Layla estava fitando o chão, sem expressão, parada à minha frente. Esperei que ela falasse alguma coisa, mas percebi que eu é que teria de dar o “primeiro passo”.

 - Layla... – comecei, mas depois parei, sem saber o que falar.

 - O que você quer que eu diga? – ela perguntou, quase em um sussurro, mas sem olhar para mim. – Você estava beijando ela...

 - Não foi minha culpa! – eu estava indignado com esta situação. – Ela que me beijou!

 - É sempre essa desculpa! – ela rosnou, agora olhando para mim.

 - Mas é verdade! – insisti.

 - E eu finjo que acredito! – ela quase gritava.

 - Quer saber? Pense o que quiser, Layla! – falei sem pensar.

 Ela encarou-me incrédula, como se eu tivesse acabado de falar a maior insanidade do mundo.

 - Então não vai tentar se defender, não é? – ela pareceu querer confirmar algo.

 - Vai adiantar em alguma coisa? – devolvi a pergunta.

 Layla não respondeu, virou-se lentamente para a porta, como se fosse sair, mas de repente parou. Encarei suas costas por alguns instantes e vi que ela deu um grande suspiro.

 De repente Layla virou-se na minha direção, pegando a primeira coisa que vira pela frente – uma saboneteira – e arremessou contra mim. Esquivei-me rapidamente, abaixando-me e ouvindo o objeto se espatifar contra a parede acima de mim, pensando que podia ser o meu crânio quebrando se eu não tivesse me abaixado.

 - Enlouqueceu? – perguntei a Layla, atordoado. – Podia ter me machucado!

 - Não seria mais que o merecido! – ela gritou, virando-se novamente para a porta e desta vez saindo.

 Encarei a porta aberta por alguns instantes, olhei para a saboneteira, quebrada em diversos pedaços, agora no chão.

Ela tentou me matar!, pensei.

 - Gerard? – uma voz chamou na porta, olhei rapidamente e era Mikey, acompanhado de Frank.

 - Layla foi pra lá? – quis me certificar.

 - Sim, ela passou direto pela área de festas e foi até a cozinha onde Leticia, Aline, Diana e Linda estão – Mikey respondeu.

 - Sua mãe já chegou? – perguntei a Frank.

 - Sim, ela chegou alguns minutos depois da briga – ele respondeu-me.

 - Layla tentou me matar – falei, apontando para a saboneteira quebrada.

 - Ela apenas está irritada, Gee – Mikey tentou me tranqüilizar. – Logo ela vai esquecer isso.

 - Eu não teria tanta certeza... – disse. – Ela nunca foi agressiva, muito menos agrediu alguém fisicamente.

 - Mas também pudera! – Frank deu uma leve risada. – Ela nunca havia visto você aos beijos com outra mulher.

 - Cale a boca, Frank – revirei os olhos.

 - Não me mande calar a boca, se não eu não deixo você comer os doces – Frank ironizou.

 - E os doces estão muito bons – Mikey completou.

 - Como você sabe? – Frank perguntou a ele.

 - Ah... eu... – Mikey gaguejou. – Comi um.

 - Eu mandei você largar os doces, Mikey! – Frank rosnou.

 - Isso é injusto, Frank! – Mikey fez birra. – Os doces são para todos!

 - Como levamos a conversa sobre a minha briga com Layla para os doces da festa? – interrompi-os.

 - Tem razão, vamos nos concentrar no problema de Gerard e Layla – Frank concordou. – Minha mãe não sabe dessa confusão, então vamos tentar manter as aparências.

 - Fale isso para a Layla! – bufei.

 - Vou conversar com ela – Frank tranqüilizou-me. – Por favor, evite contato visual com Lindsey, okay?

 - Okay – concordei.

 Segui Mikey e Frank até a área de festas novamente, vi pelo canto dos olhos Lindsey encarar-me, mas tentei não prestar atenção nisso, apenas sentei-me em uma cadeira, Mikey sentou-se ao meu lado e Frank seguiu até a cozinha, onde provavelmente Leticia, Aline, Diana e Layla estavam.

 Todos ali presentes estavam um tanto desconfortáveis com aquela situação, mas tentavam disfarçar.

 - Quente aqui, não é? – Jimmy comentou.

 - Pois é... – concordei.

 - Gerard! – ouvi uma voz feminina e familiar chamar-me animadamente.

 Olhei rapidamente e vi que era Linda, a mãe de Frank. Ela vinha da cozinha sorrindo, de braços abertos para me abraçar.

 - Ora! Quanto tempo! – sorri, levantando-me.

 - Você está mais magro... – ela disse enquanto abraçava-me. – Anda comendo direito, mocinho?

