In Love With The Hero escrita por Jungie


Capítulo 12
Medo


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de agradecer quem tomou tempo pra comentar nesse último capítulo! O número de reviews caiu pela metade, mas sem problemas. Ficarei feliz mesmo se apenas vocês seis continuarem acompanhando e comentando até o final. E confesso que tive uma empolgação extra após uma certa fic daqui ter retornado, haha... enfim, espero que curtam esse capítulo, o maior que já escrevi até agora.



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Já passavam das oito horas da manhã quando Tiffany olhou para o relógio pelo o que parecia a centésima vez. Sooyoung repassava novamente o plano para Yuri e Yoona, que escutavam com atenção aos murmúrios da vice-líder. Sunny estava inquieta e jogava em seu Nintendo DS rosa para tentar se distrair; Jessica descobriu que, assim como ela, Sunny não era a maior fã de hospitais.


– Pensei que haviam dito que poderíamos entrar de manhã! – Tiffany batia o pé no chão impacientemente.


– Oficialmente, ainda será manhã até daqui a aproximadamente três horas e quarenta minutos – disse Jessica, olhando o relógio de pulso de Sooyoung.


– Três horas! Se demorar tanto, quem vai precisar de assistência médica sou eu! – reclamou Tiffany.


– Você já está há um dia aqui nesse lugar funcionando a base de café. Não quer dar uma volta por aí para espairecer e se acalmar um pouco? – sugeriu Sooyoung.


– Só se você prometer que vai me avisar quando pudermos visitar Taeyeon.


– Certo. Palavra de escoteira – sorriu.


– Obrigada, Sooyoung. Vamos, Jessica!


Tiffany levantou-se e puxou a americana pelo pulso, levando-a para o corredor principal do hospital. Jessica preferia permanecer na sala de espera assistindo Sunny jogar cascos de tartaruga em seus oponentes no Mario Kart, mas ao contrário do que faria normalmente, resolveu não dar voz aos seus pensamentos. Sua amiga precisava de uma distração e estava disposta a ajudá-la com isso.


– Pensei que fôssemos dar uma volta pela rua – disse Jessica.


– É melhor ficarmos aqui dentro. Fica mais fácil para irmos até o quarto de Taeyeon.


– Mas aqui é um hospital. O que tem para se ver além de gente doente e angustiada?


– Não sei, mas acho que qualquer coisa é melhor do que ficar plantada em uma cadeira...


– Olha, tenho uma ideia. Sooyoung estava reclamando quando saímos de casa porque não tinha tomado o café da manhã direito, então que tal comprarmos algo para alimentar a fera? – Jessica passou o braço ao redor dos ombros de Tiffany e guiou-a até a entrada principal. – E você precisa comer algo também. Duvido que sirvam banquetes às pobres pessoas que viram a noite acordadas na espera da melhora daqueles que amam. Pelo menos não me deram nem um pão velho.


– Você não merece comida porque não ama a Taeyeon o suficiente – brincou Tiffany.


– Se esse é o requisito para poder encher a barriga aqui, então prefiro alimentar-me com o meu próprio dinheiro, muito obrigada – riu.


– Queria que você tivesse a conhecido há alguns anos atrás – Tiffany deu um sorriso triste. – Ela era bem diferente. Era bem mais... como é a palavra mesmo? – olhou para cima tentando lembrar. – Dorky.


– Hah! O que eu não daria para ver Kim Taeyeon agindo de maneira dorky. – Fez aspas com os dedos. – Então é por isso que vocês a chamam de Kid Leader? Para mim ela sempre esteve bem mais para velha ranzinza.


– É um apelido carinhoso que um oppa deu a ela anos atrás.


– Ah, também tenho um apelido carinhoso que ganhei na universidade.


– Mesmo? Qual?


– Ice Princess. Sabe, pelo meu caráter invejável e personalidade completamente afável. O pessoal me adorava! – ironizou. – Isso quando não me chamavam apenas de “garota metida” ou “aquela vadia”.


– Eu realmente não vejo o que há de tão mau em você – Tiffany botou o braço ao redor da cintura de Jessica. – Não sei se você mudou desde que chegou aqui.


– Ah, eu mudei sim. Na verdade eu mudei há algum tempinho atrás, depois do meu primeiro semestre na UCLA. Quando eu descobri que ser apenas fria e sarcástica é bem mais legal do que ser uma bitch – sorriu. – E sabe, acho que eu mudei de novo após conhecer vocês. Acho que eu nunca tinha conhecido tantas pessoas que gostam de mim de verdade, isso me faz querer ser uma pessoa melhor.


