Já fazia quatro dias desde o beijo de Katie e Travis.

Ela simplesmente o ignorava. Nas aulas de esgrima, quando ele tentava conversar com ela enquanto colhia morangos. Quando se encontravam por aí, se esbarravam, ela só fechava a cara e ia embora. Fugia.

Travis começou a ficar nervoso. E se ele realmente não tivesse feito o certo? Dane-se, pensou. Eu fiz porque tive que fazer. Se Katie foge, o problema é dela.

Ele sabia que ele não conseguia se enganar.

Katie, por outro lado, só não sabia como encarar Travis. Puxa, ele tinha namorada, ela não gostava dele e Katie não sabia o que estava pensando quando não o empurrou para longe, ou chutou seu íntimo, como havia prometido. Gardner só havia cedido e ela não entendia merda nenhuma. Por quê? Por que ela havia cedido?

Mas uma vez, ela fugiu de suas tarefas no Acampamento, para dar uma volta por perto do Punho de Zeus. Ela gostava de ficar ali; era calmo, tranquilo... Ela podia pensar em Travis sem se preocupar.

O QUÊ?!

Não, pensar em Travis não! Ela não havia ido ao Punho de Zeus para refletir sobre Stoll. Ela não queria ao menos ver sua cara.

Como você é mentirosa, Katie.

— Hãn?! — ela indagou, confusa.

Sou eu, sua consciência.

— Oh, minha consciência que me diz que sou mentirosa. Não quero falar com você.

Cale a boca menina, você sabe que quer conversar. Conversar sobre Travis.

— Lálálálálálálálá — ela cantarolou, tampando os ouvidos com as mãos. — Desculpe, não estou te ouvindo!

Leia a carta.

— Não!

Leia. Agora. Mesmo. Mocinha.

Ok, Katie realmente havia ficado com medo de sua consciência. Enfim, Katie pegou o pedaço de papel amassado do bolso de seu jeans escuros.

Ela observou mais um pouco o papel, sem saber o que fazer.

Até que sua consciência chata a acordou do transe.

LEIA, KATIE GARDNER!

— Ok, ok, vou ler! Pare de gritar comigo — Katie resmungou, abrindo a carta.

"Oi, Katie. '-'

Charice terminou comigo ontem. Sabe o que é engraçado? Ela terminou por sua causa. Ela disse que eu passo tempo demais com você e, quando eu falei que sempre que estou com você nós brigamos, ela riu. Riu! Disse que ódio assim é muito amor acumulado.

Acredita nisso?

Amor acumulado?

Eu não sei. Eu tinha que testar de alguma forma, e acho que por isso vou ao seu chalé. Katie, eu venho pensado bastante sobre o que Charice me disse. Sabe o que eu percebi? Que eu só fiquei com ela porque achei que você não gostasse dela.

Eu tenho que parar com isso, estou parecendo um filho de Afrodite e blá blá blá.

E, Katie, eu ainda vou me vingar por você me fazer escrever algo tão brega e romântico."

Katie não pode evitar dar uma gargalhada gostosa e animada.

Ali, encostada no Punho de Zeus, com aquela carta em mãos, Katie percebeu o quanto era boba. Ignorando Travis apenas por um beijo? Por uma brincadeirinha idiota?

Se fosse assim, Travis Stoll nunca mais seria mencionado em sua vida, principalmente mentalmente.

Riu mais um pouco, guardando a carta no bolso traseiro novamente.

————————

— Connor, eu não quero saber sobre a Sarah ou de como ela beija bem, ok? — Travis riu. Connor Stoll? Apaixonado?! Outra piada, por favor!

— Cale a boca — Connor sorriu. — Eu gosto dela. Só isso.

— É trágico um Stoll de coleira. Você está decepcionando o chalé de Hermes! — disse Travis.

Connor gargalhou irônico, ainda observando o teto do quarto. Ambos deitados em suas devidas camas, completamente entediados.

— Olha quem fala. O garoto apaixonado pela garota que menos te dá bola no Acampamento. Que lindo

Desta vez, foi a vez de Travis gargalhar irônico, murmurando:

— Cale a boca.

————————

Travis acordou naquela manhã de sábado completamente decidido e animado. Hoje, ele iria fazer Katie se apaixonar por ele. Faria ela mesma o beijar.

O problema de Travis é achar que tudo é fácil demais.

Primeiro, ele não conseguia achar Gardner. Ela havia simplesmente sumido no Acampamento, e aparentemente nem mesmo o chalé de Deméter parecia saber aonde ela havia ido.

Ele se preocupou um pouco. Mas então, lembrou de quem estava falando: Katie Gardner. Ela sabia se cuidar.

Voltou ao chalé de Hermes, procurando uma de suas irmãs. Alison estava arrumando suas coisas — que provavelmente havia roubado de algum lugar — tranquilamente, de costas para a porta do chalé; ou seja, para ele.

