Signal Fire escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 31
Purgatório: inferno e salvação


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, como vocês estão?

Estou de volta com mais um capítulo de Signal Fire. Muitas pontas da história se conectando, muitas outras soltando-se... Resumidamente, muitos assuntos sendo abordados, então, preparem-se! Creio que muitos vão gostar dos rumos tomados aqui!

Curiosidade: o título do capítulo faz alusão ao trajeto feito pelas almas após a morte. Muitos ficam no purgatório por muito tempo, outros vão direto para o inferno e outros alcançam a salvação... Em relação a fanfic, ele faz referência ao que os principais personagens da estória vivenciam.

E, como é de praxe, indico algumas coisas para escutarem: The Scientist e Fix You (Coldplay) e Help (Hurts).

Espero que gostem!



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A carta de aspecto oficial estava firmemente apertada na mão direita de Quinn, ela realmente não sabia o motivo de ter sido chamada para comparecer à delegacia de Noah. Como se o destino finalmente estivesse conspirando ao seu favor, ela não tinha aulas naquele dia e somente teve que deixar os ensaios do Glee, mais uma vez, a cargo de Claire.

O grupo estava animado, já era quarta feira e na sexta feira daquela semana estariam todos a bordo do avião rumo a New York. Todos estavam trabalhando duro e mesmo que tivessem chegado “por acaso” às Nationals, a palavra “fracasso” parecia não existir no vocabulário de nenhum deles. Na verdade, aquele grupo de disfuncionais trazia boas lembranças a Quinn... Eles lembravam o seu próprio New Directions, aquele grupo que ela aprendera a amar e que lhe ensinara, entre muitas coisas, o que significava pertencer a algo e se tornar especial por ele.

O New Directions ensinou muitas coisas a Quinn e trouxe muitos componentes que, com o passar do tempo, tornaram-na a pessoa que era hoje. Sua paixão pelo ensino tinha muito da influência da própria paixão, entremeada por erros e acertos, que Mr. Schue passava para cada um deles nos ensaios do Glee. Quinn aprendera a perdoar, conversar e, sobretudo, a amar com o Glee.

O Glee lhe trouxera Rachel e os sonhos dela a levaram-na embora, Quinn procurava não pensar nela e, agora que a ferida da partida dela deixara de doer intensamente e passara a incomodar, Quinn começava a sentir raiva. A raiva por enfrentar tudo que acontecia em sua vida de forma solitária, a fúria por Rachel ter abandonado-a por algo incerto e, principalmente, a decepção.

Quinn decepcionara-se com os sentimentos de Rachel.

A loira achava que a morena, tão acostumada a provocar grandes sensações com a sua voz, pudesse ter sentimentos mais intensos e mais confiáveis. Ou, talvez, Quinn estivesse acostumada a uma Rachel que não mais existia. A cada dia que a ausência de Rachel se fazia mais presente, mais Quinn percebia que a mudança chegara para as duas.

Se os anos tinham tornado Quinn mais compreensiva, os mesmos tiraram a maleabilidade da morena. A loira não se surpreendeu ao perceber que pensar em Rachel trazia um gosto amargo aos seus lábios, um gosto que há muito ela não sentia e que era extrema e preocupantemente semelhante ao que sentia em relação aos seus pais.

Exatamente como eles, Rachel a abandonara quando Quinn mais precisara dela. Quinn podia ser feita do mais duro dos mármores, mas era frágil e qualquer pancada mais forte a derrubaria. E foi isso que aconteceu quando perdeu Rachel e Charlie no mesmo momento.

Quinn nunca esteve tão sozinha quanto agora.

Sam estava concentrado em recomeçar e Quinn jamais se perdoaria se tirasse isso dele enquanto Santana estava distante graças as suas próprias escolhas. De fato, Quinn preferia acreditar em Rachel quando Santana - que a ferira tão dolorosamente quanto à morena - estava afastada. Quinn julgou a melhor amiga da forma errada e, talvez, o tempo que pedira chegara ao fim. E Quinn precisava de proteção, Quinn precisava da sua retaguarda.

A loira estacionou o carro em frente à delegacia, puxou o freio de mão do seu velho sedan e desceu do carro, trancando as portas e ajeitando a bolsa no ombro direito. A tarde estava amena graças à chegada do verão e o sol, discreto e escaldante, se fazia presente acima de sua cabeça. Quinn retirou os óculos de sol assim que entrou no prédio, na recepção, cumprimentou o jovem policial e apresentou a carta enquanto dizia:

— Estou aqui por causa desse documento, com quem eu devo falar?

— Com o responsável da investigação, o Sgto. Puckerman. - O policial respondeu gentilmente, depois de dar uma breve olhada na carta. Quinn engoliu em seco, amaldiçoando sua falta de sorte. - A sala dele é...

— Muito obrigada, eu sei onde é a sala dele. - Quinn interrompeu de forma fria e tentando manter o melhor de seus sorrisos educados no rosto. Entretanto, suas bochechas queimaram e ela apertou o tecido da bolsa enquanto caminhava pelo corredor em direção a sala de Noah.

Quinn, imersa em seus pensamentos e sentindo a sua raiva diária arranhar a superfície de sua calma, não apreendeu muita coisa enquanto caminhava. Estava com muita coisa engasgada em sua garganta e não precisava reencontrar Noah naquele estado. Afinal, o policial era uma parte importante e também dolorosa do seu passado, quando o encontrava, Quinn não lembrava somente de Beth e sim, do beijo dele. Não era bom reencontrar Puck, não passara tanto tempo longe dele à toa.

Distraída, Quinn sequer preocupou-se em bater na porta da sala de Noah. Ela simplesmente girou a maçaneta e entrou na sala pronta para enfrentá-lo. Porém, os olhos de Quinn não encontraram Noah e sim, outro par de olhos extremamente semelhantes aos seus. Olhos que ela não via há quase seis anos.     

Elizabeth Corcoran Puckerman estava sentada em frente à mesa do pai. Ela tinha um livro aberto em mãos e uma expressão desconcertada no rosto. Os olhos pertenciam a Quinn e, aparentemente, o gosto por livros também.

As semelhanças não iam muito além, mas o sentimento entre elas ia longe... Muito longe.

