A Vilã Morre No Final . escrita por Liz03


Capítulo 24
24) É sempre bom sair para arejar as idéias




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Acelero depois de passar pelo batalhão. Falei demais? Talvez,mas era preciso.Se quero me aproximar de Daris preciso conquistar sua confiança, e para receber isso preciso primeiro dá-lo mais de mim. É bem verdade que eu trapaceei em alguns pontos da história, mas ele não queria a realidade,só precisava achar que estava descobrindo algo sobre o desconhecido - que no caso sou eu .

É segunda-feira e Lisboa caminha para às 18:00 horas. O céu vai derretendo e escorrendo por algum lugar. Eu não sou um pedaço de papel, nem um  bloco de concreto. Eu sou uma mulher, que trabalha para uma organização sigilosa, que atira com qualquer arma que você possa imaginar, que dá um cruzado de esquerda muito mais eficiente do que muito marmanjo  por aí, mas ainda assim uma mulher. Você pode ignorar desejos, sentimentos, medos, mas eles não vão desaparecer.

E eu sinto, sinto muito, em ter que arruinar um homem como Tomás Daris. Com tantos cafajestes, inescrupulosos e safados em cada esquina, eu tenho que ferrar com um cara de bem.Por essas e outras que a algum tempo eu decidi fazer dos últimos dias de vida do calouro momentos felizes.

Na verdade, tecnicamente, eu não deveria levá-lo para o chalé , afinal a propriedade é realmente minha, e o treinamento diz que não devemos associar o personagem a vida real, mas às vezes é bom variar as regras, confere?

Tecnicamente, eu devia manter uma distância segura para me preservar. Mas eu vou , no fim das contas, acabar com a vida dele e vou ficar pensando em me preservar? O egoísmo não é tanto.

Sigo dirigindo pela avenida Ulisses contornando a praça príncipe perfeito e seguindo pela avenida Dom João II, finalmente chego ao Vasco da Gama. Subo até o terceiro piso, sento numa mesa do Portugália e peço um chope. Espero a ligação que, obviamente, virá.  Essas são as vantagens de conhecer o procedimento.

- Mais um por favor – digo esticando o braço para chamar o garçom

O celular vibra encima da mesa.

- Cortês? – a voz de sempre

- Sim

- Qual a justificativa para a quebra do procedimento?

- A quebra do procedimento é autoexplicativa – digo sabendo que estou irritando a voz de sempre, sim, isso me diverte

- Defina a autoexplicação, por favor – viu? A voz está irritada

- Quer que eu explique a autoexplicação? – ainda bem que ele não vê meu sorriso pelo celular

- Sim

- Bem, sendo assim, é simples: preciso me aproximar do alvo para obter sua confiança

- A infração vais ser analisada, estaremos em contato

E desligou. Isso quer dizer que eles vão ver se meus motivos valeram a pena, sei que vão deduzir que valeram sim, mas deixa eles trabalharem. Mais um chope. Volto até o apartamento da lapa. O cheiro de mofo ainda está no ar, embora consideravelmente amenizado.

O apartamento é bem diferente do que fico no Brasil. Bem menor, o que me agrada, um quarto, um banheiro, uma sala e uma cozinha, ponto. Um sofá preto, estantes com livros, CDs e DVDs que gosto de ter nos meus apartamentos para me distrair quando não estou trabalhando. Um fogão, uma geladeira, um microondas e uma mesa de granito presa a parede na cozinha. Nada de banheira, só um chuveiro e uma pia no banheiro. Uma cama de casal, uma cômoda e ar condicionado. E pronto.

Coloco uma música qualquer, pego um livro que comecei a ler sobre psicologia populista e me esparramo no sofá. Hoje vai ser é segunda com gosto de domingo, dia de ficar esparramada em algum lugar usando roupas velhas e folgadas (nem sempre limpas...hum).

********************

Chego ao apartamento ensaiando passos de uma dança da vitória inventada por mim. Pulo na cama que balança ameaçando desmontar e respiro fundo algumas vezes repassando os acontecimentos do fim de semana. O que deu naquela mulher? Noooooooooooossa! Aaaaaah mulequeee! Seja lá o que tenha dado nela que continue assim por um bom tempo.

Batidas na porta me despertam de uma relembrança e eu me levanto de má vontade.

- Ah, oi Alex

- Oi, Tomás – ela olha discretamente para dentro do quarto – Eu vim aqui ontem lhe chamar para sair mas você não estava...

- É, é – digo limpando a garganta para voltar a falar – Eu saí

-...hum, entendo, só pensei em lhe convidar para irmos ao porto essa noite, já que não tem treino hoje – diz se apoiando em um lado da porta, só então percebo que ela já está pronta para sair, cabelo solto e sem a farda

- Ah, eu agradeço muito pela consideração - coço a cabeça – Mas eu to meio cansado e acho que vou ficar por aqui mesmo, mas valeu

- O fim de semana foi bom? – ela pergunta tão rápido que não tenho muito tempo para pensar

- Sim – respondo com uma risadinha (que não deveria ter saído da minha boca) envergonhada

- Hum...

- Foi...divertido – sorriu mais um pouco na falta de palavras melhores para encerrar a conversa

- Certo – ela põe as mãos para trás e enrola os cabelos para depois soltá-los novamente – Fica para a próxima então, não é?

- É , mas valeu mesmo

- Tchau – ela se aproxima e me dá um beijo na bochecha – Não me escapa da próxima – diz por fim e quando tento assimilar algo para responder ela já está fora do meu campo de visão

Mexo na mala procurando um dos vários livros que eu trouxe. Pego um no meio deles, um que trouxe lembrando que estou em Portugal, poemas de Florbela Espanca. Abro uma página qualquer, e o acaso me detém com uma poesia chamada Confissão. É assim:

Aborreço-te muito. Em ti há qualquer cousa
De frio e de gelado, de pérfido e cruel,
Como um orvalho frio no tampo duma lousa,
Como em doirada taça algum amargo fel.

Odeio-te também. O teu olhar ideal
O teu perfil suave, a tua boca linda,
São belas expressões de todo o humano mal
Que inunda o mar e o céu e toda a terra infinda.

Desprezo-te também. Quando te ris e falas,
Eu fico-me a pensar no mal que tu calas
Dizendo que me queres em íntimo fervor!

Odeio-te e desprezo-te. Aqui toda a minh’alma
Confessa-to a rir, muito serena e calma!
……………………………………………………..
Ah, como eu te adoro, como eu te quero, amor!…

Sorriu sozinho, depois gargalho. A psicologia diz que, sozinho, ninguém é normal. Mas dessa vez o advento não é da psicologia, é da Florbela Espanca mesmo.


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Notas finais do capítulo

Oie, oie, oie,
Desculpa aí a demora mas ainda to me adaptando a faculdade e tudo mais, se você chegou até a aqui ( como não sei) pelo menos diga como está a fic através de um delicioso comentário 8 D
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bJOS espero que estejam gostando
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ai
por favor
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