X – x Uma Semana Depois x – X

– Layla vem aqui! – disse Leticia para mim, lá da sala.

– O que foi? – perguntei, parando ao seu lado.

E havia acabado de chegar do hospital, havia tirado os curativos e agora podia mover meu braço livremente, não doía mais.

Segui seu olhar, sua expressão era tensa e ela olhava fixamente para a televisão, me assustei quando vi.

Estava passando uma notícia sobre mim em um programa de entretenimento.

– Todos os fãs de My Chemical Romance sabem que a namorada de Gerard, Layla Lee Phillips, estava no hospital por causa de um acidente – disse a apresentadora. – Mas ontem foram divulgadas algumas imagens de Gerard e Layla juntos. Podemos ver que ela estava com o braço imobilizado, resultado do atropelamento que aconteceu há algumas semanas, mas fontes dizem que eles foram vistos novamente hoje no hospital, e que ela teria saído sem nenhuma tipóia – enquanto ela falava, eram exibidas fotos de Gerard e eu em frente ao hospital na semana passada.

– Oh Lord! – falei.

– Todos ficamos felizes ao ver a recuperação dela ­– ela sorriu. – Mas não foram estas fotos as mais comentadas, está foto foi tirada em frente à uma farmácia em Nova York – agora era mostrada uma foto que eu daria tudo para apagar.

Na foto eu estava abraçando Brendon, e Gerard se encontrava admirando a cena há alguns metros de distância, com olhar irônico, e eu fazia uma careta brava para ele. Para quem não estava a par da situação que ocorria naquele momento, parecia que eu estava tentando provocar ciúme em Gerard. Tudo havia acontecido uma semana atrás, eu mal me lembrava daquilo.

– Que foto é essa? – perguntou Leticia.

– Eu explico isso depois – sussurrei.

– Bem, a imagem é um pouco comprometedora – disse a apresentadora. – A cara de Gerard não parece das melhores, e Brendon e Layla parecem muito íntimos ali.

– O que é isso? – perguntou Gerard, chegando à sala e parando bruscamente ao meu lado.

– Sinceramente? Nem eu consegui entender – disse Leticia.

– É um grande mal entendido que não dá para explicar – falei.

Alguns instantes de silêncio, terminamos de ver a matéria e depois Gerard suspirou.

– Tudo por causa de um abraço – ele disse indo novamente ao meu quarto.

– Gerard, espera aí! – falei, indo atrás dele.

– Eu... eu... Eu preciso ir para casa, Layla – ele disse calçando os sapatos.

– Não, não precisa – falei, fechando a porta.

Nesse momento nossos celulares começaram a tocar simultaneamente.

– Droga! – resmunguei, olhando no visor do celular e vendo que se tratava de um número desconhecido.

Gerard pegou meu celular e viu o numero.

– É do programa da televisão – ele disse, jogando meu celular na cama.

– Você não vai ficar irritado, não é? – perguntei.

– Por que estaria? Só por que todos estão pensando que minha namorada me trai na minha frente e eu não faço nada? Ah, imagina Layla – ele disse irônico.

Ele andava pelo meu quarto, revirando as almofadas, procurava algo.

– Gerard, eu... Dá pra parar e me ouvir, um minuto se quer? – quase gritei.

– Eu estou procurando minhas chaves, ta legal? – ele disse, parando e falando no mesmo tom.

– Você não vai a lugar algum agora! – falei, trancando a porta e colocando a chave em meu bolso.

– Eu preciso ir, tenho que atender vários telefonemas agora – ele respondeu.

– Não, não vai!

– Layla, me deixa ir, droga! – ele gritou.

O encarei seriamente, sem expressão por alguns segundos, ele achou a chave do carro e virou-se para mim, vendo minha expressão.

– Olha... – ele começou.

– Você disse que nunca mais ia me deixar, não lembra? – disse, quase num sussurro.

Ele não respondeu.

– Vai de uma vez – falei, abrindo a porta.

Ele caminhou lentamente até a porta.

– Gerard! – o chamei.

Ele virou rapidamente para mim.

– Está esquecendo uma coisinha – falei, caminhando até ele.

Tirei o anel que ele havia me dado e coloquei no bolso de sua jaqueta.

– Faça-me o favor, Layla – ele disse, pegando o anel.

