POV Sadie

Acordei bem cedo, me troquei e saí de fininho para não acordar as meninas. Olhei para Sarah e Zia, as duas dormiam como uma pedra. Olhei para Bastet que dormia e até ronronava. Então olhei para Melanie, ela usava uma máscara para a face, e dormia tranquilamente também. Eu lancei um olhar desaprovador. E me virei para sair. Eu consegui tudo, menos sair despercebida. Melanie levantou rapidamente como se tivesse ouvidos aguçados como um cão.

–Onde você pensa que vai Sadie Kane?-Perguntou ela com uma voz sonolenta, seu olhar com o rosto cheio de produto de beleza me assustava.

–Não tenho que te dar satisfações, com licença... -Me virei saindo.

–Nesse caso... -Ela pausou. -Meninas, Sadie vai sair...

Zia e Sarah levantaram-se vagarosamente assim como Bastet que se espreguiçou...

–Sadie, vai ver Anúbis? Já?- Zia bocejou.

Melanie revirou os olhos.

–Às vezes eu sinto falta das minhas amigas... Elas iam acabar com você. -Disse ela em um sussurro irritada.

–Que bom!-Eu respondi da mesma forma. Desisti de sair do quarto.

–Querida é melhor todas levantarmos também, afinal hoje vamos para Heliópolis... -Disse Bastet.

Eu concordei com a cabeça.

–Acho que os outros já devem estar acordados também.

Bastet se arrumou rapidinho e foi ao quarto ao lado para ver como tudo estava e também ver Rá. Zia, Sarah e Melesmie foram se arrumar, e eu que já estava pronta saí pelo corredor do hotel e fui apreciar a vista de uma janela próxima.

O que eu via era o movimento da cidade, o sol forte da manhã, nada mais eu fiquei por um tempo observando tudo. Então corri voltando para o nosso quarto. As meninas já tinham se arrumado e já estavam pegando as coisas, eu peguei as minhas e nós encontramos o resto do pessoal já pronto no corredor.

Eu dei um bom-dia para meu namorado. E para Carter também.

–Já passou da hora de partirmos, vamos embora, precisamos chegar a Heliópolis hoje a noite, pelo menos!-Disse Carter.

Todos assentimos e descemos até a recepção. A moça de ontem da recepção ainda estava lá, mas não havíamos mais visto a empregada do hotel.

–Tiveram uma boa noite?-Perguntou a gentil moça da recepção.

–Sim, obrigada, mas nós já vamos... -Respondeu Bastet da mesma maneira.

–Ah... Me mandaram entregar uma coisa a vocês... Do... Como é mesmo o nome do senhor que veio entregar? -Ela ficou pensativa, e então se lembrou. -Senhor Julius Osíris Kane. Nome diferente...ele tem o nome de um deus... Ele mandou que deixassem comigo a resposta, pois iria vir buscar mais tarde aqui comigo. -Ela riu. Mal sabia que meu pai era o próprio deus Osíris...

Então ela nos entregou um envelope com uma carta e um dinheiro egípcio. Carter a pegou e abriu, eu me aproximei dele. Carter leu em voz alta.

“Olá crianças, deuses, gente... Como está indo a missão? Descobriram algo? Bom, em meio a muitas coisas, confusões em que os meti, eu me senti com um peso na consciência, então eu gostaria que relaxassem um pouco. Tem uma estalagem em Heliópolis, e queria que fossem, além de diversão, vocês podem obter algo valioso, vocês sabem, informações ou algo do tipo. Boa sorte,

Osíris.”

Todos olhamos uns para os outros.

–Acho que é uma boa desculpa para um descanso... -Disse Walt.

–Não deve ter problema... -Carter respondeu.

–Eu conheço o pessoal de lá, gente boa... -Disse Bes rindo.

A moça ainda nos olhava curiosa. Carter escreveu uma resposta com a ajuda de Bes e eles deixaram com a moça da recepção.

