A Casa De Klaus escrita por Bellah102


Capítulo 41
Capítulo 40 - Jake


Notas iniciais do capítulo

11 páginas de word. Quem reclamar leva sopapo! Brinks, amo vocês minhas queridas. Espero que gostem. Faz um tempão que estou louca para postar esse capítulo, e não podia comentar nada para não estragar a surpresa...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/183585/chapter/41

Nessie

            -Cupcake de boas vindas?

            Perguntei a Bonnie, com um sorriso. Ela assentiu, animada.

            -Boa ideia.

            Meredith revirou as milhares de gavetas na cozinha atrás de uma vela azul, enquanto eu e Elena fazíamos a massa para o bolinho. Mais nos sujamos de farinha do que qualquer coisa, mas no fim, o doce tinha até granulados coloridos no topo.

            -Tomara que o cara novo seja simpático. Ninguém merece outo John.

            Disse Caroline, distraidamente.

            -John é legal. Quem não presta é Isobel...

            Rebateu Elena. Ela e Isobel tinham uma estranha e inexplicável rixa, que nem ao menos Bonnie podia explicar. Só sabia que, antes de tudo, Jenna também compartilhava do seu ódio, e ainda o estendia a John, seu... Quase namorado. Os dois tinham uma relação de amor e ódio que ninguém entendia – Não que alguém ainda tentasse . É claro que, com Alaric viúvo, Isobel não perdia tempo, o que não ajudava a Gilbert a gostar mais dela.

            -Quem sabe Bonnie vai encontrar alguém legal, finalmente.           

            Provocou Meredith, estendendo o bolinho com a vela fincada a ela. Bonnie pegou o bolinho com um olhar irônico e pairou a mão acima da vela. Esta não demorou a acender. Mesmo depois de quase 5 anos, meu espanto não passava. Bonnie me entregou o bolinho, parecendo chateada.

            -Meredith estava só brincando, Bon. Você e Jeremy vão se acertar.

            Eu disse a ela, baixinho.

            -Não estava pensando nisso. - Ela respondeu, balançando a cabeça. - Eu tenho a impressão que tem algo muito ruim vivendo no 8.

            -Ruim?

            Perguntei temerosa. Meu pensamento voou até Lizzie, lá fora com Boi.

            -Não. Me expressei mal. Não é ruim... – Ela parecia agoniada, procurando uma forma de descrever sua sensação – Eu estou com a sensação... De que você não vai gostar.

            Dedos gelados correram pela minha espinha. Desde a visita da minha família, semanas atrás, tudo o que eu não precisava, era de algo que eu não gostasse. Já estava deprimida o suficiente.

            -Vamos, gente!

            Chamou Elena, já nas portas brancas. Troquei um olhar aterrorizado com Bonnie e ela fez que sim, indo em frente naturalmente. Engoli em seco, tomei um grande fôlego e a segui, com o cupcake tremendo em minhas mãos que agora suavam, fazendo a chama da vela tremeluzir.

           

            Estávamos a frente da porta com o número 8. Troquei um olhar com Bonnie e ela parecia se desculpar por o que fosse que se encontrasse atrás daquelas portas. Caroline bateu à porta, alheia às moinhas preocupação.

            -Quem está aí?

            Perguntou uma voz do outro lado. Essa... Essa voz... Não... Não podia ser... O dono dela devia estar longe, muito longe, em segurança. Oh, Deus, por favor, não!

            -Comitê de boas-vindas...

            Disse, animada, como um eco do dia em que eu chegara chorosa, humilhada, abusada, exausta e saudosa de casa.

            -Podem entrar.

            Disse a voz cansada, mas ainda assim cautelosa. Caroline abriu a porta e uma a uma nós entramos no cômodo. O quarto não estava tão ruim quanto o meu estava quando eu cheguei a Casa. Não cheirava a podridão e as paredes não estavam descascando. Era ao contrário. O quarto que costumava pertencer a Rose cheirava a algo que eu deixara para trás havia muito tempo.

            -Nessie?

           

            Quando meu cérebro voltou, milhares de pensamentos zuniram, voando de um lado para o outro, fazendo minha cabeça latejar. Quando abri os olhos todos pararam, congelados e então derreteram. Olhos negros, brilhantes como o Sol encaravam os meus, preocupados até a alma. Bem, é isso. Eu morri. Tive um ataque cardíaco e agora estou no céu. Essa era a única explicação racional. Só era uma pena não conhecer o cara novo.

