Nome. escrita por AnaBonagamba


Capítulo 1
Nome.


Notas iniciais do capítulo

Desafio da minha amável Amabille. Espero que gostem!



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Eu não sei o que havia acontecido comigo quando acordei da escuridão. Ouvi um leve choro, meu bebê, longe de mim. Ergui meus olhos para a frieza dos dele, e senti frio em meu corpo nu. Tom sorria cruelmente.

- Você não vai dizer nada. - sussurrou-me. - Você vai ficar quietinha, Amarilli.

Arrepiei ao sentir o toque gelado de Tom Riddle em meu ombro, puxando-me para si. Ele desenhou o contorno de minhas costas com seus dedos compridos, arqueando meu corpo ao encontro do seu.

- Não entende que a culpa é toda sua, Amarilli? - disse ao pé de meu ouvido. - Eu não farei nada com você e nem com a neném encantadora que você tem se colaborar conosco.

Fechei meus olhos com força e deixei as trevas tomarem meu espírito.

*   *   *

Sou uma mera filha da vida. Meus pais não me ajudaram quando clamei pelo consolo deles, nunca me estenderam a mão quando eu caia, perdida, no meio da rua. Eu passei por coisas horríveis, situações frustrantes, mas nunca deixei de acreditar que o destino reservava pra mim algo novo, inusitado, talvez mágico.

E a magia tomou-me por afilhada assim que passei a usá-la a meu favor. Enquanto minha barriga crescia, aprendi a fazer serviços domésticos, dominei técnicas formidáveis, criei uma inteligente fórmula para ter trabalho garantido, casa e comida. Conforto. Conforto para minha criança, que não tardava em nascer.

Ao amanhecer de um dia de verão nasceu Clara. O nome não foi eu quem escolheu, e sim minha patroa, Hepzibah, uma senhora notável. Acolheu-me quando estava agonizando perante minhas necessidades. Estendeu-me as mãos gordinhas e apinhadas de jóias quando outros bruxos negavam-me pão.

Hepzibah Smith adotou meu bebê como se fosse sua neta. Clara ficava com uma babá enquanto eu e a pequena Hokey tomávamos as contas da casa. A elfa já estava velha. Seu trabalho não passava de mimar os dotes da sua senhora.

Meu contato com Riddle foi mínimo. O recebi algumas vezes, em suas visitas extraordinárias à minha patroa, sempre trazendo um sorriso bonito, num porte gentil. Não me pareceu mau, inspirando-me confiança. Retribuía os sorrisos dele de maneira cordial.

As vindas de Tom Riddle a casa de Hepzibah tornaram-se mais frequentes... e cada vez mais galantes. Não sei bem o que ele esperava dela que, apesar de rica, jamais ostentou ter algo que satisfazesse os interesses do outro.

Na última semana ele veio todos os dias. Trouxe flores, aos punhados, que se acumulavam no quarto da madame. Eu tratava delas com minhas perícias de magia caseira, mas não conseguia mantê-las vivas por muito tempo. Estas, mesmo com mágica, morriam no meio da noite, inspirando o rapaz para trazer um ramalhete novo.

Muitas vezes Hepzibah dormia enquanto Tom conversava com ela. Ele beijava seus anéis dourados e se retirava, dizendo que voltaria na manhã seguinte. Numa dessas saídas eu o acompanhei até a loja onde trabalhava, a que nunca ousei entrar. Precisava buscar Clara, um mero desejo de minha patroa.

Despedi-me de Tom com um aceno e continuei meu caminho. Não dei dois passos na direção oposta à dele, quando senti seu aperto em minha cintura, e seus lábios gelados saboreando os meus. Não recuei, deixei que me beijasse o quanto quisesse. Nada aconteceria ali, e não erraria outra vez. Quando seus lábios desceram para meu colo e suas mãos tentavam erguer-me em direção à loja, ameacei gritar.

- Não precisa fazer isso. - ele sussurrou. - Paramos por aqui, hoje.

Por mais que eu tentasse afastar pensamentos medíocres da minha mente, Tom Riddle conseguiu dominá-la por completo com aquele beijo.

Apesar de ser mãe, eu era jovem. Jovem, e mesmo que desacreditada de vaidade, bela. Meus olhos azuis, cansados, não ostentavam brilho, e meus cabelos negros, sempre presos na touca, não emolduravam meu rosto. Eu era pálida, e ele também.

Tom era oposto a mim. Seus cabelos eram cheios, negros e brilhantes. Seus olhos azuis, mesmo que eu não tenha olhado muito para eles, argumentavam todo o soar de tranquilidade e realização. Ele conseguia por fins próprios os contatos perfeitos, as oportunidades mais ansiadas. Mesmo que não brilhassem, os olhos de Tom Riddle eram atrativos para qualquer pessoa.

Voltamos a nos beijar no dia seguinte, assim que Hepzibah dormiu. Dispensei a elfa, totalmente fadigada de tanto arrumar os perfumes da outra. Tom desfez o laço que prendia meu cabelo, e as madeixas negras desceram em cachos largos, bem feitos, ocultos. Tomou uma mecha em seus dedos, e assim passei a reconhecê-lo.

Levei-o para meu quarto naquela noite, mas não fomos para a cama. Tom deixou-me ardente em desejo, com suavidade e sensibilidade quase palpável. Antes de ir embora, entrou no quarto ao lado do meu e beijou a testa de Clara. Fui com ele até a porta.

- Por que beijou minha filha?

- Ela será uma bruxa fantástica, mesmo com o sangue mesclado. Um dia, quem sabe, possa ensiná-la em Hogwarts.

Sorri para ele como sempre, como se nada tivesse ocorrido. Tom deixou um beijo em meus lábios, calmo, e foi embora. Não voltou no dia seguinte.

Cheguei tarde no dia seguinte. Tarde de mais para ver minha patroa morta no chão, com o rosto roxo, e Hokey delirando ao lado do corpo. Tom estava a minha espera, a varinha em punho e meu bebê nos braços. Clara dormia pacificamente. Pacificamente demais.

- Olá, Amarilli.

E tudo ficou escuro.

*   *   *

Tom sabia que eu o acusaria diante do ministério. Ele sabia que outras pessoas de dentro de Hogwarts já desconfiavam dele. Ele era espero. Vi em seus olhos longe da apatia tênue que expressavam, a vivacidade de um vermelho sangue, sedento de angústia por poder.

Acordei aprisionada em um cativeiro, sem roupas, sem esperança. O pouco ar que entrava abastecia apenas minha respiração, mas não me deixava pensar. Ouvia o choro de minha filha, abafado pelas paredes sombrias. Ouvia passos em direção à porta.

Ergui e esperei Tom entrar.

Vestia uma capa preta, molhada, com alguns flocos de neve, ainda. Sorria. Aproximou-se de mim, colocando um dedo em meus lábios quando arfei para discutir com ele. Tomou-me para si.

- Se hoje fosse seu último dia de vida... - ele começou. - teria algum desejo a fazer?

Puxei seu rosto em minha direção, sentindo o sangue quente escorrer pelo meu pescoço.

- Minha filha... - trêmula, tentei falar. - quero... quero que ela saiba o nome da mãe dela. Meu nome.

Tom sorriu e me deu o último beijo daquela noite.

- Ela nem saberá que você existiu, querida.


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Notas finais do capítulo

So dark, mas valeu a pena.



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