–Obrigada por tudo! Adeus! -Disse Bastet.

–Por nada e voltem sempre!-Sorriu a moça da recepção.

Não sabia se teríamos esta oportunidade, mas tudo bem...

Juntos nós saímos do hotel. Passamos pelo meio da cidade, e então seguimos na direção do deserto ao norte rumo a Heliópolis, próximos a margem do Nilo. Nós andamos, e não vimos mais o homem do barco, talvez ele tenha ficado com tanto medo da gente que resolveu mudar de emprego. Eu ri mentalmente. Desviei os pensamentos para algo mais importante. O sonho que tivera noite passada. Ainda estava pensando nele... Estava perto de descobrir o traidor, mas eu fracassara. Tinha que continuar sonhando para descobrir quem era essa pessoa ou mesmo deus... Isso me assustava às vezes, eu preferia pensar que era um mago do que pensar em um deus. Não conseguia imaginar Bastet como a traidora, a minha gatinha Muffin, ou mesmo Bes que era como da família, o último me doía pensar, Anúbis... Não era ele e isso eu tinha certeza! Resolvi não contar nada sobre o sonho agora, pois o traidor estava entre nós. Estudei cada rosto. O que mais me chamou a atenção foi o rosto de Jack, ele parecia preocupado e misterioso. Logo ele sentiu meu olhar sobre o dele e me olhou seriamente em meus olhos, como se estivesse irritado. Eu rapidamente desviei o olhar.

Continuamos andando. Anúbis veio ao meu lado e me deu um beijo.

–Estou com saudade de nosso encontro de ontem... -Eu disse.

Ele riu me lançou um olhar sedutor.

–Estou pensando no próximo. -Ele disse.

Nós rimos novamente juntos.

–Mal posso esperar!-Eu disse encostando rapidamente minha cabeça em seu ombro, e beijando nossas mãos entrelaçadas.

Walt olhava de longe com vontade de vomitar, ele estava tão fixo em nós, que esbarrou em Melanie, os dois caíram no chão, Walt caiu bem em cima de Melanie.

–Olha por onde anda seu burro!-Gritou ela.

–Me desculpe!-Respondeu ele tirando areia da cabeça e se levantando de cima dela. Ela bateu em suas roupas cheias de areia e revirou os olhos voltando a andar irritada. Anúbis teve um acesso de risos. E eu consequentemente, por ver Melanie caída no chão cheia de areia.

Nós seguimos a viagem que não foi tão demorada quanto as outras, Bes ficou contando piadas para todos, Rá ria como uma criança que via doce pela primeira vez, e Bastet sorria. E os olhares de Bes se encontravam com o dela e ele sorria também, mesmo que meio disfarçadamente, isso era bom, eu queria muito que os dois se acertassem logo.

Sarah e Zia andavam conversando muito e eu não tinha certeza se isso me deixava com ciúmes, afinal Zia sempre fora minha melhor amiga.

Nós paramos em alguns pontos para descansarmos e bebermos água. O mais bonito de tudo era ver a paisagem do sol se movimentando e as cores do dia irem se misturando com as da noite a cada parada, nós éramos um dos planos que andávamos em meio dessa paisagem em silêncio.

Logo o dia finalmente se trocou pela noite e a lua atingiu seu lugar no palco do céu. As estrelas cintilavam quando chegamos em Heliópolis à noite, que por sua vez parecia bem divertida naquela cidade toda iluminada.

A cidade era bem grande, maior que as outras, era toda iluminada com lamparinas, lanternas decoradas e a luz da janela de lojas, estalagens, casas... As pessoas tocavam músicas típicas nas ruas, andavam, compravam, conversavam. Um garoto fugia de sua mãe furiosa em meio de tudo. Nós passamos pelo meio da cidade. Alguns nos olhavam curiosos, outros nos cumprimentavam. Pensei que aquela cidade era bem movimentada à noite.

