A Casa De Klaus escrita por Bellah102


Capítulo 28
Capítulo 27 - Noite com Elijah.


Notas iniciais do capítulo

Agora a chapa vai esquentar. Mas NÃO do jeito que vocês estão pensando suas taradinhas... Deleitem-se com o capítulo longo. 7 páginas de word para vocês amores! Fui!



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            A música era leve. Lenta. Eu vinha tentando compor algo feliz o bastante para me incentivar, mas tudo o que eu conseguira era uma melodia trágica, e se eu fosse colocá-la em um musical, a escolheria para revelar a morte dos patriarcas da família. Bem, o piano não tinha culpa de pertencer àquela escola pervertida. Anotei as últimas notas, cantarolando comigo mesma as que queria a seguir, procurando-as a minha frente. Terminei a página do caderno e julguei que estava ótimo por uma noite. Guardei o caderno no bando do piano e meu relógio apitou, avisando que logo Elijah estaria ali para a caçada. Espreguicei-me e me dirigi para fora do prédio, faminta.

            Lizzie estava com Jenna, provavelmente estudando para a prova monstruosa de Sobrenaturalidades que Klaus aplicaria no dia seguinte. Eu já tinha estudado mais cedo e estudaria novamente antes de dormir. A noite estava bonita e agradável. A Lua brilhava no topo do céu estrelado, completamente cheia. Tyler, Mason e Jules deviam estar por ali naquela noite. Lembrei-me mentalmente de pedir a Elijah para ficarmos perto dos canteiros de Wolfsbane, os limites dos domínios da Casa, pelo menos para os lobisomens.

            A Casa era longe – ou parecia ser – De toda e qualquer civilização, então o céu em noites abertas como aquela era simplesmente espetacular. Desci os degraus da frente da escola e caminhei devagar pela grama, sentindo o ar da noite tocar meus joelhos nus por baixo do vestido branco. Sorri, cruzando os braços, satisfeita por esperar ali.

            -Ora, ora,ora...- Disse uma voz que eu reconheceria em qualquer lugar. E que assombrava meus piores pesadelos. – Será que ainda não aprendeu nada?

            Virei-me, devagar. E lá estava Scott, parado a minha frente, de braços cruzados sobre os músculos do peito nu. Meu corpo todo congelou-se de medo.

            -E-Elijah logo vai estar aqui.

            Avisei, ainda um pouco em choque. Scott fez que sim.

            -Claro que vai. O que ele não faz pela sua montrinha favorita? Só temo que seja tarde demais quando ele chegar...

            Ele deu um passo a frente e eu dei um atrás. Conhecia aquela postura. E algo me dizia, que não era eu a caçadora daquela noite.

            -E-e-e-e-e-eu não estou brincando -  Gaguejei pateticamente. Ele deixou a cabeça cair de lado – Ele v-v-v-vai ficar... Muito... A-a-a-a-aborrecido... Se fizer algo... E você... S-S-S-S-Sabe o que acontece quando ele fica aborre-e-e-e-ecido.

            Ele sorriu, deixando as presas à mostra.

            -Eu adoro uma mulher gaga, sabia? Alguns dizer que é perversão, mas o que eles sabem do prazer de cada homem? – Engoli em seco. Ele deu mais um passo e eu o imitei para trás. – Quando nos vimos pela primeira vez, você estava bem parecia à como você está agora. Me faz pensar que quer isso. Apesar de que sua camisola era rosa...

            Dei mais um passo para trás, tomando uma iniciativa, começando a tremer ao lembrar daquela noite.

            -Era minha favorita, caso queira saber... Está me devendo uma camisola de seda.

            Ele alargou o sorriso.

            -Estou tentado a te dever uma camisola de seda E um vestido branco. – Não me movi, paralisada. Ele uniu as sobrancelhas, surpreso. – Não vai fugir como naquela noite?

            Fiz que não.

            -Você vai me pegar.

            -Aprendeu, não é? Vamos lá... Vai ser divertido. Te dou uma vantagem de cinco segundos.

            Não esperei que ele começasse a contar e disparei para Casa. Corri muito mais rápido do que correra naquela noite e mais rápido do que em qualquer aula de HF. Corri como se estivesse o guepardo mais rápido do mundo. Estava quase chegando à porta da casa, quase ouvindo o coro de aleluia soar, quando Scott apareceu a frente da porta, de braços cruzados.

