O Mundo Dá Voltas. escrita por Cartas Ao Vento


Capítulo 49
Contar ou não?


Notas iniciais do capítulo

PS: Nos "[...]" tem coisas escritas, passem o mouse por cima para ler.



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Bruno POV:


Jessie chegou séria, me deu um beijo na testa e retirou-se imediatamente. Havia acontecido algo. Fiquei na dúvida se ia falar com ela ou esperava ela se pronunciar. Mas, como impulsivo que sou, me levantei do sofá no mesmo instante e fui até o quarto, vendo-a deitada de bruço na cama com um travesseiro por cima da cabeça.

– O que aconteceu? - Perguntei preocupado.

– Dor. - Ela resmungou.

– Vamos ao médico. - Falei mais preocupado ainda.

– Não. - Ela disse ainda escondida debaixo do travesseiro.

– Vamos sim. - Falei puxando o travesseiro.

– Não é o tipo de dor que algum médico consiga resolver. - Ela disse já com os olhos marejados.

Não sabia o que dizer, apenas a envolvi num abraço apertado, já sentindo lágrimas escorrerem por seu rosto.

– Não quero te perder. - Falou caindo em lágrimas.

– Não vai. - Respondi encarando seu rosto molhado. - Me conta o que aconteceu... você está estranha assim desde aquele pesadelo.

Droga, foi só falar a palavra "pesadelo" que Jessi chorou ainda mais. Fiquei com o coração apertado vendo minha esposa chorar daquele jeito e eu sem nem saber o motivo.

– Não é nada amor. - Ela respondeu tempo depois secando as lágrimas que caíam. - Deve ser a gravidez que me faz ficar assim, emotiva.

– Se não quer contar agora tudo bem, mas se acalma, ficar nervosa assim não é bom pra vocês.

– Vou tomar um banho, foi um dia... cansativo. - Respondeu soltando-se de meus braços.

Eu sabia que o "nada" dela, significava "tudo", após mais de um ano 'juntos', acho que eu a conhecia bem.


Jessie POV:


Ver aqueles olhos arredondados me olhar com dó sem saber o que se passava, foi o fim. Eu não conseguia mentir para Bruno, foi difícil demais dizer "não é nada" quando na verdade é tudo. Eu não ia conseguir esconder isso por muito tempo, o pior é que não só eu estava ameaçada, como também ele e meu bebê. Estava pensando seriamente em contar tudo à Bruno, jurei fidelidade e confiança à ele no dia que nos casamos, não seria justo esconder isso dele. Eu estava tão feliz, por que isso tinha que acontecer agora? Por que ele não morre? Sei que é errado desejar a morte de qualquer pessoa que seja, mas pra Richard isso era pouco até.

Enquanto a água morna caía sobre minha pele, eu estava relaxada, mas ao sair e lembrar daquelas palavras bruscas de Richard já vinha a vontade de chorar de novo. Saí do banho e vi Bruno com uma bandeja contendo pães, bolo, requeijão e suco. Como eu ia negar aquilo tudo? Eu não estava com um pingo de fome sequer.

– Fiz pra você. - Ele falou com um sorriso.

– Não estou com fome. - Falei manhosa. - Comi num mini-restaurante enquanto voltava da agência.

– Bebe só o suco, de manga, seu favorito. - Ele insistiu.

Sorri e bebi o suco, que por sinal estava delicioso.

– Preciso dormir, tô cansada. - Disse ainda manhosa.

– Vou pôr essas coisas na cozinha e já volto pra ficar com você.

Coloquei um baby doll confortável e deitei, minha casa era o único lugar que eu me sentia segura agora. Logo após Bruno deitou-se ao me lado, me apoiando em seu braço. Me fez carinho até que eu finalmente adormecesse. Nove e meia da noite, quem diria que eu dormiria à essa hora?!


[...]


– NÃO RICHARD! - Mais uma vez acordei chorando, outro pesadelo!

– O QUE? - Bruno despertou-se assustado. - Outro pesadelo? Quem é Richard? - Perguntou apavorado.

Comecei à chorar descontroladamente e Bruno levantou-se pra pegar um pouco de água para mim.

– Bebe isso. - Disse me entregando o copo. - Quer me contar o que está acontecendo ou tá difícil? Cadê o papo de confiança acima de tudo? Quem é Richard, Jessie? Por que você anda tendo pesadelos toda noite agora?

