A Esperança Dos Renegados escrita por Aldneo


Capítulo 29
CAPÍTULO VII: Um velho amigo




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O dia começava a clarear, em uma oficina, no campo de sobreviventes de Tzaddik, um homem em uma cadeira de rodas tentava consertar um aparelho. Era um homem bem encorpado, de pele clara, com olheiras sob os olhos, cabelos negros e desgrenhados e uma barba em torno da face arredondada e cheia. Percebia-se nele que a perna direita havia sido amputada do joelho para baixo, o que explicava a cadeira de rodas. Ele ouve o som de sua porta abrindo e pessoas entrando em sua oficina, que não era mais que o cômodo inicial de sua casa, abarrotado de aparelhos, ferramentas, equipamentos e armas, os quais se mostravam espalhados por toda a parte e sem qualquer organização aparente, a maioria, perceptivelmente, passando por algum tipo de conserto ou manutenção, sendo que muito daquele material já havia se convertido em sucata.

 

— “Hei, ainda não abri, volte mais tarde!”, o homem fala com sua voz um tanto áspera e um pouco rouca, sem nem mesmo se dar ao esforço de desviar o olhar do trabalho que realizava. “Agora é assim que trata quem já chamou de amigo, velho?”, uma voz reconhecível lhe responde, o que o faz erguer os olhos de seu trabalho e encarar quem lhe visitara. - “Não pode ser, então era verdade os comentários... Alan?! Seu maldito desgraçado, você ainda está vivo!”, o homem o reconhece, ao que Alan lhe responde: - “Também é bom revê-lo, Esquyeu.”, “E este quem é?”, o homem questiona, indicando Ezequiel, ao que Alan lhe apresenta e conta, de forma bem resumida, sua história até aquele momento.

— “Mas, o que faz aqui?”, o técnico pergunta, mudando o tom de voz para algo mais amigável, “Pelo que ouvi, você havia sido preso pelos capangas de Paulo?”

 

— “E fui... Mas, Luize acabou por me ajudar e nos soltou.”, Alan responde, demonstrando certo desconforto em contar tal fato.

 

— “É ao que parece ela ainda deve sentir algo por você...”, Esquyeu responde de forma provocativa, diante do cometário, Ezequiel entra na conversa com um “O que quer dizer?”, o técnico tencionou explicar, ao que Alan censura a ambos dizendo: “Hei, você não precisa ficar contando estas histórias...”, dizendo para Esquyeu, “...e você não precisa saber delas.”, falando à Ezequiel. Após tal censura, Alan busca rapidamente mudar de assunto, se dirigindo ao velho conhecido: “Você ainda tem aquele quarto vago em sua casa?”, ao receber uma resposta positiva, ele se volta ao jovem que lhe acompanhava, instruindo-o que fosse até o quarto em questão, se acomodasse e descansasse um pouco. Enquanto Ezequiel seguia o que lhe fora dito, ele se volta novamente ao técnico: - “Eu desafiei Paulo a um duelo na praça principal... Bem, gostaria de saber se tem algo que possa me ajudar...”, o técnico pensa um pouco, coça a barba, até, por fim, responder: - “Creio que tenho algo, consegui a pouco tempo...”, ele diz, enquanto se desloca até uma prateleira em suas proximidades e começa a mexer em diversas coisas que entulhavam o móvel, derrubando algumas delas no chão. Após certo tempo fuçando, ele finalmente encontra o que procurava em uma das gavetas. “Aqui está, munição EXPO de alta velocidade, torna o tiro muito mais preciso, é incomparável a esse lixo que você encontra aos montes por aí...”, ele informa levando um pequeno pacote com uns 10 projeteis dourados. Alan demonstra interesse, ao que o homem completa: - “Só uns 80 conto, baratinho não é?”, o que faz Alan, contrariado, lhe olhar como se pedisse uma explicação, ao que lhe é informado: - “Qual é, eu tenho que sobreviver. Paulo e seus capangas tem tentado de todo os modos me prejudicar, simplesmente por que não aceito me unir a eles e lhes prestar meus serviços. E depois que os Imortais se foram... Estou com clientela baixa... Por sorte meus serviços são de excelente qualidade e consegui conquistar alguns clientes que se mantém fieis independente do que aquele lazarento faça...”, Alan demonstrou entender, mas ainda era visível sua insatisfação, ao que Esquyeu lhe diz: - “Ok, lhe faço por 70, mas é o máximo que posso fazer!”

 

Após conversarem por algum tempo, Alan também se retira ao quarto vago, enquanto Esquyeu continuaria trabalhando em suas coisas. Após se passarem algumas horas, Ezequiel, após um cochilo, volta novamente a oficina. Ao chegar, vê o velho técnico trabalhando, antes que pudesse falar algo, este lhe saúda: - “Hei, Ezequiel não é... Alan me contou sua história, és alguém de sorte. Alan pode parecer um tipo duro e as vezes exagera um pouco, mas no fundo... é uma boa pessoa.”, Ezequiel responde um “eu sei”, antes de comentar um “ainda não entendo ao certo as coisas daqui...” Ao que o homem, enquanto tentava consertar algum aparelho que parecia uma espécie de radio, lhe comenta: - “Bem, ultimamente as coisas aqui estão bem complicadas mesmo... Mas acho que o que desperta mais sua curiosidade é a história de Alan não é? Bem, ele não gosta que comentem, mas é bom saber um pouco sobre com quem você anda não é? Bem, ele cresceu aqui, já estava aqui quando eu cheguei, assim não sei da onde veio ou se nasceu aqui, só sei o que ele mesmo me contou ou outros me comentaram. Ele era um dos muitos órfãos que existiam, e ainda existem, por estas bandas, mas foi um bastardo de sorte, acabou sendo adotado por Jeremie, um patriarca dos Imortais e conselheiro dos líderes deste campo.”, nisto, o jovem interrompe: - “Imortais? Já ouvi falar deles, mas não me disseram ao certo o que são. São religiosos, não?”