            -Boo. Acabou o tempo, bastarda.

            Ele sussurrou, sorrindo. Virei para o outro lado, para as árvores. Para onde ir?! Para onde ir?! Elijah estava na Casa, e as luzes do laboratório estavam apagadas. Só fechei os olhos e corri às cegas pelas florestas de coníferas.

            -Estou chegando.

            Ele sussurrava, brincando comigo como um gato com um inseto bobo entre as patas. Abri os olhos e vi minha única chance. Um canteiro natural de verbena.

            -Mamãe...

            Chamou baixinho antes de aparecer atrás de mim. Arranquei um tanto de Verbena com o cuidado para não deixar que tocasse minha mão, puxando apenas o caule. Pressionei as flores contra seu peito o máximo que pude e o seu grito me ensurdeceu. Minha mão queimou-se um pouco, mas nem senti a ardência. Só me preocupei em correr para a Casa. No meio do caminho, a porta se abriu, espalhando luz pela grama e revelando, finalmente, um rosto amigo.

            -Elijah!

            Chamei, apertando o passo, apavorada de que Scott aparecesse a qualquer  momento logo atrás de mim.

            -Nessie?

            Ele chamou, confuso, enquanto eu corria na sua direção.

            Elijah

            Eu corri até ela, colocando-a atrás de mim, protegendo-a com meu corpo. Ela pousou as mãos nos meus ombros, escondendo-se, assustada e ofegante, atrás de minhas costas. Ela tremia, mesmo no agradável clima da noite. Senti algo começar a borbulhar no meu estômago. Scott surgiu a minha frente, parecendo possesso. Queimaduras em seu abdômen começavam a cicatrizar. Elas pareciam doer. Ótimo, foi o que pensei.

            -O que eu falei sobre machucá-la?

            Perguntei, autoritário.

            -Eu nem sequer a toquei! Essa maluca aí começou a fugir e ainda me queimou com verbena quando tentei fazer o meu trabalho!

            -MENTIRA!

            Nessie gritou, atrás de mim. Ela tocou meu pescoço, mostrando rapidamente a cena. Na realidade, nem precisava. Eu sabia a verdade. Scott a ameaçara. Ousara tocar no assunto daquela noite, o que parecia ser extremamente doloroso.

            -Nunca mais se atreva à ameaçá-la novamente, ouviu?

            Scott sorriu.

            -E o que vai fazer, filhinho-de-papai?

            -Já arranquei um braço seu antes, posso fazer de novo.

            -Venha tentar, pela honra da sua vagabunda aí...

            Scott parecia tão animado que estava a ponto de saltitar. Eu não devia aceitar suas provocações, eu bem sabia, mas aquela sensação no meu estômago não ia embora. Parte de mim ansiava por ouvir a carne rasgando a carne e os ossos se quebrando.

            -Vamos embora, Elijah. Caçamos outro dia.

            -Vamos embora Elijah – Satirizou Scott, afinando a voz – Não precisa lutar por mim porque PUTAS. NÃO TEM. HONRA!

            Gritou. Foi demais para mim. Soquei-o, jogando-o contra o chão. Apesar da força e do desconforto no estômago característico da minha loucura temporária, eu não sentia o desapego do estripador que sentira da ultima vez. E quando ele levantou, e o desconforto no meu estômago se foi de repente, como que assustado, eu soube que nada havia realmente acontecido dentro de mim. E que pagaria caro por isso.

            Nessie

            Eu fiquei ali, ouvindo-o gritar por trás de meus olhos fechados com força. Os primeiros segundos da luta foram tão desesperadores que eu simplesmente não suportei assistir mais nem um segundo sequer. A cada vez que Elijah tentava levantar, Scott voltava a derrubá-lo no chão. Ele não tinha nem chance de tentar. Não virara o monstro que me descrevera da outra vez. O barulho foi diminuindo lentamente. Abri os olhos devagar, aterrorizada. Scott o arrastava aos tropeços para dentro da floresta.

            O que fazer?! Era só uma questão de tempo até que eles chegassem até os canteiros de verbena. E eu não podia simplesmente segui-los. Contra Scott, eu era uma completa inútil. Então quem? Jenna? Não. Lizzie desconfiaria. Ela não precisava ver Elijah daquele jeito. Ele era seu herói. Então quem? Ninguém mais nessa casa era páreo para Scott e se fosse, não o faria por mim ou Elijah. O que fazer? Cada segundo gasto pensando, eles deviam estar se aproximando mais e mais do canteiro. Um som cruzou a noite, fazendo minha mente disparar e uma ideia crescer em minha mente.

