Harry Potter E A Revolta Dos Lâncatropos escrita por jujuba


Capítulo 30
Toque.


Notas iniciais do capítulo

Conversamos lá embaixo.



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Nada do que eu fazia, falava ou agia parecia realmente fazer jus de como eu estava. Tudo tão insosso e sem valor... Não dava para mostrar o que eu realmente gostaria de mostrar, de explicar. E de fato, ninguém entenderia mesmo que eu achasse as palavras e gestos certos... Ninguém sente o que eu sinto. Eu não sei se a raiva que eu sentia por dentro era pior do que esse sentimento frustrado de incompreensão. E parecia que eu não era o único... Malfoy também estava em uma espiral de vingança deprimente. Isso até me animou um pouco, saber que pelo menos alguma justiça havia sido feita.

A conversa com Dumbledore só me irritava mais, sua calma, sua serenidade e paciência. Eu não estava paciente e muito menos calmo... Queria agressão, ação, adrenalina. Não queria ficar parado apenas escutando... Queria fazer justiça com minhas próprias mãos.

– É minha culpa a morte de Sirius - disse Dumbledore claramente. - Ou eu deveria dizer, quase que inteiramente minha culpa, não serei tão arrogante a ponto de assumir a responsabilidade por tudo. Sirius era um homem bravo, esperto e disposto e este tipo de homem normalmente não se contenta em ficar sentado em casa escondido enquanto acredita que outros podem estar correndo perigo. Todavia, você nunca deveria ter acreditado, nem por um só momento, que havia qualquer necessidade de você ir ao Departamento de Mistérios esta noite. Se eu tivesse sido aberto com você, Harry, como eu deveria ter sido, você saberia há muito tempo que Voldemort tentaria atrair você ao Departamento de Mistérios e você nunca teria sido enganado para entrar lá esta noite. E Sirius não teria ido depois de você. Esta culpa me pertence, e somente a mim.

Eu só percebi que estava com a mão na maçaneta quando Dumbledore pediu para que eu me sentasse... Talvez seria bom ouvi-lo. Retirei a mão da maçaneta e fui sentar-me a frente dele.

– Harry, eu lhe devo uma explicação - disse Dumbledore. - Uma explicação sobre os erros de um velho homem. Pois vejo agora o que tenho e o que não tenho feito em relação a você suportar as marcas das passagens da idade. Um jovem não pode saber como pensa e sente um homem velho. Mas os homens velhos são culpados, esquecem de como era ser jovem... E parece que eu tenho esquecido ultimamente... Eu soube quinze anos atrás - continuou Dumbledore -, quando vi a cicatriz em sua testa, o que ela significava. Seria o sinal de uma conexão entre você e Voldemort.

– O senhor já havia me contado isto. – não me importei em ser rude ou áspero.

– Sim - disse Dumbledore justificativamente. - Sim, mas veja, é necessário começar pela sua cicatriz. Pois se tornou aparente, logo após você voltar ao mundo mágico, que eu estava correto e que sua cicatriz lhe enviava sinais quando Voldemort estava perto de você ou a emoção poderosa de outro sentimento.

– Eu sei.

– E essa habilidade sua, detectar a presença de Voldemort mesmo disfarçado e saber o que ele está sentindo quando suas emoções estão exacerbadas, tornou-se mais e mais pronunciada desde que Voldemort retornou ao próprio corpo e aos seus poderes.

Não me importei em dizer absolutamente nada, eu já sabia de tudo isso e se fosse ficar apenas nisso, não hesitaria em ir embora.

– Mais recentemente - retomou Dumbledore - minha preocupação era de que Voldemort percebesse a existência dessa conexão entre vocês. Como previ, chegou a hora em que você entrou tão a fundo em sua mente e seus pensamentos que ele sentiu sua presença. Estou falando, é claro, da noite em que você testemunhou o ataque ao senhor Weasley.

– Snape conversou comigo. – novamente poucas palavras.

– Professor Snape, Harry - corrigiu Dumbledore serenamente. - Mas você não se perguntou por que não fui eu quem explicou isso a você? Por que eu não ensinei a você o encantamento da Oclumancia? Por que fiz pouco mais do que olhar para você por meses?

– Sim, questionei isso.

– Veja - continuou Dumbledore -, acreditei que não demoraria muito até Voldemort tentar forçar uma entrada em sua mente, Harry, para manipular e confundir seus pensamentos, e certamente eu não estava ansioso por dar a ele maiores incentivos. Eu estava certo de que se ele percebesse que nosso relacionamento era, ou fora alguma vez, mais próximo do que o de professor e aluno ele agarraria a chance de usar você para espionar a mim. Eu temi pelo uso que ele faria de você, a possibilidade de ele tentar e possuir você. Harry, creio que eu estava certo em pensar que Voldemort usaria você dessa maneira. Nas raras ocasiões em que eu e você tivemos contato mais próximo pensei ter visto a sombra dele se agitar atrás dos seus olhos... O alvo de Voldemort ao possuir você, como ficou demonstrado esta noite, não seria a minha destruição. Seria a sua. Ele esperava, quando possuiu você rapidamente há pouco tempo atrás, que eu fosse sacrificar você na esperança de matá-lo. Portanto, você vê, eu vinha tentando, mantendo-me distante de você, protegê-lo Harry. O erro de um homem velho... Sirius me contou que você sentiu Voldemort acordar dentro de você na noite em que teve a visão do ataque a Arthur Weasley. Eu soube então que meus piores medos estavam corretos: Voldemort havia percebido que podia usar você. Numa tentativa de armar você contra os assaltos de Voldemort à sua mente, fiz os arranjos para que você tivesse as lições de Oclumancia com o professor Snape.

