A Casa De Klaus escrita por Bellah102


Capítulo 44
Capítulo 43 - No escuro da noite


Notas iniciais do capítulo

Cansei de implorar por reviews. Espero que gostem. Não que vocês vão me dizer se gostaram.



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Nessie


Lizzie ressonava suavemente na cama ao lado. Invejei sua capacidade de dormir. Mas é claro, Lizzie não tinha o coração pesado do medo de deixar vazar um segredo perigoso para todas as pessoas que ela amava. Eu sim. Toda a vez que eu fechava os olhos, flutuava para um pesadelo em que Klaus torturava Jake como fizera com Rose. E então pensava em Elijah se tornando tudo o que mais abominava no mundo: Um assassino. Nos meus sonhos, ele tinha olhos vermelhos como os de Klaus e vinha atrás de mim e de Lizzie.

Ele a tirava dos meus braços, e com um movimento rápido e um estalo assustador, quebrava seu pescoço diminuto. Eu gritava, agarrando seu corpinho sem vida, com o rosto congelado para sempre no sorriso que ela dirigira a ele antes que ele lhe traísse a confiança. Eu implorava por uma morte rápida como a dela, mas ele ria de mim e me dava as costas. E quando ele desaparecia, em uma fogueira – como de praxe – queimando a gritando, estava Jake, e todo o meu mundo parecia ruir.

Então, pela terceira vez naquela noite, abri os olhos, toda suor e agitação, achando me encontrar na segurança do meu quarto.

Segurança. Sei.

-Boo.

Sussurrou Scott, seus olhos vermelhos tão próximos quanto Jake estivera antes. Sobressaltada, tentei pular para fora de seu alcance, mas minhas costas encontraram o papel de parede e minha cabeça, a própria parede, com uma força que me deixou atordoada. Scott riu de forma trovejante, o que acordou Lizzie, que se pôs sentada de um salto. Boi levantou-se na cama e pôs-se a rosnar para ele.

-Patética! – Ele disse, rindo – Eu não sei o Klaus viu em você, honestamente.

-Saia daqui! – Gritei, mais esganiçada e menos autoritária do que eu esperava soar. Limpei a garganta – Dê o fora do meu quarto agora mesmo, senão...

-Senão o que?! Você não é páreo para mim e sabe disso. E sabe que se tentar qualquer coisa, eu não vou hesitar em machucar esse bibelô.

Disse, apontando para Lizzie. Engoli em seco. Era verdade. Olhei para Lizzie, respirando fundo e forçando um sorriso para traquilizá-la. É claro que não funcionou.

-Lizzie, meu amor – Limpei minha garganta mais uma vez para tentar me livrar do medo impregnado na minha voz – Porque você não vai dormir com Elijah hoje?

Ela me observou por alguns segundos, como se não entendesse a língua que eu falava. E, lançando um olhar à Scott, ela assentiu, pondo-se de pé e caminhando devagar próxima da parede, o mais distante de Scott que conseguia. Ele lhe mandou um beijo. Desejei arrancar sua cabeça fora.

-Venha, Scooby-Boi.

Chamou, tremendo ligeiramente ao alcançar a porta. O cão ainda rosnava. Sem esconder os dentes Boi desceu da cama e seguiu a dona para fora do quarto. Lizzie me lançou um ultimo olhar antes de fechar a porta. Scott olhou para mim e sorriu.

-Se eu soubesse que você era tão fácil, jamais teria me desgastado trazendo prostitutas até aqui.

Soltei o ar com força, reprimindo o impulso de me jogar contra ele.

-O que é que você quer?!

Perguntei, impaciente. E de repente, ele tirou a camisa, exibindo os abdominais que teriam feito garotas fúteis do mundo inteiro se derretem uma poça de desejo animal. Mas não eu. Eu sabia do que ele era capaz. Sobre o peito, colunas de nomes de mulheres que ele estuprara permaneciam gravados à tinta sem sua pele. Ele apontou para um conjunto de letras muito embaixo, perto de sua pélvis, quase escondida pela calça.

