O Teatro escrita por GabrielleBriant


Capítulo 19
Confiança




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"...razões para a sua esposa ficar! Apenas não olhe para ela e simplesmente diga que você comeu Narci---!"

O rosto do diretor, naquele momento, migrou de fúria para choque e, então, para angústia. Alvo não estava olhando para Severo – os seus olhos perdiam-se num ponto distante, do outro lado da sala.

Severo, então, virou-se. E lá estava Linda, estupefata, olhando com dor para Alvo. O coração de Severo passou a bater tão rapidamente que ele quase podia ouvi-lo no silêncio perturbador da sala.

Linda ofegou uma vez, e os seus olhos acinzentados voltaram-se para Severo.

- O que ele disse?

XIX

CONFIANÇA

Severo Snape sempre se vangloriou por ser um homem que pensava rápido. Servir a Ordem da Fênix por tantos anos como espião certamente aprimorou essa qualidade – quando ele tinha que agir, numa situação de perigo, sempre encontrava num piscar de olhos a melhor maneira de ajudar os seus companheiros sem pôr em risco o seu disfarce.

Talvez por isso ele tenha ficado tão surpreso por, naquele momento, simplesmente não saber o que fazer ou dizer; apenas conseguiu olhar pateticamente nos olhos da sua esposa e se perguntar o quanto ela ouvira.

"Eu sinto muito, Severo." – Soou a voz de Dumbledore, mas Severo a ignorou. Era como se apenas existisse Linda no local.

- O que ele disse? – ela repetiu, com a voz um pouco mais firme.

Severo respirou fundo e se aproximou.

- Linda, por favor---

- É verdade?

- Nós tivemos uma briga, Linda! Você disse que ia embora!

- Eu não pedi uma explicação, Severo! Eu perguntei se é verdade!?

Ele desviou o olhar.

- Sim.

- Olhe para mim! – Linda disse, com um ódio palpável em sua voz. Severo não obedeceu. – Olhe para mim! Seja homem! Eu mandei você olhar para mim! – ela se aproximou rapidamente. Com uma força que Severo desconhecia, apertou o rosto dele e o fez encará-la. Linda não chorava. Os seus olhos acinzentados estavam insanos de ódio e ela ofegava. Nunca parecera tanto uma Malfoy. – Agora diga! Com todas as palavras!

- Linda...

- Eu quero ouvir da sua boca, e não do estúpido retrato do homem que você matou! DIGA!

Severo não conseguiu negar.

- Eu dormi com Narcissa. Eu sinto muito que você tenha descoberto assim, Linda. Eu planejava lhe contar.

Linda tomou uma golfada de ar e deu dois passos para trás. O seu nariz quase imediatamente ficou avermelhado, mas ela não se permitiu chorar. Severo quis dizer alguma coisa – qualquer coisa – mas simplesmente não conseguia. Linda, no entanto, tinha muito que dizer. Com o rancor ainda mais evidente em sua voz, perguntou:

- Isso deveria me deixar aliviada? A sua sinceridade? – Os olhos acinzentados mais frios que nunca exigiram uma resposta. – Você pretende me deixar falando sozinha?!

Severo suspirou.

- Eu já disse: eu pensei que o nosso casamento estava acabado e---

- EU TAMBÉM! Eu também pensei que o nosso casamento estava acabado, mas dormi em minha cama! ! Eu não saí buscando consolo!

- Mas---

- E se eu tivesse saído, Severo?! Se a situação fosse invertida?! Você se sentiria melhor, se te contasse?! – Ele, mais uma vez, se calou. – Eu fiz uma pergunta!

- Não, Linda, eu não consigo sequer imaginar essa situação!

Ela sorriu amargamente e deu outro passo para trás.

- Claro que não. A sua esposa pertence a você, não é? A sua esposa dormir com outro homem é impensável; já você... foi apenas um lapso. Porque você achava que o nosso casamento estava acabado. Perdoável, não?

- Não é assim, Linda!

- É exatamente assim! – Riu-se. – Tem sido assim com todas as mulheres da minha família! Eu devo ter sido muito idiota por pensar que comigo seria diferente! – Riu mais uma vez, mais histericamente. – O que se passou em sua cabeça quando eu te pedi desculpas, hein? Essa manhã; quando eu fiz amor com você, desesperada para que você me perdoasse pelo que eu disse ontem? Você achou engraçado, ou apenas trágico?! Você sentiu pena de mim, ou de você mesmo?!

- Eu me senti péssimo!

- Mas isso não lhe impediu de prosseguir, impediu? Em algum momento você pensou em me parar e me contar que você tinha acabado de fazer amor com outra pessoa?!

- Eu não fiz amor com Narcissa!

Linda rolou os olhos.