            Segui o uivo através das árvores, correndo a plenos pulmões. As chances de Elijah dependiam daquele momento.

            -Tyler – Digo aliviada, quando vejo o lobo gigante. Nunca fiquei tão feliz por ser lua-cheia. Tyler desviou os olhos cor-de-âmbar da lua. Cachorros o cercavam, aos montes, de todas as raças que se pudesse imaginar, desde os compactos terriers até os gigantescos Terranovas. Mas eu não tinha tempo de me importar com eles naquele momento. – Elijah precisa de você. Scott está com ele, na floresta.

            Ele me observou por longos segundos de silêncio, como se esperasse alguma coisa. Me ocorreu de repente, que crianças da lua como Tyler não tinham total controle da mente lupina quanto os transfiguradores aos quais eu estava habituada.

            -Por favor... Ele precisa de você... Eu não tenho mais a quem recorrer.

            Ele continuou me olhando. E de um segundo para o outro, desapareceu, correndo. A matilha de cães se mostrou confusa por seu líder ter sumido tão de repente, mas logo sentiram seu rastro e o seguiram. Peguei meu medalhão de ouro entre os dedos e ergui os olhos para o céu, por entre as agulhas de árvores. Uma única estrela solitária brilhava em meu campo de visão.

            -Me atende, por favor. Me atende, uma vez que seja.

            Pedi aos céus, implorando que protegessem Elijah. Corri, tropeçando em meus próprios pés,seguindo um pequeno Yorkshire Terrier que latia um latido esganiçado, correndo atrás de Tyler. Finalmente chegamos. O Yorkie parou, rosnando para o escuro. Escondendo-me atrás de uma árvore, me contive para não me aproximar. Tyler circundava Scott devagar, como se cercasse uma presa. Os cães rosnavam para Scott e alguns latiam, mas mantinham uma distância respeitosa. Sabiam que aquela presa era o líder. Scott o observava com o olhar vermelho, colocando-se a frente do corpo desacordado de Elijah, como se protegesse seu jantar.

            -Então a princesa veio salvar a ervilha, ein?

            Perguntou, sorrindo para Tyler, que rosnou, ameaçando se aproximar, porém recuando. Primeiro aviso, diziam seus gestos. Scott riu, trovejante, voltando a seguir Tyler com energia renovada, provavelmente alheio ao aviso do lobisomem. Esperei por longos e agonizantes segundos, sem tirar os olhos de Elijah, que parecia prestes a recobrar a consciência, gemendo baixinho. E então o mundo explodiu em rosnados, ganidos e uivos. Levantei os olhos para ver Scott e Tyler envolvidos em alguma espécie disputa jiu-jitsu. Eu sabia o que ambos estavam tentando fazer. A mordida de um mataria o outro. Klaus ensinara isso na semana passada, mas nem era preciso. Aquilo era sobrenaturalidade básica.

            E rolando de se abraçando mortalmente, os dois desapareceram entre as árvores, seguidos pelos cachorros, um a um, menos pelo pequeno Yorkie, que me seguiu quando corri até o lado de Elijah, me ajoelhando na grama fria. Toquei seu rosto machucado.

            -Elijah?

            Chamei preocupada. Ele gemeu baixinho, ainda desacordado. O pequeno cachorrinho cutucou-o com o focinho, pensou um pouco e lambeu seu rosto. Passei as mãos levemente por cima dos membros de Elijah, procurando por fraturas. Aparentemente, anda estava quebrado. Peguei sua cabeça com cuidado e a aninhei em meu colo. Eu precisaria esperá-lo acordar. Não conseguiria levá-lo para a Casa sozinha.

            -Pronto Elijah, vai ficar tudo bem agora.

            Eu disse, ainda ofegante de ficar correndo por aí. Respirei fundo, contendo os soluços a medida que a adrenalina baixava. O desespero daquela noite caiu sobre mim, quando pensei sobre tudo o que poderia ter acontecido a mim e a Elijah. Fechei os olhos para tentar conter as lágrimas. Não precisava delas agora. Precisava ser forte para ajudar Elijah. Mas estava ficando cada vez mais difícil... Senti um toque de leve em meu rosto.

            -Perdão.

            Ele pediu, suplicante. Sorri, aliviada.