            -O que houve com ela?

            Perguntou a voz de Elena, se intrometendo na visão dos lindos olhos negros. Eu ainda estava na Casa de Klaus, percebi apavorada. E pior do que isso: Ele estava comigo.

            -Quase amassou o bolinho...

            Reclamou Caroline. Bonnie balançou a cabeça.

            -Não vê o colar Elena? É ele.

            Houve um silêncio enquanto Bonnie e ele trocavam olhares. Mas ele logo virou-se para mim, enquanto eu me punha de pé. Ele se adiantou, pronto para me ajudar. Tomada pela raiva, estapeei seu rosto com força. Assustado e confuso, ele retrocedeu um passo levando a mão ao rosto.

            -O que você está fazendo aqui?!

            Perguntei, furiosa.

            -Eu...

            Ele tentou.

            -Que droga, Jake! Você devia estar em casa! Faz a menor ideia do que é esse lugar?!

            -Não, eu não...

            Eu não podia ouvir. Jake estava ali. Na Casa de Klaus, o vampiro sociopata assassino que aterrorizava a maior parte dos meus sonhos e pensamentos. Não. Isso não podia acontecer. Deixei o 8, fechando a porta com força atrás de mim, correndo em direção do 12. Sem bater, abri a porta e fechei-a atrás de mim, ofegante. Elijah levantou os olhos do livro que lia e fechou-o imediatamente ao ver que era eu. Sage levantou a cabeça da cama e virou as orelhas na minha direção, sobressaltada. Então percebeu que não era um bife gigante e se desinteressou.

            -Qual o problema? – Elijah perguntou, jogando o livro sobre a chaìse sob a janela e vindo até mim, correndo os dedos pelo meu rosto – Está pálida. Nessie, você está suando frio... Parece que viu um fantasma.

            Fechei os olhos, deixando que as lágrimas de desespero tomassem conta do meu rosto.

            -Eu vi. Eu vi sim. E se eu não tomar cuidado... Klaus vai mata-lo.

            Disse, aos prantos.

            -Nessie... – Chamou Lizzie na escuridão. – Está acordada?

            Fiz que sim, desviando os olhos da Lua lá fora através da janela. Eu não conseguiria dormir. À algumas paredes de distância, Jake dormia em uma das duras camas sob o telhado da da Casa e na minha mente Klaus rondava sua cama como um falcão faminto cercando sua presa, esperando a chance de atacar. Se ele nos ligasse por qualquer que fosse o motivo, mesmo que fosse por um segundo apenas, não importaria se eu e Elijah nos casássemos de mentirinha. Eu não conseguiria fingir não sentir nada se ele machucasse Jacob.

            E então Elijah ficaria furioso com a minha dor, e eu perderia meu melhor amigo para Klaus.

            -Estou sim. Não consegue dormir? – Perguntei aos seus olhos azuis na escuridão, a única coisa visível entre o monte de cobertas felpudas que a cobria. Ela fez que não, balançando o monte – Eu também não.

            -Está frio. – Ela reclamou – Posso dormir com você?!

            Fiz que sim, erguendo os cobertores sobre mim ara que ela pudesse se esgueirar para dentro. Ela levantou da sua cama e correu para a minha, se aconchegando e abraçando minha cintura. Boi ganiu, ainda nos pés da cama de Lizzie, procurando-a na escuridão. Ela deu um risinho.

            -Aqui, Scooby-Boi!

            Ela chamou. Ele levantou-se e abanou a imensa e pesada cauda, descendo da cama de Lizzie, vindo deitar-se aos nossos pés acomodando-se e se esfregando nas cobertas novas para deixar seu cheiro. Lizzie riu baixinho.

            -Nós somos uma linda família, não é, Nessie?

            -Somos sim.

            Respondi sorrindo e passando o braço pelo seu ombro. Ela fez que sim.

            -Você é a mãe, Elijah é o pai, eu sou o bebê e Boi é o tio gordo que vive no nosso sofá.

            Eu gargalhei.

            -Porque ele não pode ser nosso cachorro?

            -Porque cachorros normais não comem cinco quilos de chilli em meia hora.

            Respondeu dando de ombros, como se fosse a resposta mais normal do mundo.

            -E tios gordos sim?

            -Eu vi no Guiness tios gordos que comem muito mais rápido do que isso.

            Eu ri por mais alguns segundos até que este morresse.