 

— “De certa forma. Eles tem um credo bem desenvolvido, dizem que foi fundado por estudiosos que encontraram fragmentos de Livros Sagrados e os compilaram, formando as Escrituras que os Imortais seguem... Bem resumindo, as tais Escrituras dizem que se alguém atingir o nível da perfeição, ele se torna imortal e é chamado para junto do Ser Divino, o que explica os extremos incentivos que fazem aos estudos e treinamentos; assim eles também dizem que uma pessoa só pode morrer em duas situações: se estiver evoluído o bastante para se tornar apto a viver no GanEden, que é tipo um paraíso, ou se tiver se corrompido de tal forma que não possuem mais chance alguma de redenção. Geralmente o titulo só se aplica aos monges e clérigos superiores, que vivem nos mosteiros. Demais seguidores do clero, prosélitos, neófitos e auxiliadores, não recebem tal título. Bem, como adotado por um patriarca, Alan não demorou muito em ser treinado e se tornar um monge... Estes tinham duas funções: ensinar ao povo o 'Caminho Perfeito' e protegê-los enquanto eram ensinados, por isso eram treinados para se tornarem um misto de professor e soldado... Mas bem, voltando ao nosso amigo, ele cresceu no mosteiro, sendo treinado e educado, e se tornou um dos melhores monges, e também um dos mais severos, chegou a ser apelidado de 'o flagelo de Deus'. Mas ele também acompanhava Jeremie, junto aos governantes deste campo, o que lhe permitiu conhecer a filha de um deles, Luize, e os dois acabaram desenvolvendo uma bela amizade, ao pondo dela pedir que ele fosse designado para seu protetor pessoal. Bem, ninguém suspeitou de nada até que surgiu um boato, que depois acabou confirmado: Luize acabou engravidando, e adivinha que seria o papai... Bem, os Imortais não exigem voto de castidade, mas privam que seus monges se relacionem apenas com membros da ordem e de seu mesmo nível, ao que parece para não correrem o risco de se corromperem na fé... É, mas Alan e Luize pareceram não se importar com tal regra... é, isto explica por que ele parecia não corresponder ao interesse de Samaria, a monja que queria despojá-lo... Mas o que realmente complicava a Alan é que ele havia feito isto às escondidas, ou seja, ele havia mentido e enganado seus superiores e companheiros, e precisaria ser punido, até mesmo de uma forma exemplar para os demais.”

 

— “Mas o que aconteceu com a criança?”, o jovem questiona, ao que lhe é explicado: - “Bem, ameaças de punição a parte, Alan estava como qualquer homem que se tornaria pai estaria, feliz. Ele fazia planos e até já havia escolhido o nome da criança...”, nisto, o jovem pensa por alguns instantes antes de comentar: - “Deixe-me ver, por acaso o nome escolhido seria... Ezequiel?”, Nisto o técnico comenta: - “Isto mesmo, até que você pensa rápido garoto. Mas continuando, infelizmente, Luize acabou perdendo o bebê, era gravidez delicada e acabou tragicamente... E a Alan só restava a punição, que fora escolhida pelo Conselho de Anciões do mosteiro: exílio. Nem mesmo a influencia de Jeremie o pode absolver. E assim foi, Alan fora exilado deste campo e passou vagar por aí, alguns dizem que ele acabou se tornando um mercenário para sobreviver, ele mesmo não diz o que fez para se manter vivo. Mas bem, passou-se algum tempo e acabou ocorrendo que este campo fora saqueado por um grupo de Ladrões, levaram equipamentos e mantimentos. O Conselho de Anciões decidiu que algo deveria ser feito a este respeito, mas não podiam enviar monges atrás dos saqueadores, estes fariam falta na proteção dos moradores, além disto os monges apenas podem defender, nunca atacar, e também não podiam comprometer recursos do campo contratando mercenários. Surgiu um impasse, até que um deles sugeriu uma solução. Eles chamaram Alan de volta e lhe propulsarem caçar os saqueadores, se ele conseguisse recuperar tudo o que fora roubado e eliminar os Ladrões ele seria reaceito no campo e na Ordem. Ele aceitou, e cumpriu a maior parte do trato, apanhou a maioria dos ladrões e recuperou o que fora saqueado. E logo partiu novamente a fim de terminar sua caçada, e isto já foi a um bom tempo... Bem a partir daí acho que você já sabe a história não é...”

 

Nisto, Ezequiel reflete por alguns instantes, lembrando de fatos ocorridos anteriormente, ao que concluí e comenta consigo mesmo: - “Então foi isto que ele quis dizer na cidade...”


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