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Capítulo 15
Confusão


Notas iniciais do capítulo

;w; depois de um mês.../apanha
DEPOIS DE UM MÊS EU VOLTEI.
ME PROCESSEM.
EU VOU TENTAR ESCREVER MAIS, É QUE EU TAVA INSPIRADA EM ESCREVER COISAS MAIS DARK E NÃO CONSEGUI ESCREVER ALGO MAIS BONITINHO POR UM BOM TEMPO.
TEHE.
ESPERO QUE GOSTEM DO CAP.
PS: O PRÓXIMO JÁ ESTÁ EM ANDAMENTO



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Nicholas saiu do banheiro sem camisa, xingando tudo o que encontrou pela frente, literalmente. Xingou a porta, a maçaneta, a cômoda, o chão, a parede. Olhou para mim e tomou fôlego, mas não disse nada.

-- Você acredtia que todas as minhas camisetas do Acampamento estão pequenas? - ele virou de costas e abriu uma gaveta, jogando seu conteúdo em cima da cama com violência. A pele dele era tão branca... Eu já tinha reparado nisso antes, é claro, mas agora que notei como o contraste entre a pele clara e os cabelos negros era interessante.

Parece um daqueles vilões bonitões das histórias juvenis. Acho que a única diferença é que de vilão ele só tinha mesmo o parentesco com um deus mal visto. Nicholas ou era realmente meio inocente, ou estava realmente muito confuso com tudo o que está acontecendo.

Ei. Eu acabei de chamá-lo de bonito?

Algo dentro de mim estava estranho. Eu olhava para Nicholas, mas não tinha aquela visão que me parecia ser adequada para um amigo. Meus olhos se desviavam, encarando detalhes, e tudo nele me agradava de algum modo.

-- Certo, camiseta de mortal. Pelo menos essas ainda servem. - ele colocou uma camiseta preta com uma estampa de uma mão como uma garra, meio desfocada, como...

As minhas mãos estavam cobertas de sangue... Sangue daqueles que tentaram me ajudar, sangue de meus companheiros. Novamente, a morte toma lugar e destrói algo que eu jamais faria mal algum...

Respirei ruidosamente, mesmo não havendo necessidade, só parar clarear a mente. Não. Não era um retrato do meu passado. Mas eu já tinha visto aquela imagem em algum lugar antes.

-- O que é isso na sua camiseta? Eu já vi em algum lugar.

-- Isso? - ele estendeu a estampa - Ah, não me surpreende. System of a Down foi uma banda bem famosa há uns 20 anos. Se bobear, você ainda tava vivo na época deles.

-- Então é uma banda... - murmurei.

-- É uma dica de que época você viveu. Legal. Ou melhor, não é legal. Você deve ter tido a chance mas nem conheceu os caras. Que droga. Hoje em dia nem tem mais shows de verdade, é tudo feito a base de hologramas.

-- Você está bravo comigo?

Ele olhou para mim, seus olhos negros e profundos como um poço brilhando.

-- Não bravo. Quem estava bravo aqui era você, se não me engano.

-- Mas ele... Ele te beijou! Você deveria ter ficado com... com nojo. E em vez disso você só afastou ele e continuou agindo normalmente...

Nicholas suspirou e se sentou na cama, olhando para o teto. Ele parecia estar irritado por ter que explicar isso... Irritado, não. Cansado. Como se ele esperasse que eu já soubesse.

Bem que eu queria saber.

-- Mike é meu amigo. Aquilo foi uma brincadeira dele. Idiota, sim, mas não deixa de ser uma brincadeira. Ele não entende muito bem quais são os limites do que se pode fazer entre amigos. Mas não foi nada sério. Nada. Entendeu?

-- Se foi... Se foi uma brincadeira... Por que você não brinca comigo também? - as palavras saíram da minha boca sem que eu pudesse controlá-las. Realmente, era aquilo o que eu queria. Eu queria isso, queria muito. Porém, não era a hora de falar algo assim.

Nicholas se assustou, olhando para mim, perplexo. Seu rosto começou a se tingir lentamente de vermelho. Ele parecia estar processando a ideia...

Não. Pare de pensar assim. Ele não é aquele garoto das suas memórias. Eles são o mesmo, mas são diferentes. Este Nicholas não vai fazer o mesmo que o outro fez...

Embora eu não lembrasse exatamente o que o outro fez comigo. Só um vestígio, uma sombra do seu rosto.

-- L-Leon... - ele respirou fundo - Leon, por favor. Não brinque comigo assim. Já basta o Mike fazendo coisas estranhas.