A cidade não tinha muitas curvas e becos, então nós seguimos reto.

–A estalagem fica no final desta rua. Faz tempo que não frequento uma, principalmente no Egito, em Heliópolis... -Disse Bes animado.

–Eu não acho nada legal... –Disse Melesmie olhando para suas próprias unhas.

Todos reviramos os olhos ao mesmo tempo.

–Eu estou a fim de fazer uma coisa diferente, ontem a noite foi agitado demais para mim. -Disse Walt lançando um olhar de indireta para mim e Anúbis que segurou a risada.

Nós seguimos a rua iluminada na noite escura até a estalagem. Ela era gigantesca, era toda de madeira e tinha um letreiro grande que dizia: “Estalagem da Esfinge”, tinha até um desenho de esfinge que decorava a grande placa iluminada. Por mais que o lugar fosse grande, parecia bem antigo.

Todos entramos pela grande porta. Era como um restaurante enorme cheio de mesas de madeira. Estava quase lotado. Homens riam com bebidas e jogos e o som que predominava era o das conversas, havia uma balcão grande no local onde um homem preparava algumas bebidas e o outro servia, ambos pareciam exaustos, como se estivessem ali trabalhando o dia inteiro. Dentro do local havia também um grande palco principal onde dançarinas com roupas egípcias faziam algumas apresentações.

As pessoas olhavam para nós curiosas, nós procurávamos uma mesa urgentemente e logo a encontramos mais reservada onde todos cabíamos. Eu sentei ao lado de Anúbis e Carter sentou ao lado de Zia, que sentou ao lado de Sarah, que estava ao lado de Melanie, que por sua vez estava ao lado de Jack, e Bastet sentou ao lado de Rá, que estava ao lado de Bes, de modo que Rá ficasse no meio dos dois. (perdeu o fôlego no meio da descrição? Aguarde, pois você já vai perdê-lo daqui a pouco novamente...)

Todos nós sentamos e suspiramos por fim. Há muito tempo não sentávamos, depois de toda essa viagem até Heliópolis.

Na mesa ao lado haviam três homens e uma mulher que riam, conversavam e bebiam. Dois deles jogavam, o outro parecia estar com a mulher. O que estava com a mulher olhou para nós demoradamente, então desviou seu olhar para Bes e ele foi mudando de expressão para um sorriso.

–Bes, seu idiota safado, rei-das-bebidas! Quanto tempo!-Disse ele.

–Serjek! Eu digo o mesmo!-Disse Bes abrindo um grande sorriso e apertando a mão do homem.

–Que faz aqui? Quem são eles?

–Eu estou em outra missão Serjek, eles são uns amigos.

–Outra?Você não toma jeito mesmo né?Pra quem está devendo desta vez?-Perguntou ele.

–Ninguém, desta vez é sério!

–Ihhh!-Exclamou ele seguindo pelo coro dos homens que jogavam.

–Não é sobre isso! Escute, é sobre o baú de Nun, você sabe alguma coisa?

–O baú de Nun?-Perguntou o homem quase como em um sussurro. Então ele riu alto.

–Endoideceu homem?Isso é uma lenda!

–Você sabe que não!Me diz o que sabe! Alguém passou por aqui? Você mora nessa estalagem!-Disse Bes batendo a mão na mesa deles.

–Calma homem! Vou te falar!-Disse ele se aproximando e colocando uma das mãos próximas a boca e então sussurrou.

–Passou aqui uma mulher bem bonita, ela inclusive me chamou a atenção, então ela veio falar comigo e me perguntou se alguém aqui veio buscar informações sobre esse baú aí, é claro que eu respondi em troca de algo, mas depois que eu falei ela sumiu.

–Você sabe como ela era?-Perguntou Carter se intrometendo na pergunta.

–Ei! E quem disse que eu tenho que te responder pirralho?

–Deixa o garoto Serjek!-Disse Bes.

–Ele é seu filho?E esse outro aí também?! -Perguntou o homem preocupado apontando para Walt.