Abaixo do nome de Katherine, estava o meu.


Jake

Dizer que dormir era um pesadelo seria uma piadinha desnecessária, e eu não estava com humor para elas. Dentro do peito, meu coração parecia queimar. Eu tinha uma vontade quase incontrolável de correr até o quarto de Nessie, só para checar se ela estava bem. Tentava me conter,dizendo a mim mesmo que só a acordaria se fosse lá, e que não queria fazer isso. Ela já tinha problemas demais. Durante o sono, ela podia escapar de todo aquele drama. Eu gostaria de ter a mesma sorte, embora o macio colchão de ar abaixo dele estivesse fazendo o possível para me ninar. Ouvi uma leve batida na porta e me pus sentado.

-Quem está aí?

Perguntei, pondo-me de pé.

-Jake. – Chamou uma vozinha pequena do outro lado da porta – Sou eu. A Liz.

Unindo as sobrancelhas, abri a porta. Lizzie tinha as mãozinhas pálidas unidas sobre o peito e os cachos loiros ainda amassados do sono. Parecia ter saído da cama às pressas. Ela tremia de leve. Boi estava em seus calcanhares, rosnando na direção do quarto dela e do de Nessie.

-Oi Liz – Eu disse me ajoelhando a sua frente – Algum problema?

Perguntei, com um mal pressentimento.

-Scott está no nosso quarto. – Sussurrou assustada. Peguei suas mãozinhas trêmulas entre as minhas. Elas suavam frio. – Nessie pediu que eu fosse procurar Elijah, mas o quarto dele está vazio. Acho que ele está caçando.

-Onde está... – Dizer isso ainda me fazia sentir estranho. – Sua mãe?

-No quarto. Com ele. Eu tenho um mal pressentimento, Jake, tire ela de lá!

Pediu, com os olhos azuis completamente aterrorizados. Beijei sua testa, como fazia para acalmar Nessie quando ela era pequena e se sentia agitada. Não pareceu surtir o mesmo efeito.

-Venha Liz, entre.

Chamei, levantando-me e abrindo mais a porta para que ela e Boi entrassem. Lizzie olhou ao redor do mesmo jeito que Nessie olhara mais cedo.

-Oh, Rose – Suspirou, e então olhou para mim – Eu tentei ajudar.

Disse, como se eu a acusasse do contrário.

-Eu sei que sim, Liz.

Disse, espiando pela porta na direção do quarto delas, imaginando o que aquele facínora podia querer com ela. Lizzie sentou-se sobre o colchão de ar no canto do quarto e cobriu-se com o lençol fino – a única coisa que não me fazia morrer de calor. Boi postou-se sentado ao lado dela como os cães de pedra que guardava todas as portas da Casa. Minha porta era protegida por dois terranovas.

-Eu vou ficar bem – Ela me assegurou, acariciando seu cão – Não deixe ele machucar a minha mãe.

Pediu. Assenti, fechando os punhos.

-Não vou deixar Lizzie. Isso eu prometo.


Impulsivo como só eu podia ser, eu quase invadi o quarto na forma de um grande lobo castanho, pronto para arrancar a cabeça de Scott. Mas minhas consciência com a voz de Nessie me fez parar. Eu não podia ir ao resgate e surgir em um rompante. Até a mente primitiva do sanguessuga loiro perceberia algo errado. Porque Lizzie recorreria a mim quando Nessie lhe dissera que fosse a Elijah, já que eu era apenas um amigo, novo na Casa? Meus pensamentos voaram a milhares de direções, o que fazer? O que fazer?!

