Bruderlichkeit escrita por keca way, Duda_


Capítulo 15
Laços - Parte I




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- Trecho de Stich Ins Gluck -

-x-

Seu primeiro golpe na felicidade
As feridas restarão pra sempre
Um momento precioso
Assim como cada momento ruim
Sombras e luz
Pare de  observar

-x-

 

 

 

Assim que chegaram a casa, todos se dirigiram imediatamente para seus respectivos quartos. Gustav e Georg foram com Bill, já que se alojariam no quarto do rapaz. Tom tomou um banho rápido e, depois de vestido e devidamente acomodado na sua cama, ligou para a pessoa que mais queria desejar ‘Feliz Ano Novo’ naquele momento.

 - Tom! – ela atendeu logo no segundo toque. 

 - Louis! Feliz Ano Novo! Como eu queria estar aí para te dar um abraço bem apertado e depois te correr contigo no meu colo pelo meio da rua! 

 A mulher gargalhou no telefone, lembrando-se da primeira vez que o menino havia conseguido agüentá-la e saiu correndo com ela pendurada em suas costas. Ela não parava de gritar e pedir para que ele a colocasse no chão, mas acabou que os dois caíram juntos, e ficaram rindo durante vários minutos, como duas crianças... Como dois irmãos. 

 - Ah, meu amor! Feliz Ano Novo pra você também! Estou tão feliz que você me ligou! Que saudades que eu tô desse pirralho irritante! – ela falou rindo. 

 - Ei... Nem vem dá uma de adulta agora, ok? – ele respondeu, fingindo irritação. 

 - Desculpa, criança. – Louis falou, e riu mais uma vez. – Então, conta como andam as coisas por aí. 

 - Olha só quem tá com tempo pra conversar com a ‘criança’ aqui! – ele brincou antes de continuar. – Até que não estão tão ruins... Eu entrei pra banda do Bill.

- Nossa! Isso é maravilhoso, Tom! Você sempre quis ter uma banda!

- É, eu sei...

- Por que eu sinto que isso ainda não parece ser o suficiente para você? O que falta, Tomzinho?

- Muitas coisas... – ele falou, e olhou tristemente para o teto.

- Hum... Não se preocupe, querido. Ainda está muito no começo... Faz pouco tempo que você se mudou praí... As coisas vão melhorar, certo? – Louis disse, tentando alegrá-lo. – Mas e aí? E a garota daquele dia?

            - Que garota? – Tom fez uma careta, tentando imaginar de quem ela estava falando, mas não demorou muito a se lembrar. – Ah...! Aquela do hospital! Nunca mais a vi... Mas não é ela quem eu quero, afinal.

- Hum...! E quem é?!

- Outra aqui... O nome dela é Engel. Ela é linda, sabe?! Mas não vai ser tão fácil o quanto eu pensava que seria.

Louis riu um pouco antes de continuar.

- Tom, Tom... Sempre tão conquistador! – e os dois riram por sua vez.

As horas se passaram até que os dois estavam com sono demais para continuar se falando pelo telefone.

- Querido, eu tenho que trabalhar amanhã, ou melhor, hoje, e eu já estou desmaiando de sono aqui...

- É, eu também, Louis. Só estava querendo adiar esse momento o máximo possível... A gente nunca mais havia se falado direito e eu tenho tanta saudade de você...!

- Own, meu amor... Eu também, sabe?! Ah! Você podia ficar me ligando mais ou menos de meia noite quando quiser falar comigo direito...

- Meus avós por acaso estão lhe proibindo de falar comigo pelo telefone? – Tom perguntou de repente.

- Não, não...! – ela apressou-se em negar. – É só que... É melhor assim. Então, vai voltar a me ligar?

- Que pergunta! Claro que sim! Boa noite, Louis...

- Boa noite, Tom. Eu te amo.

- Eu também... – e desligou o telefone, adormecendo pouco tempo depois com o aparelho bem seguro entre suas mãos.