            -Nunca mais faça isso, Mikaelson.

            Eu disse, em um tom divertido de bronca. Ele sorriu levemente, mas se deteve, levando a mão ao abdômen. Mordi o lábio, aflita.

            -Você está bem? Acha que tem alguma coisa quebrada?

            Ele fez que não.

            -Não quebrado. Mas posso apostar que a carne está magoada.

            Disse entre dentes.

            -Vou precisar da sua ajuda para te levar para o quarto. Acha que consegue levantar?

            Ele fez que sim, cerrando os olhos. Pus-me de joelhos e empurrei-o para que se sentasse. Ele gritou, pressionando o abdômen novamente. Apoiei suas costas sobre meus ombros, retrocedendo-o um pouco.

            -Tudo bem? Quer parar?

            Ele fez que não.

            -Vamos. Eu consigo.

            Contei até três devagar e então empurrei-o, tentando colocá-lo de joelhos. Ele ficou de quatro, ofegante.

            -Respire fundo. Vamos, segure minhas mãos...

            Ele sentou-se sobre os joelhos e apoiou as mãos nas minhas. Levantei-me e puxei-o para coma. Ele  levantou-se, mas não conseguiu se firmar no chão, caindo sobre mim. Amparei-o até que conseguisse ficar de pé e passei seu braço sobre meu ombro.

            -Você está bem? – Ele fez que sim. Ele tossiu e cuspiu um pouco de sangue na grama – Tem certeza? – Ele voltou a fazer que sim. – Vamos, dê um passo.

            Pedi. Devagar, ele levantou um pé e postou-o a frente com um gemido.

            -Muito bem, mais um.

            Ele deu mais um passo, com dor. Ia ser uma longa caminhada até a Casa.

            O Hall estava miraculosamente vazio. Grande parte da Casa devia estar estudando e a outra parte, das duas uma: beijando-se ou dormindo. O silêncio era tanto que eu poderia ouvir uma agulha caindo no carpete. E com Elijah gemendo a cada passo, cheguei a desejar que aquele lugar virasse um shopping em véspera de natal. Talvez sem ouvi-lo não doeria tanto. E então chegamos... A parte mais desafiadora do percurso.

            -Elijah – Chamei-o. Ele levantou os olhos azuis torturados para mim e pude sentir meu coração encolher – Precisamos subir as escadas. Você acha que consegue?

            Ele levantou os olhos para a escada, olhando-a como se checasse o quão alta ela era, como se não tivesse passado os últimos 50 anos (talvez mais), subindo aqueles mesmos degraus, daquela mesma Casa. Ele assentiu.

            -Consigo.

            Disse simplesmente, entre dentes.

            -Tem certeza? – Ele assentiu – Então vamos lá... 1... 2... 3...

            Nos elevamos ao primeiro degraus. “Ótimo, pensei, agora só faltam mais 24”. E lá fomos nós. Elijah fazia possível para abafar os seus gritos agora que estávamos dentro da Casa. Tudo o que não precisávamos era de atenção indesejada.

            -Você está indo bem. Muito bem. Vamos lá. Só faltam 7 degraus.

            Porém, 7 degraus não eram o que ele queria ouvir. Ele gemeu alto, se desequilibrando, puxando-me para baixo com ele. Acabamos os dois de joelhos na escada. Ele escondeu o rosto entre meu pescoço e meu ombro e começou a chorar convulsivamente. Passei a mão por seus cabelos, prendendo-o perto de mim.

            -Sh... Vamos lá... Você está tão perto... – Porém seu choro incessante era um chamado para o meu, que se encontrava trancado nos confins da minha alma. As lágrimas vieram sem a minha permissão. – Tão perto... Por favor Elijah, não... Não chore...

            -Eu sou fraco... – Ele sussurrou – Tão fraco...

            -Não, você não é. Você vai conseguir. Nós vamos conseguir. – Eu disse, firme – Juntos. No três, está bem?

            -Eu não posso.

            -Pode. Eu acredito em você. Vamos. No três.

            O caminho até o 12 ainda levou um tempo e eu nunca fiquei tão feliz de entrar naquele quarto. Levei-o até a cama, onde ele desabou com um grunhido. Ajoelhei-me ao lado da cama, exausta.

            -Pior. Viagem. Da. Minha. Vida.

            Eu disse, ofegante. Elijah sorriu fraco.

            -Você acha que está em uma fase ruim da sua vida?