Procurá-lo? No mesmo momento, três motivos tiraram a ideia de cogitação: Só Deus sabia o tempo que levaria para achá-lo. Scott podia fazer o que quisesse com Nessie durante esse tempo indeterminado, algo que eu queria evitar ao máximo. E por fim, por mais que tivesse um acordo com ele, não acreditava que aquela raspa do tacho levantaria alguma resistência contra Scott. E proteger Nessie era meu dever.

Então, como se eu estivesse em um desenho, uma luz pareceu se acender acima da minha cabeça quando eu tive uma ideia.

-A bruxa.

Sussurrei, correndo na direção das escadas. Bonnie, lembrei-me, esperando que me lembrasse qual quarto era o dela. Não havia tempo a perder.


Nessie

-O que achou?

Ele perguntou, com seu sorriso retorcido. Escondi minhas mãos entre os cobertores para evitar que ele as visse tremendo. Tomei fôlego, enchendo-me de coragem. Ergui uma das sobrancelhas, dirigindo-lhe uma expressão de desdém.

-Está escrito errado.

Sua pélvis trazia tatuada o nome Reneesme, e não Renesmee. Não sou eu. Não sou mais uma na lista dele. Estou livre. Ele olhou a tatuagem por alguns segundos e então deu de ombro.

-Tanto faz. Foi sorte a sua que não escrevi Mamãe Bastarda para que as novas gerações se lembrem de você quando você for comida de vermes.

-Próximas gerações? – Eu ri – As próximas gerações de prostitutas ou de virgens que você pretende estuprar?

Ele riu de volta e mais alto, algo que me deu arrepios.

-Você acha que seus malditos pais são os únicos que podem ter uma prole?

Uni as sobrancelhas.

-O que quer dizer?

Ele riu.

-Quer dizer que eu tenho que pagar por tudo o que Klaus me deu – Ele se aproximou, passando a língua pelos caninos expostos como se estivesse testando para ver se estavam bem afiados. – Eu tenho meus monstrinhos, e eles estão chegando – Sussurrou, segurando rudemente meu rosto com a mão grande e calejada. – Mas eu... Quero... Mais um.

Voltou a sussurrar. Mesmo com a boca seca consegui reunir saliva o bastante para cuspir em sua face.

-Vá encontrar uma prostituta se sabe o que é bom para você! Elijah vai!

-Elijah! – Ele riu, trovejante – Vai virar um estripador? Vir atrás de mim? – Gargalhou. – Klaus quer isso. Klaus precisa disso. E além do mais, da ultima vez que tivemos essa conversa, ele não te ajudou muito ajudou? – Ele sorriu maldosamente, se aproximando enquanto eu tentava me esquivar – E não posso dizer que odeio a ideia de ter uma chance de bater naquele engomadinho.

Enchi minha mão de força para socá-lo, mas se ele se abalou com o golpe, não demonstrou. Deitei-me na cama, usando as pernas – onde eu tinha mais força – para chutá-lo onde quer que conseguisse alcançar, mas isso não o impedir de se inclinar sobre mim, avançando inexoravelmente na direção da minha boca. Levei minhas mãos na direção da sua traqueia na tentativa de sufocá-lo, antes de me lembrar, com desespero, de que ele não precisava respirar. A agonia tomou conta de mim assim como flashes daquela noite. Me debati o máximo que conseguia, socando-o, chutando-o e tentando mordê-lo. Gritei, e gemi me contorcendo para escapar do seu abraço. Na minha agonia, ouvi a porta se abrir.

-Afaste-se dela. Agora.

Disse uma voz que eu reconheceria até mesmo nos confins da terra. Soltei a respiração com tanta força que chegou a doer e cheguei a derramar uma lágrima de puro alívio. Scott suspirou, pondo-se de pé, descendo da cama e fechando o zíper da calça entreaberta. Encolhi-me contra a parede Jake lançou um olhar avaliativo, com as sobrancelhas franzidas. Nunca me parecera mais belo, com os pijamas que não lhe pertenciam e os cabelos bagunçados do sono.

-Eu te amo.