-- Este não foi seu primeiro beijo, né? - perguntei, olhando para meus pés. Tinha que mudar de assunto... Pelo menos um pouco - Se fosse você estaria muito mais perturbado.

-- Ãhn... É, não foi.

-- Com quem foi?

-- Uma garota... Do chalé 11...

-- Você gostava dela?

-- Não, eu não...

-- E por que fez isso se não gostava dela?

-- Porque ela...

-- Por que ela era bonita?

-- Não, foi porque...

-- Então você simplesmente beijou ela porque ela estava lá?

-- Leon, pare com isso! Não está nem me deixando terminar de responder!

Percebi que estava falando rápido e chato, como uma pessoa com ciúmes.

Ou talvez eu realmente fosse uma pessoa com ciúmes.

-- Desculpe.

-- Olha, eu não queria beijar ela. Ela era uma doida, ficava me perseguindo, e ameaçou botar fogo no meu chalé se eu não a beijasse. Mesmo tendo um namorado, aquele cara do chalé de Afrodite. Bom, eu não queria que ela botasse fogo no meu chalé. Achei que isso era melhor do que perder minhas coisas. Então, é por isso que o Teo está sempre me enchendo o saco também.

Eu não disse nada. Não era seguro dizer. Ele já tinha beijado duas pessoas, nenhuma das vezes porque quis ou porque gostava delas. Isso era bom, né? Melhor do que se ele gostasse da garota. Pelo menos assim... Pelo menos assim eu posso acreditar que eu ainda tenho alguma espécie de chance com ele.

-- Estava nervoso de novo. Por que minha vida amorosa te interessa tanto?

-- Por que você acha? - respondi, baixinho.

-- Hã? Não sei. Talvez você seja um maníaco por histórias de romance. - ele olhou para o lado, mas sua voz mostrava que ele achava que era uma desculpa esfarrapada.

-- Você vai achar... Você vai achar muito estranho se... Se eu... Se eu disser que eu gosto... D-de...De você?

Com muito esforço, consegui dizer o que não devia. Mas eu queria ver a reação dele. Eu queria, eu precisava. Não importa se ele me odiar. Eu precisava que ele soubesse.

Nicholas não respondeu. Ao invés disso, levou as mãos à cabeça e deu um gemido de dor. Seus olhos estavam fechados com força, como se ele tentasse parar de ver algo dentro de sua mente.

-- Não... Eu não quero... Eu não quero lembrar - ele falou, numa voz sufocada - Eu não quero lembrar... Mas eu não consigo esquecer o que já vi... Eu não consigo esquecer...

"Eu não consigo esquecer o seu rosto naquela hora" eu ouvi a voz dentro da minha cabeça falar. Nicholas. Não esse, o outro. O do passado. Eu tinha certeza que esse também era o nome dele.

Agora eu podia enxergar seu rosto claramente, como se ele estivesse na minha frente. Sua expressão era a de alguém que tomava cuidado ao escolher as palavras, para que eu entendesse exatamente o que ele queria dizer.

"Você estava tão medonho... Tão assustador... E tão lindo"

Encabulado. Essa era a palavra certa. Ele estava encabulado. Era o único que jamais havia saído do meu lado, o único que não me deixara em nenhuma circunstância. Também era o único que eu não parecia ser capaz de matar de maneira alguma.

"Você tem uma ideia estranha de beleza" foi o que respondi. Normalmente estaria com os punhos cerrados, adotando uma postura de combate, ao ver alguém tão próximo. Porém, minha guarda estava baixa e minhas palavras saíram doces.

"Acho que discordamos aqui. Eu realmente te acho lindo. Mas não estranho. Nem de longe." o garoto chegou mais perto. Eu podia sentir o cheiro de seu hálito, ver cada detalhe de seu rosto, ouvi-lo engolir em seco, nervoso, tentando parecer despreocupado.

"E desde quando estamos falando sobre mim?" eu falei, mas minha mente não estava mais ali. Estava delirando, ansiosa, pelo que viria em seguida. Meu coração batia rápido e forte.

"Desde sempre. É a única coisa que eu sei falar a respeito, não é?" ele ergueu a mão lentamente, encostando-a na minha cabeça. Retirou uma mecha de cabelo da frente dos meus olhos, acariciando meu rosto, esperando um sinal.

Inconscientemente, me aproximei mais dele, nossos olhos perdidos um no outro, nossos lábios se encostavam suavemente, e eu sentia como se nada mais importasse no mundo, somente ele...

-- Leeeon! - Nicholas me chamava, parado na minha frente, me encarando.

-- Hããn? Por que você me interrompeu? Eu estava tendo um flashback tão legal! - reclamei, desviando os olhos, mas não estava realmente bravo. Afinal, uma hora ou outra, eu ia conseguir fazê-lo reproduzir aquelas memórias.