Eu mantinha meu olhar fixo na janela que dava de frente para o campo de quadribol. Era doloroso olhar para Dumbledore, porque no fundo... Eu não queria me acalmar e era esse o efeito que ele causava nas pessoas.

– Professor Snape descobriu - retomou Dumbledore - que você sonhou com a porta do Departamento de Mistérios por meses. Voldemort, sem dúvida, esteve obcecado com a possibilidade de ouvir a profecia desde que recuperou seu corpo e, assim como ele, você tinha a porta em sua mente, embora não soubesse o que significava. E então você viu Rookwood, que trabalhava no Departamento de Mistérios antes de ser preso, contando a Voldemort o que nós sabíamos, que as profecias guardadas no Ministério da Magia estão fortemente protegidas. Apenas as pessoas a quem elas se referem podem ouvi-las sem ficarem loucas: neste caso ou Voldemort teria que ir ele mesmo ao Ministério, correndo o risco de se revelar, afinal, ou você teria que apanhar para ele. Tornou-se, assim, de grande e crescente importância que você dominasse o feitiço da Oclumancia.

A culpa se alastrou sobre mim. – Mas eu não o fiz... É muito difícil! Não dei a devida importância, não estava nem ai! E olha onde isto nos levou... – minha voz falhou enquanto eu tentava segurar as lagrimas dolorosas que ameaçavam cair. – Eu tentei confimar se ele realmente havia levado Sirius... Mas então Monstro... E ele me disse que Sirius não estava lá, que havia saído.

– Monstro mentiu - disse Dumbledore calmamente. - Você não é mestre dele, ele poderia mentir a você sem nem mesmo ter que se punir. Ele tinha intenção de fazer você ir ao Ministério da Magia.

– Ele me mandou ir de propósito?

– Oh, sim. Monstro temo que ele venha servindo a mais de um mestre há meses.

– Como? Ele não sai de Grimmauld Place há muito tempo!

– Monstro teve sua oportunidade logo depois do Natal - disse Dumbledore -, quando Sirius, aparentemente, gritou a ele "vá embora". Ele pegou Sirius pela palavra e interpretou isso como uma ordem para deixar a casa. E se dirigiu ao único membro da família Black por quem ele ainda tinha algum respeito... A prima Narcissa, irmã de Bellatrix e esposa de Lúcio Malfoy.

– Como sabe de tudo isso?

– Monstro me contou ontem à noite - disse Dumbledore. - Veja, quando você deu ao professor Snape aquele aviso oculto ele percebeu que você tivera uma visão de Sirius amarrado no Departamento de Mistérios. Ele, assim como você, tentou contato com Sirius. Eu devo explicar que os membros da Ordem da Fênix têm métodos de comunicação mais confiáveis que o fogo na sala de Dolores Umbridge. Professor Snape descobriu que Sirius estava vivo e seguro em Grimmauld Place. Quando, no entanto, você não voltou da sua ida à floresta com Dolores Umbridge, professor Snape viu crescer sua preocupação: você ainda acreditava que Sirius era prisioneiro de Lord Voldemort. Então alertou imediatamente alguns membros da Ordem. Alastor Moody, Nymphadora Tonks, Kingsley Shacklebolt e Remo Lupin estavam no quartel-general quando ele fez contato. Todos concordaram em ir a seu auxílio imediatamente. Professor Snape pediu a Sirius para ficar, era necessário que alguém permanecesse para me contar o que havia acontecido, já que eu chegaria em breve. Nesse meio tempo ele, Professor Snape, pretendia ir à floresta procurar você. Mas Sirius não desejaria ficar para trás enquanto outros iam à sua procura, Harry. Ele delegou a Kreacher a tarefa de me contar o que havia acontecido. E foi assim que, quando cheguei em Grimmauld Place logo em seguida à saída de todos rumo ao Ministério, foi o elfo quem me disse, rindo até quase estourar, onde Sirius havia ido.

– Ele estava... Rindo? – minha voz saiu rouca.

– Oh, sim - respondeu Dumbledore. - Veja Harry, Monstro não poderia nos trair totalmente. Ele não é um Guardião Secreto da Ordem, não poderia dar aos Malfoy nossa localização ou contar a eles qualquer um dos planos confidenciais os quais tenha sido proibido de revelar. Ele estava obrigado por encantamentos da sua raça, o que significa dizer que ele não poderia desobedecer a uma ordem direta do seu mestre Sirius. Mas ele deu a Narcissa informações que se tornaram muito valiosas para Voldemort, embora possam ter parecido muito triviais para Sirius sequer pensar em proibir Monstro de repetir.

– Como o que?

– Como o fato de que a pessoa com quem Sirius mais se importava no mundo era você - disse Dumbledore serenamente. - Como o fato de você estimar e respeitar Sirius como uma mistura de pai e irmão. Voldemort já sabia, evidentemente, que Sirius era membro da Ordem e que você sabia onde ele estava mas a informação de Kreacher fez com que percebesse que a única pessoa a qual você percorreria qualquer distância para salvar era Sirius Black.

– Então... Quando perguntei a Monstro se Sirius estava lá naquela noite...