Senti a necessidade de lhe sussurrar sem som, apenas movendo a boca. Ele assentiu de leve com um ligeiro sorriso.

-Diga-me... Você tem uma necessidade de nos interromper, não é, filhinho-de-papai?

Filhinho de papai? Fiquei confusa. Esse era o apelido de Scott para Elijah – A única indicação que Elijah sabia mais sobre a família do que deixava transparecer, e que, o que quer que fosse que soubesse, Scott sabia também. Mas Scott não sabia nada sobre Billy. E mesmo que se souesse, não perderia a chance de inventar um novo apelido depreciativo. Jake deu de ombros. Algo como um espectro de luz a sua frente pareceu mover-se unto com ele.

-Tenho um bom timing.

Sua voz não soava como ele mesmo. Soava como... Deus, Jake estava falando exatamente como Elijah. Scott repousou as mãos sobre a cintura, umedecendo os lábios e sorrindo de forma convencida.

-Acho que essa é a parte em que você defende a honra da sua puta, lançando-se em um combate contra mim que sabe que não pode vencer.

Jake fechou os punhos, e como esperado sua sombra projetada pelo luar – a única luz que havia no quarto – moveu-se junto. Porém sua sombra era mais baixa do que devia ser, os cabelos maiores e mais espetados, e de roupa que cobria completamente os braços – ao contrário dos seus braços nus que eu via. É a sombra de Elijah, percebi com um susto. Santo Deus, Scott olha para Jake e vê Elijah. Era um feitiço.

-Acho que você ia se surpreender dessa vez.

Scott gargalhou, batendo pal,mas e olhou para Jake, que continuava na mesma posição. Scott uniu as mãos, tocou os lábios com elas algumas vezes como se pensasse – Embora eu soubesse que ele não tinha essa capacidade.

-Vamos fazer o seguinte, está bem? – Disse, em um tom conciliador. Ele abriu a boca para falar e se interrompeu, rindo. Depois se controlou e continuou – Eu te bato, como eu fiz da ultima vez que essa monstrinha me queimou o peito. Mas vou deixar você consciente. Então eu estupro a mamãezinha aqui, na sua frente. – Disse, apontando para mim. – E se ela não implorar por mais, eu estupro você.

Jake riu com Scott, como se eles fossem dois melhores amigos se encontrando em um bar depois do expediente.

-Você... Você só esqueceu uma parte.

-E qual é? A que eu arranco os cabelos dela ou tiro sua virgindade de trás?

Suas palavras se me chocaram, e eu me encolhi mais contra a parede de forma patética. Incapaz de imaginar isso, incapaz de imaginar um inferno pior do que isso. Jake se aproximou de Scott, como se fosse lhe contar um segredo. Corra Jake, pensei, sem respirar, pegue minha mão e corra.

-Esqueceu essa parte.

Disse, socando-o na barriga e então no rosto. Gemi, enterrando as unhas nas palmas, nervosa por antecipação da resposta de Scott. Esse pôs-se de pé e ajeitou o queixo.

-Você ficou mais forte, irmãozinho.

Ele fingiu hesitar por meio segundo e atentou contra seu rosto, tão rápido que desviou teria sido inumano. Jake tapou o rosto, fingindo dor e jogou-se contra Scott, a cabeça atingindo o estômago de Scott com a cabeça e derrubando-o no chão.

Observei a porta aberta, mas não pensei em fugir. Não podia deixar Jake com Scott, mesmo que não pudesse ajudar. Precisava encontrar uma maneira de ajudar. Scott rolou para cima de Jake e sentou-se sobre ele, pressionando suas costelas com os joelhos e o pescoço com as mãos. Ouvi um estalo, e fui preenchida de medo. Que seja uma costela, que seja uma costela... Costelas se curavam. Vértebras, não. Um ódio encheu meu coração e de um salto, me pus de pé na cama e saltei, empoleirando-me sobre os olhos de Scott, puxando sua cabeça para trás e torcendo-a, tentando arrancá-la. Ouvi-o soltar Jake e este respirar fundo, tossindo, procurando o ar e o mundo virou vertiginosamente quando Scott se levantando, sacudindo-se para se livrar de mim.

