseguia ter uma vista de cima do palco. Eu sinceramente estava com medo da Shay ficar assustada, afinal desde que entramos ali que ela olhava para todos curiosa, não chegou a se assustar, mas ficava encarando por um bom tempo. Mas o que eu ficava com medo mesmo era do som alto que ia começar, eu teria que sair correndo se ela começasse a chorar ou coisa do tipo.

A introdução de Nightmare iniciou e as luzes baixaram, apertei a mão da Shay com um pouco de força, confesso que estava mais nervosa do que ela, na verdade Shannon estava normalmente tranqüila comparada a mim, afinal a fã ali era eu.

Acho que havia esquecido a sensação de vê-los ao vivo, fazia tempo que eu e Max não nos dedicávamos aos nossos afazeres de fãs, mas o sentimento parecia brotar do fundo do meu peito exatamente como antes, era como se eu estivesse redescobrindo a banda, como se fosse o primeiro show da minha vida. Eu tava pirando.

 Shadows subiu no palco e eu achei que ia chorar quando ele cantou a primeira nota, a voz rouca dele no início da música arrepiava o mais insensível dos ouvintes, era maravilhosa. Vi Zacky, Brian e Johnny parecendo pequenos bonequinhos e acenei feito uma retardada, mas nenhum deles jamais conseguiria me identificar àquela distância, Jimmy estava um pouco mais para o fundo e o máximo que eu conseguia ver era o cabelo negro se agitar vez ou outra.

Olhei para Shannon, ela parecia paralisada.

- Shay? Ta tudo bem? – Me abaixei e fiz seu rostinho se voltar para mim, ao encarar meus olhos a pequena piscou algumas vezes, provavelmente saindo do transe em que estava.

- MAMÃE!

- O que?

Ela ficou balbuciando algo que eu não consegui compreender, já estava ficando nervosa quando ela abriu um sorriso e levou as mãos à cabeça. Acho que aquilo era algo positivo. Logo em seguida eu e ela começamos a gritar feito duas malucas, a essa altura eu já estava chorando feito uma criança. Almost Easy começou e eu já nem conseguia gritar o “I’m not insane” com o Matt do tanto que eu chorava, Shannon achou estranho, e eu tentei parecer normal, mas eu também não conseguia explicar que não era de tristeza que eu estava chorando. Eu estava surtando.

Quando o riff de Crossroads começou a tocar e a enorme roda punk começou a se formar lá embaixo eu comecei a achar q estava na hora de descer dali, levaria um certo tempo até eu chegar do outro lado e ir para o backstage, além disso ainda teria uma multidão de fãs que eu teria que passar. Aliás, como eu ia passar?

Peguei minha pequena no colo, ela parecia bem cansada já que nem protestou quando a peguei, depois disso foi uma maratona, a escada do estádio estava cheia de lixo e pessoas se atracando, eu realmente havia sido maluca de levar Shay pra aquele lugar, mas eu não tinha escolha, eu precisava que ele a visse com os próprios olhos. Quando eu cheguei no chão já estavam quase acabando de tocar Unholy Confessions.

Ao me ver com a criança no colo, o segurança hesitou um pouco se me deixava passar ou não.

- O show já está no fim cara, por favor?

- Você é maluca de trazer uma menina desse tamanho pra um lugar desses – ele resmungou enquanto abria passagem para mim.

Dei um meio sorriso pro segurança e senti Shannon se esticar para descer do colo

- Aqui não Shay, tem muita gente – A multidão se dissipara muito pouco, mas já havia conseguido chegar perto do local por onde os meninos sairiam.

- Eu quero descer!

- Não Shannon!

Ela se retorceu o quanto pode e eu acabei colocando-a no chão, mas apertei bem sua mão. Fiquei olhando para o alto, o show acabara. O primeiro a sair foi Matt, tentei chamar a atenção dele, mas a público ainda gritava muito, ele nem olhou na minha direção. O Segundo foi Brian, ele passou tão rápido que nem tentei nada, ele parecia um pouco irritado até. Quando Zacky passou, eu quase tive esperança, ele olhou na minha direção, mas nessas horas ser do meu tamanho era uma merda, um cara enorme empacou na minha frente e ele não me viu. Eu só tinha duas pequenas chances agora, Johnny e...