 

Já se passava das seis horas da manhã e Bill ainda não havia conseguido adormecer. Estava muito cansado pelo show do Ano Novo, mas, mesmo assim, sentia-se feliz, a adrenalina da noite vivida a pouco ainda corria por suas veias. Entretanto, a apresentação não era o único fator que não o permitia pregar os olhos; nem ao menos o mais predominante. A verdade é que o seu beijo com Engel não lhe saía da cabeça, ele ficava revivendo cada detalhe como um filme... A boca da garota... Sua pele em contato com a dela...  E era exatamente por isso que ele não conseguia dormir, as sensações ainda eram fortes demais, pareciam não ter acabado, pareciam se repetir a cada instante... Como um filme que você volta constantemente apenas para assisti-lo em câmera lenta.

Não deixava de pensar nas possibilidades que passariam a existir para ambos a partir daquele momento; isso o deixava radiante, adorava poder fantasiar os momentos que compartilhariam dali pra frente. Entretanto, a felicidade ainda deixava margem para uma pequena tristeza. Sentia-se mal por não ter tido coragem de dizer tudo o que sentia por ela, tinha medo de não ter conseguido demonstrar todo o sentimento que há muito dominara o seu coração. “Na primeira oportunidade que eu tiver, vou lhe dizer tudo o que eu sinto... O quanto é forte e há quanto tempo eu trago isto aqui dentro do peito, só esperando uma oportunidade para demonstrá-lo.”, e foi sorrindo devido a esses pensamentos que ele adormeceu, vencido pelo cansaço.

Acabou não dormindo muito, menos de duas horas depois acordou assustado por conta de um pesadelo e não conseguiu mais voltar a dormir. Não se lembrava direito dele, apenas do fim e das sensações que permaneceram após ele acordar. Bill sentia uma angústia estranha, um vazio no peito, e junto com todas essas sensações que ele não entendia, ainda tinha medo, muito medo, mas não conseguia entender do quê. “Por que eu sinto isso? Estou com medo, mas do quê? Eu não deveria estar com medo... deveria?”. Enquanto ele tentava se acalmar, percebeu que esse pesadelo era o mesmo que ele vinha tendo há algum tempo, mas que ultimamente havia se tornado mais freqüente, já que havia se repetido nas duas últimas noites.

As divagações a cerca do pesadelo continuaram e, por um momento, sentiu vontade de ir até o quarto de Tom. Pensou em levantar e ver como o irmão estava, mas não faria isso, seu orgulho era grande demais para livrar-se dele agora. “Eu não deveria me preocupar... Passaram-se anos; anos sem nenhum contato, nenhuma carta... Por que isso agora? Por que tenho vontade de abraçá-lo?”. Bill sentou-se na cama, mas não se levantou. Lembrou-se que o irmão estava trancado no quarto dele desde que chegaram da casa da avó. Ele não havia falado com ninguém a respeito, mas Bill sabia que o garoto tinha ficado muito abalado com a surpresa de Simone. Mesmo que Tom tentasse esconder, o irmão sentia e sabia que aquilo tinha aberto uma fresta na muralha que o garoto demorara tanto a erguer em torno de si para protegê-lo de uma aproximação da mãe.

Bill ficou durante horas apenas deitado, não conseguia fechar seus olhos, a escuridão trazia de novo seu medo; medo de ficar sozinho, medo que tudo voltasse a ser como antes. Ele respirou fundo e tomou coragem para finalmente se levantar; já havia amanhecido e os raios de sol invadiam o quarto pela sua janela, as cortinas estavam abertas, haviam se esquecido de fechá-las à noite. Levantou-se lentamente, com o máximo de cuidado para não acordar seus amigos, e as fechou. Não queria que a claridade acordasse-os. Quando pensava em ir ao banheiro tomar um banho, já que estava convicto que não conseguiria mais dormir, viu que Georg se espreguiçava, então, sorriu tristemente para ele e sentou-se ao seu lado, observando o amigo sentar-se na cama coçando os olhos, acordando as poucos.