            Ele disse, divertido. Sorri e me pus de pé com dificuldade, indo até o banheiro. Procurei até encontrar a caixa de primeiros socorros de Elijah, voltando para o quarto. Ele havia arrumado os travesseiros de modo a sentar. Dei a volta na cama, tirei os sapatos com os pés e sentei ao lado dele, pousando a caixa sobre a colcha bordô. Tirei seus sapatos com cuidado e quando me virei para ele, sorria fraco.

            -O que está olhando?

            Perguntei, tímida, colocando o cabelo atrás da orelha para que pudesse vê-lo direito. Ele deu de ombros.

            -Você.

            Disse, simplesmente. Sorri comigo mesma, voltando a atenção para a caixa, ciente de que estava corando. Abri a caixa, passando os dedos por cima dos frascos para examiná-los. Molhei a gaze em água oxigenada e levantei os olhos para seu rosto ferido.

            -Fique parado está bem? Não tenho muito experiência nisso.

            É óbvio que eu tropecei uma ou duas vezes em músculos inchados e roxos – se não o tivesse feito, não seria eu – Mas Elijah só gemia uma vez, sorria e guiava minha mão para um lugar seguro. No geral, consegui deixar seu rosto decente e livre do próprio sangue.

            -Eu tive tanto medo.

            Confessei a ele, depois de muito tempo de silêncio, dobrando a gaze molhada de sangue nos dedos, com o olhar baixo. Ele alcançou minha mão com a dele, entrelaçando nossos dedos.

            -Eu também.

            Disse em voz baixa.

            -Como você pôde? Quero dizer... Fazer isso por tanto tempo? Sozinho?

            Ele suspirou, pensativo.

            -Durante alguns anos, eu não fiz isso. Nunca tente, nunca falhe, era meu lema. Mas então percebi que não importava o quanto ficasse ali, aquilo nunca pararia e não podia viver no chão. Precisava levantar. Precisava porque não merecia aquilo. Eu pensei... Pensei na minha mãe. Se ela amava o seu “pequeno Mikaelson” do jeito que dizia... Eu não podia merecer aquilo.

            -Não. – Eu disse, negando com a cabeça e deixando a gaze de lado. Aproximei-me dele e pousei as duas mãos sobre o seu peito – Não merece.

            -Às vezes, eu mereci, admito. – Disse, com os olhos voltando a ficar torturados. – Eu já fiz coisas horríveis na minha vida. Concordar em trazer você aqui foi uma delas.

            Aquilo era um ponto sobre Elijah que me deixava desconfortável e curiosa, mas nunca me ocorrera em perguntar. E não seria naquele momento.

            -Não importa. Scott não é redentor algum. Você compensa o seu karma fazendo coisas boas, não tentando se matar. – Ele riu levemente – O que foi?

            -Nunca imaginei que você fosse o tipo que acredita em karma e tudo o mais...

            -Bobo!

            Eu disse, dando um tapa em seu peito, esquecendo-me completamente por um segundo de tudo o que passáramos. Elijah gemeu e levou as mãos ao local. Levei as mãos a boca, assustada.

            -Me desculpe, me desculpe, me desculpe...

            Sussurrei, com as lágrimas voltando aos olhos, aterrorizada de tê-lo machucado. Ele se recuperou rápido, erguendo os olhos para mim.

            -Tudo bem... Só vamos com calma com a violência a partir de agora, ok? – Ele sorriu, tentando aliviar o clima, mas continuei na mesma posição, avaliando se ele estava falando sério mesmo – Ei, você está... Chorando? – Ele abriu os braços e lentamente me puxou para um abraço. – Tudo bem, tudo bem... Você não me machucou. E estou bem.

            Assegurou-me. Respirei fundo, ouvindo seu coração bater forte no peito, buscando me acalmar, mas os soluços se recusavam a cessar.

            -Eu tive tanto medo...

            Repeti, tentando explicar o desespero que abrasava meu peito. Ele acariciou meu cabelo lentamente, respirando fundo e devagar, acalmando o batimento cardíaco ainda mais. Funguei.

            -Você sabia... Que o coração da mãe é a fonte de tranqüilidade para o bebê... Durante todo o seu crescimento, inclusive depois do nascimento?

            Ele riu suavemente, mas vi sua mão livre se alojar perto da costela.

            -E aí?

            Dei de ombros.