-Sua... Peste...

Grunhiu, deixando-se cair para trás. O universo escureceu quando minha cabeça encontrou o chão com o carpete fofo. Não sei por quanto tempo fiquei fora, mas quando voltei, enchi-me de ar, e senti como se nunca tivesse respirado antes. Meus pulmões doeram e arderam, me fazendo tossir, como que comprimidos por uma bigorna, e era como se eu não conseguisse enchê-los direito. Temi que minhas costelas tivessem perfurado meus pulmões. Vou morrer aqui. Onde está Jake? Ainda tonta, levantei a cabeça para procurá-lo.

Ele e Scott tinham os dedos entrelaçados e pareciam tentar derrubar um ao outro enquanto empurravam-se. Jake estava de costas para mim, impedindo que ele chegasse até mim. Como se pressentisse que eu o ouvia, ele voltou a cabeça para mim com o esforço estampado no rosto.

-Nessie. Corra.

Disse, antes que Scott aproveitasse sua distração para socar-lhe o rosto e avançar na minha direção. Tropecei e cambaleei para trás, encontrando a parede atrás de mim e me apoiando nela para me levantar. Sentia-me pesada e inútil, como se tivesse acabado de acordar e descoberto que meu sangue tinha sido substituído por mercúrio. Jake puxou Scott para longe de mim, jogando-o contra a parede oposta, acima da minha cada e de Lizzie, fazendo estilhaços de prateleiras voarem longe.

-Corra! Corra! Liz está no meu quarto.

Disse, sem desviar os olhos de Scott que se levantava. Corri para fora, ainda me sentindo tona e desequilibrada. Corri até o 10, esmurrando a porta.

-Liz?! Lizzie, você está aí?

Chamei, sentindo-me exausta. Todo o meu corpo estava dolorido. Lizzie se apressou em abrir a porta.

-Nessie!

Ela abraçou minha cintura. Caí de joelhos, envolvendo-a, beijando seu rosto. Ela abraçou meu pescoço e então se afastou, assustada. Seus braços estavam vermelhos de sangue.

-Nessie! Você está sangrando!

Disse, sobressaltada. Devia ser por isso que eu me sentia tão aérea. Ela pegou minha mão e puxou-me para dentro. Levantei-me, tonta. Ela me levou até o banheiro, sentando-me sobre a patente e abrindo o chuveiro. Ela pegou meu rosto entre suas mãos pequenas e eu não podia acreditar. Ela estava cuidando de mim.

-Presta atenção tá? Entra na água e lava isso aí. Tem roupas na secadora lá embaixo. Eu volto já. Mas não dorme, está bem? Não pode fechar os olhos. Você me entendeu?

Assenti, sentindo-me como se fosse vomitar.

-Ótimo. Venha Boi.

Disse, saindo do banheiro. Esperei que ela saísse do quarto para abrir apressadamente a tampa da privada e devolver todo o meu jantar, com as lágrimas juntando-se ao vômito. Eu tremia quando entrei no chuveiro, deixando as gotas mornas limparem meu corpo. Enchendo-me da pouca coragem que me restava, fui para debaixo da cascata de água, deixando-a escorrer sobre o meu ferimento. Ardeu como se estivesse sendo queimado com um ferro de marcar. Afastei-me com um salto da água, ofegante, levando as mãos à pele arrebentada que revestia meu crânio. Desespero tomou conta do meu corpo a medida que a normalidade do banho limpava a névoa da minha mente. Precisava voltar para aquele quarto. Precisava ajudar Jake. Não podia ficar ali e agir como se ele não estivesse arriscando a vida no quarto ao lado.

