Worlds Crash II escrita por The_Stark


Capítulo 7
As Chamas Dançantes


Notas iniciais do capítulo

MAIS UM CAPÍTULO PRA VOCÊS! Era pra ter saido antes, mas o pc quebrou, nada que eu pudesse fazer. Espero que gostem!



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               A chuva parara de cair. Pelo menos isso.

               Agora, apenas restava um corredor com água que chegava até suas cinturas. Realmente, muito reconfortante. Harry apontava sua varinha para Scrimgeour, visto que este, em um gesto de agradecimento, fizera o mesmo. Percy estava encostado na parede.

               - Vamos todos relaxar – disse ele – e guardar nossas varinhas, sim?

               - Ficarei feliz em fazer isso – admitiu o Ministro – assim que vocês me derem a boa explicação, que eu sei que vocês têm, para invadirem o Ministério, às três da manhã, coincidentemente ao mesmo tempo que esses monstros aparecem.

               Harry franziu o cenho.

               - Não pode estar sugerindo que temos algo a ver com esse ataque... Pelos Deuses, acabamos de ajudar você a matar um centímano.

               - Centímano? Esse é o nome dessas coisas então? Tudo bem, então, já que vocês não têm nada com isso, expliquem-me: o que fazem aqui?

               Harry respirou fundo. Não sabia se devia, ou não, contar para o Ministro sobre a ataque dos monstros a Hogwarts. Mas, se não dissesse isso, o que diria? Dumbledore os aconselhara a dizer que estavam a procura do pai de Percy, mas ele provavelmente não quis dizer para usarem essa desculpa com o responsável pelo Ministério. Ele era Ministro, provavelmente conhecia todos os que trabalhavam ali e reconheceria a mentira.

               - Estamos procurando a irmã de meu amigo – respondeu Harry por fim, acenando com a cabeça para Percy.

               - Ah, sim, seu amigo – Rufus olhou para ele – A julgar pela forma que lutou com espada, ao invés de usar mágica, suponho que seja um semideus, estou correto.

               O garoto assentiu.

               - E esse semideus tem nome?

               - Percy – respondeu o filho de Poseidon, não gostando daquele tom – Percy Jackson.

               - Ah! Percy Jackson! Sim, sim... Você ficou famoso até mesmo no mundo bruxo, após a Grande Guerra, sabia disso? É um prazer finalmente conhecê-lo, embora as circunstâncias não sejam exatamente... como eu gostaria que fossem... Tenho de admitir, em todas as histórias que ouvi, ninguém nunca mencionou que você tinha uma irmã, Percy...

               - Irmã de chalé – ele respondeu rapidamente – filha do meu pai. Tenho muitos irmãos semideuses.

               Percy fez uma prece para o Deus das Mentiras, fossem quem fosse. Ele esperava que essa nova "fama" que ele tinha no mundo bruxo não significasse que todos sabiam tudo sobre ele. Se significasse, Rufus saberia que era o único filho humano de Poseidon.

               - Compreendo, e esse seu pai, quem seria ele?

               O garoto resistiu ao impulso de respirar aliviado – pareceria suspeito se o fizesse.

               - Hermes – respondeu rapidamente. Ele não sabia por que, mas pareceu melhor mentir. Se Scrimgeour, por um acaso, soubesse que os Três Grandes Deuses não deveriam ter filhos e soubesse que Percy era filho de Poseidon, poderia desconfiar que ele tivesse todos aqueles irmãos que ele mencionara...

               - Mas, então, explique-me, Percy Jackson: o que sua irmã fazia no Ministério uma hora dessas? Não gostaríamos que ela se machucasse...

               Droga, pensou Harry, não pensamos nisso. O silêncio que se seguiu entregou os dois.

               - Estão mentindo – concluiu o Ministro -, a questão é: por quê?

               - Percy, agora! – gritou Harry, esperando que o semideus entendesse.

               Ele entendeu. Com um rápido movimento de braços, revolveu a água do corredor, fazendo com que ela acertasse Rufus, distraindo-o. O Ministro finalmente virou a varinha que até então estava apontada para Harry e começou a lançar um feitiço, mas o estudante de Hogwarts foi mais rápido.