- Acordado tão cedo... Que milagre! – Georg sorriu bocejando, com a voz rouca pelo sono. Bill não disse nada, e foi aí que ele percebeu o quão abatido estava o moreno. Estava mais pálido do que de costume e, por um momento, pensou em tê-lo visto tremer um pouco. – Aconteceu alguma coisa? Está pálido! – mais uma vez Bill se manteve quieto, pôs seus joelhos contra o peito, envolveu-os com os braços e ficou se balançando de leve olhando para o nada. Georg sentiu seu coração partir ao ver o estado de Bill, e o abraçou forte. Logo pôde sentir lágrimas caírem pelo rosto do mais novo, molhando seus ombros. O mais velho deixou com que Bill desabafasse através do seu choro, apenas afagando de leve os cabelos dele, que já soluçava em seus braços.

Após alguns minutos, Gustav também se acordou e se deparou com a cena de Bill chorando sendo consolado por Georg. Ele se levantou imediatamente e, sem dizer nada, também o abraçou. Não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que Bill precisava daquilo, e era exatamente o que faria.

Bill sorriu ao perceber o quão maravilhosos eram os amigos que tinha, e soltou seus joelhos correspondendo ao abraço dos dois, sussurrando entre soluços um tímido “obrigado”. Quando se separaram Bill sentia-se muito melhor, e sorriu ao ver os dois à sua frente. A expressão de ambos era de preocupação, e o garoto se sentia horrível por isso, pois nem ao menos sabia explicar o porquê de suas lágrimas.

- O que aconteceu? Você se machucou? – Gustav perguntou inocentemente olhando para o moreno que começava a rir, fazendo o seu choro virar uma leve gargalhada.

- Desculpe... Eu não queria preocupar os dois... Está tudo bem... – parecia nervoso, mas nenhum dos dois se atreveu a dizer nada, apenas esperaram Bill continuar. – Eu não sei o que deu em mim... – abaixou a cabeça sem encará-los, e novamente sentiu seu peito apertar,deixando que a tristeza voltasse a invadi-lo pouco a pouco.

 - Somos seus amigos, ok? Queremos o melhor pra você! – Georg disse fazendo Bill o encarar; as lágrimas haviam voltado para sua face, deixando o clima naquele quarto cada vez mais triste. – Quando tiver pronto estaremos aqui... Você sabe que pode contar comigo, e com o Gustav, não sabe? – Bill fez um sinal tímido com a cabeça tentando sorrir, mas a única coisa que fez, foi abraçá-los novamente.

- Estaremos sempre aqui Bill, aconteça o que acontecer... – Gustav completou fazendo Bill chorar mais ainda, emocionado por poder sempre contar com eles.

- Agora vamos! Pare de chorar, se não nós também vamos começar a chorar, não vai pegar bem, não é? – Georg riu da própria piada, seguido dos outros dois. Bill afastou-se do abraço e agradeceu mais uma vez, levantando-se junto com eles. – Que tal lavarmos o rosto, e comermos algo, temos que ensaiar hoje... Temos um novo guitarrista!

Bill não disse nada, mas sua expressão mudou drasticamente, fazendo Georg se arrepender do que acabara de falar. Bill sorriu azedo e foi ao banheiro lavar seu rosto enquanto os outros dois ajeitavam as camas improvisadas, recolhendo os lençóis.

- O que houve? – Gustav perguntou baixinho dobrando os lençóis.

- Eu não sei... Ele parecia assustado, quando acordei já estava assim...

- O Bill está tão estranho ultimamente...

- Não tá sendo fácil pra ele tudo o que vem acontecendo, e o Tom não ajuda, vive provocando-o...

- Será que eles vão voltar a se entender...?

- Eu não sei, mas queria muito que isso acontecesse... Logo!