Bebi a água em questão de segundos, respirei fundo, sequei minhas lágrimas e contei toda a história, chorando, e muito.

– QUEM ELE PENSA QUE É? - Bruno falou alterado depois de ouvir tudo que eu relatei. - ISSO NÃO VAI FICAR ASSIM, EU VOU CHAMAR A POLÍCIA.

– NÃO BRUNO, PELO AMOR DE DEUS, POLÍCIA NÃO. - Falei em prantos. - Que parte do "ele me ameaçou" você não entendeu?

– Ele tem que pagar por tudo que já te fez, entende isso! - Ele disse segurando meu rosto com as mãos. - Eu não vou deixar nada acontecer com você e com essa parte de mim que tá se formando em você.

– Ele só te liga com nº confidencial? - Perguntou sério.

Assenti com a cabeça e o encarei, Bruno ficou pensativo por longo tempo.

– É 20 mil dólares que ele quer? Então é isso que ele vai ter. - Murmurou algum tempo depois. - Agora deita aqui, você precisa dormir, sabe disso.

Me aconcheguei em seu peito novamente e inalei aquele perfume que me fazia tão bem, deixando todos os pensamentos ruins que me vinham à cabeça sumirem, ou pelo menos isso.


[...]


Bruno POV:


Passamos quatro dias esperando a ligação anônima do tal Richard, porém, nada aconteceu. Levantei cedo e preparei um café da manhã reforçado para ela, que dormia tranquilamente. Esse canalha não ia estragar nossa felicidade agora. Aproveitei e tomei um banho logo.

Jessie dormia agarrada com um travesseiro, certamente achando que era eu, foi engraçado vê-la daquele jeito. Fui até a sala e liguei a TV para assistir um filme qualquer, tempo depois ouvi um barulho meio tremido em cima da mesinha da sala. Era o celular dela vibrando, levantei rapidamente e era exatamente o que eu esperava; nº desconhecido. Apertei o botão de atender e não falei nada, apenas ouvi aquela voz rouca falar alguns segundos depois:

– Seu tempo está acabando princesa.

Continuei mudo, na espera de ouví-lo outra vez.

– Quero os 20 mil dólares em até três dias, em dinheiro vivo nada de cheques. - Ele disse sério. - Vai ficar calada?! Ótimo então... amanhã estarei na porta da agência, assim que você sair, esperando uma resposta sua. Até lá, princesa.

Assim que ele desligou, apaguei o histórico de chamadas recebidas e coloquei o celular dela no mesmo canto que estava. Amanhã ele ia pagar por tudo que já a fez sofrer.

Respirei fundo e fui até o quarto ver se ela ainda estava dormindo. Sorri involuntariamente ao vê-la deitada de bruços com um dos braços por cima do meu travesseiro. Voltei para a sala e continuei assistindo o filme, mais pensando que assistindo na verdade, eu tinha que arrumar uma maneira de prender aquele safado, porém, sem deixar Jessie desconfiar de nada.

– Bom dia amor. - Ouvi uma voz baixinha falar ao meu ouvido.

– Agora que você acordou tá bom mesmo. - Respondi dando um selinho colado nela.

– Liga pro Allan e diz que eu não vou hoje? - Perguntou manhosa. - Se eu ligar vou tomar bronca... já você não.

– Tá se sentindo bem? - Perguntei preocupado.

– Tô mas não quero ir. - Continuou manhosa, era até fofinho. - Sei lá, diz que tô com dor de cabeça.


Jessie POV:


Observei Bruno pegar o celular e gesticular enquanto falava com Allan no telefone. Na verdade, acho que eles mais se insultaram. Sorri ao andar até a cozinha e ver a bandeja cheia de gostosuras que Bruno havia preparado. Ataquei vorazmente um pouco de tudo, estava realmente muito gostoso tudo aquilo. Passamos quatro dias sem ligações do Richard, por que não podia ser assim sempre? Na verdade, minha preocupação era ir na agência e na saída ele aparecer novamente.. Por isso adiei minha ida, queria ver se ele me ligaria hoje de novo.

– O que ele disse? - Perguntei ao ver Bruno vindo em minha direção.

– Ô gazelinha chata essa viu?! - Resmungou pegando umas uvas da mesa. - Mas tá tudo certo agora.

Sorri e fui tomar um banho.