- Mais uma vez, Severo, isso deveria fazer com que eu me sentisse melhor?! Qual será o próximo clichê? Você só faz amor comigo? Não significou nada para você...? – ele abriu a boca para responder, mas Linda o interrompeu. – Você nos comparou?

- Por Merlin, Linda!

- Eu apenas estou tentando descobrir quão canalha você é, Severo! Porque eu tenho que admitir: eu o subestimava! Eu não pensava que você seria capaz de dormir com a esposa do meu tio e, em seguida, voltar para casa e dormir--- ou melhor, fazer amor comigo!

- Linda, deixe-me---

- NÃO! Fique calado! Eu não quero ouvir o que você tem a dizer, Severo! Fique quieto!

Linda respirou fundo algumas vezes, aparentemente em busca de controle. Olhou para cima, impedindo que as lágrimas ousassem aparecer. Cruzou os braços. Com a voz mais calma, disse:

- Pelo menos você teve a decência de tomar um banho.

Cautelosamente, Severo se aproximou.

- Eu realmente pensei que o nosso casamento estava acabado.

- Você já disse isso. Várias vezes.

- Eu jamais trairia você.

- Mas traiu. Porque, enquanto eu pensava na melhor maneira de fazer as pazes com você, você dava um jeito de acabar com resquício de confiança que ainda tinha em você!

- Foi você quem disse que ia embora. Você disse... coisas terríveis. Nosso casamento já tinha acabado.

Ela riu.

- Você vai tentar pôr a culpa em mim?

- Não.

- Ótimo! Porque Narcissa não veio aqui pedir para te consolar... você a procurou! Quanto ao que você disse, Severo, era você quem me afastava cada vez mais com as suas atitudes e os seus segredos! Com as suas mentiras! Não... você não vai me culpar. Não por isso!

Linda, então, suspirou e saiu, adentrando na pequena sala de estar dos dois e fechando a porta com um baque.

"Eu sinto muito, Severo."

Foi apenas então que Severo sentiu raiva. Um ódio quase insano, que talvez estivesse guardado por anos. Ele virou-se para o retrato de Dumbledore com os negros crepitando.

- Saia, Dumbledore. E não apareça mais, a menos que seja chamado; ou, eu juro: eu destruo esse seu quadro e esquecerei todas as convicções que você está lutando para que eu mantenha!

Dumbledore não respondeu; ele apenas deixou o seu quadro.

Severo estava finalmente sozinho; e, sozinho, ele não tinha que se esconder. Ele descansou a cabeça entre as mãos, logo sentindo o seu rosto ficar úmido.

Antes daquele dia, Severo apenas chorara por uma mulher: Lílian. E as suas lágrimas geralmente se justificavam pela culpa que ainda o consumia, por ter causado a sua morte prematura. Era estranho, para ele, o momento pelo qual agora passava – a dor era a mesma que sentira no dia que descobriu que Lílian estava morta, talvez ainda maior, e as lágrimas vinham com a mesma facilidade.

Era estranho para ele, chorar por amor... chorar por causa de uma atitude que apenas causou uma ferida psicológica em alguém. Mas esse alguém era Linda; e ele era a pessoa que deveria protegê-la de toda e qualquer forma de sofrimento.

E ele sabia que, nos últimos tempos, estava fazendo um péssimo trabalho.

Severo respirou fundo e enxugou o rosto, recompondo-se. Lentamente, ele se levantou e começou a se encaminhar para a pequena sala de estar – sentia uma necessidade quase física de falar com a esposa.

Linda estava sentada no pequeno sofá. Ela não o olhou.

Severo se aproximou e se sentou ao lado dela.

- Eu não quero que você vá embora. Eu não quero perder você.

Linda ofegou – foi apenas então que ele soube que ela estava chorando. Quis abraçá-la, mas não ousou tocá-la.

- Como eu posso ficar, se todas as vezes que eu olhar para você, eu vou pensar no que você fez?

- Você não pode esquecer todos os anos que tivemos juntos por causa de uma noite.

- Não foi apenas uma noite. Eu não estou feliz! Já faz muito tempo!

- Nós podemos superar isso, Linda. Você disse isso hoje de manhã! Nós podemos superar qualquer coisa.

Linda respirou profundamente e enxugou as lágrimas. Encarou Severo quase com altivez.

- Você me ama?

- Claro que sim! – Ele respondeu exasperadamente, como seu fosse uma verdade incontestável.

- Mas como eu posso confiar em você agora?

Severo deu de ombros.

- Como você podia confiar em mim antes?

- Antes eu achava que tudo acabaria bem. E agora...

- Agora vai ser mais difícil, mas ainda é possível.

Linda soluçou, mas não deixou nenhuma lágrima cair.