– Os Malfoy, sem dúvida instruídos por Voldemort, disseram a ele para encontrar uma maneira de manter Sirius fora do caminho uma vez que você tivesse a visão dele sendo torturado. Assim, se você decidisse verificar se Sirius estava ou não em casa Monstro poderia fingir que não. Monstro feriu o hipogrifo ontem e, quando você fez sua aparição no fogo, Sirius estava lá em cima cuidando dele.

Senti meu peito pesado... Cheio de raiva.

– E ele lhe contou tudo isso... Rindo?

– Ele não queria me contar - explicou Dumbledore. - Mas sou suficientemente aperfeiçoado na magia de Legilimens para saber quando estou sendo enganado e o persuadi a me contar toda a história antes que eu fosse ao Departamento de Mistérios.

– E... Hermione nos dizendo para trata-lo bem...

– Ela estava quase certa, Harry. Eu avisei a Sirius quando adotamos o número 12 da Grimmauld Place como nosso quartel-general que Monstro devia ser tratado com bondade e respeito. Também disse a ele que Monstro poderia se tornar perigoso para nós. Não creio que Sirius tenha me levado muito a sério ou que ele alguma vez tenha olhado Monstro como sendo um ser com sentimentos tão profundos quando os humanos.

– Não o culpe... Não fale... Dele... De Sirius... Assim – eu mal respirava, não conseguia expressar as palavras mas a raiva que estava acalmada por um instante ressurgiu dentro de mim: não deixaria Dumbledore criticar Sirius. - Monstror é um mentiroso, um tolo... Ele mereceu.

– Monstro é o que os bruxos fizeram dele, Harry. Sim, ele é digno de nossa piedade. A existência dele tem sido tão miserável quanto a do seu amigo Dobby. Monstro era obrigado a obedecer a Sirius por ele ser o último da família à qual estava escravizado, não havia lealdade verdadeira. E qualquer que tenha sido a culpa de Monstro devemos admitir que Sirius nada fez para tornar seu destino mais fácil...

– NÃO FALE DE SIRIUS DESSE JEITO! – berrei.

Eu havia me colocado em pé novamente, pronto para voar no pescoço de Dumbledore caso ele resolvesse falar mais de Sirius.

– E o que me diz de Snape? – cuspi para ele. - Sobre ele nada é falado, não é? Quando eu disse a ele que Voldemort tinha Sirius ele zombou de mim como sempre.

– Harry, você sabe que o professor Snape não tinha outra opção a não ser fingir para Dolores Umbridge que não tinha levado você a sério - disse Dumbledore com firmeza - mas, como já expliquei, ele informou à Ordem assim que pôde sobre o que você havia dito. Foi ele quem deduziu onde você tinha ido quando você não voltou da Floresta. Foi ele, também, quem deu Veritasserum falso à professora Umbridge quando ela tentava forçar você a contar a ela sobre Sirius.

Desconsiderei qualquer coisa boa que ele tinha a defesa de Snape, sempre o veria como ele era e nada disso mudaria, Dumbledore admitindo ou não que Snape era uma cobra maldita. E eu sentia um prazer enorme em culpar Snape por tudo o que me acontecia.

– Snape... Snape pro... Provocou Sirius... Sobre ficar em casa... Fez parecer que Sirius era um covarde.

– Sirius era adulto e esperto o suficiente para permitir que zombarias tão fracas o atingissem.

– Snape parou de me dar as lições de Oclumancia! – me embaracei. - Ele me expulsou da sala dele!

– Estou ciente disso - respondeu Dumbledore com firmeza. - Eu já disse que foi um erro não o ensinar eu mesmo, embora eu estivesse certo, naquela ocasião, que nada poderia ser mais perigoso do que abrir sua mente para Voldemort em minha presença.

– Snape tornou ainda pior, minha cicatriz sempre doeu mais depois das lições com ele - lembrei que Rony pensava sobre isso - e como você sabe que ele não estava tentando me amaciar para Voldemort, tornando mais fácil para ele entrar em minha...

– Eu confio em Severo Snape - disse Dumbledore simplesmente. - Mas eu esqueci, outro engano de um homem velho, que certas feridas são muito profundas para serem curadas. Eu acreditava que o professor Snape pudesse superar os sentimentos dele a respeito de seu pai, Harry. Eu estava errado.

– Mas tudo bem, não é? - gritei, ignorando os rostos escandalizados e os murmúrios de desaprovação dos retratos nas paredes. - Tudo bem que Snape odeie meu pai mas não que Sirius odeie Monstro?

– Sirius não odiava Monstro - afirmou Dumbledore. - Ele o considerava um serviçal sem muito interesse ou valor. Indiferença e negligência são muitas vezes mais prejudiciais do que a antipatia direta... A fonte que destruímos esta noite disse uma mentira. Nós, bruxos, temos maltratado e abusado de nossos companheiros por muito tempo e agora estamos tendo nossa retribuição.

– ENTÃO SIRIUS TEVE O QUE MERECEU, É? – berrei. Senti minhas mãos se fecharem em punhos.

– Eu não disse absolutamente isso nem você jamais me ouvirá dizer tal coisa - replicou Dumbledore suavemente. - Sirius não era um homem cruel, era gentil com os da casa, com elfos em geral. Ele não tinha amor por Monstro porque Monstro era a lembrança viva do lar que Sirius havia odiado.