            -Eu gosto quando ri. - Ela disse, sorrindo. – Porque não ri mais?

            Perguntou com os olhinhos brilhantes, dando de ombros.

            -Klaus fez muito mal para mim.

            -Tenho medo de Klaus – Ela disse, baixinho –Se ele pode fazer pessoas rirem menos, o que fará comigo?

            Perguntou, de forma sombria, escondendo o rosto entre meus seios. Apertei-a com força contra mim.

            -Nada Lizzie. Ele não fará nada a você. Se ele tentar, eu...

            -Vai mata-lo? – Ela perguntou baixinho – Isso não vai te fazer melhor que ele. Você não é uma assassina Néss. Ele é.

            Percebi que por trás daquela fininha voz de criança e rosto angelical escondia-se uma garotinha que já sofrera demais e que possuía a sabedoria de uma velha.

            -Tem razão. Não sou.

            -Você não é. – Ela disse baixinho – Eu sei que Boi é maior que eu, mas eu entendo das coisas. Tenho quatro anos, mas vivi todos perto de Klaus. Sei que o mundo não é cor-de-rosa, embora isso fosse incrível.

            Aquela constatação encheu meus olhos de água. Para Lizzie, o mundo sempre fora cor-de-rosa. Eu nunca imaginei que ela tivesse essa maturidade dentro de si. Mas ela tinha, fora obrigada a crescer mais rápido do que o normal.

            Eu posso fazer o mundo ser cor-de-rosa para você, Lizzie.

           

            O dia chegou, frio como o início de outono exigia que fosse. Ao abrir os olhos, encontrei duas pequenas safiras me espiando por baixo de uma cascata de cachos louros. Sorri com a visão.

            -Bom dia...

            Cantarolei. Ela sorriu de volta.

            -Bom dia.

            Respondeu baixinho, se aconchegando mais próxima de mim.

            -Dormiu bem?

            Ela fez que sim, rindo.

            -Boi solto um pum durante a noite... Mas você não pediu para ELE parar. Você pediu para o “AMOR” parar. – Disse, colocando aspas em amor, mal contendo um risinho de animação. Aquilo era um brilho assassino em seus olhos? – Pediu para o amor parar.

            Repetiu, levantando uma sobrancelha. Dei de ombros, baixando os olhos.

            -E daí?

            Perguntei baixinho, virando de costas para ela e me sentando na cama para evitar seu olhar como uma criança que fez algo errado, alcançando a tradicional flor de baunilha que Elijah voltara a deixar todas as noites em minha mesa de cabeceira.

            -Ah, por favor, mamãe. Você nunca chamou Elijah de amor. E ele nunca soltou um pum. Ele é chique demais para isso, você sabe.

            Era verdade. Elijah e Jake eram como gelo e fogo. Mas como eu explicaria a ela que toda a ideia de família que ela jamais tivera era uma mentira?

            -Bem... Eu...- Gaguejei. Afastei as cobertas com um chute, tentando não tropeçar em Boi ao sair da cama. Dirigi-me à cômoda, abrindo uma gaveta – Ah Lizzie. Eu já disse que não sou sua mãe. Não precisa mais me chamar assim. Você já não é uma menina. – Repreendi, tentando desconversar. Virei-me para ela – Levante-se, vamos! Temos que nos vestir para a escola.

            “E parar de falar nisso...”.  Lizzie então, ignorando toda a minha autoridade, começou a gargalhar. Senti o sangue subir ao rosto, deixando-o quente e corado. Até Boi parecia estar se divertindo, com aquela imensa língua pendurada para fora da boca e a cauda gorda balançando atrás de si. Cruzei os braços irritada, soprando um cacho de cabelo da frente dos meus olhos, tentando mais uma vez a minha imitação barata da Cara de Mãe.

            -O que é que é tão engraçado?!

            Perguntei, ultrajada.

            -Você está mudando de assunto! – Ela respondeu, lutando para controlar seu doce riso cínico – Isso prova que você é culpada. É o básico da investigação criminalista. – Levantei uma sobrancelha, confusa. Ela deu de ombros. – Criminal Minds. – Disse simplesmente, e voltou a rir. – Nessie, hoje é domingo. Não tem escola.

            Ela segurou a barriga que parecia doer de tanto rir e caiu deitada na cama novamente. Senti-me seriamente tentada a apertar seu pescocinho até seu rosto ficar preto, mas afastei o pensamento. Prometera à Kate e à Jenna que cuidaria da menina. Droga. Antes que eu começasse a considerar hipnotizar Boi para derrubá-la da janela – dessa forma, a culpa não seria minha – Lizzie reprimiu sua gargalhada fina, e eu voltei a amá-la um pouco mais.