- Me desculpem por isso – a risada dele no microfone desviou totalmente minha atenção, ele havia esbarrado em algumas coisas e agora tentava arrumá-las, era engraçado ver um cara enorme daqueles todo envergonhado. Era lindo. Estava muito suado, a camiseta grudando um pouco nas costas, o cabelo todo para o alto meio bagunçado, ele parecia um pouco mais magro, algo que eu não notara ao vê-lo ontem.

Olhei pra frente rapidamente, Johnny estava vindo, eu precisava de um modo de chamar a atenção dele, mas como? Puxei um pouco de ar e gritei com tudo que eu tinha nos pulmões:

- JOHNNY! MEUS PEITOS! – Bingo! Ele olhou certeiramente para mim e soltou uma risada do tipo “Não acredito que isso está acontecendo". Depois pediu pra um roadie me tirar da multidão, aquilo me deixou aliviada, pronto, eu havia conseguido o mais difícil, mesmo com os protestos dos fãs que ficavam para trás eu cheguei ao lado dele e o abracei.

- Wade? Por que não avisou que vinha? Teríamos te poupado desse sufoco

Eu gargalhei

- Decidi de última hora

- Anda vamos entrando

Eu ainda cheguei a me virar, mas empaquei ao perceber que algo estava faltando.

- Oh meu deus! Shannon!

- Qual o problema Allie? – Johnny falou preocupado

- Eu perdi a minha filha

Jimmy

 - Está melhor? – Eu falei enquanto esperava a menina engolir o restante do suco com que ela enchia as bochechas.

- Sim, mas eu quero a minha mãe.

- Eu já falei com os seguranças okay? Eles vão achar sua mãe – baguncei de leve o cabelo dela. Eu estava um pouco preocupado, afinal, que tipo de mãe doida leva uma criança daquele tamanho pra um show de rock? Só uma drogada maluca e que ainda por cima perde a criança no meio da multidão. Quando encontrarem essa mulher eu vou falar algumas coisas pra ela, será que ela não se tocou que tem uma filha cardíaca?

- Jimmy? – Olhei para a porta e vi Arin, merda eu acabei me esquecendo dele

- Ei Arin, cara me desculpa. Eu tive um pequeno imprevisto – apontei sorrindo para Shannon que comia feito o Zacky, enfiando tudo na boca e estufando as bochechas.

- Tudo bem – ele lançou um olhar esquisito para a menina, não consegui entender exatamente por que – cara o show foi foda! Parabéns! Obrigada pelo convite, os caras da banda tão pirando ali na outra sala.

Eu sorri de leve.

- Ah obrigada man – me virei para Shannon – Não ponha tudo desse jeito na boca, se não seu cocô não vai sair e você explode! – Shannon sorriu e fez com que parte do chocolate que ela mastigava caísse da sua boca – Ah meu deus, olha só o que está fazendo! Fique quieta ai, espere eu voltar e tente não fazer sujeira okay?

Ela confirmou com a cabeça. Indiquei a porta para Arin e ele me acompanhou.

- Ainda andou tendo aqueles sonhos? – Falei colocando as mãos no bolso

- Sim, mas por que está tão interessado?

- Digamos que, eu me interesso pela minha morte

Ele riu nervoso

- Olha cara, são só sonhos okay? É loucura da minha cabeça, você ta vivo aqui na minha frente.

- Eu sei, mas às vezes eu tenho a impressão de que não devia estar. Me conta o que você vê.

- Olha Rev...

- Conta.

Ele suspirou e começou a falar

- Tem uma mulher, acho que só consegui ver o rosto dela uma vez, mas... – ele suspirou – foi culpa dela, foi ela que alterou tudo. Ela mudou a história, ela evitou que você morresse. Ela me colocou nesse buraco que eu chamo de vida. É como se tudo tivesse sido alterado por culpa dela, ela mudou tanta coisa que dá até medo de tentar consertar.