– Taeyeon também – disse Tiffany.


– O quê? – Jessica levantou uma sobrancelha, confusa.


– Eu não sei se é coincidência, mas eu venho notando que a Taeng está se esforçando para melhorar as coisas entre todas nós desde que você chegou. Sabe, o clima era quase insuportável lá em casa há alguns meses atrás... Taeyeon e Yuri brigavam por qualquer coisa e acabavam envolvendo todo mundo. As meninas escolhiam lados e a nossa convivência era estranha depois de algumas discussões.


– Nossa, sério? Nunca iria adivinhar! Yuri e Taeyeon parecem tão unidas!


– Será que algum dia você vai parar com esses seus comentários irônicos? – Tiffany fez cara brava, mas era óbvio que estava segurando uma risada.


– Hm... não, acho que nunca.


– É, você não seria Jessica Jung se parasse – Tiffany riu e deu um leve empurrão na cabeça de Jessica. – Enfim, eu acho que você devia parar de pegar tão pesado com a minha irmã. Tenho certeza que você é parte do motivo pelo qual ela está se empenhando em tornar as coisas melhores.


– Por que todo mundo defende a Taeyeon para mim, hein? Foi ela quem começou sendo pedante comigo! Eu posso ser chata, mas a minha falta de simpatia por ela tem motivo! – defendeu-se Jessica.


– Eu só queria que vocês se dessem bem, sabe... – Tiffany abaixou o rosto.


– Ah, lá vai... – Jessica suspirou. – Nós tivemos uma conversa saudável ontem, sério. Tudo bem que a noite terminou com ambas levando facadas no estômago, mas foi até... divertido. É um bom começo, não é?


– Ah, com certeza! – Tiffany levantou a cabeça e sorriu.


– E eu vou tentar melhorar meu relacionamento com a sua irmã carrancuda – disse entre os dentes. – Mas ela tem que parar de implicar comigo!


– Nada como uma chantagem emocional – murmurou Tiffany, dando um de seus caprichados eye smiles.


– Aish, sua chantagista dos infernos! – Jessica puxou Tiffany para mais perto de si e afagou lhe os cabelos. – Ei, tem alguma coisa vibrando na sua cintura.


– É o meu celular – Tiffany tirou o aparelho do bolso da calça jeans e checou o que era. – Mensagem da Sooyoung! Já podemos visitar Taeyeon!


– Não vamos nem comer primeiro? – queixou-se Jessica, passando a mão pelo seu estômago.


Sua resposta foi um puxão em seu braço de volta à direção do corredor principal.


–--------------------


Antes de entrar naquele quarto de hospital, Jessica não sabia muito bem o que sentir. Mas quando botou o pé no piso de linóleo e viu Taeyeon daquele jeito, tão pálida, frágil e vulnerável, um sentimento bem familiar lhe invadiu o coração.


Raiva.


Raiva daquelas pessoas por terem a ferido, raiva de si mesma por não ter feito mais, mesmo que sua contribuição tenha sido crucial para a sua sobrevivência. Sentia até mesmo uma pontada de raiva de Taeyeon por ter mordido a isca e tê-las botado nessa situação.


Sunny, que esteve calada durante quase toda a manhã, andou lentamente até a amiga com passos arrastados, seus ombros curvados e a cabeça baixa, parecendo mais um gato amuado. Tiffany percorreu a curta distância entre a porta e sua irmã como um raio, praticamente correndo até ela com os olhos levemente marejados. Já Jessica apenas ficou parada ao lado da porta de braços cruzados, desviando a todo custo seu olhar de Taeyeon.


Mas a recíproca não foi a mesma, já que Jessica foi a primeira coisa que os olhos de Taeyeon viram depois de uma longa noite de sono.


– Então você está bem – Taeyeon deu um meio sorriso. Jessica apenas assentiu, ainda recusando-se a devolver-lhe um olhar. – Vem aqui.
Jessica andou tão lentamente que o trajeto até a cama de Taeyeon pareceu três vezes mais longo do que realmente era. Podia até mesmo ouvir seus passos, visto que Sunny continuava calada e a normalmente tagarela Tiffany estava em um silêncio incomum.


