“Você deve achar seus semelhantes. Ache os Kane”.

                Essa frase não saia de minha cabeça. Acordei há três horas, durante a madrugada, do sonho mais estranho de toda a minha vida. Sonhei que uma voz familiar, profunda e calorosa me dizia que deveria procurar os tais Kane. Fato estranho, não ? Até onde sei sou uma mortal, portanto não tenho sonhos com duplos sentidos como esse.

                Um pouco de minha história?

                Desde que virei caçadora não tenho noção de tempo, mas tenho noção de fatos. Tudo parece mais lento e rápido, entende?

                Lembro-me que morava sozinha em um lugar quente e árido. Estranho lembrar-me desse lugar. Jurei não voltar e não voltei mais para lá. Aos dez anos me uni a Caçada. Bons tempos, o inicio: eu, lady Ártemis e Zoe.

                Outra coisa estranha em minha vida: a idade. Entrei com dez anos com aparência de dez anos, mas sou a única caçadora que envelheceu. Creio que estou a cerca de 2.600 anos na caçada e aparento ter quinze anos.

                A brisa suave bate em meu rosto, balança meus cabelos, acalma minha euforia.

                Será que falo com minha lady sobre meu sonho? Acredito que não devo.  Ela poderia acreditar que estou á inventar motivos para deixar a caçada.

                Outra coisa estranha: a caçada. Lembro-me de quando três pessoas a compunham. Agora é formada por doze meninas. Deveria ser a líder, mas permiti que Thalia ocupasse meu cargo, mesmo não chegando aos pés da Zoe.

                Paro minha caminhada. Até onde cheguei? Não sei, mas o Sol está começando a nascer. Logo irão acordar e migrar. Para onde vamos? Não sei, mas gosto desse estilo de vida, não ficar parada no mesmo lugar. Gosto de fluir, me mover.

                Inicio minha caminhada de volta.

                Selva fechada. Gosto de andar em mata fechada, ir sorrateiramente. Em nossas brincadeiras sou chamada de cheetah, por ser ágil, rápida e habilidosa. Thalia é a águia: rápida, visível, temida. Febe é a cadela: rastreadora. Zoe era a gazela.

                Como é fácil se perder em pensamentos. Acredito que já percorri metade de minha jornada de volta. Corujas se escondem, animais saem de suas tocas. Devo me apressar para não perder o bando.

                Feches de memória passam em minha cabeça. Na realidade, após a morte de minha irmã de laços, Zoe, ando quieta. Não tenho com quem conversar, com quem desabafar.

                Cheguei a clareira. As meninas acordadas arrumavam o possível. Ninguem percebeu minha falta e minha chegada, com exessão de Bonnie e Kath.

                Quando você se torna uma caçadora você ganha um amigo eterno: uma loba, geralmente branca. Bonnie era a única loba preta da caçada, minha melhor amiga. Kath era da Zoe e, desdo ocorrido, cuido dela.

                Linni, uma nova caçadora filha de Ares, veio até mim.

                -Sabe para onde vamos? – ela me perguntou.

                - Não, mas acho bom seguirmos em frente. – á respondi rapidamente, pois ouvi a corneta de inicio da marchada.

                Assim, seguimos para o Leste, não sei para onde ou porque.