Bill entrou no banheiro e encostou-se na pia, ficou por muito tempo apenas olhando para o seu próprio reflexo. Molhou o rosto diversas vezes, mas, mesmo assim, ainda sentia-se mal; a angústia ainda estava em seu peito, era como se visualizasse seu passado pelo espelho que estava à sua frente. As imagens passavam em flash, até que uma lembrança já esquecida voltara como uma bomba em sua mente, sem deixar espaço para mais nenhuma outra.

 

Bill mantinha-se parado em frente ao portão de sua casa. Observava atentamente os carros que por ali passavam. Já estava tarde, passava das seis, a neve voltara a cair, fazendo seus ossos congelarem quase que automaticamente e seu frágil corpo tremer. Entretanto, não tinha vontade de entrar na sua casa.

 As aulas já tinham recomeçado, fazia exatamente dois meses que ‘ele’ havia partido com seu pai, e quase todos os dias eram assim: o menino de apenas sete anos ficava a maior parte do tempo possível ali, parado em frente ao portão, esperando ver o irmão voltar, para ser o primeiro a envolvê-lo em seus braços num abraço apertado.

Bill sentia cada vez mais frio, estava apenas com seu uniforme escolar, sem nenhum agasalho. Encolhia-se todo, mas não deixava de observar a rua mantendo sobre ela o seu olhar perdido, que ainda trazia uma ponta de esperança.

- Meu amor, vem, vamos entrar... – Simone disse ao sair de casa à procura de seu filho, encontrando-o novamente no mesmo lugar de sempre - Não quero que fique doente... – disse, colocando um agasalho sobre seus ombros. – Está muito frio...! Meu amor, vamos entrar? – Bill não respondeu, muito menos se mexeu, para não perder nenhum movimento que viesse da rua. Queria estar ali quando ele chegasse, queria ser o primeiro a dizer que sentiu muito sua falta – Vamos, Bill!

- Mãe... – falou choroso. - Me deixe ficar aqui! Só mais um pouco... –  sussurrou baixinho, tremendo pelo frio.

- Está muito frio, meu amor... – ela repetiu, preocupada. - Por que quer tanto ficar aqui?

- Estou esperando o Tommy! – exclamou, olhando para ela feliz, e Simone conseguiu visualizar a pontinha de esperança nos olhos do mais novo. – Me disseste que ele chegaria logo... As aulas já começaram, e ele pode chegar a qualquer momento! – concluiu, voltando a observar a rua com atenção, esboçando um sorriso melancólico. No fundo, o garoto sabia que estava enganando a si mesmo, mas gostava de acreditar que o irmão voltaria em breve e eles seriam felizes novamente, como uma família.

- Por que não espera lá dentro? Logo vai começar a chover, Bill, você vai adoecer assim! – Simone tentava convencê-lo em vão, já que Bill insistia em ficar ali a espera de seu irmão, que ele não sabia que voltaria mais.

- Mãe eu não posso... E se ele chegar e não me ver aqui? Ele vai pensar que eu fui embora, que eu não gosto mais dele... Preciso ficar. – disse inocentemente, sem tirar sua atenção da rua.

Simone não disse nada, mas sentiu seu peito apertar, deixando suas lágrimas - que até agora estavam presa - caírem, sem conseguir mais controlá-las. Ela foi até o filho e o abraçou fortemente. Bill, ao ver as lágrimas da mãe, entendeu o que acontecia, essa era a resposta para as suas mais íntimas perguntas, isso comprovava o que, no fundo, ele já sabia.

- Ele não vai mais voltar? – não conseguiu deixar de perguntar. – Por quê? Ele não nós ama mais? Por quê? Me responde! – e começou a chorar, tremendo tanto pelas lágrimas quanto pelo frio que sentia cada vez mais intensamente.

Simone não disse nada, apenas o pegou no colo e, mesmo com ele se esperneando, pois queria continuar ali a esperar o irmão, levou-o para dentro, sem conseguir controlar o choro do menor...

