Era agora a hora da verdade.

– Eu queria te pedir algo antes de começar a falar... – Respirou fundo – Gostaria que me ouvisse com calma, ouvisse tudo que tenho para dizer, sem me interromper. Quando acabar responderei a qualquer pergunta que tenha e ouvirei o que você tiver a dizer. Só peço que me ouça com atenção. É muito importante.

– Tudo bem. - concordei.

Ele suspirou.

– Bom... Quando eu fui embora... – Ele suspirou novamente e eu senti um tremor por todo meu corpo, provocado pela lembrança. – Acreditava que aquela era a atitude certa a tomar. Não suportava mais ver o perigo a que eu lhe expunha o tempo todo, devido à minha natureza. Você estava sempre em risco, Bella. Sua proximidade com meu mundo fazia sua vida estar sempre no limite, até mesmo quando estava comigo... E aquilo me causava extrema angústia. A mera idéia de perdê-la... Acabava comigo. Eu precisava ter certeza de que você estaria longe do perigo, precisava assegurar que sua vida seria tranqüila, não seria bruscamente interrompida por um deslize meu.

Ele pausou, olhou pelas árvores passando a mão nervosamente pelos cabelos.

Pisquei os olhos tentando me desligar da atração que ele estava exercendo sobre mim.

– Mas eu ainda te amava, Bella – Ele continuou ainda mirando as árvores. – Ainda queria você... Tive de mentir para que você acreditasse que eu não a queria mais ao meu lado. Você sempre foi tão teimosa... Eu sabia que se enxergasse a dor em meus olhos nada a impediria, você não aceitaria minha decisão e eu cederia... Voltaria atrás. Mas eu precisava fazer aquilo... Precisava permitir que você tivesse a chance de uma vida normal, humana... E você nunca teria isso ao meu lado... Era a única coisa que eu não era capaz de lhe dar.

Mais uma pausa.

Enquanto ele olhava para fora, eu olhava para ele. A compreensão me inundou. Ele havia me deixado por amor a mim, por minha segurança? Me abandonou, abriu mão de nós dois por achar que eu viveria melhor sem ele? Quantas vezes ele havia me dito que eu não compreendia a dimensão de seus sentimentos? E agora eu percebia que era ele que não fazia idéia da intensidade dos meus.

Ele se virou e encontrou meus olhos. Os seus estavam opacos, sem vida. Em sua face eu lia a dor que ele sentia naquele momento. Ele também estava sofrendo, agora eu sabia.

– Mas você me surpreendeu... Acreditou em mim com tamanha rapidez... Aquilo me feriu profundamente... Você realmente acreditou que eu não a amava mais... Pude ver em seus olhos que acreditou... E então estava feito. Eu havia quebrado nosso laço. Não tinha como voltar atrás, na verdade, acreditava que estava fazendo o que era melhor para você... – Novamente ele desviou o olhar – Mas depois que parti, não consegui seguir em frente, não parava de pensar em você... Foi preciso muito esforço para que eu não cedesse ao impulso de voltar correndo e fosse lhe pedir para me perdoar, para esquecer tudo que havia dito. Foram dois anos torturantes. Não existiu um segundo sequer em que eu não pensasse em você... Em que eu não desejasse estar ao seu lado.

Então ele enterrou o rosto nas mãos, como se fosse chorar.

Senti um aperto no coração. Automaticamente me inclinei em sua direção, mas me detive antes que o tocasse.

Ele levantou o rosto, respirou fundo, e me olhou nos olhos.

Novamente me inclinei para ele, como se uma força invisível me puxasse em sua direção. Ele baixou as mãos nos joelhos e entrelaçou os dedos.

Eu estava surpresa. E tomada de emoção. Ele me amava... Como eu o amara... Como ainda o amava... Como eu não havia percebido? Tudo que ele fez, foi por mim... Sofreu por mim... Ainda estava sofrendo.

Retorci os dedos com força. A vontade de tocá-lo era irresistível. Queria abraçá-lo, cuidar dele. Não conseguia encontrar em mim a mágoa por tudo que ele tinha me causado. Tudo que sentia era amor... O amor que eu sentira e ainda sentia por ele, vibrar em cada parte do meu corpo.

Eu não sabia o que dizer. Estava atordoada. Ele tinha razão. Se eu houvesse percebido na época que ele estava fazendo aquilo pelos motivos que acabara de me explicar... Eu não teria o deixado ir embora, teria ido atrás dele até o fim do mundo.

A conclusão de que todo o tempo que sofri foi sem nenhuma razão real... Tudo que acreditei ser verdade era criação de minha mente super fértil, de minha baixa auto-estima... Então não havia motivo para eu não perdoa-lo e me atirar nos braços dele e ter de volta tudo que eu ainda almejava...

Sim... Havia um motivo... Um único, mas poderoso motivo para que eu não fizesse exatamente o que meu coração ansiava naquele momento... Stefan.

Edward me olhava concentrado, provavelmente lendo a confusão, que se passava dentro de mim, em meus olhos. Esperava que eu dissesse algo.

Respirei fundo.

– Eu... Eu posso lhe perdoar... Mas isso é tudo que posso fazer. – Falei com meu coração apertado, a tristeza bailava em minha voz.

Edward passou as mãos pelo rosto, e depois o apoiou nos punhos. Seu rosto a poucos centímetros do meu. Com o passar do tempo havíamos nos inclinado ao máximo um na direção do outro.

– Eu entendo. – Sua voz falhou – È mais do que eu esperava... Ou merecia. Obrigado, Bella.

Nos olhamos por minutos intermináveis.

Eu precisava ir embora. Não queria que ele soubesse o que estava sentindo, não podia ceder... Precisava ser forte... Precisava me levantar.

– Você não tem nenhuma dúvida, nenhuma pergunta que queira fazer? Não tem nada a dizer? – Ele parecia esperançoso. Talvez estivesse tentando prolongar nosso tempo, como eu queria puder fazer.

– Não. – Disse balançando a cabeça e me levantando. – Preciso ir.

– Eu te levo para casa. - disse ele.

Depois disso, ficamos em silêncio, sem pronunciar uma única palavra. E assim que chegamos abri a porta e saí, nem deu um tchau, mas podia ver que ele estava me olhando....

Entrei no carro, e fui direto para casa, durante todos esse anos que ele ficara ausente, pensei que ele não me amava, mas me enganei... ele me amava e ainda me ama, posso sentir isso.