            -Ok, ok... – Ela disse respirando fundo. Seus olhos lacrimejavam. Ela os limpou com os dedos finos – Quem é ele, Néss? Elijah sabe?

            Ela disse, fixando o olhar em mim, com um sorriso de expectativa. Estava afiando a língua para mentir desenfreadamente, mas seu olhar me parou. Eu não podia dizer a ela para não mentir se mentisse para ela – ainda mais do que a mentira inocente sobre sua mãe Suspirei, sabendo que seria inútil. Meu senso de justiça sabia o que precisava acontecer. Respirei fundo, ainda de braços cruzados e sentei-me ao seu lado. Toquei o entalhe de madeira em minha garganta, pedindo a ela força.

            -Bem... Vê esse nome?

            Ela assentiu, observando-o.

            -Sim... Você me disse que era o seu herói de infância.

            Sorri levemente.

            -Eu disse, não foi? Acontece que eu não fui totalmente honesta.

            Seus olhos se arregalaram como duas bolas de pingue-pongue.

            -Mentiu para mim?

            -Não. Sim. Eu... – Respirei fundo, tomando coragem – Eu escondi isso para te proteger. O que eu vou te contar agora, você nunca, jamais, vai poder dizer em voz alta, está bem?

            Ela fez que sim, curiosíssima.

            -Pode falar. Nem a Greta-Morcega ia tirar alguma coisa de mim.

            Fiz que sim, estendendo a mão para brincar com seus cachinhos louros, enquanto ela me observava sem nem ao menos piscar para não perder um segundo sequer do segredo. Suspirei. Eu devia ter me preparado para isso.

            -Você... Sabe que eu não nasci na casa como você, não é?

            Ela anuiu.

            -Isso mesmo. Mas eles não eram as únicas pessoas que estavam lá.

            Lizzie estreitou os olhos.

            -Você tinha um namorado lá? – Seus olhos se iluminaram – Elijah morava lá também?

            -Não! Não. Elijah já vivia na Casa havia muito tempo quando eu nasci. Não havia outro. E esse era o nome dele – Eu disse, mostrando-lhe o entalhe, que à essa altura estava gasto do uso. Perdera a conta de quantas vezes precisara trocar a corda que começava a apodrecer já que eu o usava até mesmo no banho. Pedira a Bonnie para encantar a peça para que não apodrecesse também, mas ainda assim ele não era totalmente alheio ao tempo. – Nós nos amávamos muito mais que Romeu e Julieta jamais pudessem sonhar...

            -Espere aí... Doces tem sentimentos? E dormem?

            Ela perguntou, confusa. Eu ri, levemente, revirando os olhos.

            -Me desculpe. Às vezes eu esqueço que você é nova demais para Shakespeare.

            Ela revirou os olhos também.

            -Ok, ok, queijo e goiabada se amam. Continue!

            Exigiu.

            -Enfim, nós nos amávamos muito. Mas logo que nós começamos a namorar, Klaus apareceu.

            Ela pensou um pouco e assentiu, desviando o olhar por um segundo.

            -Mas... Porque você nunca me disse isso? Porque agora?

            Ela perguntou. A baixinha pressentia, eu podia ver. Não era apenas uma palavra dita ao acaso durante o sono, e de algum modo ela sabia disso.

            -Bem... Ele meio que é... O cara novo...

            Eu disse baixinho.

            -Mas você não quer ficar com ele, não é? – Lizzie perguntou, sem saber do meu dilema interno – Você vai ficar com Elijah, certo? Como sempre.

            Fiz que sim.

            -Eu... Eu vou ficar com Elijah. Mas não sobre os motivos que você pensa. – Fechei os olhos, numa tentativa de não ver sua reação. Se tinha que contar à Lizzie sobre as mentiras, que contasse sobre todas de uma vez. – Elijah é... Uma espécie de bomba-relógio.

            -Bomba?

            Perguntou, ainda mais confusa.

            -Sim. E quando ele explode ele vira um estripador. Sabe o que é, querida? – Ela fez que não. É claro que não, Nessie. Olhe para ela! – Um assassino. Muito cruel.

            -Elijah?!

            Perguntou assustada, escancarando a boca em formato de O. Fiz que sim, suspirando.