– O que aconteceu? – perguntou Taeyeon com um olhar confuso.


– Eu... eu chamei uma ambulância quando você desmaiou porque estava perdendo muito sangue e eu não sabia se você iria sobreviver se eu tentasse lhe levar para casa... – murmurou Jessica.


– Obrigada, mas por que você não está em uma cama de hospital também? – disse com a voz fraquejando.


– O poder de Jessica finalmente se manifestou – disse Sunny, falando pela primeira vez em algumas horas. – Ela pode se regenerar de ferimentos.


– Sério? – os olhos de Taeyeon se arregalaram um pouco e ela ergueu uma mão em direção a Jessica, levantando um pouco sua blusa. Tateou seu estômago, fazendo com que a americana corasse. – Isso é uma ótima notícia. Não vou precisar protegê-la tanto. – Sorriu.


– Ei Taeng – Tiffany segurou a outra mão de Taeyeon. – Vou te ajudar agora, ok? Médicos podem ser bons, mas eles não fazem milagres. – Tiffany enxugou suas lágrimas com o pulso.


– Fácil dizer isso quando você é capaz de realizar esses tais milagres – Taeyeon riu fraco. – Quando eu vou sair daqui? Temos muito a conversar.


– Você deveria ficar mais alguns dias aqui em recuperação, mas é claro que sua irmãzona aqui vai te dar uma força – Tiffany piscou. – Sooyoung bolou um plano para lhe tirar daqui, já que se você sair desfilando pela porta da frente irá levantar suspeitas.


– Ótimo. Então manda ver, Fany.


Tiffany murmurou um pedido de desculpas à irmã antes de botar as mãos sobre seu estômago por baixo do fino lençol de hospital e então começar o processo de cura. Taeyeon fechou os olhos e franziu a testa ao sentir a súbita dor na região. Agarrou com a mão livre a coisa mais próxima que encontrou; o que, naquele momento, acabou sendo uma das mãos de Jessica.


O aperto de Taeyeon em sua mão foi tão forte e repentino que Jessica instintivamente puxou-a, porém não conseguiu livrar-se. Fez então o que achava que deveria fazer: segurou firme a mão dela, tentando oferecer-lhe uma fonte de conforto até que a dor cessasse. Logo a expressão de Taeyeon suavizou-se e ela abriu os olhos lentamente.


– Está novinha em folha – Tiffany sorriu. – Precisamos sair agora. Yuri e Yoona vão dar início à operação “sequestrar Taeyeon do hospital público” – Tiffany afastou a franja da irmã e beijou-lhe a testa, sussurrando algo inaudível em seu ouvido logo após. – Nos vemos mais tarde. Te amo, pequena.


– Eu não sou pequena... – resmungou Taeyeon.


– Você é sim, e eu tenho propriedade para dizer isso – brincou Sunny, parecendo mais tranquila. – Até mais, Taeng. – Sunny envolveu Taeyeon em um abraço e depositou um beijo em sua bochecha.
As duas logo se retiraram do quarto, e quando Jessica preparava-se para se despedir, sentiu um leve aperto em sua mão; Taeyeon ainda a segurava.


– Você pode ficar aqui por um instante? – pediu Taeyeon.


– Ahn... por quê? – Jessica estava confusa. Por que tendo a opção de pedir para sua irmã ou sua melhor amiga para permanecerem, Taeyeon escolheu justamente a ela? Não era segredo que não tinham exatamente o melhor relacionamento.


– Tiffany... ela...


– Não precisa dizer mais nada – Jessica sorriu e sentou-se na poltrona ao lado da cama. – Ainda não sei por que ela insiste em me empurrar para você.


– Fany disse que acha que ter a sua amizade faria bem para mim.


– Faria? – Jessica soltou uma curta risada.


– Ela deve ver um lado seu que eu não sou capaz de ver.


Jessica não respondeu, apenas concordou silenciosamente com a cabeça.


– Mas talvez se você me deixasse descobrí-lo...


– Você tá propondo uma trégua, é isso? – ergueu uma sobrancelha.


– É pegar ou largar – deu um sorriso torto. – É melhor aceitar agora enquanto eu ainda estou grogue por causa da anestesia. Depois já não vou querer mais.


– Tudo bem – Jessica retribuiu o sorriso e aproximou a poltrona da cama. – Eu aceito, mas basta apenas um deslize para que eu seja a maior cretina que você já conheceu.