Parece que à cada dia que se passava, dava para notar mais minha barriga, eu já sentia um ser se formando aqui dentro. Fiquei encarando meu corpo após o banho e já percebia algumas mudanças nele, como por exemplo, meus seios que já estavam mais... er... inflados.

– Tá linda. - Bruno disse ao ver a cena idiota de caras e bocas que eu fazia ao notar um detalhe novo.

– Tô me sentindo gata. - Gargalhei. Dá licença né... eu estava gostando da sensação de seios maiores, já que por toda minha vida tive que encarar seios pequenos.

– Se sentindo? - Ele arqueoou as sobrancelhas. - Você É gata, a MINHA gata.

Me enrolei na toalha e caminhei até ele, dando-lhe um selinho estalado.

– Tô afim de comer massas hoje. - Falei com um jeito quase que de criança.

– Tem um restaurante muito bom em Hollywood, o Cecconi's, conhece? É italiano. - Ele disse esboçando um sorriso maravilhoso.

– Já ouvi falar, mas nunca fui lá. - Respondi retribuindo o sorriso.

– Ótimo, vamos comer lá hoje. Que tal chamarmos a Lili e a galera? Faz tempo que não almoçamos todos juntos, é sempre divertido quando eles almoçam com a gente.

– A Lili e o Bryan trabalham esqueceu? - Falei rindo. - Mas sei lá, vou ligar pra ela daqui a pouco.

– Você vai trabalhar amanhã, né?! - Bruno perguntou de um jeitinho meio... estranho.

– Vou sim, sexta feira, tenho que ir... Mas por que a pergunta? - Falei meio desconfiada.

– Porque amanhã tenho duas entrevistas e não queria te deixar sozinha em casa, talvez lá com o Allan seja mais seguro. - Ele respondeu.

– Que milagre chamou ele de Allan e não de gazela. - Falei fazendo ele gargalhar.


[...]


– OI PESSOA QUE ME ESQUECE! - Lili toda animada atendendo o celular.

– Te esqueço nada, para com isso. - Falei mimada. - Então... tá aonde?

– Tô voltando pra casa, meu patrão passou mal e liberou todo mundo. - Ela disse animada.

– ÓTIMO. E Bryan?

– Ele tá trabalhando ainda, por quê?

– Ai... queria convidar você pra comer no Cecconi's...

– NO CECCONI'S? - Ela disse alto. - MEU DEUS ESSE RESTAURANTE É MUITO CARO, temos dinheiro pra isso não tá louca.

– Se eu e o Bruno estamos CONVIDANDO vocês, é porque vamos bancar ô chatinha. - Falei debochando.

– Peraí que tem uma blitz ali, daqui a pouco eu te ligo. - Desligou.

Ela é completamente louca, dirigindo e falando no celular vê se pode.

Uns 15 minutos depois ela retornou a ligação:

– Cheguei em casa.

– Amém, passou pela blitz bem? Não encontraram suas drogas não? - Perguntei gargalhando.

– Idiota. - Ela sorriu. - Liguei pro Bryan e ele disse que é praticamente impossível sair de lá agora. Mas disse que se eu quiser ir, posso... como se eu precisasse da permissão dele pra alguma coisa. - Disse debochada.

– Você naão presta. - Ri. - Então, vamos?! Pega os babies na creche, quero eles lá.

Que horas passo aí?! Não quero ir sozinha, vou com vocês.

– Pode ser daqui a umas duas horas.

– Ok, beijo te amo pessoa que vai me levar pra comer naquele restaurante perfect.


[...]


Bruno POV:


O dia anterior foi bem agradável, Jessi comeu feito uma monstra no Cecconi's, mas eu não seria louco de comentar isso pra ela. Por que mulher grávida sente tanta fome?!

Mas hoje ia ser o dia, eu ia conseguir pegar aquele safado e pôr ele no lugar que ele merece: na cadeia! Acordei mais cedo que Jessie e me preparei pra pôr meu plano em prática. Tive que acordá-la, porque senão acho que ela não iria trabalhar, não sei de onde ela arrumava tanto sono.

– Ai não. - Ela resmungou enquanto se virava na cama. - Já tá na hora? - Disse sentando-se na cama e esfregando os olhos.

– Não, mas te acordei agora pra se arrumar e comer antes que eu saia. - Falei sorrindo.

– Saco. - Disse espreguiçando-se.

Esperei ela se arrumar, tomar café e a levei até lá, pra ter certeza que ele não mudaria de opinião e fosse pela manhã.