            -Mas ele só explodiu uma vez até hoje. Você se lembra do dia em que não apareci? E que Jenna não te deixava vir me ver?

            Ela assentiu.

            -Quando Scott prendeu você no freezer.

            -Isso mesmo. Foi nesse dia. Elijah ficou furioso porque ele tinha me machucado. Chegou a arrancar o braço de Scott.

            -ARRANCAR?! – Ela parecia horrorizada, com as duas mãozinhas sobre a boquinha pequena – Elijah? Arrancando um braço?!

            -Calma, calma Lizzie! – Eu disse, segurando seu rosto entre minhas mãos – Ele não queria. Ele jurou que não foi a intenção dele. Ele simplesmente não pode evitar. Ele disse que só o fez por que... – Eu precisei parar. Aquele fato me assombrava todos os dias da minha vida naquela maldita casa, e o fato de eu não correspondê-lo do jeito que ele queria, do jeito que ele precisava e do jeito que ele merecia era o que mais me atormentava durante noites de vigília. – Porque ele me amava. E não queria me ver machucada.

            Lizzie ficou algum tempo em silêncio, assimilando tudo o que acabara de ouvir. Por fim, suspirou.

            -Bem, não se pode culpá-lo. Até aí tudo bem. Elijah vingou você, e agora vocês se amam e estão juntos. Certo?

            Fiz que não, passando os dedos pelo rosto pequeno e anguloso de pálida pele leitosa. Tudo o que ela queria era uma família só dela. Indestrutível. Pilares que pudessem segurar o teto acima dela. Mas a escolha era entre uma falsa família perfeita ou a verdade nua e crua que um dia ela teria que encarar. E nós continuaríamos a amá-la e protegê-la do mesmo jeito. Nada precisava mudar.

            -Eu não... Eu não amo mais Elijah do jeito que você acha que eu amo. Ele é como meu irmão, Lizzie. Meu melhor amigo. Cuidamos um do outro, mas isso é tudo. Eu nem ao menos gostava de Elijah quando tudo começou. Mas descobrimos que eu era o botão que Klaus precisava apertar para ter um Scott 2.0. Eu não queria mais me machucar, e Elijah não queria ser mal. Então... Nós nos unimos.

            -Mas... Você não... Ama Elijah? Vocês não vão se casar e viver felizes para sempre no topo da torre da Casa?

            Felizes para sempre na Casa de Klaus. Esse era um pensamento interessante. Fiz que não.

            -Não querida. Desculpe.

            Ela suspirou uma vez, formando um biquinho.

            -Puxa... – Ela disse, parecendo desconcertada com tanta informação de uma vez só. Antes que eu pudesse abrir a boca para confortá-la,e ela pareceu incomodada, como se estivesse recebendo uma transmissão de rádio difícil de ouvir. – Você... Você ama o garoto novo. E não Elijah. Mas Elijah é o seu namorado. Porque você não... Troca?

            -Não posso. E você não pode contar a ninguém que eu o amo. Klaus vai machucá-lo para me machucar e Elijah vai explodir de novo. E não sabemos se ele vai conseguir voltar ao normal. E não quero que nada disso aconteça...

            -Hum... – Ela disse baixinho, ajoelhando-se sobre a cama para alcançar Boi com a mão. – É por isso que não conseguir dormir ontem, não é? Está preocupada.

            Fiz que sim. Ela colocou as duas mãos nos meus ombros e olhou fundo em meus olhos.

            -Nós vamos dar um jeito nisso. Eu, Elizabeth Forbes Cullen, Rainha dos Elfos do Jardim da Casa de Klaus, juro solenemente. – Sorri entre lágrimas quando ela me abraçou com força. – Mais algum segredo que você queira me contar?

            Perguntou antes de se afastar. Ponderei contar-lhe acerca da mãe, mas só de lembrar a expressão em seu rosto quando lhe contei sobre Elijah, imaginei que isso fosse assunto para outra hora. Mas fiz que sim mesmo assim.

            -Olha Lizzie... Sobre o coelhinho da páscoa...

            Essa seria a parte mais difícil da conversa.

            Descemos tarde para o café, mas bem próximas da hora do almoço. Elena cozinhava algo com um cheiro delicioso em uma panela grande. Meredith pairava ali do lado, parecendo louquinha para roubar uma mordida. Lizzie foi direto para o colo de Bonnie, que estava sentada com Caroline em uma das mesas perto do fogão, provavelmente para contar sobre o assombro que a acometera ao descobrir que o coelhinho da páscoa e a fada dos dentes haviam, infelizmente, rompido o longo noivado. Está bem, eu não consegui dizer a verdade a ela. Nem todas as verdades precisavam ser reveladas em um domingo de manhã.