– Ah, mas você tem que entender o meu lado. Às vezes é difícil segurar alguns comentários e você sabe muito bem disso – riu.


– Então eu aumento sua cota para dois deslizes.


Jessica deu um pequeno sorriso e então se deram as mãos, selando a trégua em um aperto firme. Após isso, caíram em um silêncio sepulcral; ela não sabia o que dizer para quebrar o gelo e Taeyeon parecia mais interessada em descansar do que em conversar, a julgar pelos seus olhos semicerrados. Jessica decidiu que não tinha mais o que fazer naquele lugar e levantou-se da poltrona. Foi atraída de volta a ela como um ímã quando seus olhos encontraram o olhar quase suplicante de Taeyeon. Não foram necessárias palavras para que o recado fosse entendido.


– Em uma situação normal, você estaria querendo se livrar de mim o mais rápido possível – brincou Jessica.


– Estou com medo – confessou Taeyeon como quem estivesse admitindo um crime. – Faz tempo que eu não me sinto assim.


– É normal sentir medo, Taeyeon. Quer dizer, eu sinto medo desde que cheguei aqui, então você não está sozinha – riu.


– É diferente – franziu a testa e cerrou os punhos por cima do lençol. – Você é a garota que foi tirada quase à força da sua terra natal e foi jogada de cabeça em uma realidade muito mais perigosa do qual está acostumada. Uma realidade que eu já estou vivendo há anos. Já vi pessoas queridas morrendo na minha frente, morrendo por mim... Pessoas que eu amo escaparam pelas minhas mãos e eu não pude fazer nada... – Taeyeon lutava contra as lágrimas que insistiam em se formar no canto de seus olhos. – Eu não devia sentir medo agora. Quem é que vai seguir uma líder medrosa?


– Taeyeon, não fale besteiras! – exclamou Jessica. – Você realmente acha que uma pessoa medrosa faria o que você fez na noite passada?


– Eu não vejo aquilo como coragem. Eu caí numa isca, foi plena estupidez. Céus, eu estava bêbada!


Jessica não sabia o que dizer para refutar aquele argumento quando concordava plenamente com ele.


– Eu me sentia invencível – continuou. – Mas depois dessa noite, a realidade bateu na minha porta para avisar-me de que não sou, e é disso que eu tenho medo!


– De morrer?


Taeyeon assentiu lentamente.


– Por quê?


– Tá bancando a psicóloga agora?


– Tudo bem, não tá mais aqui quem perguntou – revirou os olhos.


– Tiffany e Yoona – respondeu. – Como seria se eu não estivesse aqui para tomar conta delas? Eu sei que já são crescidas e maduras o suficiente para seguir sem mim, mas ainda assim...


E naquele momento, Jessica sentiu que entendia Taeyeon melhor do que qualquer outra pessoa no mundo.


Em sua mente logo surgiu a imagem de Krystal desolada tendo que se despedir de sua irmã para sempre. Sabendo que nunca mais sentiria o seu calor, seus abraços afetuosos e suas carícias fraternais, que nunca mais trocariam segredos e confissões jamais reveladas a nenhum outro alguém, que nunca mais estariam juntas novamente.


Mas Jessica ainda era de certa forma indestrutível. E Taeyeon, pela sua própria admissão, nunca seria.


– Sua irmã tem sorte de ter você – disse Taeyeon como se estivesse lendo seus pensamentos.


Taeyeon finalmente pareceu ter perdido a batalha contra seus sentimentos e deixou uma única lágrima escorrer pelo rosto. Que foi seguida por mais uma, duas, três. Jessica olhava para as próprias mãos que repousavam sobre seu colo, incapaz de pensar em palavras de conforto para fazê-la se sentir melhor. Considerava-se um tanto insensível em relação aos sentimentos alheios, mas assistir Taeyeon se desfazendo em lágrimas e soluços silenciosos lhe cortava o coração.


E então, Jessica fez o que sua mãe costumava fazer quando ela ou Krystal se entregavam ao choro: levantou da poltrona e inclinou-se sobre Taeyeon, enxugando suas lágrimas com o polegar em um gesto afetuoso que surpreendeu tanto a líder quanto a si mesma.


– Vamos fazer um trato? – abriu um pequeno sorriso. – Eu prometi a mim mesma que ontem seria a última vez que eu choraria. Que tal você prometer o mesmo para nós duas também?