               - Expelliarmus! – e a varinha de Scrimgeour saiu voando, caindo e perdendo-se na água.

               Percy viu a surpresa no rosto do Ministro. Aproveitou-se do momento e criou uma mini-onda, fazendo com que o responsável pelo Ministério chocasse contra a parede.

               - Não vão escapar dess...

               - Petrifico Totalus! – Harry nem deixou-o terminar a frase. O feitiço voou rapidamente e Scrimgeour caiu petrificado.

               - Droga! – disse Percy abrindo a água do corredor com seus braços – Ele vai se afogar, se continuar aí.

               Pela primeira  vez, Harry pode ver o chão do corredor. Era negro, como tudo no Ministério. Que surpresa. Percy não poderia ficar segurando a água por muito tempo, então ele rapidamente pegou o corpo do Ministro e carregou-o até a sala mais próxima.Deixou-o deitado num pequeno sofá, acima do nível da água.

               - Desculpe por isso tudo, Ministro – foi tudo o que conseguiu dizer.

                - Temos que ir – disse Percy da porta da sala – Ainda temos que encontrar Mellany e tentar impedir o ritual.

               - Vamos – concordou o bruxo caminhando pela água.

               Estava encharcado e, pela primeira vez, percebeu que ainda estava de pijama. Ótimo, concluiu ele, dois adolescentes encharcados – um deles de pijamas – correndo pelo Ministério tentando encontrar uma garota de cinco anos. Chamar atenção? Não, tudo isso era bastante discreto.

               - Mellany?! – gritou Percy atravessando o corredor – Está aí?

               Se a menina estava por perto, não respondeu.

               - Céus, não vamos ter tempo de procurar no Ministério inteiro, dessa maneira! – exclamou Harry – A essa altura, talvez o centímano já tenha levado o diadema para onde quer que ele queira levá-lo. Ainda nem encontramos a garota...

               - Bom, nunca teríamos a perdido, se nunca tivéssemos nos separado dela – notou Percy.

               - O que quer dizer com isso?       

               - O banheiro masculino estava vazio! Ela podia ter entrado conosco!

               - Como eu saberia disso?! Fiz o mais lógico para não chamar a atenção.

               - Enviou uma garota de cinco anos sozinha para o Ministério.

               - Teríamos chegado junto com ela, se alguém não tivesse parado para usar usar o banheiro...              

               - Então, agora a culpa é minha?

               Harry suspirou.

               - Acho que nós dois erramos, não é? – disse por fim.

                Percy suspirou também.

               - Sim. Precisamos encontrá-la, antes que algo de ruim aconteça. Nunca me perdoaria por isso.

               - Vamos parar de discutir e bolar um plano então.

               Então, ficaram em silêncio, encarando-se por alguns segundos. Esse foi todo o plano que conseguiram bolar.

               - Gostaria que Annabeth estivesse aqui. Ela saberia o que fazer.

               - Ou Hermione – notou Harry.

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               Os cabelos de Rony não ficaram brancos, é verdade. Mas foi por pouco.

               - Isso foi... – ele nem sequer conseguia descrever – Nunca mais...

               - Você acostuma com isso depois de algum tempo – disse Nico com o rosto branco.

               - Você está bem? – perguntou Gina, o filho de Hades não parecia bem.

               - Vou ficar. Viagem das Sombras cansa, mas logo passa.

               - Onde estamos? – perguntou Thalia olhando ao redor.

               Era um corredor negro. Cheio de lareiras. E tinha uma estátua. Foi o que a garota conseguiu ver, naquela confusão na qual o corredor se encontrava. Os bruxos gritavam e lutavam contra vários centímanos perto da estátua. Havia mais do que em Hogwarts. De onde eles estavam vindo?

               - No Ministério – respondeu Hermione – É curioso, esse lugar está cercado de magia. É impossível entrar aqui sem ser pelas entradas convencionais. Como Viagem das Sombras funcionou?

               Nico deu de ombros.

