A Esperança Dos Renegados escrita por Aldneo


Capítulo 11
CAPÍTULO IX: Um pobre coitado




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Escondidos no interior do que um dia fora uma câmara frigorifica, Ezequiel observava sua salvadora. As lâminas nas costas, a espada no lado direito de seu cinto, a submetralhadora do lado esquerdo, e mais uma bolsa que poderia conter ainda mais armamentos, tudo lhe fazia crer que todas as pessoas que viria a encontrar estariam armadas o quanto pudessem, e de fato, após os últimos acontecimentos pelos quais passara, ele já não consideraria tal fato surpreendente, ou mesmo relevante.

“Vem comigo, devagar...”, ela lhe sussurrara, fazendo um gesto com a mão como que o chamando. Os dois seguem abaixados, cruzam a câmara até uma outra porta, a qual estava do outro lado do escuro frigorifico. A garota abre a porta lentamente e, com todo cuidado, os dois adentram em uma sala bem escura, na qual se podia ver algumas mesas, balanças e máquinas seladoras (aquela área era o que um dia fora a sala de embalagem do setor de açougue do hipermercado), além de alguns cutelos e bandejas espalhadas por cima das mesas e pelo chão. Eles seguem devagar até a porta da sala, que dava para o balcão. Na metade superior da porta, havia uma especie de pequena janela quadrada, embaçada pela poeira, mas pela qual ainda se podia olhar para o lado de fora da sala. A garota se põe ao lado da porta e espia por esta janela, após constatar que nenhuma criatura estava pelas proximidades, ela acena para Ezequiel, chamando-o para segui-la. Eles atravessam a porta lentamente, abrindo-a o mínimo necessário e mantendo-se abaixados, ocultando-se por detrás do balcão. Seguem lentamente até o final do balcão, onde havia uma abertura, pela que se retornava ao piso da loja. A garota se detém um pouco nesta abertura, abaixada, espiando para ambos os lados. Constatando uma certa segurança, ela murmura um “Tá limpo, vem!”, e dispara em uma carreira até se ocultar novamente por trás de uma prateleira, ao longo da qual ela segue, sendo acompanhada por Ezequiel, até o ponto em que a prateleira terminava e desembocava em um corredor central (o qual separava dois conjuntos de prateleiras). Novamente, ela se põe a espiar discretamente o corredor que se abria a sua frente. Neste, encontrava-se um infectado, a considerável distância, voltado às costas para a direção deles, caminhando por entre o que restara das ilhas de produtos esquecidos naquele local. Ao perceber que a criatura se distanciava, ela novamente invoca que Ezequiel a seguisse, e ambos atravessam aquele corredor central veloz e cautelosamente, até se ocultarem em outro corredor entre prateleiras. Porém o infectado que explorava o corredor central percebe a movimentação, e segue até o ponto em que os dois tentavam se esconder. Percebendo isso, a garota se oculta por detrás de um pilar de sustentação que havia naquele corredor, puxando também Ezequiel para junto de si, colando-o ao seu corpo, frente a frente, face a face, de forma que chegavam a encostar suas testas e narizes, buscando que a coluna ocultasse a ambos da criatura. Esta se põe de frente ao corredor e o encara, vasculhando-o com o olhar. Atrás do pilar, os dois, devido a posição em que se encontravam, olhavam-se olhos nos olhos, imóveis e percebendo a apreensão um do outro. Eles buscavam controlar até mesmo a respiração, ao mesmo tempo que ouviam o respirar pesada do monstro a apenas alguns metros deles. A criatura emite alguns grotescos gracejos enquanto averígua as cercanias. Após alguns segundos, que chegavam a parecer horas sem fim para os dois jovens, a criatura perece desistir e se volta para outra direção, retornando para a exploração a que anteriormente estava. Ezequiel permanece como que paralisado, o que acaba por forçar sua 'salvadora' a lembrá-lo: “Temos que sair daqui...”

Eles seguem com um andar cuidadosamente apressado, onde o anseio de deixar aquele lugar era limitado pela cautela de não serem descobertos, sendo que esta, por sua vez, era apresada pelo anseio que a limitava. Já se enxergava diante deles os caixas do mercado e, pouco além destes, as grandes janelas, verdadeiras paredes de vidro, que separavam o interior da loja de seu exterior. Neste ponto o anseio supera a cautela, e os dois disparam em direção à saída, chegando a não perceber outro infectado pelas cercanias, o qual com um horripilante urro, que alerta as outras criaturas do mercado, se põe a persegui-los. Eles saltam uma prateleira que estava caída no chão (Ezequiel com considerável dificuldade) e cruzam por entre os caixas, enquanto que a criatura, com um único salto, supera supera facilmente a barreira que a frente de caixas parecia lhe antepor. A garota apanha os restos de uma cadeira que estrava no chão (e provavelmente teria pertencido a algum dos caixas) e a lança contra uma das grandes janelas a sua frente, despedaçando-a e abrindo caminho para sua fuga. Os dois atravessam a janela quebrada. O infectado se lança contra outra janela, despedaçando o vidro já trincado, a atravessa e ataca os jovens.

