Eu estava no aeroporto pronta para voltar para o Japão e reencontrá-lo. Checava a cada um minuto meus documentos e a passagem, meus olhos iam do relógio até a longa fila de espera para ser atendida. Estava tão nervosa, qual seria sua reação ao me ver após tantos anos... Sinceramente, não queria nem pensar nisso, dava-me calafrios! A tontura e a ansiedade aniquilavam e consumiam minha alma. Sei que deveria estar feliz, pulando de alegria por finalmente voltar a vê-lo, voltar para ele que foi o meu primeiro e único amor, dizer a ele que nada mudou para mim. Então, eu finalmente estaria em casa.

...

Sasuke, você ainda pensa em mim?

...

Após a checagem da bagagem e outros empecilhos para poder entrar no avião, finalmente passei pelo portão que me levava para dentro deste. Havia algumas pessoas em pé arrumando suas pequenas malas no bagageiro, enquanto o restante tentava se sentir o mais confortável possível em suas poltronas. O voo seria longo.

"Número 34, número 34. 34... 34... 34! Achei!"

Minha poltrona ficava ao lado do corredor, e como o nervosismo e a ansiedade não me largavam, deixei que meus documentos e bolsa caissem no chão ao esbarrar sem querer num senhor já de idade. Ele virou-se para mim e sorriu, assim que me ouviu pedir desculpas pelo ocorrido. Rapidamente peguei minhas coisas do chão e exasperada sentei-me no meu lugar. Tirei meu cachecol, que no momento pareciam correntes me sufocando e tirando o folego. Não era só a volta para o Japão que me incomodava, não era apenas o meu querido Sasuke que enchia meus pensamentos, mas uma noticia muito inesperada que eu imaginei que só seria dada por nós dois, no nosso dia especial... Sonhos de uma jovem cerejeira.

I heard that you're settled down

That you found a girl and you're married now

I heard that your dreams came true

Guess she gave you things, I didn't give to you

Eu ouvi dizer que você se estabeleceu

Que você encontrou uma garota e você está casado agora

Eu ouvi dizer que seus sonhos se tornaram realidade

Acho que ela te deu coisas que eu não dei a você

Ao passar das horas fui me distraindo com uma revista indicada para mulheres, cuja maioria de artigos eram idealizados para obter o homem de seus sonhos.

"Baboseira".

Mesmo assim eu lia aquelas páginas com atenção, tanta era essa quanto para a que eu dirigia para o meu relógio de pulso. Ao meu lado uma moça de cabelos escuros dormia com fones no ouvido, deles parecia haver um show de rock bem agitado, por um instante a observei, parecia ser alguns anos mais nova que eu, talvez nem tanto. Do seu lado havia uma pequena janela num formato oval, mostrava o céu escuro e suas nuvens cinzas. Então já era noite, foi quando finalmente percebi que a maioria dos passageiros dormiam e as lampadas emanavam uma fraca luminosidade, deixando o local com um ar confortável e adequado para dar uma cochilada. Ou tentar, o que era o meu caso.

Deixei a revista de lado e inclinei a poltrona, peguei uma almofada e a ajustei em baixo da minha cabeça. Por fim, coloquei minha máscara para dormir, ajeite-me o mais confortável possível e abaixei a máscara.

"Tan, tan, tan..."

Levantava e abaixava meus dedos indicadores, a música que saia dos fones de minha colega estranhamente me deixavam entretida, não de uma forma incômoda. Meus pensamentos já o faziam.

"Droga!"

Com raiva levantei a minha máscara de dormir, deixando-a ainda na cabeça, sobre a região da testa. Bufei desgostosa, de jeito nenhum eu pegaria no sono tão facilmente!

"Droga, Sasuke Uchiha!"

Eu queria chorar e chorar, estava indo em direção a um labirinto sem saída, um labirinto criado por mim mesma. Afinal, tudo isso tinha sido minha culpa, se eu tivesse ficado apenas no Japão com ele... Seria tudo diferente, e ele não estaria prestes a...

Uma turbulência interveio em meus pensamentos, as aeromoças logo se dirigiram para os passageiros assustados e docilmente pediram para que continuassem em suas poltronas.

Repousei minha mão sobre minha testa e respirei fundo.

"Calma Sakura, você precisa ouvir isso dele e... Se for verdade, seguir em frente, só seguir em frente..."

— A senhorita esta bem? - perguntou uma das aeromoças curvando-se um pouco para ouvir minha resposta.

— Estou sim, obrigada. - respondi. Será que poderia trazer um copo de água gelada?

— Claro! - ela sorriu gentilmente e desapareceu no corredor.

Ergui minhas costas sentando-me adequadamente, deixei que a almofada caísse até minha cintura, tirei aquela máscara de dormir ridícula e alonguei os braços como se tivesse dito uma noite mal dormida. Quem dera.