               - Provavelmente eles lançaram magias para impedir que pessoas entrassem aqui usando meios bruxos. Ninguém deve ter pensado que um filho de Hades invadiria esse lugar...

               - Pessoal – disse Gina -, sem querer ser chata, mas mantenham o foco. Temos que encontrar Harry, Percy e Mellany. Onde será que eles estão?

               Annabeth rapidamente fez uma análise da situação.

               - Existem vários centímanos perto da estátua – ela apontou -, mas nenhum deles parecem carregar o diadema. O líder deve ter ido para outro lugar do Ministério terminar o ritual que a voz falou... Esses outros centímanos devem ser apenas uma distração. Todos os funcionários do Ministério se reúnem aqui e ninguém percebe um monstro andando pelos corredores...

               - Certo – concordou Rony – E, como nem Harry, nem Percy estão aqui, eles devem ter pensado a mesma coisa e a essa altura estão procurando o centímano líder em algum outro lugar.

               Annabeth e Hermione riram.

               - Rony, por favor... – disse Hermione – Eles são nossos amigos e tudo, mas você acha que um deles pensaria nisso?

               - Mas, se eles não pensaram nisso, onde estão?

               - Alguma coisa deve ter acontecido – concluiu a filha de Atena – Mas o quê? Para onde eles três foram?

               - Acho que o mais importante – notou Thalia – é saber aonde o centímano com o diadema foi.

               - Como saberíamos uma coisa dessas? – perguntou Rony.

               - A gente não saberia – admitiu Thalia olhando para os centímanos com quem os bruxos lutavam – Mas eu sei de alguns monstros que saberiam...

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               - Quarto Andar – disse o elevador – Departamento de Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas.

               - Criaturas mágicas? – perguntou Percy saindo do elevador – Francamente, primeiro procuramos no andar de catástrofes, agora no andar das feras, quando é que vamos procurar no andar dos hambúrgueres e das batatas fritas?

               - Bom – explicou Harry – o nono andar é o departamento de mistérios. Acredite em mim, você pode encontrar de tudo lá...

               A lado bom disso tudo – se é que havia um lado bom - é que os centímanos estavam mantendo todos os funcionários do ministério ocupados no Hall de Entrada. Assim, os dois podiam caminhar livremente, sem ser importunados. Não entenderam por que somente Scrimgeour estava lutando contra um monstro sozinho, mas deixaram para lá.

               Esse corredor não tinha chuva, o que já era um bom sinal. Estava seco e vazio, novamente, ponto para o quarto andar. Mas será que Mellany estaria ali?

               - Mellany?! – gritou Percy abrindo as portas do corredor rapidamente – Alguém?!

               - Eu não faria iss... – tentou Harry, mas era tarde demais. Percy abriu uma porta que não devia ter aberto e dezenas de Diabretes da Cornualha escaparam da sala na qual estavam presos. O bruxo respirou fundo  – Deixa pra lá...

               Os monstrinhos azuis começaram a voar em volta de Percy e a fazer gozações.

               - Olha que cara feia esse aqui tem! – diziam com suas vozes esganiçadas, enquanto atacavam-no rapidamente.

               Percy girava com Contracorrente o mais rápido que conseguia, mas eles eram muitos e ele não parecia acertá-los. Os diabretes começaram a rasgar o casaco que Percy vestia, deixando-o em retalhos pequenos jogados no chão.

               Harry levantou a varinha para impedi-los, mas um dos diabretes acertou-o na mão, jogando sua varinha para longe.

               - Droga! – gritou Harry tentando correr atrás de sua arma, mas havia muitos diabretes atrapalhando seu caminho.

               - Esse daqui usa óculos! – gritou um deles tirando as lentes de Harry. Agora o bruxo estava desarmado e sem conseguir enxergar.

               - Porcaria de bichos! – gritava Percy atacando-os com mais força, mas sem sucesso. A essa altura, o casaco que vestia já tinha sido completamente destruído. Voltara a sentir frio com sua camisa sem mangas – Harry, você não pode ver... Mas eu tenho péssimas noticias sobre seu casaco...