Quinn não se orgulhava de ter tanta mágoa dentro do peito, ainda mais, porque Beth era muito nova na época em que se afastaram... Mas, não podia deixar de sentir o coração apertar com a visão de sua filha biológica crescida. Perdera muito tempo... Beth era um pedaço de Quinn que também era cheio de amargura, ainda que fosse semeado por poucos e raros momentos doces.

Beth era o seu maior arrependimento e, também, o seu maior acerto.

Quinn engoliu em seco, a mão ainda apertando a maçaneta firmemente. Beth retribuía o seu olhar, a professora percebeu a discreta umidade nos olhos da criança e sentiu, de certa forma, o que ela sentia. O arrependimento pesava no silêncio, tantos anos sem falarem e naquele instante, as palavras pareciam ter fugido de seus lábios ou tornado-se incapazes de descreverem o que sentiram.

O pequeno sinal de fragilidade deu força para as certezas que Quinn carregava em seu peito durante todos aqueles anos.

Beth nunca quis afastá-la.

Quinn, silenciosamente, esboçou um sorriso e deu de ombros, os seus próprios olhos esverdeados embaçaram-se com as lágrimas que segurou. Beth, do outro lado da mesa, esboçou um sorrisinho de lado que lembrava o sorriso de Puck, Quinn riu com as lembranças e seu interior, frio desde a partida de Rachel, esquentou-se brevemente.

— Oh Quinn, desculpe, eu...! - Noah entrara afobado em seu escritório, provavelmente temeroso com o reencontro entre a filha e sua antiga namorada. Porém, ele acabou esbarrando em uma Quinn que estava extremamente distraída por Beth. Quinn virou-se para ele, limpando as lágrimas de forma discreta e respirando profundamente.

Noah também sorriu ao olhar de uma para outra, o mesmo sorriso que Beth usara até anteriormente porque, agora, ela revirava os olhos da mesma forma que Quinn estava habituada a fazer. O policial riu roucamente e a própria Quinn repetiu o ato, provocando ainda mais risadas nele. Beth agitou a cabeça e voltou os olhos para seu livro, Noah pigarreou e disse:

— Desculpe por isso, ela teve que passar o dia comigo. Shelby está ensaiando em Carmel.

— Não é como se o mundo tivesse acabado... Na realidade, ele melhorou. - Quinn respondeu com um sorriso, olhando por cima do ombro e sendo pega novamente pelos olhos de Beth, a pequena até tentara fingir que estava lendo o livro, mas suas bochechas avermelhadas a entregaram. Noah estava eufórico e focou-se no sorriso de Quinn, o qual queria lembrar para o resto da vida. Quinn virara-se para ele, o cenho franzido em divertimento. - O que ela está lendo?

— Está no quarto livro de Harry Potter, ela é uma rata de biblioteca. Shelby ficou chateada ao constatar isso e eu não pude deixar de suspirar aliviado ao perceber que ela herdou mais de você do que de mim. - Puck respondeu com os olhos brilhando orgulhosos. Quinn sentia-se tão orgulhosa quanto ele, dentro de seu peito, seu coração abraçava aquela calmaria momentânea. Puck ergueu as sobrancelhas para Quinn, chamando a atenção dela. - Está aqui por causa da carta?

— Sim, tem relação com o julgamento que Santana irá enfrentar?

— Claro, mas você não precisa se preocupar com isso... Santana não lhe convocou para testemunhar. - Puck respondeu profissional, finalmente entrando em seu escritório. Beth sequer tirou os olhos do livro quando se sentou em um sofá ao lado da mesa. Quinn, por sua vez, demorou a caminhar até as cadeiras de visitantes, mas assim o fez quando a pequena passou por si. Puck apanhou uma pasta, provavelmente, a do caso e colocou a sua frente na mesa. - Eu só preciso que você autorize o uso do seu depoimento no tribunal, mesmo que seja a versão escrita pelo escrivão.

— Por mim, tudo bem. É o mínimo que eu posso fazer depois de Santana ter me poupado disso. - Quinn respondeu gentilmente e Noah voltou a sorrir para ela. Os dois se olharam por alguns minutos e, diferentemente do que outros pudessem supor, não havia segundas intenções da parte de nenhum deles.

Noah estava preocupado, ele podia enxergar as olheiras arroxeadas embaixo dos olhos de Quinn. Ela passara por muito nos últimos dias, a morte de Charlie Thomas abalara todos, mas nada se comparava ao que Quinn provavelmente sentia. Charlie era a única figura paterna que ela possuía e ele fora morto sob os cuidados do pai de sua filha biológica entregue à adoção e de sua melhor amiga recém-chegada à cidade... Noah sequer podia descrever a culpa que sentia e investigar aquilo era uma forma de se redimir com ela. O policial também soubera que Rachel, inexplicavelmente, deixara a cidade quando Quinn mais precisava dela e, agora, como se fosse para tornar a montanha russa emocional de Quinn ainda mais intensa, ela reencontrava Beth.

Aquilo tudo com certeza não a deixava dormir, ela também não estava comendo direito porque parecia mais magra desde a última vez que Noah a vira. E a palidez estava ainda mais intensa. Quinn não estava se cuidando e sim, sobrevivendo através dos dias.

Mas, nem mesmo todas aquelas provações foram capazes de tirar o sorriso de Quinn ao encontrar Beth de novo.

Porque, diferentemente do que Noah pensava, Quinn não mais estava tão fragilizada por causa de tudo que acontecera. Os dias estavam se passando e ela estava endurecendo através deles, assim como sua fúria em relação a Rachel a incendiava, aquele surpreendente reencontro com Beth a fortalecia. Quinn estava vivendo um dia atrás do outro, já fizera isso no passado e era paciente o bastante para fazer de novo e esperar uma melhora.

Afinal, o mundo não parava de girar por causa de um coração quebrado.

Noah continuava a procurar algo entre a papelada da pasta, porém, ele não deixara de observar Quinn e, até mesmo, a própria filha. Beth parecia fascinada pela presença de Quinn, a pequena sempre fora bastante apegada à mãe biológica e, talvez, fora esse apego que despertara um medo inexplicável em Shelby e necessário para afastá-las.

Quinn não sabia, mas aqueles seis anos foram difíceis para Beth também. A pequena podia não entender o que dizia, na época, mas conforme crescia, mais ela perguntava da mulher loira, de olhos iguais aos seus e que nunca mais viera vê-la. Quando ela completou sete anos, ela finalmente entendeu quem era a mulher loira e o que fizera à relação das duas.