— Ali? Então, pos-

— Diga logo o que quer, você sempre me chama de Ali quando quer alguma coisa.

Ele sorriu de canto, corando um pouco e balançando os cabelos, tímido.

— Eu queria ajuda. Com a Katie — ele disse. Ela riu.

— Não sabe o que dizer pra ela parar de te ignorar depois que você beijou ela?

Travis enrugou a testa.

— Como sabe?

— Tenho meus contatos — ela deu de ombros. — Enfim, você só tem que dizer o que sente pra ela. Mas antes, tem que fazer algo romântico, algo que a prenda, algo que deixe ela te ouvir. — Alison pensou um pouco. — Quando você a beijou, ela teve alguma reação.

Travis reprimiu um risinho.

— É isso! Beije ela de novo. Beije-a e diga o que sente, com as palavras mais bregas e toscas que um filho de Afrodite apaixonado diria.

— Eu não vou falar isso pra Gardner! — Travis resmungou, rindo.

— Então ela não vai se apaixonar por você, imbecil — Alison deu língua para o irmão.

— Eu não quero que ela se apaixone por mim — ele mentiu descaradamente.

— Oh, claro, assim como eu não quero que Connor use meias limpas.

Travis riu da careta de 'viu como faz sentido?' que Alison havia feito. De qualquer jeito, ela estava certa.

Ele foi atrás dela, de novo. Resolveu procurar na floresta. Encontrou-a rindo, no Punho de Zeus.

— O que faz aqui? — ela indagou, ainda risonha e sem olhar para trás, aonde ele estava. Travis se aproximou.

— Como sabia que era eu? — ele perguntou, ignorando Katie.

— Conheço seus passos, Travis. Você anda devagar e afobado ao mesmo tempo — Ela riu.

Travis sorriu, observando o riso dela. Era tão lindo e... Concentre-se, Travis! Foco!

Katie sentou-se no chão, na grama pouco molhada. Começou a arrancar pedacinhos, cuidadosamente. Travis sentou-se o seu lado.

— Então... Você leu a carta? — ele disse.

Ela continuava a não olhar para ele, e isso o incomodava.

— Li.

— Sabe o que eu percebi quando escrevi aquela carta? — disse Travis. Katie assentiu, ainda brincando com a grama molhada. — Que eu gosto de falar com você. Não importa se brigamos ou não.

— Que interessante saber que gosta de falar com a menina-cereal, Stoll — Ela riu, e Travis riu junto.

— Eu nunca me canso da minha menina-cereal — ele disse, indiferente. Só então percebeu o que disse.

— Sua menina-cereal? — Katie sorriu. — Ainda estamos falando de mim?!

Travis segurou seu queixo, forçando-a a olhar aqueles olhos castanhos penetrantes e brilhantes. Que brilhavam para ela e apenas para ela.

— Pelo o que eu saiba, sim. Ou você me vê com fanáticas por cereais por aí fazendo isso?! — Ele riu.

— Isso o quê?

— Você realmente não sabe esperar, não?

Travis sorria, enquanto aproximava seus rostos cada vez mais. Seus narizes se encostavam e Katie sentia um frio na espinha. Ela se inclinou um pouco, roçando seus lábios nos dele. E que lábios macios! Ela queria o beijar naquele momento. Sem mais.

Ela finalmente o beijou, sem esperar a reação de Travis. Ele apenas aceitou e reagiu muito bem ao comando de Katie. Ela riu durante o beijo, e ele se juntou a ela. Ele aprofundou o beijou, pedindo-a permissão. Ela estava com os lábios entreabertos, mas parecia pouco para Travis.

Ela deixou, com uma vontade de gargalhar ali mesmo. Era tão irônico e estranho os dois ali. Stoll tinha a mesma sensação.

Ela se separou dele, ofegante. Ela então deixou que sua gargalhada ecoasse pela floresta, vazia.

— Seria estranho demais se eu dissesse que quero te beijar de novo? — ela indagou, risonha.

Travis sorriu, abraçando-a pela cintura.

— Menina-cereal, você está ficando muito tarada.

Ela começou á estapeá-lo, deixando marcas de mãos neles.

— Ei, não faz isso, Nico vai ficar com ciúmes — ele brincou, rindo. Ela entrou na brincadeira, dizendo:

— Ele tem o Percy pra isso.

Então, deitada por cima dele, com os braços apoiados, um de cada lado de seu rosto, ela sorria.

— Saia de cima de mim, Katie, ou você vai se arrepender, menina-cereal. Quer realmente ser agarrada no meio da floresta?

Ela o olhou assustada, mas sorrindo despreocupadamente para ele.

— Não tenho medo de você, ladrãozinho.

E então, ela o beijou.