- Como ela é? Você disse que a viu

- Bom, ela é bem branca, do cabelo escuro, me parece bem comum na verdade – bem rápido puxei o celular do bolso, havia uma única foto que eu gostava muito, e guardei mesmo tento trocado de aparelho celular com o tempo, era logo de quando eu e Allie começamos a sair juntos, na minha casa, ela vestida com uma roupa do Max junto comigo e minha bateria. Mostrei a foto para Arin

- É essa a tal mulher?

Ele não precisou nem olhar a foto por muito tempo.

- É ela sim – ele disse entre dentes, parecia ficar irritado. – Mas como você...

- Longa história

- Arin? Cara a gente tem que ir, o nosso ônibus já está lá fora, ah, oi The Rev! – Um dos rapazes da banda veio chamar Arin. O cumprimentei e depois me despedi de Arin. Os dois saíram apressados rumo a saída. Permaneci alguns segundos ali parado, olhei para a foto mais uma vez e depois entrei de volta na sala.

O que tudo isso tinha a ver com a Allie? Aquilo era loucura, mas eu não conseguia não acreditar. Misturava a história maluca da carta da Alison e agora esse moleque doido metido a médium falando isso, comecei a acreditar que talvez eu realmente não devesse estar vivo.

- Puta que pariu! – eu falei assustado ao ver que Zacky havia encontrado Shannon e agora os dois discutiam de boca cheia e com ambos os rostos sujos de chocolate.

- Você está comendo a minha comida!

- Essa comida é do gigante e você é gordo, não precisa comer!

- Mas que porra! Eu não sou gordo! – Zacky fez uma cara super ofendida com o comentário da criança. Ainda mais agora que ele havia conseguido perder algumas gramas.

- Zacky como entrou aqui? – eu falei agarrando a menina que batia o pé emburrada de cima de uma cadeira e a levando para um sofá para ao menos tentar limpá-la.

- Pela porta oras! E quem é esse duende que você trouxe pra comer minha comida?

- Eu não sou doente seu gordo! – a menina ralhou e eu tapei sua boca

- Chega Shannon – me virei rindo muito para Zacky – Me desculpe V., ela se perdeu da mãe e eu fiquei com ela aqui enquanto a segurança achava a mãe dela.

Zacky abriu uma garrafa de cerveja e deu um longo gole para ajudar a empurrar a comida.

- E ela ouve você? Que milagre!

- Eu sei – olhei sorrindo para a menina enquanto passava um guardanapo em sua boca, meio desajeitado, mas consegui limpá-la.

O que Zacky queria dizer é que eu normalmente não era o favorito das crianças... nem dos cachorros, nem das idosas. Eu nunca me importei com isso, na verdade até me mantinha afastado sem problema algum, eu até tentara fazer isso quando conheci Shannon, mas de uma maneira muito incrível ela quis ficar perto de mim. Era realmente um milagre.

- Onde estão os outros V.?

- Não sei, estávamos na sala do outro lado do palco, eu entrei no banheiro e quando saí todo mundo tinha desaparecido, só não o Gates que parecia estar tendo uma crise existencial, acho que ficou bolado com a traição da DiBenedetto, ai como eu tava sozinho eu vim comer.

- Pra onde foram os viados?

Zacky deu de ombros

- Sei lá – ele se jogou no sofá do meu lado e continuei com a menina no colo, ela coçou os olhos e soltou um longo bocejo, até que enfim a bateria daquela coisa estava acabando.

- Está com sono né?

- Um pouco

- Acho bom dormir um pouco

Ela se aconchegou melhor no colo.

- Canta pra mim

- O que quer que eu cante?

- Conhece a música dos três ursinhos?

- Não!

Zacky soltou uma gargalhada histérica

- Que merda Sullivan! Canta a música dos ursinhos fofinhos! – ele ria que faltava cuspir cerveja pelo nariz, me irritei e mostrei o dedo do meio pra ele.

- Eu não conheço essa música Shannon, posso cantar uma que eu conheço?

Ela confirmou com a cabeça e então e levei minha boca à orelha dela, engrossei um pouco a voz e cantei baixo:

- So close, no matter how far – Ela soltou uma risadinha, acho que tinha feito cócegas nela – Shiu! Deixa eu cantar, anda fecha os olhos – ela não me obedeceu e eu tapei seus olhos com a palma da mão, em seguida recomecei a cantar – So close no matter how far, couldn't be much more from the heart. Forever trusting who we are – Zacky entonou o final do trecho junto comigo já um pouco feliz por causa da cerveja – And nothing else matters.