Foi a partir desse momento que Beth se isolou nos livros e se afastou de Shelby. A cada dia, as semelhanças com Quinn aumentavam e as diferenças com Shelby também. Noah defendeu a filha em todas as vezes que Shelby tentou forçar, novamente, uma ruptura total com Quinn e tudo relacionado à loira.

Era impossível quebrar o laço invisível que se fazia presente entre Quinn e Beth.

Beth era inteligente, calada e sagaz como Quinn. Por isso, o sentimento de independência chegou de forma prematura. Ela sempre fora mais madura do que as crianças de sua idade e entendeu perfeitamente o divórcio dos pais e, até mesmo, agradeceu o pai.

O ponto era que Noah conhecia a filha e sabia que ela estava ansiosa, os olhos dela saíam das páginas do livro e olhavam para as costas de Quinn, curiosos e nervosos. Por puro acaso do destino, a folha de papel que Noah precisava não estava entre os documentos do caso. Ele se levantou e disse:

— Vou imprimir um termo e, a partir da assinatura dele, você estará liberada.

Quinn acenou com a cabeça e Noah saiu da sala. O silêncio voltou a preencher a sala, Quinn girou o corpo e encontrou Beth encolhida no sofá, o rosto coberto pela capa do livro e as orelhas vermelhas de vergonha. A professora sorriu para a ingenuidade da criança tentando se esconder dela e comentou discretamente:

— Harry Potter? Boa escolha.

Beth abaixou o livro e sua sobrancelha estava perfeitamente arqueada, exatamente como Quinn costumava fazer quando estava desconfiada. A professora não se intimidou pela expressão da pequena e continuou sorrindo para ela, Beth marcou o livro - sem orelhas e sim, com um marcador de páginas, exatamente da forma como Quinn fazia - deixando-o no estofado e levantando-se. Ela foi decidida até Quinn e parou em frente à professora, as duas voltaram a se olhar.

Ela podia ter muitas semelhanças com Quinn, mas a coragem era de Noah.

Quinn viu quando os pequenos olhos esverdeados encheram-se de lágrimas, também escutou o suspiro pesado de Beth e seu coração apertou-se ao notar que ela tremia. Os pequenos ombros estavam caídos, cansados pelo peso que ela carregara durante todos aqueles anos. Beth suspirou frágil, Quinn também.

— Eu... Eu... Gos-gostaria de pedir per-perdão. - Beth gaguejou entre pequenos soluços, seu rosto manchando-se com pequenas e corajosas lágrimas. Quinn abriu um sorriso largo, seus próprios olhos verdes brilhavam como esmeraldas. Ela agitou a cabeça, várias vezes, desesperada pelas lágrimas de Beth e inquieta com as próprias. Ela tinha que ser forte pela pequena. Quinn segurou as mãozinhas de Beth e, sorrindo, disse gentilmente:

— Eu jamais lhe culpei e mesmo se tivesse culpado, eu teria lhe perdoado no instante que entrei nessa sala e vi você.

O lábio inferior de Beth tremeu e ela, finalmente, cedeu às lágrimas. A pequena jogou-se nos braços de Quinn e a professora, satisfeita, apertou-a em seu abraço. Beth segurou-se nela como se jamais fosse largá-la e esse era o tipo de abraço que você dá a alguém extremamente importante em sua vida... É o abraço que você dá em uma mãe, uma irmã... Uma amiga.

Noah voltou minutos depois com o termo em mãos e encontrou Quinn sentada no sofá ao lado da filha. Ambas discutiam qual casa de Hogwarts gostariam de pertencer e essa foi a vez de Noah respirar fundo e controlar as lágrimas.

Era bom fazer Quinn sorrir daquela forma, era bom trazer um pouco de organização à bagunça que ela não merecia carregar.    

***

Não importavam quantas vezes Rachel se olhasse no espelho naquela noite, ela não se acharia maravilhosa, muito menos, linda. A sua aparência era uma das coisas que menos importavam no ponto em que sua vida se encontrava. Ela não tinha a mínima vontade de chamar a atenção ou sentir-se bonita... Na verdade, ela não tinha para quem se arrumar.

Ainda que, dolorosamente, se lembrasse muito bem que Quinn não achava que ela ficasse bonita quando estava perfeitamente maquiada ou arrumada. Quinn achava que Rachel estava bonita quando ela sequer fazia esforço; de camisola na cozinha do apartamento que dividiram por tão pouco tempo, repleta de cansaço depois de um dia cheio no Glee, descabelada após acordar, ofegante após um orgasmo...

Talvez, Quinn não achasse a beleza em fatores externos porque Rachel a possuía quando estava com ela... Assim como Quinn trazia o melhor que Rachel tinha à superfície, a loira também trazia o que era mais bonito na morena. Os olhos castanhos sempre brilhavam intensos, a boca carnuda emoldurava um sorriso brilhante e tudo nela, da cabeça aos pés, estava em perfeito estado, em perfeita harmonia. Provavelmente, com Quinn, Rachel era linda por dentro e por fora, de todos os ângulos e de qualquer forma.

Entretanto, naquela noite, os olhos castanhos estavam opacos e mascarados pela forte maquiagem escura. A boca carnuda estava trêmula e insegura, incapaz de emoldurar um sorriso e mesmo se o fizesse, seria o mais mentiroso possível. O vestido curto delimitava as curvas, mas não revelava a beleza delas... Rachel era um mero espectro, uma boneca, um produto a ser oferecido.

E como tais exemplos, ela não tinha alma nem interior. Tudo estava congelado, parado no exato instante em que ela quebrara o coração de Quinn e sentira o próprio destruir-se em seu peito.

Do que vale a cidade dos sonhos se ela não tivesse a pessoa dos sonhos ao seu lado?

Rachel não tinha no que segurar, tampouco, não tinha para onde ir. Por isso, ela terminou a maquiagem, ajeitou as ondas em seu cabelo e saiu do seu quarto. Tinha alguém a esperando no restaurante do hotel, alguém que era capaz de realizar seus sonhos e que seria incapaz de lhe trazer felicidade. Através de duras perdas, Rachel Berry entendeu que não valia à pena sonhar sozinha.

Seus sonhos pareciam apenas reflexos de sua alma que não pareciam abranger a completude de sua essência, afinal, eles eram ecos de seu passado ingênuo e jovem. Não eram gritos do seu presente amadurecido. Porque Rachel não precisava pensar muito para saber pelo que gritava, tudo em si clamava por Quinn, desde seu corpo ao seu coração.