            -Ei garotas, o que estão fazendo?

            Perguntei, empurrando Elena levemente com o quadril.

            -Eu estou fritando frango.

            -E eu quero frango.

            Sussurrou Meredith, lambendo os lábios. Ri de leve.

            -Querem alguma ajuda?

            -Nem vem, já tentei essa técnica.

            Disse Meredith, com uma careta desaprovadora.

            -Você podia tentar enturmar nosso amigo novo logo ali.

            Elena respondeu, ignorando Meredith e me dirigindo um sorriso travesso. Engoli em seco. Bem, eu não podia adiar aquela conversa para sempre. Eu precisava preveni-lo acerca de Klaus e no que ele se metera. Suspirei e assenti, virando-me de costas para a bancada olhando diretamente na direção da mesa onde ele sentava a mais distante do movimento. Afastei-me da bancada na direção da sua mesa. Ele não percebeu minha aproximação até que eu sentei a sua frente.

            -Nessie.

            Ele sussurrou ao encontrar meus olhos.

            -Jake.

            Eu disse com um sorriso tímido. Como conversar com alguém que costumava ser metade do seu batimento cardíaco, que você não vê à anos?

            -Você está bem? Depois de ontem... – Ele se deteve por um segundo – O que... Exatamente... Aconteceu ontem?

            Suspirei e tirei um cacho da frente dos olhos. Olhei ao redor. Ninguém prestava atenção em nós.

            -É uma longe história... – Suspirei novamente. As palavras pareciam me evitar. – Só digamos que, no momento, me conhecer pode ser perigoso.

            Ele estreitou os olhos.

            -Perigoso?

            Respirei fundo.

            -É. Você sabe onde está?

            Ele deu de ombros.

            -No Colorado. 500 KM de Platoro.

            Fiz que não.

            - É mais do que isso. Esse lugar se chama Casa de Klaus. Niklaus agora é seu proprietário.

            Ele começou a rir. Jogou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada trovejante. Mantive-me séria até que ele percebesse que não era brincadeira alguma. Seu olhar me inquiriu se eu falava sério.

            -Néss, você é minha dona. Mais ninguém.

            Ele disse, alcançando minha mão. Meus dedos inconscientemente se entrelaçaram aos dele antes que eu pudesse evitar. Encaixaram-se tão bem que eu nem precisei tentar. Lágrimas encheram meus olhos. Eu sentira tanto a falta disso...

            -Qual o problema?

            Perguntou, notando as lágrimas.

            -Klaus é um assassino, Jake. Uma vez que se esteja nessa casa, você não pode sair a não ser em um caixão. Estamos todos presos em seus jogos – Respirei fundo e engoli o gosto do choro que tentava abrir caminho – E eles não nos permitem ficar juntos.

            -O quê? Do que é que você está falando?

            -Eu preciso fingir um namoro com um amigo meu. Klaus quer usá-lo como arma, mas ele só é perigoso quando me machuco.

            Ele voltou a estreitar os olhos.

            -Quem teve a audácia de testar isso?

            Grunhiu entre dentes. Apertei sua mão de leve.

            -Scott. Um babaca sem escrúpulos, 1,95, olhos vermelhos, cabelos cor-de-palha, nomes de mulheres tatuados nas costas... Não é fácil de confundir. Está vendo aquele freezer? – Perguntei, lançando apenas um olhar àquela porta que ainda me rendia arrepios. – Ele me trancou ali.

            Ouvi seus dentes trincarem.

            -Me diga onde está esse desgraçado e eu arranco a cabeça dele se ele encostar um dedo que seja em você.

            Respirei fundo e expirei, decepcionada.

            -Você tem tão pouco amor à sua vida? – Perguntei baixinho – Ele é o bichinho de estimação de Klaus. Não pode tocá-lo.

            -Não tenho medo de morrer.

            -Cale-se! – Ordenei, dura – Se desejar morrer ele vence. E ele já tirou coisa demais de mim. Ele não vai tirar você, me entendeu? Não você.

            Ele fez que sim, assustado com a minha determinação. Como hábito, toquei a madeira da minha gargantilha para me acalmar. Ele sorriu de leve e levou a mão à dele também.

