– Preciso falar com vocês - a pessoa disse, e nós nem precisávamos olhar pra sabermos quem era.

Nos viramos e Zac estava parado na porta, nos fitando com o olhar sério.

Encaramos Zac, esperando ele se pronunciar.

– Como eu senti a falta de vocês - disse ele, olhando pra baixo.

Então de repente eu raciocinei. Nós sempre havíamos culpado apenas Josh, havíamos falado apenas dele. Josh tinha sido o único a ligar, mesmo que (bem) atrasado, e o único a ir me procurar em meu apartamento, não que suas intenções fossem das melhores. Mas ele foi. E Zac? Zac não havia aparecido. Ele era apenas um coadjuvante que ainda não havia se pronunciado nessa história. Pelo menos até agora.

– Hey Zac - eu disse, levantando pra ir até ele na porta. Taylor foi junto comigo.

– Bom, eu só queria deixar uma coisa clara. Eu sei, tô bem atrasado, e vocês já devem ter pensado mil coisas de mim. - Na verdade não. Mas não o interrompi. - Eu não tive nada a ver com nada disso. Nada a ver com as mentiras escritas naquela carta que está no site, que por sinal tem meu nome assinado embaixo. Eu aceitei sair do Paramore por pura pressão do Josh. Esse negócio de família, vocês sabem... Além de eu ser o irmão mais novo, ele fez uma chantagem emocional do caramba comigo. - Todos nós sabíamos que Zac era meio bobo e ingênuo, então não era difícil de botar fé naquilo. - Acreditem, agora eu me arrependo mais que tudo de ter ido na onda do Josh e saído do Paramore. Essa banda era tudo o que eu queria.

Vou confessar que fiquei meio comovida. Não pelas coisas que ele falou, mas por sua expressão enquanto nos confessava tudo isso. Suas sobrancelhas estavam franzidas, e seus olhos, profundos e caídos. Não tinha como não acreditar nele. Zac nunca foi de mentir, e por sinal sempre foi bem sincero com todos nós.

Olhei pra Taylor, e ele me olhou de volta. Então, demos um abraço coletivo em Zac.

– Também sentimos a sua falta, Zac - disse Taylor.

– Meu irmão tem sido um otário com vocês. Sério, eu nunca quis isso – disse ele, apertando-nos mais forte e me sufocando, já que ele era umas três vezes maior que eu.

Jeremy chegou nesse momento, e como a porta estava aberta, ele ficou nos encarando com um olhar desconfiado, com um dos olhos franzidos.

– Zac nunca teve nada a ver com a sacanagem do Josh – eu disse, sorrindo pro Jerm. Ele olhou pra Zac e deu um sorriso largo, e então e juntou ao abraço coletivo. Era incrível como nós gostávamos de Zac, e como confiávamos nele. Ainda tínhamos o mesmo afeto de antes por ele. Mas por Josh... Tudo havia mudado.

– Mas enfim, galera, eu só vim aqui avisar mesmo isso pra vocês... Na verdade eu vinha primeiro aqui, depois no Taylor e depois no Jeremy, mas já que deu todo esse encontro – ele riu. – Pensei que vocês nem iam acreditar em mim, depois de tudo o que o meu irmão fez me envolvendo no meio.

– Que nada, Zac – disse Jeremy, dando-lhe um tapa no ombro. Zac sorriu, e sinceramente, seu sorriso parecia o de uma criança de tão puro e ingênuo, um dos mais verdadeiros que eu já havia visto. Na verdade Zac era um crianção, e todos nós adorávamos isso nele.

Ele se despediu de nós e foi embora, agora olhando pra frente, diferente de como ele havia chegado, cabisbaixo e encarando o chão.

Jeremy olhou pra mim e depois pro Taylor, e ficou nos fitando.

– Por que vocês dois estão com a mesma roupa de ontem?

– É que... – eu gaguejei. – Eu e Taylor acabamos dormindo aqui no sofá ontem. - Jeremy abriu a boca, sorrindo de um jeito debochado.

– Vocês dois dormiram juntos num sofá, e querem mesmo que eu acredite que só dormiram? – ele soltou uma gargalhada alta.

– Vai se ferrar, Jeremy – disse Taylor, dando-lhe um empurrãozinho de brincadeira, com a cabeça baixa e totalmente vermelho.

E então eu me lembrei que tínhamos uma coisa importante pra hoje. Aproveitei pra mudar de assunto.

– Meninos – chamei. Eles continuaram “lutando”, que nem duas crianças. – Meninos! Esqueceram-se do que temos pra fazer hoje?

Ambos me olharam confusos. Revirei os olhos.

– Uma visitinha na casa do senhor Joshua Neil Farro.

– Ahhhhh, é verdade – disse Taylor, dando um pulo ao se lembrar.

– Vamos com a cara e a coragem lá – disse Jeremy, me puxando pelo braço com tanta rapidez que quase fui arrastada por ele.

*****

Depois de uma caminhada não tão longa, chegamos na casa do Josh. Eu não queria que eles saíssem no tapa, mas os meninos estavam contando bastante com isso, e, bem, eu não ia questioná-los.

Toquei a campainha da casa do Josh e fui pra trás dos meninos. Eu não queria ser a primeira a ser encarada por ele.

– Pois não – disse ele, abrindo a porta e arregalando os olhos ao dar de cara com os meninos. Seus olhos estavam percorrendo o espaço ao lado dos meninos, como se estivessem procurando alguma coisa, e então se fixaram em mim ao me encontrarem atrás deles.

– Oi, Joshua – disse Jeremy, o mais esquentado de nós desde então, com o rosto a poucos centímetros do de Josh, olhando-o bem nos olhos e andando pra cima dele, fazendo-o andar pra trás e parar no meio da sala. Taylor também o encarava, mas de longe, e eu preferi manter meus olhos mais ocupados com o tapete de sua sala.

– Tu ainda tem coragem de me encarar de volta, seu filho duma puta? – disse Jeremy, dando-lhe um empurrão. – Tu ainda tem coragem?

Josh nos olhou confuso, e eu tive certeza que aquilo não era atuação.

– Do que vocês estão falando? Porque estão aqui me enfrentando, na minha própria casa?

– Ah, por favor, Josh. Por favor, já chega de hipocrisia. – disse Taylor, ainda o encarando. – Nós já descobrimos tudo. Você cancelou o contrato da Paramore com a gravadora e ainda disse que era em meu nome.

– Vocês ficaram doidos? Eu não fiz nada diss... – antes que ele pudesse terminar, Jeremy puxou-o pela gola da camisa, ficando agora com o rosto a milímetros do dele.

– Vira homem o bastante pra admitir.

– Admitir o que? – Josh insistiu, com a expressão ainda confusa.

Jeremy ficou realmente irritado e já estava em posição para dar um soco em Josh, quando uma loira aparece da cozinha.

– Por favor, parem – disse ela. Era Jenna. Todos nós olhamos pra ela com repulsa.

Mas ao olhar melhor, eu pude perceber uma pequena protuberância em sua blusa. Como num modo automático e totalmente sem pensar, cheguei mais perto dela pra ter certeza, e pude constatar. Jenna estava grávida.

E então, ao olhar no fundo de seus olhos culpados, eu entendi mais uma vez tudo o que havia realmente acontecido.