– É, ele realmente odiou – disse com a voz como um chicote, virando às costas para Dumbledore. O sol brilhava dentro da sala e os olhos de todos os retratos o seguiram enquanto ele caminhava, sem se dar conta do que fazia, sem enxergar a sala. - Você o fez ficar trancado naquela casa e ele odiou, era por isso que ele queria sair na última noite...

– Estava tentando manter Sirius vivo. – respondeu solenemente.

– As pessoas não gostam de ser trancadas! – berrei novamente em fúria, andando em volta de Dumbledore. - Você fez isso comigo durante todo o ultimo verão!

Dumbledore abaixou a cabeça e cobriu seu rosto com suas mãos, isso não me comoveu continuei a olhá-lo de maneira fria e exaustiva.

– Chegou a hora de eu dizer o que devia ter contado a você cinco anos atrás, Harry. Por favor, sente-se. Eu vou contar tudo. Peço apenas um pouquinho da sua paciência. Você terá a chance de se enfurecer comigo, de fazer o que quiser, quando eu terminar. Não vou impedi-lo.

O encarei por algum tempo, depois tornei a me sentar.

– Cinco anos atrás você chegou a Hogwarts, Harry, seguro e intacto, como eu planejara e pretendera. Bem, não totalmente intacto. Você sofrera. Eu sabia que isso aconteceria quando deixei você na porta da casa de seus tios. Eu sabia que estava condenando você a dez anos escuros e difíceis. Você deve querer saber, com razão, por que tinha que ser assim. Por que alguma família bruxa não poderia ter adotado você? Muitas o teriam feito com mais do que boa-vontade, sentiriam-se honradas e felizes por criar você como um filho. Minha resposta é que minha prioridade era manter você vivo. Você correria mais perigo do que praticamente qualquer um mas eu percebi. Voldemort havia sido vencido horas antes mas seus apoiadores, e muitos são tão terríveis quanto o próprio Lord, ainda estavam por perto, zangados, desesperados e violentos. E eu tive que tomar minha decisão, também, levando em consideração os anos pela frente. Eu acreditava que Voldemort tinha ido embora para sempre? Não. Não sabia se seriam dez, vinte ou cinqüenta anos até ele retornar mas eu tinha certeza de que ele o faria e estava certo, também, por conhecê-lo bem, que ele não descansaria até matar você. Eu sabia que o conhecimento de mágica de Voldemort é, talvez, mais extenso do que o de qualquer bruxo vivo. Eu sabia que mesmo meus mais complexos e poderosos encantos e magias de defesa não seriam suficientes se ele retomasse seu poder plenamente. Mas eu sabia, também, onde Voldemort era fraco. Então tomei minha decisão. Você seria protegido por uma antiga magia que ele conhece, a qual despreza e que, conseqüente, sempre subestimou, e pagou o preço. Estou falando, certamente, do fato de sua mãe ter morrido para salvar você. Ela deu a você proteção duradoura como ele nunca imaginou, uma defesa que flui em suas veias até hoje. Eu então pus minha confiança no sangue de sua mãe. Entreguei você à irmã dela, sua única parenta viva.

– Ela não me ama, não se importa nem um pouco...

– Mas ela o recebeu - atravessou Dumbledore. - Ela pode ter ficado com você rancorosamente, enfurecida, amargamente e sem vontade mas ainda assim ela o recebeu. E fazendo isso selou o encanto que eu pus sobre você. O sacrifício de sua mãe fez dos laços de sangue o mais forte escudo que eu poderia ter dado a você.

– Eu ainda não...

– Enquanto você puder chamar de lar o lugar onde mora o sangue de sua mãe lá você não poderá ser alcançado ou ferido por Voldemort. Ela derramou seu sangue mas ele vive em você e na irmã dela, sua tia. O sangue dela se tornou seu refúgio. Você precisa voltar lá apenas uma vez por ano mas enquanto você puder chamá-lo de lar, enquanto estiver lá, ele não pode ferir você. Sua tia sabe. Eu expliquei o que havia feito na carta que deixei com você na porta da casa dela. Ela sabe que recebê-lo em casa pode muito bem tê-lo mantido vivo nos últimos quinze anos.

– Espere, espere um momento... Você mandou aquele berrador... Você a mandou que se lembrasse...

– Imaginei - disse Dumbledore, inclinando levemente a cabeça - que ela precisasse se recordar do pacto que tinha selado ao aceitar você. Suspeito que o ataque dos dementadores a tenham despertado para os perigos de ter você como um filho-hóspede. Cinco anos atrás, então - continuou Dumbledore, ainda que não tivesse feito pausa em sua história - você chegou a Hogwarts, não tão feliz ou bem alimentado quanto eu desejaria, talvez, mas ainda assim vivo e saudável. Você não era um principezinho mimado mas um garoto tão normal quanto eu poderia esperar sob tais circunstâncias. Até então meu plano estava funcionando bem. E então... Bem, você vai lembrar dos acontecimentos no seu primeiro ano em Hogwarts tanto quanto eu. Você triunfou de forma magnífica sobre o desafio dirigido a você e em seguida, muito mais em seguida do que eu previra, achou-se frente a frente com Voldemort. E sobreviveu novamente. Fez mais. Você retardou o retorno dele à plenitude de sua força e poderes. Você travou o combate de um homem. Eu estava... Mais orgulhoso de você do que posso dizer. Contudo, havia uma falha neste meu plano maravilhoso. Uma falha óbvia que, eu sabia, poderia arruinar tudo. No entanto, sabendo quão importante era que meu plano prosseguisse, eu disse a mim mesmo que não permitiria que esta falha arruinasse tudo. Eu sozinho pude prever isso então eu sozinho seria ser forte. E aqui estava meu primeiro teste, enquanto você estava no hospital, fraco da luta contra Voldemort.

