Apolonyx escrita por Veneficae


Capítulo 17
Audiência




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/181938/chapter/17

Arfei, quase colocando meus pulmões para fora.

– Akhlys – tentei recuperar o fôlego. - Que lugar é esse?!

– Não posso ficar por muito tempo. Este não é lugar para mim, infelizmente... talvez.

– O que faço aqui? Por quê estou aqui?

– Vá até aquele templo – apontou para uma morada cor de gelo enorme. - Ele te explicará tudo. - e sumiu.

Virei-me ao templo.

Era a morada de uma divindade, com certeza. Nem era necessariamente um templo. Era parecido com a casa dos deuses retratados em vasos gregos antigos, quase um templo, branco, com vários pilares gigantes, telhado triangulado, arejado. Já este que eu estava vendo era igualzinho, tirando o telhado triangular, sem paredes, só uma roda de pilares gigantes e todo decorado de bronze e dourado. Na entrada grinalda de folhas de faia, um loureiro para cada pilar É impossível, mas havia um jardim ali – cheio de Jacintos e Girassóis.

Ao entrar lá, me senti arrebatada.

Lindo!” foi só o que consegui sentir.

Só consigo descrever isso: que havia uma cama king-size parecendo ultra confortável, uma fonte de ouro mais ao fundo e em volta várias mulheres gregas lindas tocando instrumentos ricos e frágeis. Quando me viram, pararam de tocar e olharam para um homem vindo do lado oposto.

Tinha cabelos loiros anelados, pele branquinha, com louro parnasiano atrás da orelha, olhos azul cristalino, boca rosada, vestia uma especie de túnica grega de um ombro só e sandálias marrom.

Com certeza era uma divindade grega e eu já sabia quem era. Tossi, rouca.

– Apolo? - o deus sorriu. - Meu... pai?

Deixei-me ser abraçada por ele, chorando.

Sentamos na cama.

– Está tudo tão difícil! - desabafei, molhando sua túnica com minhas lágrimas. - Eu tenho um plano, mas não sei por onde começar! E se eu errar? E se todos que eu amo morrem? E se eu cometer um erro enorme que seja até pior do que a morte?! Se eu não conseguir e...

– Shiii! Calma, calma, calma... - afagou meus cabelos. - Vai dar tudo certo.

– Você também prevê o futuro – sussurrei a ele. -, vai terminar bem... toda essa história? Eu vou... conseguir?

Sorriu.

– Só vejo que sozinha falhará, criança.

– Não me chame de criança. - me levantei. - Se não pode me ajudar, me deixe.

– Está sendo ingrata, Pandora.

– Eu? - parei de chorar, enraivecida. - Quem que me deixou desprotegida por toda minha vida? Quem nunca cumpriu seu dever de pai? Não precisava conviver todo dia comigo... podia só simplesmente aparecer, de vez em quando. Mas não né?

– Mentira! Eu sempre a protegi desde seu nascimento, embora nunca pudeste ver-me!

– Quem está mentido é você, papai. Aliás, você e Nyx sempre preferiram minha irmã do que eu. Em vez de dizer a nós duas quem éramos, vocês revelaram somente a ela! Quando morreu, viram que ela falhou, recorreram a mim como a última opção. Sempre fiquei em segundo lugar... e não adianta negar! Aliás, separou nós duas quando criança que nem me lembro mais dela! Do seu rosto, do seu abraço, da sua voz... nada, nada! Quando me disseram que eu tinha uma irmã, nem me toquei que a conhecia. Eu sempre sonhei com ela, mas só a reconheci quando vi metade da estátua que Nyx fez dela no meu chalé. Mas só a reconheci, não lembro de nada da época em que vivemos juntas. Ainda nega que...

– Sim! Eu nego, criança! - levantou-se novamente. - Sempre a protegi. Nem fora eu a decidir contar a tua irmã, foi Nyx e eu concordei com ela. Nýchta já era muito avançada para sua idade, ela escolheu viver em perigo como todos os semideuses viviam e gostava disso. Mas não queríamos isso para você, eu, sua Nyx e sua mãe mortal. Com o poder de seus pais deuses, você poderia viver como qualquer criança normal e sem ficar em perigo a cada minuto da sua vida. Nýchta já tinha escolhido o que queria, mas esse não era o tipo de futuro que sonhávamos para você. Quando ela morreu... - olhou para o sol que se destacava no todo horizonte de nuvens. - Muitos filhos meus já morreram, para minha infelicidade. Como Faetonte ao andar com a minha carruagem do sol, morreu por livre escolha, mesmo eu o aconselhando... quando Nýchta morreu, fiquei muito triste. Eu não queria sofrer mais uma perda, sabia que um dia você descobriria a verdade e se perecesse... embora eu seja uma divindade, sofro como qualquer outro. Resolvi ficar a distancia, mas sempre cuidei e protegi-a. Sinto muito se fui um fracasso de pai para você, mas nem sempre faço boas escolhas. Sinto mais ainda por termos perdido tanto tempo separados, mas sozinha... você nunca esteve. Era eu de dia, Nyx de noite e sua mãe mortal diariamente. Nunca ficou abandonada, onde quer que fosse. Peço perdão, minha filha.