Uma chuva leve e fina descente dos céus, enquanto a garota toma a frente. Ela desembainha sua espada com a mão direita e contra-ataca velozmente. Inicialmente ela se abaixa, esquivando-se das garras da criatura que são lançadas contra ela, tentando lhe agarrar. Girando o corpo, ela passa a lâmina da espada velozmente no abdômen do infectado, abrindo-o. Levantando-se da esquiva, ela gira a espada e, de costas para a criatura, lhe dá uma estocada, a lâmina atravessa o corpo do monstro, saindo, junto com um jorro de sangue, por seu peito. Finalizando, a jovem puxa a espada de volta e gira o corpo, girando juntamente a espada no ar, passando a empunhá-la com as duas mãos, ela desfere o golpe que decepa a criatura, tombando-a ao chão. O sangue do infectado escorre, diluindo-se na água da chuva que escorria suavemente por sobre o chão. Ezequiel admira estupefato a destreza daquela desconhecida, ao ponto de esta precisar lembrá-lo do perigo eminente que os força a continuar em fuga: “Vamos logo, antes que outros cheguem...”

Os dois voltam a correr o máximo que conseguem, atravessam a área do estacionamento e logo buscam desaparecer pelas ruas e vias próximas. Quando outras criaturas saem de dentro do mercado, já estão longe o bastante para não serem detectados por elas.

Um quarteirão de distância dali, após o cruzamento de uma esquina, os dois tentam recuperar o fôlego, debaixo da chuva fina que ainda caia. Ele se apoiava com as duas mãos em uma parede e ela sobre os próprios joelhos, ambos respirando ofegantes. “Obrigado”, ele demonstra gratidão, “Não por isso...”, ela parece recusar. Ela se recupera e se põe a analisar seu novo 'amigo'. “Uma Sten?!...”, ela comenta ao observar a submetralhadora que ele carregava pressa por uma correia em seu ombro, “...Putz, bem, se ela funcionar, é melhor que nada, mas mesmo assim... essa arma é um lixo... a precisão é quase nula, o recuo exagerado e trava mais que sei lá o quê...” “Bem, foi tudo que encontrei...”, ele, meio que envergonhado, tenta se justificar, “Essas armas baratas foram construídas aos milhões no passado, provavelmente por... serem baratas! Talvez é só pela extrema quantidade que sobreviveram até hoje... Vamos, acho que podemos encontrar algo melhor pra você... A propósito você tem um nome?” Após certo silêncio pensativo, ele responde: “Me chamam de Ezequiel...” O que gera um comentário bem humorado: “Sério?! Hã, você não tem cara de Ezequiel... Bem, 'me chamam' de Deborah, é um prazer...”

Enquanto a noite começava a cair sobre a cidade, os dois caminhavam pelas ruas e vielas. Deborah os guiava como se conhecesse perfeitamente o local e soubesse exatamente para onde estava indo (embora, na verdade, o que ela sabia mesmo era fingir que sabia). “O que você está fazendo num lugar destes?”, Ezequiel tenta puxar conversa, ao que lhe é respondido: “Estou precisando de umas coisas e pensei que poderia encontrar por aqui... As cidades estão repletas de armazéns e depósitos, todos abarrotados das mais diversas mercadorias... Porém também estão repletas de infectados, o que geralmente mantém as pessoas longe...” “E o que tanto está procurando?”, o jovem insiste na conversa, ao que ela desvia do assunto: “Bem... acho que aqui poderemos lhe achar algo melhor que esta Sten...” Ezequiel volta a visão para onde ela olhava e percebe se achar diante do que fora uma loja de armas. Eles adentram pela porta, que se encontrava aberta, aparentando já ter sido arrombada há muito tempo, e se deparam com um ambiente que demonstrava já ter sido revistado diversas vezes. “Com certeza as armas boas já foram levadas... Mas talvez tenham deixado algo para trás. Dê uma olhada ali por perto do balcão enquanto vejo pelas prateleiras.”, Deborah sugere, ao que Ezequiel acata. Ela inspeciona minunciosamente as prateleiras, mas só o que encontra, além de algumas caixas vazias, é um cano de ferro, o qual apanha. Após ver que só encontrara aquilo, ela se volta para Ezequiel que ainda vasculhava em torno do balcão, de costas para ela. Ela começa a caminhar em sua direção, ao que o jovem lhe surpreende com um “Acho que encontrei uma pistola!”, ele se volta para ela e lhe mostra o achado, ao que ela, pegando a arma de suas mãos comenta: “Nossa, é uma Makarov, carregador de 8 munições, calibre 9 mm... a precisão não é muito boa, mas é fiável e fácil de usar, quase dispensa manutenção, é uma boa arma...”, ela lhe devolve a arma, enquanto lhe aconselha: “Veja por aí se não encontra munição também.” Ele se vira para procurar e, assim que volta as costas para a garota, esta empunha o cano de ferro que havia encontrado e lhe acerta um forte golpe na nuca, fazendo-o cair desmaiado no chão. “Agora vamos ver se você carrega algo de útil nos bolsos, Ezequiel...”, ela fala enquanto solta o cano de ferro e se abaixa para revistá-lo. Após a revista, ela comenta consigo mesma, contrariada: “Mas que bosta! Ele não tem nada! Foi um desperdício tê-lo salvo...” Ela se levanta e se põe a caminhar, deixando o local, enquanto satiriza: “Boa sorte com os infectados, se nos encontrarmos de novo, você provavelmente será um deles...”


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