               - MALDITOS DIABRETES! – gritou o bruxo tateando o chão, desesperado em busca de sua varinha, ou óculos, ou o que quer que encontrasse – Por que o Ministério tem tantas dessas pragas guardadas numa sala?!

               Percy estava ocupando demais girando Contracorrente e tentando evitar as mordidas dos diabretes para responder.

               - Percy, encontre a minha varinha, rápido...

               - Eu estou meio ocupado aqui, Harry...

               - Por favor!

               - Ah, certo...

               O garoto arremessou Contracorrente contra a parede, bem longe dele, com o objetivo de distrair os diabretes. Deu certo. Várias das criaturinhas azuis voaram atrás da espada, que logo voltaria para o bolso de Percy. O semideus deu uma cambalhota no chão e agarrou a varinha de Harry, antes que os Diabretes percebessem que tinham sido enganados.

               - Pegue! – gritou Percy estendendo a varinha.

               - Accio Óculos! – gritou Harry primeiramente e em dois segundos estava com sua visão novamente, então apontou para os monstrinhos – Peskipiksi Pestermoni!

               De repente, todos os diabretes pararam no ar e ficaram encarando Harry, sem graça.

               - Sem mais travessuras – perguntaram eles.

               - Sem mais travessuras...

               - Okay... – eles pareceram tristes.

               - O que esse feitiço faz? – perguntou Percy.

               - Acaba com as travessuras de Diabretes – respondeu Harry, então, ele teve outra idéia – Alías, vocês podem fazer travessuras, mas não aqui...

               - O quê? – até Percy ficou confuso.

               - Subam o elevador! Vocês podem atacar a vontade os centímanos, no Hall de Entrada.

               As criaturinhas sorriram travessas e em meio segundo o corredor estava vazio novamente. Todas subiram para fazer o inferno da vida de alguns centímanos.

               Percy olhou para Harry sem graça.

               - Sinto muito quanto ao seu casaco.

               - Não tem problema...

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               Thalia estava irritada. E não é nada bonito quando Thalia fica irritada.

               - Eu vou perguntar mais uma vez! – gritava ela para o centímano deitado no chão – ONDE ESTÁ O DIADEMA?!

               Ela, irada, subjugara uma daquelas enormes criaturas rapidamente – deixando até mesmo os bruxos do Ministério boquiabertos. Mas eles rapidamente voltaram a lutar contra  os monstros que ainda estavam de pé, e Thalia se pôs a interrogar aquele que derrubara.

               - Não sei do que está falando – negava o centímano.

               - Não sabe, é? – dizia ela com uma voz fria, colocando sua lâmina no pescoço do monstro – Pois eu acho que sabe. E acho que se você não me disser vou te enviar para o Tártaro por tanto tempo que quando você sair de lá nem vai se lembrar de como é a vida aqui fora, fui clara?

               O centímano assentiu.

               - Então, onde está o diadema?

               Rony aproximou-se de Nico.

               - Cara, sua namorada me dá medo.

               - Ela não fica linda quando está irritada e ameaçando as pessoas?

               O centímano suspirou, vencido.

               - Segundo Andar – disse ele – É numa das salas do segundo andar, não sei mais nada. Juro.

               - Ótimo, bom garoto – disse Thalia.

               - Mas o que faremos com ele agora? – perguntou Annabeth – Quer dizer... Não podemos mandá-lo para o tártaro agora que ele foi prestativo, podemos?

               Um funcionário do ministério da magia livrou-os dessa decisão. Ele conjurou cordas a partir do chão que deram a volta no enorme monstro caído. Mais funcionários se juntaram ao primeiro e, dentro de segundos, o centímano estava bem preso debaixo de cordas.

               - Isso resolve... – notou Nico.

               - Segundo andar! – falou Thalia – É melhor irmos para lá.

               Eles já estavam aproximando do elevador quando, vindos do nada, dezenas de pequenas criaturinhas azuis surgiram. Elas voavam rapidamente e, num primeiro momento, assustaram Annabeth.

               - O que diabos são essas coisas?! Nunca vi nenhum mito assim!

               - São criaturas mágicas – respondeu Hermione, já apontando sua varinha para os Diabretes e preparando-se para detê-las.