Na realidade, o seu coração não clamava porque ele, de fato, já estava nas mãos de Quinn. Não fora somente o coração da loira que se quebrara em Lima, um imenso pedaço do seu, na verdade, a maior parte dele, ainda estava com Quinn. A sua melhor parte, aquilo do qual Rachel se orgulhava, sempre pertenceria à loira.

Porque Quinn não merecia o que Rachel fizera, ela jamais merecia ser magoada quando quem, em todo aquele ciclo de decepções e dor, magoara primeiro fora a própria Rachel. Era a morena quem sempre desistia, fugia e desaparecia. Rachel sabia que era a parte mais deformada da relação, jamais merecera e nem mereceria Quinn. Querê-la de volta era um crime porque Rachel sabia que não seria capaz de fazê-la feliz... E, ainda assim, Quinn a queria, com toda a sua disfuncionalidade e toda a sua bagagem emocional.

Por isso, Rachel deixava a sua melhor parte com Quinn e não voltava. Se voltasse, enfrentaria as conseqüências de suas ações e ela não estava disposta a ser perdoada, ela não podia ser perdoada. Sabia que Quinn a perdoaria, independente da situação, a loira encontraria uma boa justificativa para perdoá-la. E Rachel não merecia perdão algum, ela merecia arcar com as conseqüências do que fizera, precisava lidar com a vergonha que sentia... Quinn sempre seria muito para a sua pequenez.   

Aquela distância, não somente física como emocional, evidenciava todas essas verdades. Rachel estava disposta a amar à distância e desejava, verdadeiramente, que Quinn se recuperasse e encontrasse alguém melhor porque ela mesma não era capaz de conviver muito tempo com os fardos que carregava.

Assim como Rachel sabotara o começo, terminava de sabotar o fim e deixava tudo explodir dentro de si, em dor, em mágoa e em amargura.

A morena suspirou pesado quando o elevador apitou, anunciando a chegada ao térreo. Rachel caminhou lentamente até o chique restaurante do estabelecimento cinco estrelas, Tony não estaria com ela naquela noite e ela sequer estranhou o fato, o agente aparecia somente quando o dinheiro estava bem vivo a sua frente.

Quando chegou às portas do restaurante, Rachel surpreendeu-se ao encontrar o local vazio, apenas uma mesa estava arrumada no centro do salão. A morena conseguiu discernir uma silhueta masculina em meio às velas que iluminavam a meia luz do restaurante, Rachel revirou os olhos para a situação e estava prestes a caminhar para o seu financiador quando foi parada por um jovem garçom. Ele lhe sorria e, com a voz grave, disse:

— Seu acompanhante lhe pediu para entregar isso, senhorita.

O rapaz lhe estendeu um pequeno cubo de plástico, dentro dele, existia um botão de uma flor, ricamente decorado com fitas e pérolas. Rachel não conseguiu determinar qual era a flor e o garçom pareceu perceber isso, ele pigarreou fazendo com que a morena voltasse os olhos a ele, depois, anunciou com a voz grave:

— Trate-se de uma gardênia. O cavaleiro que a acompanha nessa noite disse que você entenderia o significado dela.

Rachel apertou o cubo de plástico em suas mãos, sentindo as arestas pontiagudas ferirem a pele de suas palmas. A morena olhava incrédula para as costas do homem que já não era mais desconhecido aos seus olhos. Furiosa, sentindo e escutando os pedaços de seu coração serem esfarelados em seu peito, Rachel marchou até onde o homem estava sentado.

 Ele se levantou quando ouviu os passos dela, o sorriso de lado nem teve tempo de se formar porque Rachel empurrou o cubo nas mãos dele assim que ele se levantou. Os olhos escuros encontraram os olhos castanhos, Rachel reconheceu o rosto e o olhar dele, viu como ele se contorceu ferido e sequer teve pena quando apontou o dedo para o peito dele e vociferou:

— Quinn pode não estar aqui comigo, mas você não tem o direito de tirar isso de mim!

E referindo-se a “isso”, Rachel falava a respeito de uma das poucas lembranças imaculadas que ainda tinha dentro de li. A gardênia, singela e discreta, que combinava com a sutileza de Quinn e a fita verde que casava perfeitamente com a cor dos olhos dela. A mesma gardênia que já entregava a natureza dos seus sentimentos antes mesmo que ela soubesse quais eram. A flor que Rachel aconselhara o homem, a sua frente, a dar a mulher que ela amava.

Finn Hudson podia tirar qualquer coisa dela, mas não àquela lembrança. Muito menos agora em que tudo que ela possuía relacionado a Quinn era feito de memória.

Finn olhava chocado para ela, incompreendia o que fizera de errado. Lenta e calmamente, o jogador colocou o cubo plástico sobre a mesa elegante. Rachel acompanhou os gestos dele, as mãos fechadas em punhos, os olhos castanhos brilhantes pelas lágrimas que ela impedia que caíssem e a expressão decidida, ela não deixaria que ele tivesse seus sonhos, não se venderia para ele. Finn suspirou e olhou para ela, confuso e sério, disse:

— Eu não quero tirar nada de você, tampouco me importo com onde Quinn está... Mas, eu quero lhe dar novos significados e um deles está nessa gardênia. Ela não significava o amor platônico, nem deve lhe lembrar da existência dela... Eu quero que essa gardênia signifique tudo que eu sinto por você, quero que você entenda que é puro, delicado e sincero.

— Eu não duvido do que você diz sentir por mim, não posso duvidar de algo que desconheço. - Rachel disse dura, os olhos estavam cheios de um frio irracional, um frio que ela tentava possuir para não explodir no calor de lágrimas e emoções. A morena não podia deixar seus olhos chegarem à flor, se assim o fizesse, ela desabaria. - Eu não quero relacionar o que você sente por mim ao que eu e Quinn tivemos. Posso desconhecer o que você sente, mas garanto que não chega aos pés do que eu tive com ela.

A expressão de Finn contorceu-se em desgosto, assim como sua postura endureceu e tensionou-se. Os olhos de Finn estavam frios, algo dentro deles amedrontou Rachel, mas ela não se abateu. Pelo contrário, Rachel ergueu o queixo e preparou-se para o próximo round. Poderia ter perdido Quinn, mas não deixaria que ninguém corrompesse suas lembranças e, muito menos, o seu sentimento.