– E o que acontece se uma de nós desrespeitarmos o trato? – disse lentamente com a voz trêmula.


– Quem o fizer vai levar um belo soco na cara, que é algo que tenho certeza que gostaríamos de fazer uma à outra – brincou, provocando um sorriso discreto nos lábios de Taeyeon.


– Não é justo – murmurou. – Você não ficaria com um olho roxo. Mas eu aceito só pelo prazer de poder te bater.


– Essa é a Taeyeon que eu conheço! – Jessica alargou seu sorriso, dando um leve soco no ombro de Taeyeon.


– Por que você está fazendo isso? – perguntou Taeyeon com um olhar confuso. – Em uma situação normal, você estaria querendo se livrar de mim o mais rápido possível – ecoou a fala de Jessica minutos atrás.


– Eu não sei – respondeu honestamente. Não fazia ideia do que havia provocado uma mudança de sentimento tão repentina em relação à Taeyeon. – Talvez seja a culpa. Mas muito provavelmente seja porque eu entendo.


– Entende o quê?


– O seu medo.


Os olhares de Jessica e Taeyeon se encontraram e, pela segunda vez naquele dia, não continham o mínimo da hostilidade, antipatia ou mesmo indiferença que costumavam ter uma pela outra. Jessica estava certa; ela entendia Taeyeon e Taeyeon a entendia. Talvez aquele único detalhe lhes criasse um vínculo que sequer entendiam direito, mas que a partir daquele momento eram capazes de sentir e reconhecer.


– Er... eu acho que já devo ir. Yuri e Yoona já devem estar impacientes para lhe tirar daqui – Jessica desviou o olhar. – Te vejo depois?


– Espero que sim.


Jessica retirou-se do quarto tão apressadamente que não notou o sorriso bobo estampado no rosto da líder.


–--------------------


Yuri mal podia se conter. Queria empurrar Yoona para um quarto vazio e fazer com ela coisas que seriam um tanto inapropriadas para se falar no meio da ala emergencial de um hospital público.


Claro, aquele não era o cenário ideal que havia planejado; em sua mente, Yoona estaria vestida com roupas mais sensuais do que na realidade, com um vestido branco apertado e mais curto do que o moralmente aceitável em vez da camisa e calças folgadas que compunham o uniforme que haviam furtado do hospital.


Tivera até uma pequena discussão com Sooyoung sobre este assunto, na qual foi lembrada pela vice-líder que, para a sua tristeza, enfermeiras não usavam vestidos no século 21 e definitivamente não deveriam vestir-se de maneira sexy, a não ser que quisessem causar complicações em pacientes com problemas cardíacos.


Yuri botava a culpa de sua irreal idealização no fato de nunca mais ter pisado em um hospital desde que conheceu Tiffany, e em certos vídeos que costumava assistir com Sooyoung em sua adolescência depois que todos já tinham ido dormir. Além, é claro, de seus hormônios pulsantes que teimavam em se agitar sempre que estava próxima de Yoona.


Mas apesar de ajudarem no fetiche, roupas eram obviamente superficiais para o que Yuri gostaria de fazer. Não importava quais fossem, ainda acabariam no mesmo destino: no chão frio daquele quarto de hospital.


A cada minuto de espera que se passava, as fantasias de Yuri se tornavam mais vívidas. Podia imaginar claramente o corpo da mais nova sendo empurrado por ela contra a parede, seus olhos arregalados e seu coração batendo furiosamente contra o peito. Rasgava sua camisa frágil em um só movimento e tirava apressadamente suas calças, exibindo seu corpo magro e esbelto. Yuri explorava seu corpo com as mãos e a boca, ouvindo a respiração ofegante e os gemidos arrastados da garota.


Tirava sua própria camisa e a jogava longe sem nem olhar o seu destino, colando o seu corpo no de Yoona e começando uma trilha de beijos que começava do seu pescoço e seguia até o baixo ventre. Tirava a penúltima peça de roupa que lhe restava e então...


– Yuri! – Yoona chacoalhou-a pelo ombro, acordando-a de seu devaneio. – Você tá bem?


– Ah... – Yuri respirou fundo. Talvez necessitasse de um banho de água fria. Ou dois. – Estou sim, Yoona. Por quê?


– Você parece meio inquieta e ofegante.


– Não é nada, não precisa se preocupar – tentou tranquilizar a mais nova.