Após pouquíssimos minutos, a mesma aeromoça trouxe um copo com água e duas pedras de gelo, a agradeci e ela voltou para seu posto. Com um só gole bebi todo o liquido e deixei o copo sobre minha pequena bancada (uma tabua retangular colocada atrás da poltrona de cada um, para que o passageiro atrás possa usar como mesa), ajustei novamente minha poltrona, ajeitei-me e peguei aquela revista estupida para terminar de ler, precisava manter-me ocupada até o final do voo.

...

— Senhores passageiros, por favor arrumem suas coisas e não esqueçam nada no bagageiro, pedimos para que todos retornem aos seus lugares e apertem os cintos. Estamos sobrevoando o Japão e daqui em instantes estaremos no aeroporto de Tóquio. – uma voz feminina percorria o avião todo pelo interfone.

Dito isso uma luz vermelha piscou com o sinal de por o cinto. Dado o comando eu o obedeci. Minha colega de poltrona agora estava acordada e não mais usava os fones, maquinalmente ela também seguiu o comando e apertou os cintos.

Após vinte minutos, contados por mim mesma, lá estava eu, parada entre várias pessoas, apenas tomando coragem para dar o próximo passo. Apertei firme a alça da minha mala de rodas e fui em direção a saída do aeroporto, enquanto caminhava meu celular no bolso traseiro da calça jeans vibrava, com toda calma possivel o peguei e vi que era uma mensagem.

"Sasuke..."

Aquele simples nome que me fazia sorrir, agora só me deixava apreensiva. Em sua mensagem estava escrito:

"Estou aqui no parque, no banco, no mesmo lugar. Sasuke."

"Responder...?"

"Está bem, já estou indo."

Claro que eu avisei que estava vindo para o Japão, não podia chegar de surpresa e esperar as boas vindas de braços abertos! Isso seria humilhante, até mesmo para mim... Disse a ele que vim por motivos de trabalho, boa parte sim, eu havia arrumado um emprego em Tóquio e queria visitar o lugar antes de começar, mas, a maior parte do motivo de minha volta é por ele. Pois, o que eu sentia a anos atrás ainda arde intensamente no meu peito.

...

Ao descer do taxi agradeci e paguei pela corrida. Peguei minhas coisas e observei por um momento o local. Eu estava num parque aberto, com várias árvores e gramado extenso, possuidor de passarelas acimentadas para caminhadas ou passeios de bicicleta, havia também vários bancos instalados em lugares aleatórios. Algumas pessoas estavam lá, umas usavam uniformes dado o horário de almoço, e outras eram casais ou grupos de amigos dando uma volta.

Comecei minha caminhada. Sasuke provavelmente estaria no nosso lugar preferido, ou melhor, nosso antigo lugar preferido, que agora não era mais nosso.

Em pouco tempo eu alcancei a metade do parque, e numa distancia considerável eu podia avistar os cabelos negros do Uchiha.

"Não mudou nada, não é?"

Segui em sua direção, ainda mais ansiosa que anteriormente. Ao me notar ele levantou-se rapidamente e ajeitou a camisa, algo que me fez soltar um risinho. O fitei de cima a baixo, constatando de que ele não havia mudado nada, apenas uma diferença minima, este deixara uma barba emoldurar seu queixo e bochecha. Uma barba que lhe caia muito bem por sinal.

— Olá, Sakura. - ele disse assim que parei em sua frente a uma distancia pequena, senti minha respiração falha por alguns segundos vendo seu doce sorriso, como costumeiro, ele olhava para baixo e dirigia lentamente para os meus olhos e estendia os lábios timidamente.

— Sasuke...

Então eu também sorri, e naquele instante meu coração havia finalmente se livrado da angustia e apreensão.

Old friend

Why are you so shy

It ain't like you to hold back

Or hide from the light

Velho amigo

Por que você está tão tímido?

Não é como se você tivese que se conter

Ou se esconder da luz

Ambos nos fitávamos em silêncio, talvez, ele também queria constatar de que eu ainda era a mesma.

— Como você esta? - ele perguntou gentilmente.

— Bem... - disse deixando prolongar e devolvi a pergunta - E você?

— Bem... - repetiu no mesmo ar incômodo.

O silêncio retornou e agora não nos fitávamos, ele navegava com o olhar pelo chão e eu analisava seus movimentos. Um impulso de quebrar aquele silêncio perturbador maldito cresceu dentro de mim, quase gritando disse:

— Eu...

— Eu...

Nos interrompemos, pareceu que tivemos a mesma ideia. Rimos, então eu deixei que ele falasse.

— Obrigado, - ele agradeceu sorrindo - bem, fazia um tempo que você não dava notícias e eu achei que sua carreira e estudos estavam indo bem, que estava tão ocupada e não tinha tempo de receber minhas mensagens, foi ai que eu desisti...

"Não, Sasuke... suas mensagens nunca chegaram"

— Sasuke, eu... Realmente...

Ele interrompeu.

— Olha, Sakura, esta tudo bem!

