Yowane Haku tomou mais um gole. Suco de caju realmente acalmava o peito soluçante, ainda que não contesse as lágrimas correntes que escorriam por seu rosto vermelho. Ficava se perguntando de onde viera tanta água para despejar suas tristezas contidas.

Estava de joelhos em uma sala totalmente excluída da convivência  dos outros Vocaloids. Tinha que ficar sozinha - mais. Sua frustração, mágoa própria e pessimismo tinham alcançado o apce, de forma que não podia mais contê-los. Como se tivessem vida, as lágrimas caíam no chão formando uma pequena poça e pareciam intermináveis. Estava ali há mais de uma hora e aquilo não parava. Ela sofria ao mesmo tempo que sentia alívio. Ela implorava para que aquilo parasse e ao mesmo tempo durasse. Nada mais. Com a mente confusa tudo o que podia fazer era ficar ali.

 - Yowane?

Ela fingiu ignorar a voz profunda que ouviu às suas costas enquanto temia que o seu dono se aproximasse. Continuou a chorar e notando que o coração tomara o ritmo descompassado de antes, tomou mais dois goles longos de suco.

Quando ouviu passos rumo à ela, abaixou a cabeça e fechou os olhos como quem disesse "N-Não precisa vir aqui". Mesmo vendo aquela expressão, Akaito agachou na frente dela.

 - O que foi, Yowane?

Haku arriscou um olhar e topou com uma expressão alterada. Ele estava preocupado e aquilo só a fez chorar mais, desviando o olhar para o piso. Permanecendo mudo por alguns segundos para tentar não pressioná-la, disse com jeito:

 - Não precisa sofrer sozinha.

O choro novamente se intensificou com o aperto dado ao seu coração sofrido. Depois de mais soluços, esquecendo-se da bebida com a presença de Akaito, falou com dificuldade.

 - E-e-eu n-não q-quero... p-preocupar... ninguém!

Um sorriso no canto da boca dele.

 - Você não estará me preocupando. Eu quero saber. - retrucou, esperando que aquilo fosse argumento suficiente.

Os olhos cinzentos de Haku ergueram-se para ele com incerteza, ainda derramando lágrimas. Então ergueu o queixou deixando-os ainda mais aguados e atirou-se em Akaito sem pensar direito, chorando abertamente. Deixando a garrafa, segurando em seus ombros e com a cabeça colada ao seu peito, Yowane começou a impulsionamente contar tudo para o Vocaloid. Como se achava menor que todos, como considerava-se uma cantora ruim, como achava feia a si e a sua voz, como achava que nunca melhoria e assim por diante. Uma torrente de palavras soluçantes com mais uma torrente de lágrimas enxarcando a roupa branca.

Mas Akaito não se importou. Nem um pouco. Sorrindo com gentileza, abraçou-a enquanto simplesmente ouvia. Sabia bem que desabafar ajudava quando se estava triste e escutava cada palavra com atenção especial.

Como não ajudar alguém que você considera... especial?

Ele acariciou os cabelos cinzentos. Não tinha como.

Afinal, quem nunca precisou apenas ser ouvido?