-- Legal, é? Então me conta. O que foi?

Senti meu rosto ficando vermelho. Era incrível como eu ainda podia corar, mesmo estando morto. Mordi o lábio inferior.

-- N-não é uma boa ideia... Eu não quero contar... É constrangedor - olhei para ele novamente - O que aconteceu com você?

Nicholas deu de ombros.

-- Você não me conta, eu não te conto. Vamos fazer assim. - ele virou de costas, na direção da porta. Tentei segurá-lo antes de lembrar que minha mão só passaria através do braço dele inultilmente.

-- Espere! - eu disse - S-se for assim, e-eu acho que posso contar...

Ele ergueu as sobrancelhas.

-- Se é constrangedor, não precisa me contar. Eu só estava brincando.

-- Então o que aconteceu com você?

-- Eu tive... Ah, eu ainda não entendo droga nenhuma disso. Eu tive um sonho essa noite, falando que eu deveria me lembrar de minha outra vida. Como se eu tivesse vivido, morrido e agora eu sou tipo a reencarnação, sabe?

Confirmei com a cabeça.

-- Parece que eu realmente estou lembrando de algumas coisas... Mas isso é encrenca. Ninguém pode lembrar. Uma vez mergulhado no rio Lete, não se pode mais lembrar de nada.

-- O que você lembrou?

-- Nada concreto... Vislumbres.

Era claramente uma mentira, mas não insisti. Eu também estava escondendo algo. Se ele não quisesse falar, não precisava... Ele mesmo dissera isso com relação a mim.

-- Eu queria poder fazer alguma coisa legal pra você - murmurei.

-- Mas você é meu amigo. Isso já é legal.

-- Ser amigo não é legal o suficiente - baixei o tom de voz gradualmente, até que ele não ouvisse mais - não é legal o suficiente para o que eu sinto.

-- Hein? Ah, droga, estou atrasado. Não quero ficar sem almoço. - ele saiu caçando o outro pé do tênis. Eu não conseguia parar de olhar para Nicholas. Principalmente agora que já entendi tudo. No passado, eu gostava de alguém que provavelmente era ele. Essa ideia parecia mais forte, agora que ele falara desses vislumbres da vida passada.

-- N-Nicholas... Eu... g-go...- tentei dizer novamente, mas as palavras não saíam. Ele não tinha ouvido da primeira vez. Ele não tinha ouvido. Não posso pensar que ele tenha simplesmente ignorado.

De repente, então, ele estava parado na minha frente, olhando para mim com uma expressão... dolorosa? Como se algo o estivesse machucando?

-- Por favor... - murmurou - Seria muito triste... Você terminar esta frase.

-- V-você... Já sabe o que eu quero dizer..? - perguntei, desamparado. Nicholas fez que sim com a cabeça. Estendeu a mão em direção ao meu rosto, mas ela me atravessou, como se eu não passasse de um bloco de fumaça.

-- Entende? Eu não posso nem te tocar.

Eu ainda não havia recuperado força o suficiente para ficar sólido. Era tudo o que eu queria... E o que não podia. Eu estava morto e ele, vivo. Era como se algo me sussurrasse "desista".

-- E eu ainda estou confuso, já disse. Não posso fazer nada quanto a isso.

-- Você gosta dele?

-- Eu não sei.

O tom de voz dele marcava a sinceridade. "Mike é meu amigo, meu amigo"... Não era totalmente verdade. Mas também não era uma mentira.

Finalmente quando eu entendo alguma coisa, não posso resolver o maior problema.

De repente a porta se abriu com tanta força que quase foi arrancada das dobradiças.

-- O RETARDADO MENTAL QUE É FILHO DE HADES ESTÁ PRESENTE NESTE RECINTO?! - uma garota de cabelos curtos e roxos gritou da entrada. Ela segurava um punhal com um símbolo estranho em uma das mãos, a outra estendida no lugar onde antes estivera a porta. Seus olhos eram cinzentos, mas brilhavam como se nada escapasse do seu olhar.

Por um momento pensei que ela estava olhando para mim.

-- Wendel, já não disseram que é falta de educação fazer isso? E se eu estivesse me trocando? - Nicholas reclamou.

-- Que se dane a falta de educação! Alguém está sucumbindo a ferimentos desconhecidos lá fora, e você é o único que pode nos dizer se já era ou se dá pra dar um jeito.

-- Ahã. É a terceira vez só essa semana.

-- Duh.

-- Você não se decide se vai falar formal ou não?

-- Eu não falo formal nem informal, eu falo eu. Agora pega logo sua espada, chama seu espírito de guarda aí e corre, porque a coisa tá feia.