Tirei a mão de cima de seus olhos e ela a os tinha fechados, mas ainda não dormia. Eu continuei cantando, com Zacky ajudando vez outra.

- Never opened myself this way, life is ours, we live it our way. All these words I don't just say, and nothing else matters. Trust I seek and I find in you, every day for us something new. Open mind for a different view – Shannon já pegava no sono, os músculos já haviam cedido e ela parecia uma bonequinha no meu colo. Eu sorri e dei um último sussurro em seu ouvido – And nothing else matters.

- Uau James, não quer ser meu papai também não? – Zacky brincou

- Vai tomar no seu cu

Nós dois sorrimos e nesse instante comecei a ouvir um burburinho do lado de fora, reconheci a voz de Matt.

- O segurança disse que ele encontrou, fica calma Allie.

Allie? Antes que eu pudesse tirar a criança do meu colo uma tropa entrou na sala. Matt, Johnny, uns cinco seguranças e Alison.

- SHANNON! – ao ver a menina no meu colo ela veio correndo em minha direção, eu não consegui mover um músculo, Zacky também se assustou – Onde a encontrou?

- Espera, você é a mãe desse monstrinho? – ele disse apontando para Shannon.

 Ela pareceu se tocar da situação, os olhos se abriram e ela fez uma cara que normalmente eu acharia muito engraçada, se não estivesse um pouco irritado demais com ela.

- Sim

- Ela está dormindo – Eu enfim abri a boca, passei a menina do meu colo para o sofá e me levantei, só então notei a cara de bunda dos caras da banda.

- Muito obrigada Johnny, Matt – ela sorriu para os dois e Zacky imediatamente se levantou para abraçá-la, eu não sabia se eu também queria abraçá-la, uma parte de mim na verdade queria jogá-la de um precipício.

- Okay, já achamos a garota, acho que vou ver qual é a do Gates – Matt falou e foi arrastando Johnny.

- Anda Zacky, vem com a gente – Johnny resmungou

- Não, me deixa dormir porra – Johnny pegou uma tigela vazia e jogou na cabeça de Zacky – Ai caralho

- Anda vagabundo, tem que cuidar da tua mulher corna

Zacky levantou resmungando e caminhou meio arrastado, depois deu um soco nas costelas de Johnny, ainda consegui ouvi-los brigando no corredor, mas eu permaneci estático olhando para ela. Aquela era a Allie da minha memória, pálida demais, desgrenhada, usava uma blusa branca com um deathbat na frente, uma calça jeans justa que ia até abaixo dos joelhos e coturnos, ela estava um pouco suada, a franja escura grudando na testa pálida, parecia um pouco esbaforida até.

- Obrigada – ela falou enquanto abraçava o próprio corpo

- Eu não fiz por você – eu não queria perder a paciência e acordar a menina, mas eu estava muito irritado com ela – Como você foi capaz de trazer uma criança que não mede nem um metro de altura pra um show desse tamanho Alison? Ficou maluca? Ela podia ter se machucado! Pior!! Ela podia sei lá ter sido pega por um seqüestrador, sei lá caralho! Será que você perdeu a porra da noção do perigo? – Eu estava arfando irritado e ela agora chorava.

- Foi um acidente, mas eu precisava trazer ela comigo

- PRA QUÊ CARALHO? NÃO TEM UMA PORRA DE UMA BABÁ PRA CUIDAR DELA NÃO?

- Eu precisava mostrá-la pra você

Eu ri estressado, eu não queria perder a cabeça, mas eu estava magoado demais, comecei a caminhar de um lado para o outro.

- Pra que? Já não esculhambou comigo o suficiente? Olha Alison minha cabeça já está cheia demais, eu estou com problemas demais, seria pedir muito pra você sei lá, se afastar?