– Não entendo o que está querendo dizer.

– Você ainda não vê qual era a fraqueza no plano? Não... Talvez não. Bem, como você sabe, eu decidi não responder a você. Onze anos, eu disse a mim mesmo, muito jovem para saber. Nunca tive a intenção de contar a você quando você tinha onze anos. O conhecimento poderia ser demasiado para tão tenra idade. Eu deveria ter percebido os sinais de perigo, então. Devia ter perguntado a mim mesmo por que eu não ficara mais perturbado pelo fato de você já ter feito a pergunta para a qual, eu sabia, um dia teria que dar uma resposta terrível. Eu devia ter percebido que estava muito feliz para pensar em não fazer isso naquele dia em particular... Você era muito jovem, muito, muito jovem. E então chegamos ao seu segundo ano em Hogwarts. E mais uma vez você enfrenta desafios jamais encarados mesmo por bruxos adultos; outra vez você se supera além dos meus sonhos mais selvagens. Entretanto, você não me perguntou novamente por que Voldemort deixou a marca em você. Falamos sobre sua cicatriz, oh sim... Chegamos perto, muito perto da questão. Por que não contei tudo a você... Bem, pareceu-me que doze anos eram, afinal, pouco melhor do que onze para receber tal informação. Permiti a você deixar minha presença ensangüentado, exausto mas regozijado e se senti alguma pontada de desconforto por, quem sabe, o dever de ter contado a você foi rapidamente silenciada. Você ainda era muito jovem, como vê, e não encontrei forças em mim para arruinar aquela noite de triunfo... Você percebe, Harry? Vê agora onde está a falha em meu plano? Tenho caído na armadilha que previ, que havia prometido a mim mesmo poder evitar.

– Eu não...

– Eu me importei muito com você - disse Dumbledore com simplicidade. - Me preocupei mais com a sua felicidade do que com o seu conhecimento da verdade, mais com sua paz de espírito do que com meu plano, mais com sua vida do que com as vidas que seriam certamente perdidas se o plano falhasse. Em outras palavras, agi exatamente como Voldemort espera que nós, os tolos que amam, ajam. Isso é uma defesa? Eu desafio qualquer um que tenha observado você como eu, e eu o tenho feito mais de perto do que você possa ter imaginado, a não querer salvá-lo de mais dor além daquelas que você já sofrera. Que me importava se pessoas e criaturas sem nome e sem rosto pudessem ser massacradas em um futuro incerto, se aqui e agora você estivesse vivo e bem e feliz? Eu nunca sequer sonhei que teria alguém assim nas mãos. Chegamos ao seu terceiro ano. Acompanhei à distância enquanto você lutava para repelir os dementadores, enquanto você encontrava Sirius, aprendia quem ele era e o salvava. Deveria eu ter contado a verdade a você quando triunfantemente libertou seu padrinho das garras do Ministério? Mas aos treze anos minhas desculpas estavam terminando. Você era jovem mas já havia provado que era excepcional. Minha consciência não estava à vontade, Harry. Eu sabia que a hora chegaria em breve... Mas você saiu do labirinto no último ano tendo visto Cedrico Diggory morrer, tendo escapado da morte quase certa... E não contei a você embora eu soubesse, agora que Voldemort retornara, que deveria fazer isso logo. E agora, esta noite, eu soube que você estava há muito preparado para o conhecimento do qual o mantive longe por tanto tempo, porque você provou que eu deveria ter lhe dado esta carga antes disso. Minha única defesa é essa: tenho visto você lutando sob mais aflições do que qualquer outro estudante que já tenha passado por esta escola e não seria eu a trazer a você mais uma aflição, a maior de todas.

– Ainda não entendo.

– Voldemort tentou matá-lo quando você era um bebê por causa de uma profecia feita um pouco antes de você nascer. Ele sabia que ela existia embora não a conhecesse totalmente e partiu para matar você enquanto era um bebê, acreditando que estava cumprindo os termos da profecia. Ele descobriu, a duras penas, que estava enganado, quando o feitiço dirigido a você foi devolvido. E assim, desde o retorno ao seu corpo e particularmente desde que você escapou dele de maneira extraordinária no último ano, ele tem estado determinado em escutar a profecia na sua totalidade. Ela é a arma que ele vem procurando tão assiduamente desde sua volta: o conhecimento de como destruir você.

– Destruimos a profecia.

– A profecia foi destruída, mas uma pessoa a escutou e há modos de como tê-la de volta.

– Quem?

– Eu. Em uma noite úmida e fria há dezesseis anos atrás, numa sala sobre o bar na estalagem Hog's Head. Eu havia ido até lá para examinar uma candidata ao posto de professor de Adivinhação, embora fosse contra minha vontade permitir a continuação da disciplina. A postulante, entretanto, era a tataraneta de um bruxo muito famoso e poderoso e considerei que seria um gesto de cortesia encontrá-la. Fiquei desapontado. Pareceu-me que ela não tinha qualquer traço do dom mágico. Disse a ela, cortesmente, eu espero, que não a considerava apta. Aquele com o poder de vencer o Lord Negro se aproxima... Nascido daqueles que por três vezes o desafiaram, nascido ao fim do sétimo mês... E o Lorde Negro vai marcá-lo como seu igual mas ele terá um poder desconhecido pelo Lord Negro... E um deve morrer pelas mãos do outro porquanto nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver... Aquele com o poder de vencer o Lord Negro se aproxima... Nascido daqueles que por três vezes o desafiaram, nascido ao fim do sétimo mês... – a voz da Sibila surgiu da grande bacia de prata que Dumbledore havia mexido.