– Tudo bem... – Yoona não parecia convencida, mas não tocou novamente no assunto. – Você lembra o que deve dizer se alguém lhe perguntar algo, certo?


– Houve um pedido de transferência da paciente Kim Taeyeon para um hospital particular no centro da cidade – recitou Yuri em um tom formal. – E então eu mostro isso. – Levantou os papéis que segurava, já um pouco amassados.


– Certo! – Yoona fez sinal de positivo com o dedão. – Agora é só esperar. Sooyoung disse que não devíamos andar juntas o tempo todo então eu irei me afastar um pouco. Ande por aí e finja que está ocupada, só não fique parada ou podem lhe chamar para alguma coisa!


– Você soa como uma mini Sooyoung. – Disse Yuri.


– Alguém mais tem que ser responsável aqui, não é? – sorriu. – Fique atenta para quando as meninas nos mandarem entrar, ok? – Yoona seguiu em direção ao fim do corredor.


Yuri assentiu e imediatamente desrespeitou a ordem que Yoona havia lhe dado. Não pôde evitar permanecer com os pés plantados no chão, sorrindo feito uma boba apaixonada. O sorriso da mais nova a hipnotizava de maneira impressionante; apenas um daqueles sorrisos bastava para que Yuri perdesse os sentidos, para que Yoona fosse a única coisa no mundo que lhe importasse naquele momento.
Recompôs-se apenas quando uma criança hiperativa esbarrou nela enquanto corria pelos corredores do hospital. Yuri resmungou e deu-lhe uma bronca. Tinha certeza que o garoto aprendeu alguns palavrões novos naquele momento.


“Certo Yuri, foco,” pensou ela. “E sem mais fantasias com Yoona. Você não quer ter de correr para o banheiro mais próximo caso se deixar levar, não é?!”


Yuri respirou fundo e começou a pensar em coisas pouco atrativas, como a velha e gorda enfermeira com cara de poucos amigos que acabara de passar na sua frente, seu vizinho obeso e nojento que nunca deixava de lançar lhe olhares pervertidos quando se cruzavam na rua, ou nos tabefes que com certeza levaria de Taeyeon se fosse ela e não Seohyun quem ostentasse o dom de ler mentes.


Tentava pensar em tudo aquilo, mas nada adiantava. Era como seu cérebro fosse capaz de decodificar apenas o quão maravilhosa era a garota dos seus sonhos.


Balançou a cabeça e ia retornando à linha de pensamentos desagradáveis quando sua atenção foi atraída por uma distraída Jessica que passou logo à sua frente sem sequer perceber a sua presença.


– Jessica! – Yuri sussurrou num volume alto o suficiente para que Jessica a escutasse.


– Hã? – Jessica virou-se. – Ah, é você. Espero que volte para casa com ela respirando, ou então teremos vários problemas.


– Não se preocupe, vou cuidar bem da sua namoradinha – provocou Yuri com um sorriso malicioso.


– E sua futura cunhada? – devolveu Jessica. – Aliás, a que você poderia apenas sonhar em ter como cunhada, já que Taeyeon não deixaria você tocar um dedo em Yoona nem em um milhão de anos.


– Vá se foder, Jessica – Yuri cerrou os punhos e encarou a outra com hostilidade.


– Vá você também, Yul – Jessica sorriu ironicamente e piscou para a morena, acenando com falsa simpatia.


Yuri murmurou alguns xingamentos pesados, mas logo depois tentou manter a calma. Foi em direção ao elevador para o andar do quarto de Taeyeon e procurou Yoona pelo caminho, esticando o pescoço para ter ao menos um vislumbre da garota. Institivamente agarrou o braço da primeira enfermeira alta de cabelos longos e negros que viu pela frente, reconhecendo-a imediatamente pelo doce e inebriante perfume que exalava de seu corpo.


– Yuri! – Yoona levou uma mão ao peito, tentando regular seus batimentos cardíacos que aceleraram repentinamente. – Você me assustou!


– Foi mal... – desculpou-se, soltando o braço de Yoona. – É hora de agir. Vamos?


Yoona assentiu e puxou uma cadeira de rodas vazia que estava disponível no corredor, segurava na mão direita uma pequena mochila preta que não carregava antes. Foi até o elevador – Yuri seguia atrás, seus olhos fixos em uma determinada parte do corpo da mais nova – e apertou um dos dois botões. As portas se abriram imediatamente e as duas entraram no espaçoso elevador vazio.