— Se tem tanta certeza do que sente, por que refere-se a vocês no passado? Se fosse tão forte, não era para ela estar aqui, ao seu lado? - O tom de voz de Finn pingava maldade e veneno, ele até mesmo abriu um sorriso sarcástico ao terminar a frase e Rachel fraquejou, pensando nas respostas que poderia dar a ele. Se o que sentia era tão forte, por que estava em New York e não em Lima? Por que abandonara as certezas e se jogara na dubiedade de seus sonhos? Essas eram as mesmas perguntas que lhe tiravam o sono todas as noites. Finn satisfez-se com suas dúvidas e com sua dor. - Não me parece muito forte se você cedeu aos seus sonhos. Eu me lembro muito bem que você não queria vir sem mim para New York...

As palavras de Finn chegaram aos ouvidos de Rachel e fizeram eco em sua audição. No instante em que foram compreendidas, Rachel avançou em direção a ele, a morena ergueu a mão, disposta a agredi-lo, ele não podia supor que era mais importante que Quinn. Ninguém era mais importante que Quinn. Porém, Finn conseguiu impedir seu movimento, segurando-a fortemente pelo pulso. Rachel tentou se desvencilhar dele, mas cada movimento provocava lágrimas, não pelo aperto, mas pelo que estava explodindo em seu peito.

As lágrimas, a dor, o seu coração quebrado...

— Eu não quis vir com você para New York e, hoje, posso realizar os seus sonhos. Eu tenho dinheiro para isso, eu posso fazer você feliz como ela nunca pode. Eu posso dar tudo, do conforto à fama, do dinheiro ao sucesso... Do amor à Broadway. - Finn finalizou cansado, finalmente soltando o pulso de Rachel. A morena não ergueu os olhos para ele enquanto chorava, nem se deixou abalar pelo que Finn dissera.

Novamente, ela compreendeu que nada do que poderia ser oferecido a ela se comparava ao que Quinn tinha dado, de forma gratuita e bela. Não importava a riqueza, a fama, o sucesso e nem a Broadway... Esses eram os seus sonhos de seu passado que despedaçaram em suas mãos na sua primeira vinda a cidade, os sonhos que eram as suas certezas, não de realização e sim, de quem ela era com eles. Os sonhos que refletiam a Rachel que chegou e abandonou New York para voltar a Lima, fracassada.

Contudo, estes não eram os sonhos da Rachel Berry que permaneceu em Lima. Não era os sonhos da treinadora do coral que reerguera o New Directions, tampouco da filha que lutava para recuperar o carinho e confiança dos pais e muito menos eram os sonhos da mulher que amava Quinn Fabray. Essa mulher queria que seu coral fosse campeão das Nationals, queria que seus pais a perdoassem e, principalmente, queria amar Quinn... Para sempre.

Rachel finalmente ergueu os olhos, a sua expressão furiosa abrandou-se e Finn deu um passo em direção a ela, julgando aquela calmaria benéfica a sua situação. Mas, ela não era. Rachel, então, respirou fundo. Ela jamais teria Quinn de volta, entretanto, não abriria mão do que ela fizera dentro de si, permanecer fiel à pessoa que fora com Quinn Fabray era uma forma de preservar o que sentia dentro de si. Rachel olhou para Finn e disse:

— Nada disso mais importa, você não é ela e jamais será... De nada vale uma vida de sonhos, se você sonha sozinho. Eu não posso, em hipótese alguma, sonhar com você o que não mais pertence a mim e sim, a ela.   

Rachel girou em seus calcanhares e caminhou de volta para onde entrara. O garçom olhava estupefato para ela, na porta, ela esbarrou com Tony que gritou o seu nome. A morena segurou o celular em mãos, abriu a tampa, retirou a bateria e quebrou o chip na frente de seu agente. Depois, subiu para seu quarto de elevador e esperou algumas horas.

Naquela noite, ela saiu do hotel e, efetivamente, abandonou seus sonhos para sempre. Na noite em que perdeu suas certezas, ela encontrou a dúvida no perdão de Quinn e por mais que não soubesse qual seria seu futuro... Rachel o abraçou, ele era aconchegante, ele pertencia a Quinn.

***

Quinta-feira. Os integrantes do Glee não podiam estar mais nervosos e incontroláveis, todos aqueles que tiveram aula com Quinn foram devidamente chamados a atenção pela professora e treinadora. Ainda que tivesse que bronqueá-los, ela sentia-se da mesma forma que eles. Jamais comparecera a uma competição desde que se formara. Estava tão nervosa quanto eles para as Nationals que ocorreriam no final de semana.

Porém, um dos membros do New Directions chamava a atenção por estar estranhamente calado. Christine parecia alheia a tudo, mal erguia os olhos e Quinn estava preocupada porque ela era a principal solista do grupo, não a melhor, mas a que precisava fazer tudo certo caso quisessem vencer. A apatia de Christine destoava do excitamento de Claire, a capitã falava ferozmente sobre a competição e o teste que faria e mal se preocupava com o solo que abandonara.

A preocupação de Quinn em relação a Christine atingiu o ápice quando a aluna não compareceu a um dos compromissos que as duas tinham em relação à tentativa de Christine de entrar em Yale. Quando os quinze minutos de atraso tornaram-se vinte, Quinn saiu de sua sala de aula à procura de Christine. Não precisou andar muito, a jovem virava o corredor e caminhava lentamente em sua direção.

Quinn a esperou com a porta aberta, observando atentamente os ombros caídos e o olhar vago de Christine, além do sorriso incerto que ela deu. A professora pigarreou e apoiou-se em sua mesa enquanto Christine sentava-se na carteira a sua frente, as duas se olharam e Quinn sorriu leve ao comentar:

— Eu posso tolerar muitas coisas em minhas aulas, mas você sabe que eu não tolero falta de compromisso e atrasos, Chris.

— Eu me atrasei porque estava tentando encontrar a forma certa de lhe contar uma coisa, Miss Fabray... - Christine murmurou tão baixo que Quinn quase não a escutou. O sorriso desapareceu dos lábios da professora e a expressão franziu-se, preocupada, ela também cruzou os braços e perguntou:

— O que aconteceu?