 

Bill respirou fundo ainda apoiado na pia. Conseguia lembrar-se claramente da dor que sentiu naquele dia, e em todo o tempo que passou a espera de Tom. “O que eu mais queria era que ele voltasse... Ele está aqui. Por que agora quero que ele vá embora?! Por que essa angústia toda? Esse medo?”. Jogou um pouco mais de água no rosto, tentando se acalmar. Tinha que estar para o ensaio, não podia deixar que o passado interferisse nas suas escolhas para o futuro, e foi com esse pensamento que ele sorriu, mesmo que de leve. “Ok... vamos lá Bill... Temos um ensaio”, disse pra si mesmo mentalmente. Logo em seguida saiu do banheiro, ajudou os rapazes a terminar de arrumar o quarto, e depois desceram juntos para tomar seu café-da-manhã.

 

Gordon acordou cedo, não havia dormido muito, mas já estava acostumado com isso, e sentia-se muito bem com suas poucas horas de sono. Seu plano com David havia dado certo, estava um pouco receoso a princípio, não gostava de mentir para Bill, mas tinha sido necessário. Ele encontrava-se sentado no sofá, lendo seu jornal, enquanto apreciava uma xícara de café, quando ouviu um barulho vindo das escadas, fazendo com que ele voltasse sua atenção para elas e observasse os garotos descerem degrau por degrau conversando animadamente.

- Bom dia, meninos! Conseguiram dormir bem?

Gustav e Georg sorriram dizendo que sim e agradecendo a hospitalidade, enquanto Bill ia ao encontro do “pai” lhe dando um abraço forte.

- Gordon, apesar de tudo você é meu pai, nada vai mudar isso... Eu te amo! – Gordon não entendeu o porquê de o garoto estar falando aquilo, mas sorriu e o abraçou mais forte.

- Eu sei, Bill, eu também te amo muito. – Bill sorriu, mas separou-se de Gordon ao ouvir uma risada abafada vindo das escadas, quando se virou pôde ver que era Tom.

“Que lindo! Pai e filho, dá até vontade de chorar”, pensava enquanto descia as escadas, sem se preocupar com seu riso que já estava mais do que solto.

Georg olhou para Gustav e sorriu, depois olhou para os gêmeos, um olhava para o outro, mas a expressão de nenhum dos dois era de raiva. Tom tinha uma expressão divertida e Bill um sorriso estranho, Georg soltou uma risada baixa e disse para Gustav.

- Olha! Um acorda melancólico e chorando, e o outro morrendo de rir. O dia vai ser bom hoje... – Gustav acompanhou o amigo e, sem se importar com aquele clima estranho, Gordon disse:

- Que bom que você acordou, Tom! Tem algo pra ti. Chegou agora pouco. – Apontando para caixa com uma carta logo em cima.

Tom desceu um pouco mais depressa, passou por Bill sem nem ao menos olhá-lo, abriu a caixa e sorriu ao ver seus pertences. Com o sorriso ainda no rosto, sentou-se no sofá, pegando a carta na mão.

- Bem... Eu vou deixá-los agora, tenho algumas coisas para resolver, vou estar com meu celular ligado. – O homem falou, brincando com as chaves do carro. – Qualquer coisa me liguem... Comportem-se, rapazes! – Gordon sorriu, dando um beijo na testa de Bill, que correspondeu ao sorriso, e logo em seguida saiu, deixando-os sozinhos.

Tom nem prestava atenção no que acontecia a sua volta, rasgou com cuidado a carta dos avós, tinha saudades, estava muito feliz por ter recebido aquela carta junto com o resto de suas coisas, só achou um pouco estranho a sua guitarra não estar junto com elas, mas não ligou, e começou a ler:

 

Tom,

Como você pode perceber, nós terminamos de mandar os pertences que por aqui ficaram. Desculpe-nos pela demora, mas assim como a morte de seu querido pai lhe atingiu profundamente, a perda do nosso único filho também nos envolveu de uma forma inesperada. Acredite, a ida de um filho antes de seus próprios pais causa um sofrimento imensurável, do qual você não pode ter ciência.

