XI

(Ponto de Vista: Kuran Yukki)

- Yukki me espera! – gritou Zero correndo em minha direção.

Meus pés não sentiam a frieza daquele chão. Meus olhos pareciam ter parado naquele exato momento e na minha cabeça ecoavam as palavras de Zero.

Eu juro, eu falei/fiz aquilo por maldade. Mas é que desde ontem um medo tomou conta de mim, um medo que aquela garota misteriosa tomasse a razão dos meus sorrisos bobos...

Também juro que pela primeira vez senti o gosto amargo do ciúme e da perda. Era isso...

- Está se fazendo de surda Yukki? – perguntou Zero ao me puxar e me fazendo ficar cara a cara com ele.

Não consegui conter minhas lagrimas. Como eu era tão burra de deixar meus sentimentos interferirem nas minhas ações? Zero estava com toda razão, eu era irritante. Esse meu jeito irrita qualquer ser humano.

Mas se bem, que não convivo com humanos então meu jeito era de irritar qualquer vampiro.

- Zero me desculpe, por favor...

- Eu que devo me desculpar. Eu quebrei a promessa em que nunca iria gritar com você novamente, eu sou babaca mesmo. Desculpe-me.

- Tá. – foi o que consegui falar.

- Er, e-eu te, ahm, amo Yukki. Eu te amo se lembre disso sempre que eu fizer algo que te magoe.

Enxuguei minhas lagrimas e dei um sorriso forçado. Zero riu da minha expressão e bagunçou meu cabelo.

- Eu também te amo Zero. – disse eu

Zero respirou mais aliviado e levou suas mãos até meu rosto. Fiquei um pouco vermelha e quando íamos para beijarmos uma pessoa estragou esse momento...

- Zero eu quero tomar sorvete. Você me levaria para tomar?

- Ok Yoshie.

Yoshie. Essa garota me fazia nutrir um sentimento que nunca pensaria que ia sentir: ódio.

Ela me provocava ciúmes, raiva. Todos os sentimentos existentes quando você tem medo de perder alguém que você ama. Seu jeito fofo e inocente me fazia desconfiar um pouco, desde o momento que a vi.

Depois de falar tais palavras, Yoshie abraçou o braço direito de Zero sorrindo. Senti um aperto no meu coração

- Eu já vou indo... – avisei tentando disfarçar minha agonia indisfarçável

- Yukki espera. – pediu Zero

- O que foi?

- Não se esqueça do que eu te falei agora pouco está bem?

-... – não consegui falar nada. Yoshie me olhava com aquele sorriso, ela parecia estar feliz por eu estar indo embora.

- Zero-kun... – chamou Yoshie impaciente.

Revirei os olhos e fui em direção das escadarias onde dava para minha casa (lê-se cubículo sem luz, sem vida e subterrâneo)

Estava quase no ultimo degrau daquela escadaria até que deixei uma lagrima cair. Sabe aquela sensação que a casa segundo que passa você se distancia cada vez mais daquela pessoa que você ama mesmo ela falando que vai te abandonar?

Era assim que me sentia...

- Me prometa uma coisa? – perguntou aquela voz que influenciou esse desabafo acima.

- Sim Zero. – olhando por cima do meu ombro, mas Zero me virou delicadamente.

- Não chore Yukki. Prometa-me que não irá chorar por coisas inúteis e sim, por causas que realmente importam.

-... – preferi ficar calada.

Zero me vendo daquele estado totalmente desnecessário para o momento me beijou.

E apenas aquele beijo bastou para perceber uma coisa obvia. Zero nunca me trairia ou deixaria que alguém interferisse nossa felicidade, ou até mesmo na minha felicidade. Porque mesmo Zero estando triste, me ver sorrindo era o que realmente importava

... Bem, isso era o que eu pensava...

                            -x-

- O que ela tem que deixa Zero daquele jeito? – perguntava a mim mesma repetidamente

Quem aquela sonsa da Yukki pensa que é para deixar Zero daquele jeito? Eu que estava lá nos piores momentos da vida dela, enquanto ela vivia uma vida feliz do lado de Kaname e se ela pensa que vai ficar tudo lindo está muito enganada.

Ela vai me pagar caro...

- Não deveria estar pagando de boazinha pro Zero, Yoshie? – perguntou Ichiru

- Sem gracinhas verme. – ordenei ao passar reto, mas Ichiru me empurrou até uma parede e prendeu meus braços.

- Agora ficou toda metida só porque pegou o Kaname não é Yoshie?

- E isso por acaso é da sua conta Ichiru?

- Nada. Só não fique achando que irá tomar o lugar da Yukki, porque você é apenas um aperitivo e a Yukki sempre será o prato principal dele. – zombou Ichiru a alguns centímetros de mim

- Ciúmes? – perguntei fazendo minha pior cara de desentendimento

Ichiru começou a rir da minha cara e minha vontade era de estourar a cabeça dele e queimar os pedaços. Sim, eu era muito grata pelo o que ele fez por mim, tive alguns motivos de diversão com ele, mas quando era aquela garotinha inocente e bem, Ichiru me mostrou o lado ahm, sujo da vida.

E como eu disse tive momentos de diversão quando era aquela garotinha inocente. Eu mudei.

- Cala a boca Yoshie. Você é sonsa demais para alguém se quer ter ciúmes de você.

- Vá para o inferno Ichiru. – mandei ao chutar suas partes baixas

- Vadia... – gemeu ele ao cair no chão

Saí deixando Ichiru no chão praguejando. O que ele tem a ver se eu peguei Kaname ou não?

Encostei-me a uma parede e me pus a pensar em Kaname. Até para um Puro Sangue retardado ele era bastante irresistível.

Levei meu indicador até meus lábios, os mordi e fechei meus olhos para relembrar aquele momento.