 - Está parecendo minha mãe – ri. – E sim, eu estou comendo direito.

 - Falei com Donna há alguns dias atrás e ela disse que está com saudades de vocês! – ela sorriu.

 - Iremos visitá-los em breve – disse apenas.

 - Ah, parabéns pelos graciosos bebês, Gerard! São lindos! – ela riu.

 - Puxaram ao pai – brinquei.

 - Muito modesto – ela revirou os olhos. – Bem, vou voltar à cozinha, acho que devem estar precisando de mim.

 Linda deu-nos as costas e seguiu novamente até a cozinha, sentei-me novamente ao lado de Mikey e suspirei pesadamente, voltando ao tédio.

 Logo Frank voltou da cozinha, sorridente.

 - Logo, logo poderão comer os doces – ele sorriu. – Exceto você, Mikey, que já comeu. Falta apenas uma convidada que acabou de ligar e chegará em, no máximo, dez minutos.

 - Quem é essa convidada? – Mikey perguntou.

 - Não é da sua conta, Devorador de Doces – Frank deu de ombros.

 - Não fale assim com ele, Frank! – ouvimos Linda gritar da cozinha.

 - Como ela ouviu? – Frank ficou indignado.

 Frank sentou-se na cadeira vaga ao meu lado.

 - Como foi a conversa com Layla? – perguntei baixinho.

 - Bem... Acho que vai ficar tudo bem – ele suspirou.

Espero, pensei.

***

Layla’s P.O.V.

 Passei pela área de festas sem olhar para ninguém, não queria correr o risco de avançar sobre Lindsey novamente. Fui direto para a cozinha, onde Leticia, Aline e Diana estavam olhando-me assustadas.

 - Ouvimos alguns gritos e Frank veio aqui dizer que você e Lindsey brigaram! É verdade? – Diana perguntou.

 - Aquela vadia beijou Gerard! – rosnei, sentando-me em uma cadeira à mesa.

 - Como assim? – Leticia espantou-se.

 - Na verdade, eu não sei quem beijou quem, cada um fala uma coisa diferente, mas de um jeito ou de outro os dois trocaram saliva – resumi.

 - Que safada! – Aline indignou-se. – E depois? O que aconteceu?

 - Eu bati nela – falei. – Droga! Eu não fiz certo! Sempre odiei “barracos”.

 - Mas ela mereceu – Diana disse.

 - Se eu fosse você teria esmagado ela com um carro – Aline comentou.

 - Com um ônibus! – Leticia completou.

 - De que estão falando? – Linda, mãe de Frank, chegou à cozinha.

 - Nada – Diana disfarçou. – Uma cena de uma novela.

 - Vocês assistem novelas? – Linda riu. – Pensei que essa juventude só gostasse de internet.

 - Juventude? – Leticia riu.

 - Para mim vocês são novinhas – Linda deu de ombros, rindo. – Mesmo tendo filhos.

 - Mãe? – Frank entrou na cozinha.

 - Sim, bebê? – Linda disse.

 - Não sou bebê – ele revirou os olhos.

 - Desculpe – ela riu, bagunçando os cabelos do pequeno Frank.

 - Gerard está na área de festas, a senhora ainda não deu “oi” para ele – Frank disse a ela.

 Okay, Frank estava arranjando alguma desculpa para tirar Linda dali.

 - Oh! É mesmo! Vou lá cumprimentá-lo – ela sorriu, encaminhando-se à área de festas.

 - Okay – Frank suspirou. – Layla, minha mãe não sabe dessa briga, nem do beijo, então... Por favor, finja que está de bem com Gerard, seria muito triste para minha mãe se o primeiro aniversário de sua única neta fosse marcado por uma briga.

 Como eu poderia negar isso? Era importante para Frank, então eu acho que podia conter minha raiva por algumas horas.

 - Okay – suspirei.

 - Ah, eu amo você! – ele saltitou, abraçando-me com força.

 - Hey! – Diana fingiu ficar brava.

 - Gerard está mais magro! – Linda apareceu na cozinha novamente. – Layla, ele anda comendo bem?

 - Sim – ri um pouco. – Mas ele teve um início de anemia há algum tempo, então perdeu um pouco de peso.

 - Ele estava precisando – Frank debochou. – Estava sendo a bolhinha da banda.

 - Você não está muito atrás – Linda riu. – Engordou bastante, não é, bebê?

 - Mãe! – Frank indignou-se. – Estou magro e não sou bebê.

 - Desculpe – Linda riu novamente.

 Frank saiu dali, era engraçado ver como Linda irritava-o de propósito.