Desliguei o chuveiro e quando saí do Box, Boi me trazia uma toalha branca entre os dentes. Me esforcei para sorrir para ele e acariciei sua cabeça com a mão trêmula. Peguei a toalha e sequei meu corpo. Tentei secar meu cabelo, mas tudo o que consegui foi sujar a toalha com sangue.

-Liz? – Chamei, tentando secar a nuca e desistindo, enrolando-me na toalha. Podia sentir o sangue escorrer, vital, pela minha nuca, quente e pulsante. Atordoantemente real. – O que eu vou vestir.

Ela veio até mim e pegou minha mão, levando-me até o colchão inflável em que Jake estava dormindo. Parecia tão robotizada quanto os professores da Casa saindo das aulas perfeitamente pontuais.

-Liz?

Chamei. Ela indicou que eu me sentasse no colchão. Sentei-me com as pernas cruzadas.

-Eu vou te ajudar.

Anunciou, subindo no colchão e fazendo-o balançar abaixo de mim, ficando de pé as minhas costas. Assenti e estremeci quando ela pousou as mãos sobre a minha ferida. Gemi uma vez, se de dor ou espanto, eu não sabia dizer.

-Não se mexa.

Pediu, como se já tivesse feito aquilo milhares de vezes. Por um segundo, senti uma pontada de dor, e achei que iria desmaiar. E como uma janela que é fechada e bloqueia o vento, a dor sumiu e uma sensação fria e cheia de alívio tomou seu lugar, como se Lizzie tivesse aplicado um bálsamo feito de nuvens e asas de anjos sobre a ferida. E falando em anjo, um pequeno halo de luz azul vindo de trás de mim projetava minha sombra no chão do quarto escuro. Eu poderia ficar ali para sempre. Sentia vontade de dormir no abraço daquela sensação. Mas antes do que eu queria, acabou, tão rápido quanto começara.

-Pronto.

Suspirou Lizzie. Ela sentou-se ao meu lado. Levei a mão á ferida. O sangue continuava lá, mas não escorria mais de dentro da pele. Esta estava completamente lisa.

-Liz, você...

-Eu sei. – Ela disse, olhando para as mãos, parecendo tão atordoada quanto eu. – É impressionante.

Soltei o ar, esforçando-me para clarear minha mente e ouvir sons de luta do outro lado da parede. Não ouvida nada. E o silêncio era abrasador. Levantei-me, procurando uma muda de roupas no cesto. Me vesti rápido, tentando ocupar minhas mãos para que parassem de tremer.

-Você ouviu a luta antes?

Perguntei, voltando a me sentar ao lado dela, usando a toalha para enxugar o sangue da nuca. Ela assentiu e bocejou, parecendo exausta.

-Você está bem?

Perguntei, envolvendo meus dedos em seus cachos louros, tentando me distrair do que quer que estivesse havendo do outro lado da parede. Minha filha era mais importante.

-Fico cansada depois de curar.

Assenti.

-Deite e descanse – Eu disse, beijando sua testa. – Boi vai cuidar de você até eu voltar.

Ela segurou minha manga, antes mesmo que eu tivesse a chance de levantar.

-Não volte para lá, Nessie.

Pediu baixinho. Fiz que não, beijando as costas de sua mão.

-Eu preciso Lizzie. Não posso deixá-lo sozinho.

Ela mordeu o lábio por dentro, franziu o cenho e seus olhos azuis se encheram de determinação.

-Eu vou com você.

Ditou.

-Não. Não vai.

Ela pegou meu pulso e o apertou com força.

-Não vou deixar Scott machucar você de novo.

Decretou. Suspirei e assenti. Não havia tempo para discutir.

-Se tudo piorar, você vai fugir e vai passar a noite com Elena. Promete?