– Faça-me o favor você! – estourei. – Você prometeu que não me deixaria nunca mais, e o que está fazendo agora? Me diga! Você está indo! Me deixando!

– Não, eu não estou lhe deixando! – ele gritou. – Eu estou indo para a minha casa, você que tirou o anel!

– Eu não acredito que vocês estão brigando por causa daquilo – disse Leticia, aparecendo de repente na porta.

Olhamos para ela, irritados.

– Layla acabou de sair de um coma, passamos semanas sem ela, os dois sofreram com isso, e agora que podem ficar juntos e felizes para todo o sempre... Vocês arranjam algum probleminha e o transformam eu uma catástrofe mundial! – ela esbravejou, gritando.

Ficamos sem reação.

– Com licença, tenho que terminar de lavar a louça – ela sorriu como se não tivesse dito nada e deu-nos as costas.

Ficamos ali parados por alguns instantes, em silêncio.

– Talvez ela tenha razão – ele sussurrou.

Olhei para ele, Gerard deu um leve sorriso torto, continuei séria. Fechei a porta bruscamente e o encarei.

Gerard caminhou lentamente até mim, pegando levemente a minha mão e colocando o anel novamente em meu dedo, não demonstrei nenhuma reação.

– Layla, eu prometo...

– Pare com promessas – o interrompi. – Você pode não conseguir cumpri-las.

Ele não respondeu, apenas suspirou e tocou meus lábios com os dele.

Droga, eu tinha realmente saudade daquilo, e ele sabia muito bem que conseguia tudo que queria de mim se me desse um único beijo.

– Você sabe que é um idiota, não é? – perguntei, me afastando.

– Eu sou um idiota – ele disse, tocando meus lábios novamente.

– E não deve ter apanhado o suficiente quando era criança – me afastei novamente.

Ele riu.

– Gerard, eu estou cansada disso – falei.

Ele parou, me olhando fixamente.

– O que quer dizer com isso? – ele perguntou, unindo as sobrancelhas.

– Exatamente o que eu disse – sussurrei. – Estou cansada desse vai e volta, dessas brigas sem sentido, e principalmente de você achar que pode mudar tudo com um beijo.

– Está cansada de mim então? – perguntou.

– Não, é claro que não Gerard! Eu te amo mais que tudo! – falei.

– Então qual é o problema¿

– É tudo! Tudo conspira contra a gente, e ao mesmo tempo a favor!

Uma lágrima rolou em meu rosto, Gerard a secou com o polegar, acariciando meu rosto.

– Não era pra doer tanto – choraminguei.

– O que? – ele perguntou, confuso.

– O amor – falei. – Não devia doer tanto assim, não é o certo, tinha que ser mais fácil!

Abracei Gerard com toda minha força, não precisava mais me preocupar com ferimentos, eles mal apareciam agora, e o braço também não doía mais.

Beijei Gerard com ferocidade, eu estava irritada com aquela situação e triste com o rumo que nossas vidas estavam seguindo, eu não podia abraçar um amigo que isso se tornava uma manchete em um jornal, uma matéria em um programa de televisão.

– Não desista, por favor, Layla – Gerard pediu, ele parecia chorar.

– Gerard... – funguei.

– Por favor! – ele pediu.

Beijei-o novamente, eu podia sentir o gosto doce de seus lábios entrando em minha boca e indo direto ao meu cérebro, me deixando anestesiada por completo.

– Olha, nós vamos nos casar, chega de brigas bobas, e eu prometo confiar em você – ele disse. – Vou até tentar aturar o seu amiguinho, e vamos esquecer tudo isso...

Apenas concordei com a cabeça.

– Vamos ser um casal normal, Layla, como todos os outros – ele sorriu torto.

– Isso é possível? – perguntei, derramando mais lágrimas.

– É claro que é! – ele as secou. – Nada vai separar a gente, eu prometo.

– Promete mesmo, Gerard? – pedi.

– Eu prometo – ele disse cada palavra lentamente.

Abracei-o novamente, doía por dentro saber que tudo que eu fizesse estaria sendo observado e eu não poderia ser livre como sempre fui, pois podia atrapalha Gerard, e a banda também.

Passei o resto do dia ali com Gerard, no quarto, deitados em silêncio na cama. Desligamos os celulares e a televisão, não queríamos saber de nada que estivesse acontecendo do lado de fora daquele apartamento.