– O que isso quer dizer?

– Isto significa que a única pessoa que pode por bem vencer Lord Voldemort nasceu no final de julho, há quase dezesseis anos. Esse menino nasceria de pais que já tivessem enfrentado Voldemort três vezes.

Um frio desceu pela minha espinha...

– Isso quer dizer... Eu?

– O mais estranho, Harry, é que poderia não ser você. A profecia de Sibila, na verdade, poderia ser aplicada a dois meninos bruxos, ambos nascidos no final de julho, ambos filhos de pais que eram membros da Ordem da Fênix e haviam escapado por pouco de Voldemort por três vezes. Um deles, obviamente, era você. O outro era Neville Longbottom.

– Mas então... Como o meu nome estava na profecia e não de Neville?

– O registro oficial foi re-classificado depois que Voldemort o atacou ainda criança. Pareceu correto ao guardião do Salão da Profecia que Voldemort só poderia ter tentado matar você porque o reconheceu como aquele de quem falava a profecia de Sibila.

– Então, poderia não ter sido eu?

– Eu temo - disse Dumbledore lentamente, parecendo que cada palavra lhe custava um grande esforço - que não haja dúvidas. É você.

– Mas você disse... Neville também nasceu no final de julho... E seus pais...

– Você está esquecendo da próxima parte da profecia, a característica final para identificar o menino que poderia vencer Voldemort... O próprio Voldemort marcaria o menino como seu igual. E assim ele fez, Harry. Ele escolheu você, não Neville. Ele lhe deu a cicatriz que tem provado ser tanto uma benção quanto uma maldição.

– Mas ele pode ter escolhido errado! Ele pode ter marcado a pessoa errada!

– Ele escolheu o menino que parecia representar um perigo maior para ele. E perceba, Harry: ele escolheu não o sangue puro (o qual, de acordo com sua crença, é o único tipo de bruxo que deve existir), mas o sangue-ruim, como ele. Voldemort se viu em você antes mesmo de tê-lo visto e, marcando-o com essa cicatriz, ele não o matou, como pretendia, mas deu poderes a você e um futuro, o que você precisou para escapar dele não uma mas quatro vezes, algo que nem seus pais nem os pais de Neville nunca conseguiram.

– Mas então por que ele fez isso? - falei, sentindo uma dormência fria. - Por que ele tentou me matar ainda bebê? Ele poderia ter esperado para ver entre eu e Neville quem pareceria mais perigoso quando fôssemos mais velhos e então tentar matar quem quer que fosse...

– Este, certamente, teria sido o caminho mais prático, exceto que a informação de Voldemort acerca da profecia estava incompleta. O Hog's Head, que Sibila preferia por ser barato, há muito atraía, deve-se dizer, uma clientela muito mais interessante que o Três Vassouras. Como você e seus amigos descobriram, para o desgosto de vocês e eu para o meu naquela noite, é um lugar onde jamais é seguro supor que você não está sendo escutado. É claro que eu nem sonhava, quando saí para encontrar Sibila Trelawney, que ouviria algo tão valioso. A minha, nossa, porção de boa sorte foi o intruso ter sido percebido logo no início da profecia e colocado para fora do lugar.

– Então, ele ouviu apenas...?

– Ele escutou apenas o início, a parte anunciando o nascimento de um menino em julho de pais que haviam desafiado Voldemort por três vezes. Conseqüentemente, ele não pôde avisar ao seu mestre que atacar você seria arriscar transferir poderes para você e marcá-lo como um igual. Assim, Voldemort nunca soube que poderia haver perigo em atacar você, que seria melhor esperar, aprender mais. Ele não sabia que você poderia ter poder que o Lord Negro desconhece.

– Mas eu não tenho! Não tenho nenhum poder que ele não tenha, não poderia lutar com ele esta noite, não posso manipular pessoas e muito menos mata-las!

– Há uma sala no Departamento de Mistérios - interrompeu Dumbledore -, ela é mantida constantemente trancada. Contém uma força que é a um só tempo mais maravilhosa e mais terrível do que a morte, do que a inteligência humana, do que as forças da natureza. É também, talvez, o mais misterioso dos inúmeros assuntos para estudo que vivem ali. É o poder que habita aquela sala o que você tem em tamanha quantidade e o qual Voldemort não possui em absoluto. Foi esse poder que o levou a socorrer Sirius esta noite. Este poder também salvou você de ser possuído por Voldemort, porque ele não toleraria permanecer em um corpo tão cheio da força que detesta e despreza. Afinal, não importou que você não pudesse manter sua mente fechada. Foi seu coração que o salvou.

Fechei os olhos, recusando a acreditar.

– O final da profecia... Era algo sobre... Nenhum poderá viver...

–... Enquanto o outro sobreviver – completou Dumbledore.

– Então, quer dizer que no final... Um tende morrer?

– Sim.

Fiquei um tempo em silencio, absorvendo tudo. Então uma ideia perturbadora tomou minhas ideias.

– Professor Dumbledore. Houve... Em um momento... – não sabia como dizer isto. – Eu não acho que Midnight seja uma boa influencia para Anabelle... Tem como isto acontecer?

