Lily estava chorando naquela noite. Era véspera de natal, o castelo estava quase vazio e ela não estava se importando em descumprir as regras naquele momento. Tinha perdido de vez a amizade de Severus.

Ela pensou que nada poderia piorar seu dia, até James Potter aparecer ao seu lado, a capa e o mapa do maroto jogados aos seus pés.

Ela não queria chorar na frente do estúpido Potter, ela não queria ser fraca.

– Não chora Lírio, por favor, não chora – sua frase foi dita numa suplica, havia dor em suas palavras tão claramente havia no coração da ruiva. Foi isso que a fez desviar o olhar do chão acinzentado e encarar aqueles dois globos castanhos, e pela primeira vez ela realmente olhou para ele e para aqueles olhos que agora ela descobria ser tão encantadores.

Eles eram castanhos, comuns, não verdes como os dela, negros como os de Snape, ou mel como os de Dorcas. Talvez, isso os tornasse diferente. Dois poços de chocolate derretido, poderia se afogar neles, agora tão preocupados com ela. Lily Evans, que sempre repudiou seus pedidos e declarações, que sempre o humilhou, o desprezou. E depois de tudo ele ainda conseguia estar ali, a encarando com aquele olhar castanho e acolhedor, como se a dor dela fosse à dele também.

– Porque James? – porque, porque, porque ele, justo ele o maroto, o grifinório mais popular, jogador de quadribol, amado por todo o publico feminino da escola estava ali consolando a sabe-tudo irritante de Hogwarts? – Porque você ainda continua do meu lado? – foi só um sussurro, no meio de tantos pensamentos que a deixavam confusa. Mas ele ouviu, assim como ouviu tudo que ela falara durante anos.

– Porque nenhum outro Lírio, vale tão a pena quanto você – As lagrimas que ela derramará por Snape já tinham secado pelo seu rosto, mas novas vieram depois de suas palavras. Eram por ele, pelo irritante presunçoso Potter, que ela jurou odiar. Fechou seus olhos, porque doía admitir que suas amigas sempre estiveram certas? Ele a amava, não era só um truque, não era só orgulho. Era amor. Puro amor.

Sentiu suas mãos quentes em seu pescoço, erguendo sua cabeça, e depois sentiu seus lábios em suas bochechas, secando suas lagrimas, quase como uma brisa. Eram cheios e estavam rachados pelo vento que vinha da janela. Ela não se importava.

Abriu seus olhos, se deparando com os castanhos que ela descobriu tanto gostar. Tudo parecia certo ali, como se ela tivesse passado a vida inteira se afogando naquele olhar.

– Obrigada – sussurrou contra os lábios entreabertos dele.

– Pelo que ruiva? – ele devolveu, ela sentiu o hálito de menta e constatou que doía, doía à mínima distancia entre eles. Ela queria revogar aqueles lábios para ela também.

Ela sorriu passando as mãos pelo cabelo arrepiado que ela tanto quis arrancar.

– Por não desistir - Ali ela havia desistido dos olhos castanho, para poder realizar seu desejo.

Sentiu seus lábios sendo molhados pela língua dele, e concedeu a passagem, como se não pudesse mais esperar por isso. E talvez não pudesse, ela demorou tempo demais para poder provar do pequeno pedaço do paraíso que ele era. Tinha tanto amor naquele gesto, tanto amor por parte dele e com satisfação percebeu que havia pela parte dela também. As testas se juntaram quando o ar fora preciso.

Eles não precisavam mais falar nada, palavras machucavam muito. Ela preferia se perder nos olhos castanhos dele. Pro resto da vida.