— Não, Sasuke! Não esta! - eu gritei e vendo que sua expressão mudara para uma assustada preocupação, logo me recompus. Desculpe, eu não queria... Quando eu cheguei no país novo, um mês depois, roubaram meu notebook, e o tempo todo eu usava o endereço dele, por isso não tive como te responder... Você também não me ligou e eu também não liguei, eu sei. Mas, eu precisava me concentrar, seguir em frente...

"Seguir em frente...?"

— Então eu pensei que você também estava seguindo seu próprio caminho e se terminamos, era para continuar assim, sem laços de amizades ou...qualquer outra coisa. Eu não queria ser um fardo novamente.

"Ambos desistimos de nós dois." Era o que eu queria dizer.

— Agora nada importa, já se passaram seis anos. Apenas deixe-me continuar... - ele disse carregado de um ar sério. Você do nada voltou a fazer contato e agora já esta aqui! Sabe, é algo... Inesperado! - falou num espontâneo constrangimento.

I hate to turn up out of the blue uninvited

But I couldn't stay away, I couldn't fight it

I hoped you'd see my face and that you'd be reminded

That for me, it isn't over

Eu odeio aparecer de repente sem ser convidada

Mas eu não pude ficar longe, não consegui evitar

Eu tinha esperança de que você veria meu rosto e que você se lembraria

De que pra mim, não acabou.

— Sasuke, mesmo sem nos falarmos por todo esse tempo, saiba que o que eu sentia não mudou!

Falei determinada, com a esperança de que meus sentimentos pudessem alcança-lo.

— Meu Deus, Sakura! - ele riu num tom aberto para um choro, mas de seus olhos nada deslizou. Com uma das mãos escondeu o rosto, então eu pude notar um anel dourado no seu dedo.

— É verdade?

— O que? - ele respondeu tirando a mão, e junto com a outra, colocando nos bolsos da calça.

— Esta noivo? - perguntei receosa.

"Não responda, não responda! Por favor..."

— Sim. - falou normalmente, porém, um filete de sua voz deixou escapar uma certa tristeza.

— Acho, corrija se eu estiver errada, que conseguiu chegar na presidência dos negócios da família Uchiha, também. - palpitei.

— Sim, bem, sabe como é o Itachi, ele tinha coisas mais interessantes para fazer. - respondeu simplesmente.

— É, eu sei... - dei um meio sorriso e abaixei o olhar, podia sentir uma dor consumindo cada ponta da minha alma.

O silêncio novamente retornou para nós, percebi um movimento. Sasuke estava de lado, pronto para se virar e ir embora, meu coração acelerou e as palavras não tomaram som.

"Sasuke, por favor!"

— É melhor, para os dois, esquecermos o que tivemos, que foi bom enquanto durou e agora não resta mais nada. - ele dizia, porém sem me olhar, seu rosto estava virado na direção que ele escolhera tomar.

"Não! Eu não quero isso, Sasuke!"

— Somos adultos e temos que saber lidar com isso. Você é mais inteligente do que eu, Sakura, não concorda?

Ele soltou um curto riso e sorriu, virou o rosto para mim, encarando-me nos olhos, revelando sua face úmido por finas linhas de água. Sasuke estava chorando?

— Sasuke... você esta...?

— Adeus, Sakura.

A visão de suas costas se distanciando a cada passo dado me hipnotizou, fiquei imovel sem se quer ousar respirar. Estava vendo ele ir embora para sempre e tudo começou a ficar lento, não podia ouvir as coisas em volta ou sentir o vento que soprava.

Com todo o meu esforço impus a correr, deixando minhas coisas para trás.

— Sasuke, espere!

Segurei seu pulso e pude senti-lo arrepiar ao meu toque. Devagar ele olhou para mim surpreso. Sua boca abriu para dizer algo, mas se fechou logo em seguida.

— Eu... Quero desejar o melhor para você.

— Para você também, Sakura. - ele sorriu, eu soltei seu pulso e ele continuou seu caminho.

Sem perceber deixei-me desfalecer no chão. Sentada e arrasada, olhava para Sasuke se distanciando cada vez mais... meu querido Sasuke, agora seria para sempre.

"Em vão... Tudo foi em vão!"

— Sasuke!

Gritei e ele olhou para mim já distante.

— Não me esqueça!

Ele não gritou, mas seus lábios se moveram e novamente ele se virou. Deixei que minhas lágrimas escorressem, para que elas limpassem minha dor e provassem... Que pelo menos eu tentei.

Ever mind, I'll find someone like you

I wish nothing but the best for you, too

Don't forget me, I beg, I remember you said

Sometimes it lasts in love

But sometimes it hurts instead

Não se preocupe, eu vou encontrar alguém como você

Não desejo nada além do melhor para vocês dois

Não se esqueça de mim, eu imploro, me lembro que você dizia:

Às vezes o amor dura

Mas, às vezes, fere em vez disso.

Não esquecerei.