            -Acho que na falta de corações maternos, batimentos no geral costumam me acalmar.

            Ele sorriu.

            -É bom sabe disso. Não são muitas as coisas que te acalmam.

            Disse, tranquilo. Fechei os olhos, respirando fundo mais uma vez. Eu sabia que não podia dormir ali. Lizzie logo voltaria para o quarto. Mas aqueles batimentos tranqüilos ninavam minha mente como uma doce canção de ninar depois de toda a confusão da noite. Como um barco de balanço suave que me levava a uma ilha de serenidade em meio a um mar de tormenta.

            -Eu amo você...

            Ele disse, baixinho depois de algum tempo, provavelmente achando que eu já estava dormindo.

            -Eu te amo também.

            Eu disse de volta, sem dúvidas, sem drama. Eu não podia viver sem ele.

            Bati na porta do 4. Ouvi passos se movendo para atender. Nahuel abriu a porta, com o cabelo negros molhados caindo sobre os olhos escuros. Ele vestia uma regata branca e uma cueca Box. “Fofinho...”, pensei, corando e desviando o olhar.

            -Nessie?! O que está fazendo aqui?!

            Perguntou sobressaltado, escondendo-se atrás da porta. Eu ri baixinho.

            -Eu... – Desviei o olhar novamente, desconfortável. “Foco, Nessie, foco”. – O Tyler está?

            -Está dormindo. Ele se transformou essa noite.

            Eu devia ter imaginado... Mas precisava agradecer. Sem Tyler, Elijah poderia estar morto e eu, novamente estuprada. Assenti.

            -Hum... Quando ele acordar... Pode dizer a ele que lhe agradeço?

            Ele uniu as sobrancelhas.

            -Posso perguntar o por quê?

            -Não.

            Disse, nada disposta a comentar sobre a noite passada. Ele fungou e deu de ombros.

            -Se você quiser dar uma passada por aqui quando eu já estiver vestido...

            -Entregar a mensagem está de bom tamanho.

            -Isso é um talvez?

            -Isso é um “eu tenho namorado”.

            Eu disse piscando para ele. Ele fez uma careta e fechou a porta. Dei a volta de fui para o meu quarto. Lizzie não contara nada a Jenna quando eu não tinha aparecido na noite passada. Agora ela já sabia o que aconteceria caso contasse tudo à vampira-mãe da Casa.

            -Ei, tudo bem?

            Perguntei, no momento em que entrei no quarto e não ouvi nem risos, nem sua voz. Lizzie voou para o meu  lado.

            -Nessie! O Boi está mancando!

            Gritou desesperada, com lágrimas nos olhos. Ela puxou-me pela mão até a frente da cama. De Boi, onde ele lambia a pata traseira. Tentei aproximar a mão para examiná-lo, mas ele rosnou para mim, assustando a nós duas. Boi era o cão mais doce do universo. Ele nunca tinha sido tão hostil... Devia estar doendo muito... Afastei a mão, com o coração apertado.

            -O que houve? Não fazem 20 minutos que saí...

            -Eu o soltei as seis pra ele fazer pipi, como eu faço todo dia. E quando ele voltou agora pouco ele estava mancando! Eu acho que alguém brigou com ele!

            Engoli em seco. Se Scott estivesse procurando vingança contra mim, a primeira em quem ela pensaria seria Lizzie. Machucar Boi seria uma mensagem bem clara. Uma ameaça. Levei a mão ao pescoço, aninhando meu relicário em minha palma em busca de forças;

            -Tyler está dormindo. Ele não pode vir. Vamos ter que esperar...

            -Mas o Boi...

            -Ele vai ficar bem, meu doce. Mais tarde chamaremos Tyler e tudo vai ficar bem.

            Ela fungou e abraçou minha cintura. Apertei-a contra mim, apreensiva.

            -Não gosto quando você dorme fora – Reclamou- Coisas ruins acontecem.

            -Foi preciso. Elijah precisava de mim. E agora estou aqui com você.

            Durante a noite, Elijah fora acometido por febres, convulsões e até vomitou sangue algumas vezes. Cheguei a temer algum tipo de hemorragia interna de tão pálido, fraco e debilitado ele ficou. O medo de perdê-lo foi palpável. Mas ele constantemente pegava minha mão e a acariciava com o polegar, dizendo que já havia visto noites mais escuras.

            -E sem a minha bela para me fazer companhia...

            Dizia, sorrindo o melhor que podia. 


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