— E-eu... Eu não vou mais tentar Yale, professora. - Christine conseguiu disfarçar a incerteza do que dissera, mas não o seu gaguejar. Quinn arqueou a sobrancelha para sua aluna e Christine abaixou a cabeça, o que ela pensava e sentia continuava um mistério para Quinn. - Eu sei que tudo não passa de um sonho, eu não sou boa o bastante para a universidade e não quero que a senhora perca seu tempo comigo.

Quinn observou sua aluna em silêncio, incrédula com o entendimento que, agora, possuía. Christine não estava desistindo de Yale por conta própria e sim porque ninguém mais acreditava nela. Provavelmente, assim como funcionara a dinâmica entre ela mesma e Rachel no passado, era Claire quem apoiava Christine, ainda que a cheerleader não soubesse muito bem o que queria. Quinn sabia que New Haven não era distante de New York, assim como sabia como era estar no sozinha na mesma incerteza que envolvera Christine.

Naquele momento, Quinn se perguntou onde estava a mãe da jovem. Porém, aquela situação não era a mesma que ela vivera no passado. Christine podia ter o apoio de uma mãe, mas não tinha a inspiração que precisava, ela mesma abrira mão ao escolher seja lá o que fosse a Claire. Quinn, finalmente, tomou uma atitude, ela pigarreou e disse incisiva:

— Você não pode abrir mão dos seus sonhos por causa de uma pessoa.

— Não se trata dela! A minha vida não gira em torno dela! - Christine explodiu com a voz tão trêmula quanto seus lábios. Quinn olhou assustada para a reação de sua aluna e Christine controlou as lágrimas, suspirando. - Eu só não consigo acreditar que ainda seja capaz de fazer alguma coisa certa quando tudo que eu decido dá errado!

Quinn não pode esconder a pena que chegou aos seus olhos. Christine era exatamente como ela, tentando agradar a todos, desfavorecendo a sua própria busca pela felicidade. Os motivos que levaram-na a abandonar Claire eram críveis aos seus olhos, por mais que Claire não entendesse e diante desse fracasso específico, que culminara na sua solidão e no afastamento da outra, Christine só podia acreditar que não era capaz de alcançar seus sonhos sem ferir mais alguém.

Era algo triste porque, de certa forma, ecoava o que Rachel fizera.

Enquanto Christine pensava nas conseqüências e temia por elas, Rachel fazia o contrário, impondo o abandono a Quinn e buscando os seus sonhos. Christine era prudente enquanto Rachel era instável... Mas, realmente, existia alguma postura certa? Tratavam-se de sonhos e somente quem sonhava sabia o que eles significavam. Para Rachel, os sonhos representavam quem ela era e para Christine, eram seu escape.

Mais uma vez, Quinn se viu em sua aluna. A professora também sabia como era sonhar para fugir da realidade.

Christine chorou silenciosamente, de forma delicada e contida, com finos filetes manchando seu rosto. Quinn se aproximou dela e apertou seu ombro, a aluna ergueu o rosto e a olhou, silenciosamente pedindo por socorro e salvação. Quinn respirou fundo e disse:

— Independente do que você decidir, as conseqüências sempre existirão. Você não pode abrir mão do que é porque tem medo de machucar alguém, nem todo mundo é tão cuidadoso e prestativo a ponto de abandonar o que quer em favor do outro... As pessoas são egoístas, ainda que não percebam e nem assumam, Chris.

Surpreendentemente, aquele conselho também se encaixava a Rachel. Quinn realmente deveria julgá-la por tê-la abandonado? Afinal, Rachel correra atrás dos seus sonhos... E se essa fosse a realidade, por que Quinn estava tão furiosa? Por que se sentia traída?

— Eu não deveria ter a deixado ir embora, não é? - Christine finalmente ergueu os olhos azuis. Eles estavam elétricos e exigentes por respostas, por atenção e por aquilo que abandonaram, estavam clamando por Claire. Quinn viu seus próprios olhos confusos refletidos neles, Christine lhe fazia a mesma pergunta que Quinn fazia, todos os dias, a si mesma. Ela não sabia responder, era a primeira vez que ficava sem palavras. - Na verdade, eu não devia ter ido para longe dela.

Isso era algo que Quinn podia responder, mas ela não teve a chance. Christine saiu da sala assim que respondeu a própria pergunta.

No silêncio de sua sala de aula, Quinn respondeu àquela mesma pergunta, ainda que não fosse Rachel que não tivesse a feito: Rachel não podia ter deixado-a em Lima. Por quê? Porque elas sonharam o mesmo sonho no instante em que ficaram juntas e aquele sonho não tinha New York, nem a Broadway.

Aquele sonho era exatamente o que elas possuíam em Lima.

           

 

Não era difícil desaparecer em uma cidade gigantesca como New York e era ainda mais fácil para quem conhecia quase tudo da metrópole. Rachel era uma expert quando se tratava da cidade e era por isso que não tinha sido contatada nem por Finn e, muito menos, por Tony. Os dois seriam incapazes de encontrá-la, a não ser que ela quisesse vê-los e tudo que ela menos queria era olhar para a cara dos dois.

 Por isso, Rachel se instalara em um pequeno e barato hotel próximo a Grand Central Terminal. Esperava que, um dia, tivesse a coragem necessária para voltar a Lima, enquanto isso, ocupava-se. Procuraria um emprego digno e, quem sabe, até mesmo voltasse a atuar. Mas, sem Tony Levone ou Finn Hudson em sua carreira, apenas seu talento. O caminho mais difícil e o que faria tudo valer à pena, no final.

 Ela realmente pensava que o sucesso recompensasse o seu coração quebrado caso não conseguisse mais alcançar Quinn. Contudo, duvidava que isso fosse possível. O que sentia por Quinn se fazia forte e presente em meio aos pedaços de seu coração, esse tipo de sentimento não se desfazia por qualquer coisa.

Era amor. Do tipo mais tóxico possível, aquele tipo cheio de falhas e que machucava para se fazer presente... Mas, era o amor delas. O amor que começara com bullying, passara por uma inimizade, se aproximara e se camuflara em uma amizade abalada por más escolhas. O que sustentava Rachel é que ele resistira a tantos intempéries e ao tempo que, talvez, fosse capaz de manter-se firme diante de mais uma decepção.

A morena estava sentada em uma pequena cafeteria, tomando um gole de seu frapuccino enquanto verificava os emails em seu novo celular. Não havia nada das agências de emprego que ela se cadastrara na manhã, mas, um email novo a surpreendeu. Rachel conhecia aquele nome, mas duvidara que ele pudesse contatá-la, ainda mais depois do que acontecera.