Ela fez que sim. Levantamos e fomos até a porta. Boi nos seguiu com as orelhas coladas aos crânio e os lábios entreabertos mostrando vislumbres dos dentes em aviso aos inimigos. O silêncio no corredor era o mesmo. Cheguei a ter medo. Aproximei-me lentamente, rente à parede, como nos filmes de espião. Espiei pelo canto da porta. O vento soprava a cortina para dentro e não havia sinal nem de Jake nem do vidro da minha janela.

-O que está acontecendo?

Lizzie perguntou, puxando minha manga, impaciente.

-Não sei – Respondi, soltando sua mão e avançando – Vou olhar mais de perto. Fique aí.

Teimosamente, ela agarrou meu pulso novamente com uma careta. Suspirei e revirei os olhos, rebocando-a comigo enquanto me aproximava da porta. Quando o vi, ignorei o furacão que parecia ter tocado todos os nossos pertences. Meu coração apertou-se até o tamanho de uma passa e um gemido vindo do fundo da garganta escapou pelos meus lábios.

-Jake.

Sussurrei, correndo até ele e caindo de joelhos, tão rápido que livrara minha mão de Lizzie. Ele estava estirado no chão, os olhos fechados e o cenho franzido. Scott não estava visível em lugar algum – exceto pelo formato de seu punho que já arroxeava sobre a pele morena de Jake. É preciso piorar antes de melhorar.

-Ei. Ei, Jake. Você está bem?

Perguntei, tocando seu rosto e dando-lhe pequenos tapinhas na face. Ele piscou duas vezes, atordoado. Lembrei-me do barulho de ossos se quebrando e do medo que sentira mais cedo.

-Mova os dedos do pé.

Pedi. Ele piscou, perdido. Não era algo que se ouvia todo dia, especialmente depois de tudo o que ele passara.

-Sh. Só faça.

Com uma careta, ele moveu naturalmente os dedos do pé. Bati na minha própria testa, lembrando-me de que o vira de pé depois de acordar. Os eventos daquela noite não pareciam se ordenar corretamente em minha mente. Soltei o ar, aliviada que tudo tivesse acabado. Deixei a cabeça pesar sobre seu peito, exausta e assustada.

-Onde está Scott?

Perguntei, olhando em seus olhos, deixando uma lágrima escorrer. Ele limpou-a com o polegar antes de falar.

-Não olhe pela janela – Pediu, simplesmente, acariciando meus cabelos. As mãos se deteram no sangue, ainda fresco na parte de trás da cabeça. Encolhi-me quando ele tocou a área ainda sensível do ferimento curado. Afastou a mão, temeroso de que tivesse me machucado – Está ferida?

Perguntou, com os olhos cheios de dor enchendo-se de preocupação. Fiz que não, ainda me sentindo meio tontoa.

-Não. – Olhei para a porta – Está tudo bem, Liz. Pode entrar.

Ela veio apressada como se estivesse ansiosa por isso. Ela se ajoelhou do outro lado de Jake, estendendo as mãos sobre seu peito sem tocá-lo. Pousei a mão sobre a dela.

-Não, Liz. Ele se cura sozinho. Você precisa descansar.

Ela levantou para mim dois olhos cegos e vidrados.

-Eu preciso ajudar.

Respondeu, simplesmente, me ignorando e fazendo sua luz azul brilhar.

-Pare Lizzie! – Pedi. – Lizzie!

Ela me ignorou, fechando os olhos. Não tornou a abri-los, e quando sua luz se apagou, Lizzie caiu para trás. Alcancei-a antes que sua cabeça atingisse o chão e puxei-a para o meu colo.

-O que houve com ela?

Jake perguntou, apoiando-se sobre o cotovelo, curado, mas fraco. Antes que eu pudesse lhe responder, outra voz me interrompeu.

-Nessie?