            -Um dia, tudo isso vai acabar e nós vamos para casa – Sussurrei, o mais baixo que conseguia, sabendo que ele ouviria – Mas para isso, Klaus tem que morrer.

            -Posso fazer com que isso aconteça.

            Ele disse, com um sorriso malicioso. Fiz que não tristemente.

            -Isso nem você pode fazer, meu herói.

            -NESSIE!

            Gritou Lizzie vindo até nós batendo os pés. Jake me lançou um olhar confuso antes que eu me virasse para a pequena e loira nuvem de tempestade que trovejava na nossa direção.

            -O que foi, Lizzie?

            -Caroline está dizendo que a fada dos dentes não existe!

            -E o que ela sabe?

            Perguntei com um sorriso.

            -Nada, mas... – Ela desviou o olhar de repente e encarou Jake – Ei, você é o cara novo, não é? Meu nome é Lizzie, eu sou a filha da Nessie.

            -Filha?!

            Ele perguntou, erguendo as sobrancelhas, surpreso. Eu ri da sua expressão, soltando sua mão e puxando Lizzie para o meu colo.

            -É sim. Minha linda filhinha. Eu criei ela depois que a mãe... Viajou.

            -Um dia ela vai voltar – Afirmou Lizzie, como sempre fazia – Mas até lá, Nessie vai cuidar de mim.

            Jake me inquiriu com os olhos, e eu fiz que não o mais imperceptivelmente que conseguia. Sabia que ele entenderia. Ele assentiu e estendeu a mão.

            -Prazer Lizzie. Jacob Black.

            -Elizabeth Forbes Cullen. – Disse, apertando sua mão. A mãozinha parecia minúscula comparada à dele – Meu nome não é simplesmente fabuloso?

           

            -Elena, você pode tomar conta de Lizzie por um segundo? Vou levar Jake ao porão para ele dar uma olhada por lá. O quarto de Rose não é bem o estilo dele.

            Elena riu de leve e assentiu, enquanto Meredith sorrateiramente surrupiava uma coxa de frango frito. Ela sorriu e mostrou um polegar para mim.

            -Sem problemas. E bem-vindo.         

            Elena completou, olhando para ele. Ele sorriu de leve e assentiu. Levei-o para fora do refeitório para a porta no chão escondida pela escada em espiral. Descemos as escadas e eu liguei o interrupto que acendia todas as lâmpadas daquele depósito sem fim.

            -Feche a porta. – Ordenei, olhando em volta para checar se havia alguém por ali – As paredes tem ouvido.

            Solícito, ele fechou a porta e desceu as escadas até mim, enquanto eu procurava velas e uma caixa de fósforos que não demorei a achar. Acendi uma vela e entreguei a ele, então acendi a outra e guardei a caixa de fósforos no bolso. Apaguei as luzes e fiz sinal para que ele me seguisse. Com seu cheiro tranquilizante em meus calcanhares, perdi-me pelos corredores até ter certeza de estar longe de olhares e ouvidos curioso. Virei-me para ele e respirei fundo, pousando a vela sobre uma das prateleiras. Ele fez o mesmo.

            -Pergunte o que quiser – Sussurrei – Eu lhe direi.

            -O que é esse lugar? Porque você tem tanto medo dele?

            Perguntou o que tinha na ponta de língua. A resposta também estava na minha.

            - É uma casa para esconder os objetivos de Klaus. Somos um exército. Para atacar Volterra, a União Soviética, ou sabe-se lá o que ele quer. Seja como for, estamos presos sob seus caprichos. E não são caprichos gentis.

            Ele baixou o olhar para as mãos, desconfortável.

            -Você mencionou algo sobre... Fingir um namoro.

            Suspirei.

            -Por proteção. O nome dele é Elijah.

            -Não quero saber o nome dele.

            Disse, carrancudo. Balancei a cabeça. Não acreditava que estava tendo essa conversa. Respirei fundo.

            -Eu admito que nem sempre foi mentira. – Ele levantou os olhos, magoado. Foi como um soco no estômago. Gemi baixinho na escuridão – É melhor que você saiba por mim. Mas acabou à muito tempo.

            Ele ficou calado por alguns segundos. Dei a ele o tempo que precisava.

            -Porque?

            -Porque o que?

            -Porque deixou de ser mentira, e porque voltou a ser?

            Respirei fundo, na tentativa de encontrar as palavras certas. Mas não havia palavras certas a serem ditas.