“Por que eles sempre querem sofrer mais que todo mundo?! Eu mesmo não me recordo deles terem chorado em nenhum momento. Mas me lembro muito bem deles perguntando a mulher do seguro se meu pai havia deixado algo para eles. Como se eles precisassem de mais do que têm.”, pensou Tom, segurando o papel com mais força, sentindo a alegria esvair-se pouco a pouco, dando espaço para o ódio correr por suas veias.

Por aqui está tudo bem. Aos poucos nos recuperamos do choque dessa perda tão repentina. É difícil não imaginar que se ele tivesse nos ouvido, e não a você, Tom, ele...

Tom levantou a cabeça rapidamente. Recusava-se a ter que ler o resto daquela frase. Rejeitava-se a ser novamente açoitado por aquelas idéias agonizantes. Mas já era tarde. Ele mentalmente já havia concluído a frase. “Ele... Ele poderia estar vivo. Estar vivo!”. Então segurou firmemente a cabeça entre as mãos, e apertou-a com força. Seus olhos arregalados procuravam por algo no chão. Talvez um fio de esperança; que ele pudesse pegar e amarrar em seu coração, para que a paz que há tempos o abandonara, pudesse acalentá-lo mais uma vez.

Alguém tocou em seu ombro. Tom olhou para cima e era Georg. O menino parecia preocupado e perguntou-lhe algo que ele só pôde entender pela leitura dos lábios, pois já não conseguia escutar nada. “Você está bem?”, foi a pergunta. “Eu pareço estar bem?”, foi o que ele respondeu mentalmente, sem conseguir verbalizar. Apenas pegou a carta esquecida sobre o centro, e retirou-se para o seu quarto.

O garoto trancou a porta do quarto e sentou-se na beirada da cama, fitando o chão com um olhar perturbado. “Calma, Tom... Acalme-se certo?! Não foi culpa sua...”, ele repetia inconscientemente, tentando se convencer de algo que ele já sabia ser verdade – ou, pelo menos, esperava ser -. “Droga!”, ele exclamou mentalmente, dando um murro com força em sua perna. “Você não tem culpa! Merda! Pare de pensar assim!”, e ele se deixou cair da cama, ajoelhando-se no chão assim como fez quando soube que o pai havia morrido; e seus olhos rapidamente encheram-se de água. Ele fechou-os e poucos segundos depois sentiu braços lhe acolherem, cruzando-se ao redor do seu corpo, e o calor que eles transmitiam logo aqueceu seu coração. Um sorriso tímido curvou os lábios do garoto e ele se agarrou aquela sensação. Parece que a imagem de Louis ainda o confortava.

Tom abriu os olhos devagar, e eles brilharam devido as lágrimas que não caíram pelo seu rosto. Agora ele podia terminar de ler a carta. Sabia que as palavras não o atingiriam como fizeram há alguns minutos atrás.

P.s.: Você deve ter percebido que sua guitarra não foi enviada. O motivo é simples, e esperamos do fundo do coração que você possa compreendê-lo, querido. O custo para o envio seria bastante alto, já que é um objeto delicado e, certamente, frágil. E, mesmo pagando a fortuna que seria, era possível que ela não chegasse em suas perfeitas condições. Então, decidimos vendê-la para pagar a emissão do resto de seus objetos. Sabemos que essa guitarra tinha um valor emocional para você, já que foi seu pai quem lhe deu, mas decidimos que seria melhor assim.

Beijos.

Seus avós.