–É claro que não idiota! São amigos!

–E o que que você tem com isso?-Perguntou Walt se intrometendo.

–Olha como fala garoto mal-criado!

Walt olhou feio para o homem.

Foram interrompidos por um homem baixinho que apareceu no palco no meio das dançarinas e pediu silêncio. Bes disse que era o dono do local.

Todos se calaram.

–Boa noite a todos novamente, agora vamos às nossas famosas lutas.

Todos gritaram e grunhiam em sinal de aprovação.

–Que lutas são essas?-Perguntou Carter baixinho a Bes.

–São umas lutas para diversão dos homens aqui, são escolhidas pessoas da estalagem... É besteira! As pessoas apostam neles e o prêmio a um dos homens é um saco de moedas. -Sussurrou Bes em resposta.

Então nós desviamos o olhar para o palco e dois homens se voluntariaram para a luta.

Os dois subiram. O dono da estalagem perguntou o nome dos dois do palco.

–Meu nome é Bajur. -Um homem baixo e forte disse em resposta.

–Sou Piknihk, o punho-de-ferro!-O outro grunhiu, ele era alto, mas não tão forte quanto o outro.

–Então boa sorte e que comece a luta!-Disse o homem saindo do palco com o prêmio, o saco de moedas.

Todos gritavam e torciam.

Então começou a tocar outra música e mais abaixo do palco as dançarinas dançavam enquanto os homens trocavam socos e chutes, empurrões. A maior besteira de todas. As pessoas próximas apostavam e uma mulher passava entre as mesas pegando as apostas. Depois de muita troca de golpes, e perda de tempo, o homem que seria Bajur foi o vencedor. O outro estava totalmente derrotado. Ele reclamou de dor nas costas e desceu se encaminhando para sua mesa onde seus companheiros zombavam dele. O dono da estalagem deu o prêmio ao vencedor. Algumas pessoas riam felizes, pois ganharam a aposta e outros nervosos davam seus dinheiros perdidos com o jogo.

Então o homem pediu silêncio novamente.

–Querem mais uma luta?-Perguntou.

Todos gritavam e levantavam bebidas dizendo que sim.

–Quem se arrisca a lutar com Grenek?

Todos se calaram quando um homem gigantesco subiu no palco, ele era extremamente forte e sua cara era de dar medo.

–Quem é esse?-Perguntou Walt.

–É a atraçãozinha aqui do local, o engraçado é que os corajosos viram um bando de trouxas quando vêm Grenek. -Disse Bes rindo incentivando Walt a fazer o mesmo.

E Serjek, a mulher da mesa, os homens que jogavam, Bes e Walt riam.

Todos pararam de rir quando encontraram o olhar do dono da estalagem não muito amigável, mas Walt não percebeu a indireta e continuou rindo sozinho no meio do total silêncio. Bes o cutucou.

–Ora ora, temos um garoto corajoso que deve estar se divertindo muito! Venha lutar com Grenek! Ou é muito fracote para isso?-Perguntou o dono do local se dirigindo a Walt.

–Não vai garoto!É tudo uma idiotice!-Sussurrou Bes.

–Eu aceito o desafio!-Gritou Walt.

–Está louco?-Eu disse a ele.

–Você pensa que vai lutar pra dar uma de corajoso? Nós não viemos aqui para fazer isso, nós estamos em uma missão!-Disse Bastet.

Anúbis riu.

–Ele pensa que vai lutar aqui?

–Não vai Walt!-Disse Sarah lançando-lhe um olhar preocupado.

Mas fora inevitável, Walt se levantou da mesa e seguiu ao palco antes de lhe impedirmos.

Ele subiu no palco e encarou Grenek que estava furioso com a afronta.

–Garoto corajoso... Lutar com Grenek?Essa até eu quero ver!

Todos da estalagem riram.

–Qual é seu nome criança?

–Meu nome é Walt...

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