– Porque a pergunta, Harry? – seus olhos cintilaram curiosos para mim.

– Houve um momento... Todos estávamos correndo para sair do Departamento quando eu notei que Anabelle não estava conosco... Então voltei e... Midnight a estava influenciando a fazer alguma coisa... Acho que se não fosse por mim Anabelle teria matado o pai dela. Ela circulava Anabelle, a incentivando a fazer algo e... Anabelle não parecia a mesma, estava mudada...

Dumbledore suspirou – Sabe Harry, os lâncatropos são animais fantásticos em muitos sentidos, sua lealdade é admirável. Porém á sempre um outro lado. Midnight tem sua natureza maldosa e cruel é dela isso, Midnight é, definitivamente, das trevas. A magia negra a cerca de modo que ninguém pode imaginar. Então vem Anabelle que, com certeza, é tão pura quanto a água. – essa era uma boa definição para Anabelle, pensei comigo. – São dois grandes opostos. Há muitos níveis entre a relação bruxo-lancatropo. Anabelle e Midnight tem uma conexão tão além de nossas imaginações, e até para a própria idade delas, que estão em um estágio que muitos bruxos não alcançaram, poderosos bruxos. É comum, neste nível, que há certa troca de informação entre elas. Midnight tem muito o que aprender com Anabelle, e assim é o mesmo com Anabelle, ela não poderá ser frágil o tempo todo, depender de Midnight o tempo todo, ela acha que não depende, mas como todo mundo, ela depende de alguém. Já Midnight precisa perder muita de sua crueldade para poder se manter ao lado de Anabelle... Acho que nunca ouvi uma historia em que a relação entre bruxos e lâncatropos dera errado, porém é muito provável que se Midnight não aceitar e passar um pouco de si para Anabelle, que elas hajam de se separar futuramente. O final de um nível, que apenas um bruxo conseguiu completar, no final de sua vida, é quando o lâncatropo e o bruxo tornam-se um só. Além de a personalidade ser divida, seus poderes também são. Esta é a hora, o momento, em que as duas vão começar a sofrer com isto. Não é algo que se possa controlar, naturalmente e sem perceber elas vão fazer essa troca. Midnight, em um momento de adrenalina e raiva para proteger Anabelle, achando que Julian era um perigo, a incentivou a quase mata-lo. É, infelizmente, natural que isso ocorra.

– Se elas não derem certo, o que acontece?

– Não sei. Isto nunca aconteceu... Não que eu tenha ouvido falar.

– Mas... O pai dela, Julian, ele não é bruxo e mesmo assim tem um lâncatropo... Como isso é possível?

– Julian é um feiticeiro, ele não possuía tanta magia como nós possuímos, mas possui alguma. É o único que tem um lâncatropo, de sua espécie. É por isso que Voldemort o quis como aliado.

– Não deve ter sido difícil se aliar á ele, Julian sempre me pareceu mal.

– Julian tem suas razoes para estar com Voldemort. – Dumbledore disse reservado.

– Então se Anabelle e Midnight se derem bem nessa troca que estão tendo... Ela não correrá nenhum perigo? – confirmei.

– Não é bem assim. Há duas saídas nesse nível. Primeira: Seria se Anabelle e Midnight dividirem tranquilamente e igualmente a personalidade, fazendo com que as duas aprendam e ensinem. O que a maioria das pessoas passa sem muitas dificuldades. Segunda: Seria se as personalidades se trocarem totalmente, ou influenciarem demais, ou seja, Anabelle se torna mais cruel do que o necessário e Midnight fica mais calma do que o necessário.

– Quantas chances isso tem de acontecer? – perguntei receoso.

Dumbledore ficou um curto tempo em silencio. – A segunda opção? As chances são grandes. Midnight é cruel demais para passar apenas o necessário para Anabelle, e Midnight gosta da crueldade, é o que a motiva a lutar todos os dias pela segurança de Anabelle, e a mesma ainda está – assim como voce – começando a criar sua própria personalidade, então as chances da influencia ser grande é realmente preocupante.

– Não tem como deter isto?

– Há vários meios, mas tende partir de Anabelle. Ela que deve manter em sua cabeça suas ideias firmes, o que é certo e o que é errado, o que ela é e não é, o que quer ser e não quer ser. Tudo depende dela. É claro que as amizades e famílias influenciam. Agora, mais do que nunca, Anabelle precisará de apoio emocional.

– É como eu disse: Midnight não é boa para Anabelle.

– Essa não é a questão, Harry. – Dumbledore disse com serenidade – Se Midnight não fosse boa para Anabelle, a mesma não teria a ligação que tem com ela.

– Então como ela pode ser boa para Anabelle sendo que irá influenciá-la a fazer o errado?

– Ela não fará porque quer, fará naturalmente e sem perceber, como eu lhe disse. Porém tudo depende de Anabelle também, se ela será forte o suficiente para isso. É para isso que existem os níveis Harry, para testar o bruxo. Os lâncatropos nasceram naturalmente mais fortes fisicamente e emocionalmente, completamente inabaláveis, nós humanos é que somos seres de fácil persuasão. Para se estar com um lâncatropo como guardião, voce precisa ser forte o suficiente, como o lâncatropo é. Você precisa merecer a proteção. De certo modo, isso é bom. – Dumbledore refletiu por um tempo – Faz com que as pessoas sejam mais fortes ou encontrem a força que não acham que possuem.