               - Hermione, espere! – pediu Rony.

               - O que foi?

               - Eles não estão atacando os bruxos... Estão atacando os... centímanos?

               - Por quê? – perguntou Thalia.

               Nico deu de ombros.

               - Adoraria ficar aqui e estudar a psicologia dessas coisas-azuis-que-voam, mas temos uma missão lembra?

               Todos assentiram e entraram no elevador.

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               Aquela sala era fria.

               Mellany tentou se aquecer com seus braços mas não conseguia. Por que estava tão frio ali?

               A sala era exatamente como em seu pesadelo. As paredes eram de pedras irregulares e extremamente úmidas – o que explicava o frio. O chão estava escorregadio, de forma que a garota achou melhor tomar cuidado com seus passos. A escuridão tornava difícil ver as bordas da sala. Ela poderia ser gigante, assim como poderia ter apenas alguns metros, Mellany não saberia dizer.

               No centro da sala estava a única fonte de luz: uma vela. Ela jogava seus raios luminosos em todas as direções, mas ainda assim era capaz de iluminar a sala em sua totalidade. Estava em cima de uma mesa e sua iluminação somente permitia que Mellany visse isso.

               Ela deu um passo em direção a mesa. Não queria, é verdade. Algo dentro dela dizia-lhe para abandonar toda essa loucura, dar meia volta e procurar por Percy. Mas ainda assim, o que fora aquela voz que lhe chamara? Por que ela estava se sentindo tão...

               Nem sequer era capaz de descrever o que sentia. Outro passo.

               Notou que, de repente, o chão não estava mais úmido. Era úmido na entrada, e somente na entrada. No centro da sala o chão estava seco. Estranho, foi tudo o que pensou.

               Agora podia ver a mesa claramente. Era de madeira, bastante simples. Estava gasta nas bordas e nos pés e possuía vários arranhões no centro. Ao todo, parecia velha, destruída e acabada pelo tempo.Mas não a mesa, em sua essência o que mais chamava a atenção. O que atrairia os olhos de qualquer expectador eram os objetos que em cima da dita mesa estavam.

               Um medalhão. Uma taça. Um anel. E o diadema que fora roubado e que ela, Percy e Harry estavam buscando.

               Seu bom senso gritou-lhe para que pegasse o diadema e corresse como se não se houvesse amanhã. Mas ela não conseguiu resistir uma rápida olhadela por cima dos curiosos objetos.         

               Percebeu que a taça estava cheia. O liquido, concentrado e na escuridão, era negro. Parecia ter uma certa viscosidade e tinha um cheiro forte. Sangue, compreendeu ela. A taça estava cheia até a borda com sangue. De quem? Ela nunca seria capaz de dizer.

               - Você veio... – disse-lhe uma voz feminina. Ela vinha de todos os lugares e de lugar nenhum – Minha querida, você veio...

               Mellany girou 360 graus tentando identificar a fonte do som, mas estava escuro demais no resto da sala para que ela visse alguém. Alem disso, tinha a impressão de que a voz estava na sua mente. De súbito, percebeu que essa era a voz que falara com ela em Nova Iorque, na Estátua da Liberdade.

               - O que você quer? – perguntou ela, sentindo-se boba para falar com o nada – Você me aconselhou a seguir os semideuses, naquele dia em Nova York...

               - De fato eu convenci... Você é uma semideusa, afinal de contas.

               - Você é minha mãe?

               A voz pareceu abafar uma risadinha.

               - Receio que a resposta seja mais complicada do que um simples "sim" ou "não" e temo que não tenha tempo para explicar...

               - O que quer dizer com isso?

               - Um dia entenderá. Por hora, escute-me: você deve abandonar os semideuses.

               - O quê? Mas, por quê? Você mesma disse que era para ir com eles...

               - As circunstâncias mudaram. Eles a salvaram em Nova Iorque, do contrário morreria. E você, mais do que ninguém, precisa viver. É importante demais para morrer. Agora já está a salva... Venha comigo...

               - Quem é você?

               - Venha comigo e saberá.