Eu e Nicholas nos entreolhamos. Ele franziu a testa.

-- Wendel... Você notou a presença dele?

-- Ahá! Então tinha um fantasma aqui! Eu sabia!

Nicholas revirou os olhos.

-- Filhos de Atena - resmungou.

-- Filho do zumbizão chefe de fase. VAMOS, DIABO! - dessa vez, Wendel pegou ele pelo braço e o arrastou para fora do chalé.

-- Mas o... Ei! Eu estou com um pé só do tênis!

-- Não é importante! Que droga!

Segui os dois enquanto corriam até um amontoado de pessoas. Quíron estava visivelmente tentando acalmá-los, em vão. Alguns erguiam as espadas e apontavam para os outros, berrando insultos, outros pareciam apenas desolados.

-- Chegou o resgate... Ou melhor, o desresgate. Essa palavra existe?

Algum garoto que também tinha olhos cinzentos balançou a cabeça negativamente.

-- Então anota aí que agora existe. Enfim, Quíron, peguei o pacote.

Nicholas arrancou o braço da garra da garota.

-- Que foi? - perguntou - Deve ter sido algo importante, pra vocês me chamarem assim...

Ele parou quando viu o corpo estendido no chão. Era uma menina robusta, com cabelo castanho-avermelhado, jaqueta de couro e coturnos. Seu rosto estava contorcido numa expressão de dor, e não havia sinal de que estivesse respirando.

-- Ah. - Nicholas olhou em volta. Vários filhos de Ares tentavam parecer fortes, mas traziam uma expressão dolorosa no rosto. - A Holly. Hum... Ela não está morta.

Quíron olhou para ele, levantando uma sobrancelha.

-- Tem certeza.

Nicholas confirmou com a cabeça.

-- Pelo menos a alma dela continua aqui. Não foi para o Mundo Inferior. Quero dizer, não sei se ainda está ligada ao corpo... Pode ter tido algum problema. hã, na hora de levar...

-- Chamem alguém do chalé 25! - Wendel gritou. Cinco minutos depois, uma garota magrela com cabelo bagunçado e enormes olheiras foi trazida, de moletom e tênis sem cadarço, parecendo ter acabado de acordar.

-- Heeeein? Que foi mesmo..?

-- A Holly. Ela está morta?

-- Sei lá, pergunta pro moleque filho de Hades.

-- Eu tô aqui - Nicholas cortou - Ela não foi para o Mundo Inferior. Você é filha de Tânatos. Deve saber se a alma dela precisa ser ceifada ou não.

A garota ergueu os olhos. Tinha olhos prateados, assim como...

Assim como os meus.

-- Ela é minha irmã mais nova, ou algo assim? - perguntei. Nicholas fez um aceno discreto com a cabeça, confirmando.

-- Antes disso - a garota sonolenta olhou exatamente para onde eu estava - você por acaso é um fantasma? Nunca te vi por aqui antes.

Todos de repente fizeram um silêncio constrangedor. Alguns franziram a testa. Outros reviraram os olhos e murmuraram "Ela deve estar bêbada de novo". Wendel, em particular, deu um gritinho e pulou na garota.

-- Sarah, como ele é? Como ele é?

-- Você pode me ver? - perguntei aturdido.

-- Ahã. Eu posso te ver. - Sarah virou-se para Wendel - ele tem um cabelo castanho e espetado, e os olhos dele são como os meus, mas com menos olheiras.

-- Que legal!

-- EI! Minha irmã está morrendo aqui! Dá pra vocês deixarem a conversa mole pra depois? - um garotinho interrompeu a conversa, com uma expressão chorosa contida.

-- Lewis, Lewis, Lewis - Sarah pegou o garotinho pela orelha - Eu não posso fazer nada pela sua irmã. A alma dela não precisa ser levada, mas também não quer ficar. É como se tivesse sido possuída por algo, então tentou expulsar e no ato acabou ela mesma saindo.

Nicholas mordeu o lábio inferior, pensando no que poderia fazer.

Olhei novamente para a garota estendida no chão. Os olhos dela estavam abertos, e um lampejo prateado me chamou a atenção.

Cheguei mais perto dela, e dessa vez tive certeza: Eu havia visto uma imagem em seus olhos. Era um ser estranho, parecia um monstro, e lembrava um pouco eu...

Eu?

A morte é anunciada... Você deve destruir tudo e todos... Nada pode restar...

Lentamente, estendi a mão na direção de Holly e toquei seu corpo. Como imaginei, não a atravessei. Ao invés disso, senti um choque me percorrendo, e, com um surto de imagens, desmaiei.


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