Eu sabia que Anabelle poderia passar por isso... Mas será que ela sabia?

– Ela sabe de tudo isso? – perguntei por fim.

– Tem uma ideia. Só não sei se ela quer encarar isso.

* * *

Por mais que a conversa com Dumbledore tenha aliviado muitas de minhas duvidas eu ainda andava mecanicamente pelo castelo, era a ultima semana e todos já estavam se preparando para partir. Meu humor continuava o mesmo, embora eu não queria demonstrar a ninguém, assim como também não deixava que ninguém tocasse no assunto. Andava irritadiço também, mas eu poderia dizer que, em partes, o que me aliviava era que eu tinha Ron, Hermione e Belle comigo... De certo modo eu sabia que não precisava passar por isso sozinho... Embora não fosse chorar no ombro de ninguém.

Era o ultimo dia de aula e eu vou ser sincero, não queria nunca ir, aqui era meu lugar, mais do que nunca. A ideia de que eu não iria morar mais com Sirius ainda doía em mim... De que eu teria que voltar para os Dursley, que minha única saída daquele lugar tinha se evaporado, a minha única chance de me sentir em alguma familia de verdade, de ser feliz de verdade em algum lugar, de poder chamar a minha casa de lar, tinha partido... E que não voltaria mais.

O dia estava bonito demais para me despedir de Hogwarts, bonito demais para um humor tão baixo como o meu. Sentado em uma arvore, perto do lago negro, era que meus pensamentos melancólicos e dramáticos corriam á solta.

– Harry? – uma voz suave, e que eu reconheceria de longe, disse atrás de mim. Depois do que aconteceu no Departamento eu e Anabelle não havíamos conversado muito, ela estava enfrentando seus problemas com seu pai enquanto eu curtia a minha monotonia.

– Oi, Belle. – falei olhando para cima e cobrindo meus olhos, pois o sol estava bem de frente para mim.

– Posso me sentar com voce?

– Claro! – dei um espaço para ela. Logo fiquei nervoso, como sempre ficava quando ela estava comigo. Olhei para ela, que possuía olhar sério. De repente os pensamentos melancólicos e depressivos se esvaíram e minha cabeça se preencheu com ela.

– Eu... – pigarreou – Eu... Er... Sinto muito por Sirius.

– Ah... Sim. – falei seco.

Anabelle se remexeu desconfortável, então se virou para mim. Encarou-me diretamente dentro de meus olhos, firme, calorosa, pura como ela mesma era. Então levantou a mão e tocou meu rosto, suavemente, senti apenas as pontas de seus dedos finos e macios. Um tremor se passou por todo o meu corpo, meu coração se acelerou e eu senti uma paz inundar-me, um sentimento de tristeza também. Minhas feições se contorceram em dor, pela primeira vez. Dor. Não raiva, nem tristeza. Dor. A mão de Anabelle se tornou mais firme e então foi para minha nuca, gentilmente senti sua mão me puxar e então eu estava encostado nela, braço com braço. Abri meus olhos e encarei os dela, méis derretidos em calor, acolhedores. Deixei-me levar, deixei que ela me acolhesse ao seu modo.

Não houve abraço de pena, compaixão ou qualquer outra coisa, foi apenas sua mãos em meu rosto, seus olhos demonstrando tudo o que eu mais queria ver naquele momento. Acolhimento.

– Não quero passar por isso sozinho. – revelei depois de um longo tempo, tão longo que o sol já tinha se recolhido, só havia o céu rosa e alaranjado.

– Você não vai, nem que quisesse. – sua voz foi como um sopro em meu ouvido, só para mim. Talvez eu estivesse muito sentimental para que notasse tudo deste modo, mas isso me confortou. Era o que eu precisava.

– Eu preciso de voce... Mas sei que não deveria.

Anabelle pendeu levemente a cabeça de lado.

– Você-Sabe-Quem voltou Anabelle. – pela primeira vez eu não queria dizer seu nome, ele não combinava com esse momento, com o que eu estava sentindo. Se eu o falasse agora, seria como sujar tudo o que senti até agora.

– Eu sei, eu estava lá.

– Ele virá atrás de mim, atrás de quem me importo.

– Então eu estarei pronta. – falou firme.

Minha mão acariciou suavemente sua bochecha rosada. – Acho que não quero que esteja pronta, não quero que tenha que passar por o que quer que venha.

– Todos vão passar Harry, até quem não tem nada a ver conosco. – sorriu de forma mansa. – É só uma questão de perspectiva. Eu estaria, de qualquer jeito, com um alvo na minha testa. Você e Dumbledore são os alvos...

– Você comigo se torna um alvo maior, tem noção disto, não tem?

– Tenho completa noção, desde que passei a me importar com voce. – sua mão desceu para minha nuca novamente, brincando levemente com os cabelos que ali havia.

Eu não insistiria nada, porque sabia que não queria ela longe de mim, eu a queria por perto e ela tinha a completa noção dos perigos que haveria... Então não seria eu quem me afastaria, eu esperaria, se ela se afastasse eu a deixaria ir, mas enquanto ela estivesse comigo... Eu aproveitaria cada momento.

Agora sim o verdadeiro desafio começará. Agora eu não estava pronto para ele, a recente morte de Sirius ainda estava me rondando, mas ela passaria, a cicatriz se fecharia e assim que acontecesse eu estaria intacto e eu lutaria para que a cicatriz se fechasse o mais rápido possível.


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