Na minha boca, ainda estava aquele gosto amargo do seu beijo.

Ah, o que um interesse não leva uma pessoa a fazer...

- Irá ser interessante pelo menos ser seu aperitivo Kuran... – ri do meu comentário.

                                      -x-

- Zero-kun, eu tenho que ir me solte... – pedi gentilmente uma coisa que não queria que ele fizesse.

- Tem mesmo que ir para os braços do Kaname? Eu não suporto ver você desse jeito com ele. – reclamou Zero fazendo uma careta.

Ri da sua careta. Eu queria continuar ali abraçada com Zero nos pés daquela enorme escada, mas precisava ir, se Kaname me pegasse ali não seria nada agradável.

- Não se preocupe Zero. Kaname não irá te fazer nenhum mal...

- Claro. Eu raptei a garota dos olhos dele, me apaixonei por ela, a beijei, a deixei apaixonada por mim e sou o seu pior inimigo. Porque ele iria me fazer algum mal?

- Não irei te fazer mal se você ficar quieto na sua Zero...

Kaname. Porque ele sempre aparecia nessas horas? Zero me soltou do seu abraço e encarou Kaname, uma briga agora não resolveria nada.

- Não posso nem me despedir dela mais? – perguntou Zero

- Você nem deveria ter cumprimentado ela porque acha que deixaria você se despedir?

- Porque você não me manda Kaname e Yukki pode falar com qualquer ser humano.

- O problema é que a sua parte humana já se foi faz muito tempo. E eu não vou deixar que faça o mesmo com Yukki.

Pude ouvir um rosnado vindo de Zero. Encolhi-me um pouco, Kaname me puxou para perto dele e me levou para meu lar subterrâneo.

- Yukki. Não quero que você mencione uma palavra se quer com Zero, está me ouvindo?

- Porque Kaname-senpai? – perguntei

- Porque ele é perigoso e não agüentaria se algo de ruim acontecesse com você. Você é minha vida Yukki, não se esqueça disso.

- Mas Kaname-senpai, eu, eu gosto do Zero-kun, não quero me separar dele. – expliquei tentando não quebrar a promessa que fiz a Zero que era de não chorar por motivos inúteis

- Você deve apagar qualquer tipo de afeto por ele Yukki. Eu vou te proteger não vou deixar que você tenha contato com ele novamente, nunca mais.

Essas palavras ficaram ecoando na minha mente por um bom tempo. Kaname nunca mais iria deixar eu ver Zero e se o mesmo tentasse irá sair daqui morto, coisa que não queria que acontecesse.

Corri até meu quarto e me sentei em minha cama. Porque eu era tão frágil e sempre precisava que alguém me protegesse? Porque eu sempre aceito as decisões de Kaname de cabeça baixa sem reclamar?

Ás vezes queria que ele não tivesse me salvado daquele vampiro naquela noite nevosa. Pelo menos ele pouparia tanta proteção a mim. Tal proteção estava começando a me sufocar, eu estava cansada desse mundo perfeito que haviam criado para mim. Cansada de ouvir tudo calada, cansada de tudo relacionada à Kuran Kaname.

Acabei adormecendo nos meus pensamentos revoltados. Será que quando acordasse algo mudaria?

# Algumas semanas depois...

Já haviam passado duas semanas e alguns dias em que não podia sair daquele cubículo.

Nem para o colégio estava indo mais, o que tornava tudo mais difícil. Eu precisava ver Zero de qualquer maneira se não eu enlouqueceria, então iria fazer algo que jamais faria.

Quebraria as regras...

Desci as escadarias e pulei da primeira janela que encontrei na minha frente. E o mais legal de tudo: cai no solo sem nenhum arranhão.

Corri em direção ao quarto de Zero discretamente. Por sorte ninguém me viu entrando na casa de Kaien-kun.

Respirei fundo ao entrar pelo corredor que tava ao quarto de Zero. Fui na maior felicidade do mundo, pensando eu encontraria Zero e finalmente iria sentir sua pele fria novamente, seu cheiro e etc.

Quando dei o primeiro passo para entrar no seu quarto, vi uma cena que destruiu inteiramente meu coração.

Yoshie e Zero estavam se beijando.

Senti uma dor enorme em meu peito, parecia que havia se formado uma cratera gigante no meu coração. Ignorei totalmente minha promessa e comecei a chorar.

Ele havia mentido para mim...

Todas aquelas palavras, os carinhos, os beijos,  as juras de amor não passariam de nada a partir de agora.

Senti minhas pernas falharem e quando vi estava ajoelhando na porta do seu quarto. Precisava sair dali o quanto antes, mas meu corpo não me obedecia mais.

Queria olhar para outra direção, mas meus olhos fixaram neles.

Minutos depois, eles se separaram. Yoshie ainda de olhos fechados abraçou Zero, instantes depois abriu seus olhos e se assustou com minha presença lá.

- Zero tem uma pessoa na porta... – avisou ela.

Zero a empurrou bruscamente em sua cama e quando finalmente percebeu que era eu que estava na porta, me olhou assustado.

Não tive coragem de olhar em seus olhos, então abaixei minha cabeça.

- Yukki isso que você viu não é nada. Não é nada disso que você está pensando. – tentou Zero se explicar

-... - as palavras não saíram por mais que eu tentasse falar algo.

- Sim. É isso mesmo que você está pensando Yukki, eu não beijei Zero sozinha... – falou Yoshie

- Cala a boca Yoshie. – ordenou Zero num tom bastante ríspido

E a única coisa que consegui dizer naquele momento era:

- Espero que sejam felizes...

Depois disso, vi as imagens embaralhando em um fundo escuro.

Escuridão. Era o único lugar em que precisa me esconder agora.