               Mellany não estava inclinada a seguir uma voz que nem sequer se apresentava. Ainda mais, ela gostara do velho barbudo, do centauro e do Percy. Eles disseram que eram seus amigos. Não queria abandoná-los.

               - Não. Eu vou ficar com os semideuses.

               - Mellany... – a voz pareceu um pouco irritada ­– você irá complicar as coisas. Desse jeito haverá mais sofrimento, mortes desnecessárias. Venha comigo e vamos por um fim a tudo isso...

               - Não! – gritou a garota para a escuridão.

               - Então você não me deixa escolha, se não renascê-lo... Esperava não ter que chegar a tanto...

               Houve um rápido barulho e a sala mergulhou em chamas. Somente as bordas da sala pegaram fogo e Mellany compreendeu o porquê do chão estar escorregadio. Alguém espalhara um liquido inflamável nas paredes da sala e no chão próximo a elas, por isso somente o centro da sala estava seco.

               Tudo pegou fogo rapidamente. Como no seu sonho. Havia fogo.

               As chamas foram conduzidas por um pequeno trajeto de líquido inflamável até a mesa e lá os objetos foram queimados.

               - Deixe-me matá-la... – disse uma voz ofídia. A mesma voz que a atraíra para a sala.

               Virou de costas e viu que era uma enorme serpente verde que falava com ela. Cobras falam agora?! Ela nunca saberia, mas o nome da cobra era Nagine.

               - Deixe-me estrangulá-la!

               E o animal saltou sobre Mellany que rapidamente deu um salto para o lado. A cobra caiu atrás das mesas. Nas chamas. A garota ouviu o chiado aterrorizante que o monstro fez quando foi queimado vivo.

               As chamas haviam pegado na mesa, deixando a semideusa apenas com um pequeno circulo sem fogo na sala. Estava calor. Ela reparou que as chamas na mesa pareciam dançar. Seus tons eram vermelho, amarelo, preto e verde. Um magnífico show de cores e movimentos.

               Ela sabia que deveria tentar fugir, mas suas pernas pareciam pedras. Talvez fosse o medo, ela não sabia dizer. Tinha que ficar até o final. Não havia nada que pudesse fazer para impedir. Ela tinha que ver.

               As chamas bruxuleavam. Cada vez mais rápidas, cada vez mais verdes. O calor a envolvia, parecia afagá-la, ao mesmo tempo que parecia queimar-lhe a pele. O que era tudo isso?

               De repente, uma sombra surgiu no fogo verde. Mellany ouviu um suspiro de alívio. Como se ficar ali, cercado por chamas fosse algo extremamente prazeroso. A sombra tomou forma e saiu das chamas.

               Era um homem.

               Vestia um grande e arejado manto negro, que se jogava por todo o seu corpo. Era careca, com algumas veias saltadas sobre sua cabeça. Mas o que mais lhe chamava atenção era a falta de nariz. No lugar onde pessoas normais tinham o órgão do olfato, o bruxo tinha duas fossas nasais. E ele também possuía olhos ofídicos – como os da serpente que a pouco pulara no fogo. Suas pupilas negras como a escuridão pareciam refletir dor, sofrimento, maldade.

               Mellany soube que, quem quer que esse bruxo fosse, devia ser temido. Era poderoso.

               - Vivo... – disse Voldemort, levando suas mãos lentamente à cabeça, como se para se assegurar de que ela ainda estava lá. Matéria viva – Estou vivo novamente...

               Então seus olhos caíram sobre Mellany, como se ele ainda não tivesse visto a garota ali. Ela soube, naquele momento, que era hora de correr. Suas pernas pareceram ganhar forças novamente. Mas para onde fugiria? Estava cercada. Presa em um círculo de fogo. Somente ela e o Lorde das Trevas.

               - Eu o renasci – disse a voz feminina que segundos atrás falara com Mellany – E posso mandá-lo de volta para o Mundo Inferior com a mesma facilidade. Não se esqueça de sua parte no acordo...

               - Não me esquecerei – assegurou-lhe Voldemort.

               - Eu quero a garota. Viva.


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Notas finais do capítulo

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