- Eu não posso – ela ergueu o rosto, parecia que se tomara de coragem – Se senta, você vai me ouvir agora James, to nem ai se você ta magoadinho, eu tenho meus motivos pra ter feito o que eu fiz e você vai ouvir cada um deles agora. – Levantei o nariz imponente, mas ela não mexeu um músculo sequer, acabei me sentando no sofá em que Zacky estava.

- Sou todo ouvidos.

- Ela é sua.

Franzi o cenho um pouco confuso.

- Como é que é? – eu não tinha absorvido aquilo direito.

- Você a conheceu Jimmy, olha pra ela – ela disse com um riso nos lábios – Você realmente vê alguma coisa do Sam nela?

Eu olhei para a garota.

- Ela é pálida como ele... – Ela soltou uma risada sarcástica.

- Não Jimmy, ela é pálida como eu, você já se olhou no espelho hoje? Você viu os olhos dela? São idênticos aos seus. Você não tinha condições de cuidar de uma criança na época, eu tive que ir embora. Eu tive medo que você ficasse com raiva. – Ela foi falando e eu fui praticamente congelando, meu corpo inteiro parecia tremer, ela não podia estar falando sério – Mas ai ela nasceu, a medida que ela ia crescendo eu de um certo modo fui me culpando, por que talvez ela pudesse ter te ajudado a se recuperar, ela é um poço de vida. É teimosa como você e além disso – a voz de Alison falhou, ela chorava mais intensamente agora – Ela tem a porra do seu coração. Ela é sua Jimmy, não é do Sam.

Depois de ouvir aquela última frase eu afundei o rosto entre as mãos e senti um soluço escapar da minha garganta, fiquei um longo instante tentando absorver aquilo, era uma bomba de informação muito forte pra mim.

- Por que... por que escondeu isso de mim? Isso foi cruel Alison, tem idéia do quanto eu podia estar feliz agora?

- Você estava instável demais

- E preferiu fugir com o Samuel e me deixar sozinho e perdido? Caralho Alison! Isso não foi justo!

- Eu sei, mas não era exatamente eu que estava grávida. Eu precisei da ajuda de Sam e Max.

Me levantei novamente e recomecei a caminhar, massageando as têmporas, tentando raciocinar.

- Não entendi

- Era a Joy, sua brincadeirinha acabou engravidando a minha eu no passado.

- Espera, o quê? Onde está a sua irmã?

- Bem diante de você, não leu a porra da carta que eu te deixei James?

- Li, mas sabe, é uma coisa meio difícil de acreditar sabe?

- Eu posso provar se você quiser.

- Eu quero, anda me mostra.

- Eu precisaria te levar no laboratório do Max.

- Ah esquece! – eu estava zonzo, eu realmente era o pai de uma criança?

- Eu não pude ficar com você por dois motivos, o primeiro é que minha eu do passado precisaria de pessoas tomando conta dela, antes que ela continuasse sendo uma garota mimada e idiota e estragasse tudo, ela precisava de gente responsável tomando conta dela e da criança, naquele momento você era tudo, menos responsável. E o segundo é que eu tinha prazo pra voltar pro meu tempo, eu não podia ficar com você, mas eu tinha esperança de ter ver no futuro – ela desviou o olhar e mordeu de leve o lábio. – Estou feliz que tenha cumprido sua promessa de permanecer vivo até 2013.

Eu não consegui evitar o riso debochado que saiu da minha boca. Vivo. Tecnicamente eu estava vivo não é?

- Mesmo assim, você devia ter me contado. Como você acha que foi chegar aqui e ver que você construiu com ele tudo que eu gostaria de ter construído com você?

- O que? – ela falou abrindo um leve sorriso incrédulo pra mim – Você realmente quis construir uma família comigo Jimmy?

- Não importa mais. – Atravessei o cômodo e fui até o cooler pegar uma cerveja – Quer uma? – ela afirmou com a cabeça e peguei outra garrafa pra ela, depois nos sentamos no sofá. Ela tentou explicar, mas algumas coisas, mas eu já quase não ouvia mais nada, fiquei com os olhos fixos na menina dormindo, ela era cardíaca e a culpa era minha. Culpa dos meus genes mal feitos, culpa de tudo que havia de errado comigo. Aquilo era a prova de que alguma coisa me odiava muito e agora me punia duas vezes.