– Vou pro estúdio agora. - Falei após dar um beijo nela na porta da agência.

– Se cuida. - Ela respondeu.


Hora de pôr todo o plano em prática. Liguei para um capitão da LAPD – (Los Angeles Police Departament) conhecido meu e contei todo o ocorrido da semana passada. Pedi reforço na hora marcada, 17 horas, quando Jessi saíria de lá e ele prontamente concordou com tudo. A isca estava feita.

Voltei para casa, afinal não tinha entrevista nenhuma, falei isso só para não deixá-la preocupada e fiquei olhando o bendito relógio que parecia não passar nunca a hora.


[...]


Quatro da tarde, minhas veias já pulsavam de tanta ansiedade, queria que desse tudo certo. Estacionei o carro meio distante da agência e observei os policiais da LAPD que o capitão havia mandado pro local me darem um sinal de ok. Faltava pouco pra ela sair, e também, pra ele chegar. Olhei em volta para ver se havia algum sujeito com as características físicas que ela havia descrito, porém, não avistei ninguém além de uns senhores conversando numa praça que tinha próximo dali.

Algum tempo depois avistei um homem alto, musculoso e bem moreno encostar-se num poste, tinha as características descritas por Jessie, inclusive a tatuagem de cobra que tinha em seu bíceps. Olhei para um dos policiais e fiz um discreto sinal afirmando que sim, era aquele homem. Todos estavam disfarçados, nenhum usava farda ou algo que desse na cara que eles eram da LAPD.

Me aproximei um pouco mais, sem deixar o sujeito notar minha presença. Minha vontade era partir pra cima dele. Assim que avistei Jessie se despedindo do pessoal, fiz sinal pro policial que a pegaria afirmando que era ela e minha esposa, deixando-o já em alerta absoluto.


Jessie POV:


Finalmente! Hora de ir pra casa, foi um dia produtivo, por incrível que pareça bati umas fotos hoje que ficaram perfeitas, Allan amou, disse que estou radiante, um fofo. Dava preguiça de sair da minha cama quentinha pra vir trabalhar, mas se bem que era divertido, ainda mais quando o patrão é uma pessoa divertida como Allan. Me despedi de todos e saí sentindo uma leve brisa tocar meu rosto.

– OI PRINCESA. - Senti uma mão forte me puxar pelo braço. Desesperei.

– POR QUE NÃO PUXOU ELA? - Bruno?! O que diabos estava acontecendo ali? - SOLTA ELA AGORA.

De repente me vi sendo segurada logo a frente de Richard, com Bruno e uns policiais à um pouco de distância.

– CADÊ A GRANA? - Richard gritou sacando de sua cintura um revólver.

– ME SOLTA RICHARD, POR FAVOR, ME SOLTA. - Ja berrava completamente em prantos. - BRUNO.

– Solta ela e eu te dou o dinheiro. - Disse segurando uma mala.

– ABRE A MALA. - Richard ordenou apontando o revólver para minha cabeça. - E VOCÊ CALA A BOCA SE NÃO QUISER PARTIR DESSA PRA MELHOR. - Prendi o choro o máximo que consegui.

Bruno abriu a porcaria da mala, contendo os 20 mil dólares em dinheiro. Seu semblante era de desespero.

– ÓTIMO. AGORA COLOCA A MALA FECHADA AQUI PERTO DE MIM E AVISA AOS INCOMPETENTES AÍ QUE SE ALGUÉM SE MANIFESTAR EU ATIRO NELA. - Bruno caminhou lentamente e colocou a mala aos pés de Richard.

– Agora solta ela por favor. - Disse tentando manter a calma.

No mesmo instante que Richard me soltou corri pros braços de Bruno que me agarrou fortemente e ordenou em meu ouvido que eu fosse pro carro. Soltei-me dos braços deles e em questão de segundos avistei um dos policiais dando uma gravatada em Richard e outro tentando tirar a arma de sua mão. Paralisei por um instante, não sabia se corria pro carro ou corria para Bruno novamente.

– VEM BORBOLETA. - Fui puxada bruscamente por Allan para dentro do carro.

– NÃO DEIXA NADA ACONTECER COM VOCÊS ALLAN. - Falei em prantos ao vê-lo se juntar à Bruno.

Em questão de segundos ouvi um disparo e saí imediatamente do carro desesperada ao vê-lo ensanguentado no chão..


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Notas finais do capítulo

PS.: Não me matem.
Até amanhã.