- Não acredito que você deixou para me contar isso agora! No final do expediente, e do seu último dia aqui! – exclamava Layla chateada quando eu a arrastei para o lado externo da cafeteria. – Mesmo que você não queira vou pra sua casa e te ajudar arrumar as malas porque você deve ter se lotado de camisetas brancas e calças jeans... Ah e mil moletons monocromáticos. – revirei os olhos.

- E você quer que eu leve o que? Só tenho isso para vestir, e outra eu não sou como você pequena smurff... – ela bufou e me arrastou até meu carro.

- Passa as chaves. – ordenou praticamente me atacando para fuçar nos bolsos de minha calça, estendi o que era pedido.

- Aonde nós vamos? – indaguei me jogando no banco do passageiro.

- Às compras! – exclamou prendendo o cabelo e dando partida no carro.

  Eu estava com certeza ferrada! Layla não era do tipo consumista, mas quando cismava com algo fazia de tudo para reverter o que lhe incomodava. Ou seja, ela faria de tudo para mudar meu guarda-roupa.

  Era praticamente uma barbie em suas mãos, passamos por uma rua extensa de lojas e em cada uma delas ela me fez entrar. No final do dia havia adquirido vestidos ousados que nunca usaria, saias tão justas que mal me permitiam respirar e sapatos tão altos que eu poderia desiquilibrar dos saltos. Além do banho de cosméticos e meia-dúzia de lingeries que ela me fez comprar...

  Chegamos ao apartamento, mortas e enquanto eu tomava banho Layla arrancou a maioria das roupas de minha mala e colocou todas as que tínhamos comprado.

- E então? Ansiosa pela viagem? – por que ela gostava tanto de me relembrar isso?

- Não diria ansiosa... Talvez um tanto assustada. – admiti entrelaçando minhas mãos no colo.

- Assustada?

- Éér, não sei... Estranha. – ela riu se jogando em meus travesseiros.

- Você realmente é estranha Anna. – bati em sua cabeça desarrumando os cabelos.

- E você é super normal né? Ainda mais com essa vassoura azul na cabeça! – recebi seu olhar maléfico antes de tomar uma pancada de travesseiro na cara.

  Iniciamos uma guerra de travesseiro não muito duradoura, Layla era do tipo que não aceitava sair perdendo e quando eu a joguei da cama ela decidiu parar a brincadeira caindo deitada ao meu lado.

- Você não se importa se eu dormir aqui né? – perguntou já se enfiando debaixo das cobertas ri fazendo o mesmo que ela.

- Alguma vez eu já me importei? – ela negou com a cabeça e rimos juntas.

- Essa viagem será perfeita... – murmurou abraçando um dos travesseiros com as pernas.

  Não respondi apenas virando de costas para a mesma e tendo em pensamentos comigo se isso realmente seria bom, se essa viagem conseguiria me curar...

  Acordamos no outro dia com meu despertador escandaloso, a garota azul resmungou ao meu lado voltando a dormir e eu levantei para me arrumar, quando já pronta a expulsei de minha cama e partimos para a cozinha.

- Sabe, você pode ficar com meu carro até eu voltar. – ofereci vendo seus olhos irradiarem por cima das olheiras.

- Sério? Nossa te amo! – gritou pulando em mim num abraço.

- Ok, menos... – pedi a empurrando e voltando atenção à tigela de cereais a minha frente.

- Então como vai ser? Levo-te ao aeroporto, ou Corey vem te buscar?

- Leve-me ao aeroporto – olhei no relógio novo em meu pulso. -, aliás, já estou atrasada, vamos logo! – a chamei enquanto a mesma enfiava três bolachas na boca e apanhava a bolsa que havia jogado no sofá outro dia.

  Peguei minhas duas malas e partimos, eu preocupada em achar uma estação de rádio descente e a pequena avatar se dedicando em olhar as placas para não errar o caminho. Às vezes eu pensava que ela era quase uma turista na cidade...

  Quando estacionamos senti meus músculos congelarem, não deixei isso transparecer e a levei comigo até que encontrássemos o que me acompanharia dali em diante. Instantaneamente estaquei no lugar quando o vi na fila de embarque, agarrei o braço da garota ao lado e acabei sendo arrastada pela mesma até ele.

- Olá garotas! – nos cumprimentou num aceno de cabeça e eu soltei o braço de minha amiga.

- Bom Anna, acho que não preciso te acompanhar mais – vi sua olhada maliciosa ao loiro do meu lado. -, faça boa viagem! – recebi seu abraço.

- Cuide bem da minha máquina. – acrescentei e ela bateu continência se despedindo de Corey e nos deixando a sós.

- Você tá bem? – perguntou timidamente enquanto eu insistia em não fazer contato visual com o mesmo.

- Claro, sim, ótima! – falei rapidamente deixando o nervosismo transparecer.

- Fica tranquila ok? Somos amigos, lembra? – assenti o olhando de canto de olho e não evitando em sorrir de leve.

...

  No avião fingi dormir os primeiros vinte minutos evitando qualquer conversa com o homem ao meu lado, era extremamente desconfortável senti-lo  ali... Logo meu fingimento passou a ser verdade e eu adormeci profundamente, só acordando quando o mesmo me comunicou que havíamos chegado.

- Devo estar linda com o rosto inchado de sono. – comentei ironizando sem pensar enquanto percorríamos o aeroporto com as malas no carrinho.

- Você sempre está linda. – ele não parou de andar, mas eu me distanciei do mesmo, surpresa ao ouvir aquilo. – Amigos se elogiam sabia? – indagou quebrando a tensão e me fazendo rir.

- Tá bom, você é bonito também. – admiti corada e ele parou me encarando divertido.

- Só bonito?

- Lindo, maravilhoso, modelo de revista Gay! – enfatizei a última palavra e caímos na risada.

- Como você descobriu? Pensei que não ia cair na mídia! – imitou caretas um tanto afeminadas e eu sai correndo com o carrinho fazendo-o me perseguir.

- A mídia nos engana! – exclamei parando com ele onde mais um monte de pessoas esperava o táxi.

  Vi de longe um paparazzi e escondi-me atrás do corpo gigante, sem que percebesse fui guiada a um carro preto que já estava pronto para nós. Entrei no carro e Corey colocou as malas no porta-malas.

- Pensei que usaríamos um táxi... – murmurei quando o mesmo entrou.

- Você esqueceu que eu sou Corey Taylor? – perguntou despreocupadamente e eu ri fraquinho.

  Logo chegamos ao hotel e acabei descobrindo que ele tinha reservado quartos vizinhos para nós dois, o que daria direito a uma despedida, e afinal, como eu lhe desejaria boa noite? Como eu lhe diria tchau? Mais um dilema a ser resolvido...