- Acho que isso pertence a você – voltei os olhos para Allie novamente, ela havia puxado um par de baquetas, o mesmo que eu dera para Shannon no hospital.

- Não precisa, eu dei de presente pra ela – eu falei dando de ombros, ainda estava meio chocado.

Allie sorriu e deu um gole na cerveja, não consegui evitar olhar para os seus lábios, bem róseos se umedecendo com a espuma, a ponta da língua passando de leve logo em seguida apagando o rastro úmido da bebida.  Apesar de ela ter uma beleza completamente comum, aquilo era perfeitamente lindo.

- Parece que alguém aqui aprendeu a beber.

Ela sorriu de leve

- Não muito, ainda sou fraca pra isso.

Voltei o olhar para a menina dormindo.

- Ela é linda, nem dá pra acreditar que ela saiu do meu saco – ela soltou uma risada sonora.

- Eu sei exatamente qual é essa sensação, falei a mesma coisa quando a vi.

Eu ri um pouco

- Eu preciso de um tempo pra... sei lá, cair a ficha.

- Eu entendo. – ela se levantou – acho que é melhor eu ir pra casa.

- Mas já? – eu falei sem perceber e ela achou graça.

- Quer que eu fique?

Boa pergunta. Eu queria que ela ficasse?

- Eu não sei quer dizer, se você quiser ficar.

Allie sorriu e se jogou no sofá novamente, agora fazendo um pouco de graça, chutou os coturnos dos pés e ficou esticando os dedos, se espreguiçando, ocupando tanto espaço no sofá que eu já estava esmagado no canto.

- Awwww, nossa acho que eu fiz um calo no meu pé.

- Calo? – eu disse empurrando ela para longe – Isso parece doença, credo, sai de perto de mim com essa coisa nojenta.

- Nojenta? Nossa assim me ofende – ela esticou o pé e começou a tentar chutar minha garrafa de cerveja com ele.

- Sai daqui, não vai contaminar minha cerveja com essa sua imundice – Coloquei a cerveja no chão. Puxei sua perna com força e a cabeça dela bateu forte no braço do sofá.

- Ai filho da puta!

A essa altura já estávamos rindo muito, eu só conseguia pensar no quanto aquilo me fazia falta, sei lá, soltar uma risada de verdade. A puxei com força pela cintura, fazendo com que o tronco dela levantasse. Já estava perto o suficiente, logo ela fez como antigamente e se colocou sobre meu colo, fiquei um instante olhando pra ela e logo em seguida nossos lábios se tocaram, a princípio eu hesitei um pouco, mas o calor do corpo dela em cima do meu não era algo que eu fazia resistência por muito tempo.

 Abracei sua cintura e correspondi ao beijo quase com urgência demais, me afastei do encosto do sofá e ela també                                                                                                                                                                                                            m pode me abraçar, as unhas curtas dela apertavam com força minhas costelas, achei que ia furar a minha pele, mas eu não me importei, apertei suas coxas e fui subindo lentamente até sua cintura, eu estava sentindo muita falta daquele toque. Allie separou o beijo e mordeu meu queixo de leve, chupando meu piercing e meu lábio inferior logo em seguida, não consegui evitar o sorriso de satisfação em meu rosto, os movimentos dela continuavam os mesmos, e ainda assim eram os meus favoritos.

 As mãos dela desceram lentamente pelo meu tórax enquanto ela rebolava devagar sobre meu colo, mesmo completamente vestidos senti um arrepio que a tempos não percorria meu corpo. Nenhuma outra mulher conseguia aquele mesmo efeito sobre mim, nem mesmo Leana que se considerava profissional no assunto. Mudei de posição bem rápido, antes que as mãos dela chegassem ao meu cinto, a deitei no sofá e me coloquei por cima, passando a mão por sua perna, passando lentamente pela virilha, pela barriga e apertando de leve seu seio, beijei seus lábios mais uma vez, sentindo sua língua morna enroscando na minha, eu estava com muita saudade daquilo.

- Que merda é essa que está acontecendo aqui?

Eu não pretendia interromper o beijo, mas Allie se assustou e me afastou.

- Leana? – ela falou olhando de Leana para mim em poucos segundos – Você está com ela?

