Meus Pequenos Clones. escrita por Sayurin Konata


Capítulo 3
Se Maomé não vai até a montanha...




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Cristina levou um susto que a fez embaraçar nos cobertores ao tentar sair assustada de cima da cama. Aquele "Ouch!", que aliás fora duplo, parecia ter vindo justamente debaixo de suas costas e soava espantosamente humano. Mas... não tinha nada que fizesse aquilo no seu quarto!

Suando um pouco frio com o som repentino e finalmente em pé, tropeçou alguns passos até quase cair na cama ao lado. Girando os calcanhares, de súbito ela olhou para a outra. Não viu nada a não ser o de costume. Relutante, ela dirigiu-se de volta para olhar o colchão mais de perto. Aparentemente nada. Decidiu vasculhar as cobertas. Pegando as duas que lá havia, agitou-as e sacudiu-as no ar, ora com olho nelas, ora com olho na cama para ver se algo aparecia.

"Devo... ter ouvido alguma voz da rua.", constatou em pensamento. "Além do quê, estou bem cansada. Minha cabeça... deve ter confundido as coisas."

Esfregando os olhos para afugentar um pouco da exaustão e deixar os pensamentos clarearem um pouco, parou olhando para o chão. Tinha razão. Não deveria ter sido nada e mesmo assim perdera seu tempo fazendo uma bagunça ainda maior no seu quarto. Um suspiro profundo e então notou como suas costas doíam em um ponto. Massageando o lugar, franziu a testa. Provavelmente dera algum mau jeito. Não, parecia algo mais superficial do que aquilo. Mesmo assim, não tinha nada região da cama em que suas costas haviam pousado.

– Melhor cuidar do meu joelho. - disse a si mesma, escolhendo deixar o assunto mesmo um pouco preocupada.

Indo ao banheiro de seus pais, onde ficavam os remédios, pegou um e espirrou no joelho esfolado. Abanando-o um pouco enquanto ardia, catou band-aid em uma gaveta e colocou-o sobre o ferimento. Na mesma hora lembrou de Jenni, que sempre precisava de um curativo depois das aulas de Educação Física. Argh, ainda tinha aquilo. Tinha que achar os clones logo. A nave, vira, ainda estava no mesmo lugar, mas tinha que encontrar os outros quatro para não ir para a escola na manhã seguinte toda constrangida. Ela prometera à amiga e tinha de cumprir.

– Cristina, já trocou de roupa? Está na mesa! - a voz de sua mãe anunciou da cozinha, interrompendo seus pensamentos.

– Ah! - fez, percebendo a gafe. - Ainda não, desculpe! Vou me trocar agora, mamãe! - e foi correndo de volta ao seu quarto.

– Ok!

Fechando as cortinas correndo, tirou o uniforme o mais depressa que podia, vestindo uma camiseta vermelha e uma saia cinza dois palmos acima dos joelhos. Calçando os chinelos azuis com dificuldade por não estar com tempo de usar as mãos, desceu as escadas mantendo o ritmo apressado até sentar-se na cadeira preta de ferro no meio da cozinha simples.

– Desculpe a demora. – pediu à mãe, logo que chegou.

Um pequeno olhar de advertência antes que ela pousasse o arroz à grega na mesa de madeira polida, rodeada por outras quatro cadeiras idênticas à da filha.

– Certo. Está perdoada por isso não acontecer com frequência. – afirmou sentando. – Mas lembre-se do que penso sobre horários.

– Sim, senhora. Ah, mãe.

– Hum?

– A senhora... bem, por acaso mexeu nos clones que comprei?

Dona Andrea ergueu imediatamente o olhar do garfo cheio, parando-o no ar e erguendo uma sobrancelha sem entender o que lhe fora dito.

– Querida, sabe do nosso acordo. – lembrou com certa desconfiança e logo colocou a comida na boca, a postura ereta como só ela sabia manter.

Um tanto constrangida, Cristina olhou para o prato com arroz à grega e bife e murmurou um “É”.

– Mas porque a pergunta, querida? – quis a mãe saber.

– Eu deixei eles arrumados ontem, mas agora a pouco notei que não estavam onde coloquei. – Cris pegou o garfo e desanimadamente brincou com alguns grãos brancos. - E o pior é que falei para a Jenni que levaria eles amanhã... – e largou o talher com armagura.

Dando um sorriso solidário, Andrea sugeriu em voz macia:

– Procure por eles mais um pouco depois do almoço e, quando quiser, posso ajudá-la a procurar, está bem?... Agora vamos, coma. “Saco vazio não para em pé”, já sabe!

Não falaram mais desse assunto. Comentaram sobre uma coisa ou outra, mas nada que voltasse àquilo. Andrea era do tipo que, quando encerrava um assunto, era de vez, não importava o quanto insistisse.

Terminando o almoço, a jovem subiu logo para o quarto e revirou a segunda cama como louca. (Inclusive levando um susto com a aranha de plástico que tinha esquecido embaixo de um monte de roupas.) Achou tudo, tudo mesmo, exceto os queridos e desejados clones. Depois de uma hora de procura resolveu dar uma pausa, sentando no chão e encostando da cama de dormir. Seu olhar estava cheio de preocupação. Descumprir a palavra era horrível na opinião dela e tratando-se de uma amiga querida sua tensão só aumentava.

Esticando o braço na direção do travesseiro, porém mantendo o olhar preso ao chão de madeira, descansou a cabeça no material macio e buscou relaxar um pouco. Olhando para o teto desta vez, suspirou pesarosamente.

– Só queria encontrá-los logo... – murmurou desanimada.

– Ela está falando de nós, não está?

– Cala a boca, idiota!

Seus olhos imediatamente se arregalaram, as emoções negativas esvaíram e ela virou a cabeça para onde tirara o travesseiro na hora. Agora tinha certeza de quê...!

Os quatro clones pareciam sair do ponto onde estava o travesseiro, parados na posição de andar com as pontas dos pés, em fila única e com as cabeças viradas para ela, todos com um pé no ar.

O momento foi de tensão. Quietas, parecia que nenhuma das partes não tinha certeza do que estava vendo e por isso não conseguiam mover um músculo, a respiração presa.

O último lego, um dos dois laranjas, gradativamente perdeu o equilíbrio para a frente, mantendo a posição de andar como se fosse uma estátua e acabou empurrando o outro laranja (“OoOoooh!”), resultando em queda dupla. Notando o que havia acontecido, o batedor virou para a cena com ar de censura e o clone de detalhes verdes bateu a mão em forma de U na testa e balançou a cabeça de um lado para o outro. O laranja que fora derrubado, virando para o irmão que ainda estava em cima dele deu um momento de silêncio e depois desferiu um soco na cabeça do outro.

Cristina estremeceu. Escancarou a boca obtendo som algum. Tremendo, esfregou os olhos, pasmada. Agora olhavam para ela. Ergueu-se com dificuldade. O coração parecia indeciso sobre bater ou parar de espanto. Deu alguns passos para trás e beliscou-se. Não houve mudança na cena. Gritou.

– Hãaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa?!


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Notas finais do capítulo

Não me matem :P



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