O tempo que permaneceram lá dentro foi bem curto, mas na mente de Yuri vagaram as mais diversas formas de atacar Yoona vorazmente lá mesmo. É claro, não seria capaz de realizar nenhuma delas já que o hospital tinha apenas dois andares, mas sua imaginação fértil não faria mal a ninguém, exceto aos seus próprios desejos.


Fizeram o caminho até o quarto em que Taeyeon estava alojada, andando rapidamente a fim de não serem interrompidas durante o plano. Ao chegarem, Yoona deu três leves batidas na porta e abriu-a devagarinho, sorrindo ao ver sua irmã sentada de pernas cruzadas na cama, observando o lugar com o mesmo olhar de uma criança curiosa.


– Unnie! – Yoona entrou no quarto e praticamente correu para os braços de Taeyeon, deixando a mochila com Yuri. – Estava preocupada!


– Aish... me desculpe por ter feito você se sentir assim. – Taeyeon abriu um pequeno sorriso e afagou os cabelos da irmã.


– Para quê se desculpar, Taeng? A culpa não foi sua.


– Não, eu ainda tenho uma parcela da culpa. Mas discutimos isso depois, certo? Agora eu só quero aproveitar que estou novamente junto da choding que eu mais amo no mundo – Taeyeon apertou as bochechas de Yoona e a abraçou mais forte.


– Então, com licença – Yuri pigarreou, tentando chamar a atenção das duas. – Desculpa interromper essa linda reunião familiar, mas ainda temos de dar o fora daqui.


– Bom ver você também, Yuri – ironizou Taeyeon, desvencilhando-se do abraço com Yoona. Retirou cuidadosamente a agulha que perfurava sua veia e levantou-se da cama, pegando no ar a mochila que Yuri havia lhe jogado. Trancou-se no pequeno banheiro que tinha no quarto para trocar de roupa, deixando as duas garotas sozinhas novamente.


– Nunca vou entender por que você implica tanto com a Taeng – disse Yoona.


– Você não vê isso porque ela lhe trata bem, mas Taeyeon não é mais exatamente uma flor que se cheire – murmurou em resposta. – Eu sei que ela costumava ser legal antes, mas agora ela está longe disso. Ela deveria ser mais como você.


– Como eu? – riu. – Por quê?


– Você é carinhosa, educada, alegre, gosta de fazer os outros felizes... – de repente Yuri sentiu-se corajosa para falar o que nunca tivera a oportunidade antes. – Se eu listasse todas as suas qualidades, ficaríamos aqui por um bom tempo.


– Uau! – Yoona abriu um largo sorriso e corou levemente. – Nunca achei que você tivesse algo de bom para falar sobre qualquer um – brincou.
– Sobre você, eu tenho aos montes – Yuri sorriu timidamente.


– Ok, pessoal! – exclamou Taeyeon, abrindo a porta com tanta força que ela bateu na parede, assustando Yuri e Yoona com o barulho. – Estou pronta. O que eu tenho que fazer agora?


– Maldita... – Yuri murmurou baixinho e cerrou os dentes, irritada com Taeyeon por ter estragado o momento. Tinha certeza que a líder tinha escutado a conversa e resolveu interrompê-la.


– Er... é só você sentar ali e fingir ainda estar fraca – Yoona apontou para a cadeira de rodas. – Do resto, cuidamos nós.


– Certo – Taeyeon sentou-se na cadeira como Yoona havia ordenado e cruzou os braços, esperando enquanto Yuri e Yoona trocavam olhares desconcertados. – E aí, vamos ou não vamos? – bateu o pé impacientemente.


– Claro... – assentiu Yoona.


– Pois bem, capitã Kim, lidere o caminho! – exclamou Taeyeon com uma empolgação incomum e um sorriso não tão inocente nos lábios.


Yoona saiu na frente e sobrou para Yuri ter de empurrar Taeyeon na cadeira de rodas. A morena bufou, mas fez a tarefa que lhe foi designada. Quando estavam a uma distância maior da mais nova, Yuri aproximou-se do ouvido de Taeyeon e sussurrou:


– Eu te odeio, sabia?


– Isso significa que estou cumprindo bem o meu papel – riu.


Yuri chutou a cadeira de rodas com toda a força que conseguiu reunir naquele momento.


– Eu realmente te odeio...


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