- Ahm, não... não exatamente. – Allie soltou o ar irritada e me empurrou, logo em seguida começou a se calçar de qualquer jeito.

- Lea o que veio fazer aqui? – eu falei passando a mão pelo rosto

- Vim te procurar, temos que fechar a conta no hotel.

- Me espera lá no ônibus okay? Eu já estou indo.

- Vai mesmo ficar aqui com ela?

- Leana me deixa okay? Nós já conversamos sobre a nossa situação... Alison espera! – ela já estava indo pegar Shannon.

- Eu vou embora.

- Eu levo vocês em casa, espera!

- Você não sabe onde é minha casa – ele disse sem olhar para mim – Como teve coragem de fazer toda aquela cena por causa do Sam? Você está com ela!

Ela falou debochada para Leana que continuava me olhando enfurecida da porta da sala.

- Eu não estou com a ela Allie.

- Ah ele está comigo sim – Leana falou e eu quase achei que saltariam raios laser dos meus olhos para pulverizá-la.

- Que bom pra você – Allie saiu com Shannon no colo, ainda tentei ir atrás, mas Leana empacou na minha frente.

- Você não vai atrás dela.

- Sai da porra da minha frente Lea!

- Não, você me deve explicações.

- Eu não te devo nada, pelo amor de deus. Seu namorado não sou eu!

- Pois pra mim você é!

- Problema seu – a empurrei e saí correndo atrás de Allie, mas acabei esbarrando em Brian no meio do caminho, ele estava um lixo.

- Ai caralho! – ele resmungou – Será que fiquei invisível agora também?

- Brian você viu a Allie?

- Acho que vi sei lá, ela passou com uma coisa que eu acho que era um macaco no colo. Olha man eu preciso da sua ajuda, será que pode me ouvir um pouco?

- Agora não posso, ela foi por ali? – apontei para uma das saídas

- Vai mesmo correr atrás de um rabo de saia ao invés de me ouvir? – ele falou incrédulo e eu soltei o ar um pouco desapontado, ainda cogitei a possibilidade de mandá-lo calar a boca e continuar correndo, mas eu e Brian precisávamos nos acertar urgentemente.

- Não, eu vou ficar aqui – falei com os olhos fixos na saída, mas logo os desviei de volta para Brian – Anda, vamos pegar alguma coisa pra beber, história de amigo corno não se ouve sóbrio.

Ele sorriu fraco.

- Valeu cara.

- Anda logo filho da puta.

Allie

Dirigi até em casa um pouco irritada, mas ao mesmo tempo aliviada, eu havia conseguido contar tudo, ou quase tudo. Eram coisas que eu teria que explicar aos poucos, mas eu já havia dado um grande passo. O problema é que imaginar que ele havia ficado com outra mulher na minha ausência me tirou do sério, ainda mais por ser ela, que só fodeu com a vide dele. Foi-se o tempo em que eu achava que ela era uma pessoa boa pra ele, na verdade eu só conseguia pensar em como arrancar a cabeça dela. Fiquei alguns instantes na garagem respirando fundo e depois saltei do carro.

 Peguei Shay no colo e a carreguei para dentro de casa, pra minha sorte ela tinha o sono bem pesado, devia estar exausta também. Subi as escadas e a coloquei na cama, assim que fechei a porta do quarto dela ouvi o barulho de água caindo vindo do meu quarto. Samuel.

Caminhei até lá, a porta do banheiro do quarto estava aberta e a luz acesa.

- Sam? – não entrei com medo de flagrá-lo pelado outra vez, mas como resposta só obtive um grunhido – está tudo bem?

Fiquei um pouco preocupada e entrei no banheiro, levei um enorme susto ao vê-lo embaixo do chuveiro, ainda vestido, mas com a cabeça ensopada de água e sangue.

- Oh meu deus o que aconteceu com você?

Corri até perto dele e fechei a torneira, ele sorriu pra mim e notei que os dentes também estavam todos ensanguentados, ele estava bêbado.

- O que aconteceu? – ele riu debochado – Você aconteceu Alison, você, só você.  


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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero q não tenham dormido no meio dele!
Até o próximo
Beeijos