            -Era o meu primeiro ano. Lizzie tinha acabado de nascer, e eu já tinha visto tanta coisa... E honestamente, àquela altura do campeonato eu achava que vocês já teriam vindo atrás de mim. Mas não vieram. E ele estava lá. – Eu dei de ombros, sem conseguir olhá-lo nos olhos. Podia sentir seu olhar fulminando meu rosto. – Mas... Por mais que eu tentasse, ele não era você. Ele era mandão, meio machista, meio prepotente, e tem feridas que eu não posso curar. – Disse lembrando-me do mergulho em Platoro Reservoir. Toquei minha gargantilha em busca de forças. Então sorri de leve – Eu nunca tirei. Talvez isso signifique algo.

            Ele se aproximou e segurou meu rosto entre suas mãos, fazendo-me olhar dentro de seus olhos. Seu calor me fez sentir como se estivesse com uma daquelas balinhas explosivas embaixo da pele. Elétrica. Quando ele me tocava... Era como se Klaus e o mundo ao nosso redor não existissem. E apesar de tudo o que eu tinha lhe falado, não havia mágoa em seus olhos. Apenas preocupação. Ele tirou a franja da frente dos meus olhos.

            -Porque você parece tão triste?

            -Eu pareço? – Perguntei, sorrindo de leve. Não me sentia triste. Ainda assim ele assentiu. – Eu nem percebi – Disse, tocando suas mãos, cobrindo-as com as minhas – Eu vi e passei por coisas que... Eu não desejo para ninguém.

            -Você pode me mostrar?

            Pediu. Fiz que sim, fechando os olhos.

           

            Quando o lado escuro da Casa de Klaus parou de se repetir na minha mente, eu tinha lágrimas amargas escorrendo pelo rosto. Já havia perdido tanto... Mal me lembrava das minhas primeiras semanas, de quem eu era à essa altura, quando ainda acreditava que podia ser resgatada e que poderia voltar para casa. Nunca percebera o quanto eu mudara, o quão pouco eu ria e o quão soturna eu me tornara, mas vendo tudo como uma só grande figura, não era a toa que Jake estava me estranhando.

            Eu era uma nova pessoa. Mais forte. Mais cruel. E até mais sexy, me atrevia a dizer.

            Jake permaneceu em silêncio, digerindo as imagens que vira. Abrace-o quando percebi que eu ia chorar. Eu não me lembrava de ter sentido tanto a falta dele. O peso dos anos pesou sobre o meu coração. Todo aquele tempo estivera amortecida, congelada, tinha esquecido o que era sentir de verdade. Ele passou os braços ao meu redor e apertou-me contra si. Isso fez a dor melhorar. Ele estava ali. Estava comigo, e eu estava com ele. Era o nosso lugar no mundo. Onde pertencíamos.

            Mas me lembrei de repente que não devia me alegrar tanto com aquele fato, pois o “Ele está aqui”, queria dizer que ele estava na Casa de Klaus, à mercê dos meus inimigos que há muito estavam loucos para me pegar. Se algo acontecesse a ele, eu não poderia mais resistir. Todas as minhas paredes, construídas com sangue, suor e lágrimas dos inocentes cairiam. Minha alma finalmente quebraria e Klaus me teria na palma das suas mãos. Abria a boca para dizer a Jake que simplesmente não podíamos. Não ainda. Mas ele levantou meu rosto em sua direção, então explodimos em chamas.

            Seu beijo era quente, mas não de um jeito pervertido. Era quente como uma lareira em um frio de inverno, quente como um lar e como o abraço e alguém amado. Quente como só ele poderia ser. Sem que nos aprofundássemos o beijo, eu já estava arfante. Empurrei-o, com lágrimas nos olhos.

            -Jake, é perigoso.

            -Perigoso?

            -Quando me machuco, Elijah vira um estripador. Nas mãos de Klaus... Isso poderia tomar proporções horríveis. Podia piorar ainda mais a vida que temos aqui.

            -O que isso tem a ver conosco? Eu protegerei você até meu ultimo suspiro e você sabe disso.

            Fiz que não, abraçando a mim mesma.

            -Será que não entende? Sou eu que tenho que proteger você. Se Klaus descobrir que nos amamos, ele vai usar você contra mim. E se algo acontecer à você... Eu simplesmente não vou aguentar. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Vejo vocês nos reviews!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Casa De Klaus" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.