- Você realmente quer isso, Severo? Qualquer coisa será motivo para uma briga épica; simplesmente porque eu não vou consegui voltar a confiar em você. Nada será como antes. Nunca mais.

- Mas nós podemos tentar.

- Podemos? Você pode me dizer, com sinceridade, que nós vamos ficar bem? Que nós esqueceremos o que aconteceu na noite anterior?

Ele achava que não.

- Eu tenho certeza.

Linda o olhou e sorriu amargamente.

- Fique longe de mim, Severo.

XxXxXxX

- Tem algo errado com o seu chá, Linda Marie?

Linda rolou os olhos, pousando a xícara ainda cheia sobre a pequena mesa que ficava quase no centro do jardim fechado de Cécile Boyer-Malfoy. Apesar de ser o início de um inverno rigoroso, naquela estufa gigante parecia plena primavera – e as flores que desabrochavam fora da época eram o orgulho de Cécile.

- Não, mamãe, eu apenas estou me perguntando se a senhora me ouviu?

- Claro que sim. Ouvi cada segundo tedioso em que você reclamou do seu marido. Ele passou a noite com outra mulher? Por Merlin, Linda Marie, ele é um Comensal da Morte! É assim que eles mostram virilidade para os seus companheiros!

Linda bufou.

- Eu realmente não sei onde estava com a cabeça quando vim te procurar!

- Quer ouvir a minha teoria?

- Por favor, mamãe.

- Você quis que alguém lhe desse uma visão prática da situação. Você quis ouvir conselhos de alguém que tem um casamento de verdade; um casamento como o seu. Isso porque os seus amigos iriam, inicialmente, reprimir você por ter se casado com Severo, depois dizer que isso era previsível e que você tinha que deixá-lo imediatamente. E, essa última parte, você não quer ouvir. E você sabe que eu jamais a diria.

- Como? Você está dizendo que eu tenho que voltar?!

Cécile crispou os lábios e se levantou. Elegantemente colocou a xícara intocada de Linda sobre uma bandeja de prata e a levou até outra mesinha, essa ao lado da porta de entrada do jardim e badalou um sino. Um dos elfos da casa apareceu imediatamente.

- Limpe isso.

Ela não esperou para que o elfo obedecesse – tão-logo deu a ordem, voltou ao seu local. Arrumando os cabelos ruivos num coque, disse:

- Eu estava dizendo que não se desiste de um casamento apenas por causa de uma escapadinha; a menos, é claro, que essa idéia já estivesse em sua cabecinha de vento, Linda Marie. Para nos envergonhar mais uma vez, eu suponho?

- Envergonhar vocês?

- Sim. Você fez isso, quando decidiu passar um tempo sozinha, em Paris. E fez de novo, quando se casou com um mestiço. E mais uma vez, quando decidiu que não teria filhos. Um divórcio parece a maneira perfeita para coroar a sua situação.

Linda se levantou, exasperada.

- Eu vou embora. Não sei o que vim fazer aqui.

- Volte para o castelo, Linda Marie! Ao menos tente. Eu sei como você se sente agora; eu já fui jovem.

- Mas você nunca foi apaixonada por papai!

Cécile levantou-se também, mas, como sempre, o seu rosto expressava calma.

- Ao contrário, minha filha. Casei-me sabendo que Marco era o homem da minha vida, e eu ainda o amo muito. Apenas já passei da fase de ter ilusões. Com um pouco de sorte, você e Severo sobreviverão esse período nebuloso e poderão ver a vida de uma forma um pouco menos utópica.

- Eu não quero ver o mundo como você.

- Você sempre lutou para ser diferente, Linda Marie. Mas nós somos iguais; seus esforços foram em vão. Pergunte a qualquer um.

- Adeus, mamãe.

E, sem querer ouvir mais nada, começou a se retirar. Quando estava perto da porta, no entanto, foi impedida pela voz de Cécile.

- Quanto ao que você veio me pedir, Linda Marie, essa casa é sua. O seu quarto ainda está intacto. No entanto, você nunca mais vai se sentir em casa... porque o seu lugar é ao lado do seu marido, e você sabe disso.

- Não, mamãe, eu não vou me sentir em casa porque você não consegue ser amigável! Eu vim porque não queria passar por uma separação sozinha; mas eu estarei melhor sozinha, do que com a senhora do meu lado!

- Você estaria sozinha mesmo que eu tivesse lhe colocado em meu colo e dito mentiras para lhe consolar.

- Adeus, mamãe!

- Mas eu posso fazer isso. Passe uma semana com o seu marido. Se você ainda quiser se separar, estarei aqui: esperando-te carinhosamente.

Linda jamais soube qual parte do discurso da sua mãe a convenceu; mas, naquele momento, ela começou a fazer o caminho de volta ao Castelo de Hogwarts.

XxXxXxX


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