Rachel tocou em cima do email e ele abriu.

 

Prezada Miss Berry,

Peço desculpas por contatá-la quando está mais do que evidente que a senhora gostaria de ficar sozinha. Porém, eu não estaria buscando comunicação se eu não estivesse desesperada.

 Sei que você e Miss Fabray não estão bem. Ela não assumiria o Glee à toa e nem teria se aproximado de Claire se algo semelhante ao que aconteceu entre nós não tivesse ocorrido entre vocês. Como pode perceber, a senhorita e Miss Fabray não são as únicas afastadas por causa de más decisões.

 Claire negou o solo das Nationals, coisa que nunca fez e, principalmente, desafiou-me a fazê-lo. Foi como se ela me desafiasse por todas as vezes que se manteve calada em relação às bagunças que eu causei em nossa relação e eu, sendo dependente a ela, o aceitei. Entretanto, a senhora é o mais próximo de uma "estrela" em termos de apresentação e, por isso, eu lhe pergunto: se tivesse condições de cantar, verdadeiramente, os seus sentimentos, pela última vez, você o faria? Ainda que esse cantar provocasse reações adversas em outras pessoas?

 Na verdade, eu quero perguntar diretamente: você seria capaz de tentar remediar tudo o que fez e tentar mais uma vez?

 Não acuso a senhorita de nada, mas conheço Miss Fabray por tempo o bastante para saber que ela é inquebrável... Assim como Claire. E se nós duas a ferimos, não foi por pouca coisa.

 No mais, muito obrigada, com carinho,

Christine

P.S.: Se a senhora quiser, pode ligar, meu número está no cadastro da minha conta de email.

 

As palavras de Christine eram inesperadas e, ainda assim, foram exatamente o que Rachel precisava ler. As dúvidas de sua aluna refletiam os seus próprios questionamentos. O que estava esperando naquela cafeteria? Ela e Quinn já tinham esgotado todo o tempo extra que possuíam e provavelmente, não teriam uma segunda chance que não fosse aquela que viviam.

Rachel sabia, agora, do que era feita. Sabia o que a definia e, principalmente, sabia o que sonhava. Todos esses aspectos de si refletiam o que sentia por Quinn. Era definida pelo amor que nutria por ela e sonhava possuir um futuro com ela. Seus sonhos se metamorfosearam no instante em que aceitou o amor de Quinn... Gostava muito mais de quem era quando tinha Quinn ao seu lado e gostava do que sentia quando Quinn habitava seu peito.

Por isso, as únicas respostas que tinha para Christine eram essas. Ela era capaz de tentar de novo, ainda que tivesse a certeza do não e da dor que viria a seguir. Rachel não hesitou ao entrar no cadastro do email de Christine e encontrar o número dela. Nem temeu ligar. No segundo toque, Christine a atendeu, como se a esperasse. Rachel suspirou e sorriu para si mesma quando disse:

— Sim, Chris... Eu tentaria de novo e quantas vezes fossem necessárias, mesmo que não haja perdão para o que eu fiz.

Creio que não exista perdão para o que nós duas fizemos, Miss Berry... Mas, no meu caso, eu cantaria tantas vezes fossem necessárias porque Claire pode ouvir através da música o que eu baguncei usando as palavras. — A voz de Christine parecia aliviada e amadurecida através da linha. Era como se a dor tivesse endurecido e fortalecido a jovem, Rachel sentiu-se frágil porque a sua dor a reduzira a um espectro do que podia ser. Chistine suspirou do outro lado da linha. - E assim como eu vou enfrentar as conseqüências de minhas escolhas no sábado, eu espero que a senhora enfrente as suas também... Não se esqueça que nos apresentaremos no teatro de NYADA, Miss Berry.

Christine despediu-se e desligou, mas Rachel permaneceu com o celular no ouvido por mais alguns segundos antes de colocá-lo sobre a mesa.

Christine tinha tempo e, ainda assim, estava arriscando tudo por Claire, inclusive, a vitória em um campeonato. Rachel não tinha mais nada além de lembranças e não deveria permanecer apática da forma como estava. Aliás, ela não ia permanecer daquela forma.

A juventude e a recém-adquirida imprudência de Christine injetaram uma dose de adrenalina no coração despedaçado de Rachel. E ele bateu forte, ensurdecendo todos os pensamentos racionais da morena.

Ela voltou a dar voz aos seus sentimentos e ela voltou a sonhar... Mas, dessa vez, ela amou e sonhou com Quinn.

***

Quinn não sabia o que levara a dirigir até o apartamento de Santana, não estava arrependida de ter chegado ali, porém, tinha medo do que encontraria. Desde o encontro com Beth e Puck, Quinn estava perguntando-se se o que fizera com sua melhor amiga era certo e sua conversa com Christine só lhe fez pensar ainda mais em todas as suas atitudes até ali.

Santana podia ter feito coisas cruéis no colegial, mas compensou cada uma delas quando finalmente decidiu por apoiá-la em seus piores momentos. Rachel poderia ser uma constância em sua vida, mas Santana era a força. Isso justificava a natureza atribulada de seu relacionamento com a latina.

Como qualquer força, Santana se impunha e, como em qualquer imposição, ela acabava por agredir quando queria ajudar.

E, se Quinn realmente sabia algo sobre Santana era de que a latina era incapaz de feri-la propositalmente. Isso fora diferente no passado - em seus primeiros anos do colegial - quando Santana e ela gladiaram pelo posto de capitã das Cheerios, só que muita acontecera entre elas, o Glee acontecera e uma encontrou na outra a amizade que não esperava.

Santana era feita de emoções, das mais complexas e explosivas, enquanto Quinn era feita da quietude e acúmulo. As duas acabavam explodindo, ainda que em tempos diferentes. E essa semelhança fazia a amizade das duas funcionar, porque uma sabia quando preservar a outra das explosões que feriam muita gente ao redor... Foi essa particularidade que fizera Santana desaparecer da vida de Quinn, mas não era isso que fizera Quinn afastar a latina depois do ocorrido com Charlie e Rachel.

Diante de duas mágoas, o que diferenciava Santana de Rachel?

