Na segunda-feira Gerard passou para me buscar na loja, fomos o caminho todo conversando sobre Leticia e Mikey.

– Falou com ele? – perguntei.

– Sim – ele respondeu.

– E o que ele disse?

– Ele disse que entende o que ela está sentindo e que se ele soubesse que isso tudo aconteceria, não teria feito nada no dia do festival.

– Sabe, eu entendo Leticia – falei.

– Como assim? – ele ficou curioso.

– Ela queria uma coisa mágica e não teve, deve ser algo frustrante para ela.

– Posso perguntar uma coisa? – ele disse depois de alguns instantes em silêncio.

– Claro.

– Você já... – ele não precisou terminar a frase para eu entender.

– Não – respondi.

Ele ia dizer alguma coisa, mas meu celular tocou, era um número desconhecido, atendi para saber quem era.

– Alô? – atendi.

– Layla? – uma voz masculina falou.

– Sim, quem fala? – perguntei.

– Aqui é o Brendon – ele respondeu.

– Ah, olá Brendon! – falei.

Percebi que Gerard olhou para mim quando falei o nome dele.

– Queria saber se você vai estar livre sexta-feira à noite – ele disse.

Um nó trancou minha garganta.

– Bren... Bre.. Brendon – gaguejei. – Eu vou estar ocupada – menti.

– Ah, okay – ele não acreditou, eu percebi. – Quando estará disponível?

– Não sei, é que eu ando muito ocupada na loja e sempre volto cansada pra casa, não tenho praticamente nenhuma noite livre – menti novamente.

Gerard olhou novamente para mim, provavelmente deduziu o que Brendon estava querendo e de uma leve tossida, como que não queria nada. Mas percebi que ele havia ficado irritado com aquilo.

– Olha Brendon, prometo que quando eu estiver disponível e te ligo, okay? – menti novamente.

Eu não ligaria para ele.

– Claro, vou ficar esperando – ele disse, e depois desligou.

Coloquei meu celular em minha bolsa e depois fiquei em silêncio.

– Quem era? – perguntou Gerard, sua voz sem emoção alguma.

– Brendon, um amigo meu – falei.

– O que ele queria?

– Nada – menti.

– Uhum... Eu não ligo para as pessoas para falar “nada” – ele disse.

– O que acha que ele queria? – perguntei.

– Parecia que ele queria um encontro – ele disse, agora sua voz estava irritada.

– Bem, então você já sabe o que ele queria, não preciso responder nada – tentei encerrar o assunto.

– E você fala assim, normalmente, que o cara queria sair com você? – ele quase gritou.

– Não fui eu quem falou, foi você – retruquei.

– Não venha com deboche – ele disse.

– Não estou sendo debochada, estou sendo realista – falei, agora irritada.

– Você nem se quer recusou o pedido dele – ele gritou agora.

– Como não?! – gritei também. – Eu disse que estava ocupada, poxa, ele é meu amigo, não quero perder a amizade dele!

– E pra isso você tem que dar bola pra ele?

– Eu não dei bola pra ele! – gritei.

– Layla, se aquilo não foi dar bola para ele, eu não sei mais o que foi!

– Você não pode falar nada! Pensa que eu esqueci de você e do Frank no maior papinho com aquele Jessica?

– Isso é completamente diferente! Ela é nossa amiga! Amiga da banda! – ele gritou.

– E o Brendon também é meu amigo, amigo das meninas também – retruquei novamente.

– Mas ele quer mais do que apenas amizade!

– Ah, e a Jessica não queria? Faça-me o favor, Gerard! Ela estava praticamente se jogando em cima de você!

Ele continuou falando e gritando, até que eu me enchi disso.

– Pára esse carro! – gritei.

– Pra que? – ele gritou.

– Porque eu quero descer, pára esse carro agora! – quase cuspi as palavras.

– Eu não vou parar droga nenhuma, Layla! Você está ficando louca! Estamos longe da sua casa e você nunca vai conseguir um táxi essa hora – ele disse, irritado.

– Dane-se, eu quero ir caminhando – menti.

– Você só está fazendo isso para me irritar – ele gritou.

– Desculpe lhe informar isso, Gerard, mas o mundo não gira em torno de você!

– Eu sei disso, mas também sei que você está sim fazendo isso para me irritar – ele disse.

Inconscientemente coloquei a mão na maçaneta da porta e tirei meu cinto, fazendo menção em sair do carro mesmo com ele em movimento.

Gerard puxou minha mão rispidamente, ele deve ter mesmo acreditado que eu abriria a porta e pularia do carro.

– Está ficando maluca? – ele gritou, irritado.

– Eu não iria pular – falei.

– Bem, não foi isso que pareceu!

Não via a hora de chegar em casa e sair desse carro. Ele continuava falando, mas não me dei ao trabalho de responder.

Assim que estacionamos em frente ao prédio eu saí do carro, batendo a porta com todas as minhas forças. Ouvi ele bater a porta dele também.

– Me deixa, Gerard! Vai pra sua casa! – gritei.

Ele não respondeu, apenas continuou vindo atrás de mim. Ao invés de pegar o elevador, fui pela escada para não precisar olhar para ele, Gerard veio atrás de mim.

Cheguei ao apartamento 527 e tentei bater a porta na cara dele, mas Gerard à segurou.

– Gerard, a gente se fala outra hora, me deixa! – gritei.

– Nem pensar, agora a gente vai terminar esse assunto – ele disse.

– Nem morta! Não quero mais falar sobre isso – rosnei.

Leticia chegou à sala e viu toda nossa discussão.

– O que aconteceu? – ela perguntou.

– Gerard deu um ataque de ciúme por causa do Brendon! Do Brendon! – gritei.

– Ela deu bola pra ele! – ele retrucou.

– Não dei não! – respondi. – Eu teria dado bola para ele se tivesse aceitado o convite para o jantar, mas eu não aceitei! E sabe por quê? Em respeito a você! Mas agora você vem me atirando pedras assim!

– Você podia ter simplesmente dito a ele que não aceitava, mas não! Você preferiu dizer que ligaria quando estivesse livre! Você criou expectativas nele, querendo ou não, um dia ele vai te ligar novamente!

Eu não havia pensado nisso, mas também não achava que Gerard estivesse com a razão.

Bufei e corri para meu quarto, Gerard tentou me segurar e Leticia gritou para que eu voltasse, mas a púnica coisa que eu queria agora era sumir, não precisar mais ouvir ninguém.