 

O garoto respirou fundo diversas vezes. Depois, uma risada baixa, carregada de dor, soou pelo quarto. “É incrível como ninguém mais pergunta o que eu acho... Ou o que eu penso... Como se eu não soubesse a verdade por trás dessas palavras... Dinheiro nunca foi um problema pra eles, afinal. Eu queria guardá-la... Mesmo que ela chegasse aqui despedaçada. Eu guardaria o que restasse dela como se fosse o meu bem mais valioso... O que, na verdade, ela é... Ou era...”

- Tom! Vamos, Tom! Não finja que não está escutando! – alguém batia com força na porta, e o garoto não fazia idéia se só tinham começado a bater agora, ou se apenas naquele momento ele havia percebido.

- O que foi?! – ele gritou, indo ao banheiro lavar o rosto.

- O ensaio! Já vamos começar!

- Não vai haver ensaio. – ele respondeu simplesmente, abrindo a porta enquanto enxugava o rosto.

- O que você quer dizer com isso? – Bill perguntou entre dentes.

- Simples. Não vai haver ensaio. Estou sem guitarra. – ao falar isso, seu corpo estremeceu, ele ainda não conseguia controlar o ódio que aquela idéia lhe passava.

- Como assim não tem guitarra? – Tom não respondeu, apenas fuzilou-o com olhar, mas o moreno continuou. – Tem uma linda lá embaixo, tá até embalada, novinha, Gordon acabou de trazer!

Tom olhou desconfiado e desceu com Bill. Assim que viu a guitarra em pé, em cima do pedestal que a apoiava, seus olhos brilharam, ela era linda. Chegou mais perto, para poder observá-la melhor, e a tocou com cuidado. Era uma Les Paul preta com detalhes em bege, totalmente trabalhada nos mínimos detalhes. Ouviu a voz de Gordon, e logo se virou para ele afastando-se da guitarra.

- É sua, Tom... Pode pegar. – o homem falou e sorriu ao ver a expressão confusa nos olhos do garoto.

Tom não tocou, apenas ficou olhando para Gordon interrogativamente, desconfiado das palavras do mais velho. O homem fez um sinal de leve, como se estivesse incentivando o garoto a pegá-la.

- É sua, Tom! – Gordon insistiu com um sorriso no rosto.

- Sério? – perguntou baixinho um pouco receoso e depois voltou a olhar para a guitarra. “Tenho que admitir ele tem bom gosto...”, riu de seus próprios pensamentos, e logo a pegou, ainda analisando-a, louco para poder testá-la.

Tom não disse mais nada, não recusou a guitarra, iria precisar dela, e agradeceu baixinho a Gordon sem deixar de olhá-la. Sorria abobado pela nova guitarra, e a raiva pelo que havia lido há pouco deixou de atormentá-lo. “Realmente linda... Mas eu não posso deixar de me perguntar... Por que ele está tentando me agradar?”, olhou para Gordon de relance, mas preferiu continuar calado. Bill começou a chamá-lo para começar o ensaio, já que agora já tinha sua guitarra. Gustav e Georg sorriram pela felicidade de Tom. Georg aproximou-se do loiro e comentou, observando também o instrumento:

- Linda... Parabéns, Tom, acho que a sonoridade dela deve ser ótima! – sorriu passando seus braços pelo seu ombro. Tom não fez nada, e nem conseguiria, já que ainda estava um pouco emocionado com a sua guitarra nova. - Vem, vamos ensaiar. – concluiu, guiando-o para a garagem.

 

 


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Notas finais do capítulo

oie pessoal ^^
td bom com vc?
olha desde já eu e a duda pedimos mil desculpas, sei que n é o suficiente, ams tenho uma boa noticia (pelo menos isso -.-)
como esse cap que trabalhamos ficou mt grande, resolvemos posta-lo em duas partes
a primeira esta aqui e a segunda vem na proxima semana sem falta...
espero que ainda estejam acompanhando e deixando seus reviews
estamos adorando a tds
e td o carinho de vcs

mesmo
estamos mt felizes
obrigado sempre
beijos! ;D