Certo. Eu o entendia. Entendi todo mundo, Nyx, Beccs, Tánatos, todos. Parei até de chorar.

Dei um sorrisinho, emocionada.

– Obrigado. - sorriu de volta, colocando um louro parnasiano atrás da minha orelha. - Musas – voltou-se as mulheres na fonte. - Agradeço também por virem hoje. Terpsicore, leve-a, por favor, para um bom banho.

Ela se curvou e estendeu a mão em minha direção.

– Fique tranquila. Vou tentar ajudá-la. - abraçou-me, beijou minha testa e deixou que Terpsicore me levasse.

A musa me levou até a fonte, que agora parecia mais uma banheira, tirou minha roupa sem que Apolo visse e fez-me vestir uma levíssima camisola de linho branco. Quando entrei na fonte, as musas me rodearam e começaram a me lavar. Apolo sentou num divã branco ao lado e se preparou para tocar sua linda lira.

Tentei tampar com minhas mãos minhas partes intimas.

– Não vai sair? - perguntei.

– Está mandando-me sair de minha própria casa?!

– Não! Não, não. Só... estou de traje íntimos e...

Ficou sério, de repente.

– Sou um deus, Pandora. Fico a perguntar-me como se sentiria na antiga Grécia, menina, pois todos usavam trajes mais mínimos do que qualquer um nesses últimos séculos. - ajeitou-se no divã. - Se realmente se importar, me retiro.

– Éh... não precisa... eu acho. - deixei as Musas me molhar. - Desculpe-me.

– Relaxe. - e começou a tocar sua lira.

Enquanto elas me lavavam, tive de admirá-lo. Ele era meu pai, mas tendo de admitir que Apolo era lindo! E, tocando essa lira, encantaria qualquer um. Até um homem, tenho de dizer. Mas... é melhor eu não tocar nesse assunto.

As Musas esfregaram uns óleos gosmentos em mim mas, em compensação, fiquei com uma pele limpinha e macia. Depois ensaboaram meu cabelo, hidrataram e passaram uma pasta aparentemente feito de abacate e babosa. Resumindo, com certeza eu estava saborosa – literalmente. Me deram então uma túnica de algodão, que descia até os tornozelos com um cinto de pano preso na cintura. Me ajudaram a vestir o tal... himátions, um manto arranjado com pregas sobre os ombros e os braços. Calcei sandália cor de madeira, que amarrava no calcanhar.

Logo terminado o banheiro, as Musas saíram, só Clio ficou – a musa da história – coroada de louros, segurando uma trombeta e um livro titulado Tucídice. Ela sentou ao meu lado na cama king-size e ficou a contar histórias. Dormi até Apolo voltar.

O deus estava sério, o que me preocupou.

– Pai? - fiquei de pé. - O que foi?

– Venha comigo. - caminhei até ele, que envolveu meus ombros com seu braço e me puxou até um circulo de luz no jardim. No caminho, não pude não perceber os girassóis seguindo a figura brilhosa que Apolo era. Pelo que me lembrava, havia uma ninfa apaixonada por ele. Não correspondendo seu amor – deitava na relva, seguindo o sol com seus olhos, acabou se transformando numa flor que sempre seguia o sol (ou algo parecido). Os Jacintos... bem, ele era um homem. Meu pai... amava ele – meio estranho, mas não vamos julgá-lo. Em sua homenagem, ele transformou o jovem Jacinto numa flor. Conclusão, meu pai transformava frequentemente as coisas que queriam em uma flor ou planta ou árvore.

Quando entramos no circulo de luz, a paisagem mudou. Logo vi... sim, inconfundível, no Monte Olimpo.

– O que fazemos aqui? Por quê estamos aqui?! - perguntei a Apolo, assustada. - É perigoso para mim, Zeus não gosta de mim. Minha mãe... pai... você sabe...

– Calma, Pandora. - subimos uma escadaria de pedras brancas. - Pedi uma audiência a...

– Não fale de Zeus como se ele fosse um juiz.

– É como se fosse. É uma autoridade.

– Umpf. - finquei os pés no chão – do modo figurativo, tá?! - E que droga vamos discutir?

– Olha o seu palavreado, Dafni Pandora. Sou seu pai e um Deus. Tenha respeito a minha pessoa.

Suspirei.

– Tudo bem! - resmunguei. - Vamos acabar logo com isso. - e acelerei o passo até o Olimpo.

O interior era parecidíssimo com o que havia na Grécia, só que com detalhes em dourado e bronze e... magnífico, só isso.

Quando passei um portão de ouro, vi um salão parecido com o templo de Apolo, o lugar que eu tinha acabado de sair. A única diferença era que não tinha a cama king-size, a fonte e as decorações “apolo-nesca”.

O assustador ali era todos os deuses principais sentados em cadeiras enormes no salão oval. Na hora em que reconheci Zeus e colocou seus olhos em mim, desabei no chão – de joelhos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Apolonyx" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.