Levantei os olhos para a porta. Elijah nos encarava, confuso. Sage estava ao seu lado e tinha o focinho manchado de sangue. Deitei o corpinho de Lizzie no carpete e levantei-me enchendo-me de raiva, marchando até ele. Era por isso que caçávamos todos juntos. Por isso avisávamos uns aos outros onde íamos. Ele não tinha a menor ideia do que nos fizera passar por simplesmente não estar lá!

-Onde é que você estava?! – Gritei – ONDE. É. QUE. VOCÊ. ESTAVA?!

Empurrei-o com toda a força que consegui reunir. Ele recuou mais de susto do que pela minha força. Ele se viu acuado contra a amurada da abertura que dava passagem da enorme janela do primeiro para o segundo andar. Ele se segurou na madeira como se tivesse medo que eu lhe jogasse pelo buraco que dava para o primeiro andar. Ele apiedou-se de mim depois de alguns segundos, pressentindo que algo de muito ruim deveria ter acontecido, afastando as sobrancelhas. A simples menção da abertura dos seus braços já foi um convite irrecusável depois de todos os eventos da noite. Abracei-o com força, mal conseguindo conter meu choro desesperado.

-O que foi que aconteceu?

Ele perguntou, tenso. Balancei a cabeça.

-Depois. – Funguei, na tentativa de me acalmar – Agora... Hum... Agora...

Pousei a mão sobre a testa, tentando pensar com clareza. Elijah não precisava ler mentes para ver que estava completamente perdida. Ele apontou para Jake, ainda estirado ao lado de Lizzie.

-Sou... Sou eu?

Perguntou, desconfortável. Sage estava no quarto, cheirando aquele que se parecia com o dono. Ela pareceu gostar do cheiro, mas não o bastante para se aproximar mais. Pisquei duas vezes, ainda vendo um espectro de luz subir e descer juntamente com o peito de Jake.

-É... Magia... Eu acho... Você podia... Falar com Bonnie? Pedir que ela pare e... Agradecer?

Se for ela, é claro. Mas qual a outra opção de Jake? Luka? Eu mal o conhecia. O que ele ganharia ajudando-o? Elijah assentiu, beijando minha testa na tentativa de me acalmar. Ele esfregou de leve meus braços gelados para aquecê-los.

-Você precisa de mais alguma coisa?

Perguntou, preocupado. Eu gostaria que as pessoas parassem de se preocupar comigo e confiassem na minha capacidade de resolver meus problemas. Neguei com a cabeça de qualquer jeito. Ele anuiu e se foi, assobiando para chamar Sage, que o seguiu com a cauda ruiva balançando atrás de si. Respirei fundo antes de olhar para dentro do quarto. Mesmo fraco, Jake conseguira levantar o pequeno corpo desacordado de Lizzie e levá-lo à sua cama. Enquanto ele a observava, parecendo curioso, eu me aproximei, abraçando-o pela cintura.

-O que foi que ela fez?

Dei de ombros.

-O que ela faz. Ela cura.

Disse baixinho, com os olhos quase se fechando. Podia sentir a fraqueza tomar conta dos meus membros, um a um. Jake acariciou meu rosto de leve.

-Acho que é bom irmos dormir.

Assenti, concordando com ele. Entrelacei meus dedos nos seus e direcionei-me para minha cama. Deitei-me sobre o travesseiro, e ele baixou-se para beijar minha testa.

-Onde você vai?

Perguntei.

-Para o meu quarto.

Ele respondeu, dando de ombros.

-Fica?

Pedi, apertando sua mão, mostrando-lhe o quanto precisava dele. O meu medo enquanto tudo acontecia, e a sensação de alivio que só a presença dele poderia me trazer naquele momento. Ele sorriu de leve e eu lhe dei espaço. Ele deitou-se e beijou minha testa, suspirando, tão cansado quanto eu.

-Descanse.

Assenti, fechando os olhos e acomodando-me em seu peito, aspirando seu cheiro e suspirando de prazer. O cheiro dos pinheiros de perto de casa, de pelo de lobo, e acima de tudo, cheiro de liberdade.


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