Quinn se perguntava a mesma pergunta que Santana fizera há meses. Ambas eram importantes, ambas a abandonaram... Entretanto, o perdão sempre parecia caber mais a Rachel do que Santana e fora justamente esse julgamento que afastou Santana e aproximou Rachel quando a morena não queria mais estar por perto. Durante todo aquele tempo em que o mundo de Quinn girou em torno de Rachel, a loira esteve cega para o que não era passageiro.

Santana era presente e não intermitente, ela voltara para ficar e não tinha pendências que poderiam afastá-la novamente. A latina fincara raízes em Lima quando se envolvera com Kathryn Aleed, arrumara inimigos porque acreditava que permaneceria naquela cidade ainda que uma arma sempre estivesse apontada para sua cabeça... Santana ficaria e Quinn compreendera, somente agora, o que isso significava.

A latina não ficava por Sam, Quinn ou Kathryn... Santana não fazia nada pelos outros, ela voltara a Lima por um motivo e Quinn desconfiava que fosse por Lima ser, acima de tudo, o seu verdadeiro lar. E observando mais atentamente a atribulada amizade que possuíam, Quinn poderia até dizer que Santana voltara para consertar todos os erros que cometera. Afinal, Santana esteve em seu lugar.

Ela também viu o aparente grande e único amor de sua vida abandoná-la, ela sentiu a mesma dor que Quinn sentia, ela chorou as mesmas lágrimas e feriu-se da mesma forma... No fim das contas, as duas eram iguais. O amor é o que é e nenhum é melhor ou pior que o outro, por isso, Brittany e Rachel não se diferiam porque ambas quebraram os corações de quem as amava.

E a ironia maior é que, aparentemente, Quinn e Santana eram os pontos fortes de ambos os relacionamentos. Contudo, no fim, foram as duas que despedaçaram e as duas que ficaram sozinhas.

Santana a entenderia e a compreenderia melhor do que ninguém e, provavelmente, era esse motivo que fizera Quinn ceder. Ela estava indo ao apartamento de Santana em busca de respostas e, principalmente, de redenção.

A professora entrou no elevador e apertou o número correspondente à cobertura, o elevador se moveu lentamente e Quinn procurou se distrair com os números dos andares. Assim que ele chegou ao último andar e um delicado som indicou a parada e abertura das portas, Quinn respirou fundo e caminhou pelo corredor. Suas pernas pesavam chumbo, mas seu coração parecia ainda mais pesado.

Em frente à porta de Santana, ela bateu. Escutou passos do lado de dentro do apartamento e alguns segundos depois, a porta estava aberta. Santana estava com seus óculos de leitura; os cabelos presos em um desleixado rabo de cavalo e um chumaço de papel em mãos. A latina ergueu os olhos lentamente e Quinn engoliu em seco quando a astúcia presente nos olhos negros fuzilou os seus olhos verdes, Santana não deixou que a expressão surpresa tomasse toda a sua face, ela suspirou e perguntou:

— O que está fazendo aqui, Fabray?

— Eu não sei, Santana... Acho que precisamos conversar. - A insegurança e, principalmente, o medo da rejeição estavam impressos em cada palavra trêmula de Quinn.

Sabia que estava errada e que, provavelmente, perderia sua grande amiga por causa de um amor que chegou, passou e findou... Mas, ela precisava tentar. Assim como tentara com Rachel.

Santana manteve o corpo no portal, resoluta e de cenho franzido, magoada e esgotada por toda a situação maçante entre elas. Quinn escutou alguns passos e uma cabeça ruiva passou às costas de Santana. Kathryn estava ali e, agora, as deixara sozinhas. A latina retirou os óculos e colocou-os na gola da blusa, largou o chumaço de papéis em algum lugar atrás da parede da porta e perguntou entediada:

— Pois arrume um bom motivo para conversarmos, eu realmente não tenho tempo para falar com você.

O tempo... Quinn pedira por ele e Santana, relutante, concedera. Porém, parecia que, agora, Santana finalmente se cansara. Quinn ofegou e amargou a provável perda da sua melhor amiga.  

— Aquele dia, no velório, foi importante para mim lhe ter lá. - Quinn achou melhor começar do início e optou por essa situação. Não mentia ao dizer aquilo, Santana era o tipo de pessoa que vira seus piores e melhores momentos e tê-la ali, numa situação tão dolorosa para as duas, tornava tudo mais fácil. Santana fora até lá para protegê-la da sua própria dor. - E essa semana... Muito obrigada por não ter me chamado como testemunha no tribunal.

— Em ambas as situações, eu não fiz mais do que minha obrigação. Você não precisou me dizer que eu era culpada pela morte de Charlie e o mínimo que eu poderia fazer era respeitar o seu luto e lhe poupar de relembrar esse tipo de coisa. Não fiz nada por você, fiz pela minha consciência. - Santana respondeu amarga, os olhos negros estavam em chamas e eles queimaram, dolorosamente, o pouco que Quinn tinha de si. A loira sufocou o choro, era incapaz de retribuir o olhar de Santana porque entendia a mágoa dela.

Quinn, de certa forma, dera o troco. Quando Santana fechou-se em seu próprio mundo depois do que ocorrera com Brittany, Quinn sentiu-se do mesmo jeito. Sendo assim, deveria saber o que provocaria em Santana ao abandoná-la, também deveria saber que os seus julgamentos em relação às atitudes dela não eram justos... Quinn estava tão fora de si quanto Santana porque ambas estavam perdidamente apaixonadas.

Na sua busca pelo juízo de Santana, Quinn perdeu o próprio. Cega pelo que Rachel representava, Quinn esqueceu-se do valor que Santana tinha.

E agora, merecia absolutamente toda a mágoa e toda a decepção que Santana estivesse disposta a derramar sobre si. Quinn não dera a Santana o benefício da dúvida enquanto Rachel, que a machucara tantas ou mais vezes, o tinha sem precisar pedir. No fim das contas, Quinn realmente julgava as duas de formas diferentes, ainda que as duas a tivessem abandonado da mesma forma.

O perdão nunca chegara efetivamente para Santana e Rachel sequer precisou pedir por ele. E, nessa altura, fora Rachel que o pisoteara e era Santana quem não mais fazia questão de possuí-lo.

— Eu sei que sim. Assim como também sei que, não importa o que eu dizer, nada vai mudar a forma como eu repeli você e como a deixei às cegas... - Quinn resmungou trêmula, finalmente erguendo os olhos verdes. Santana enxergou o arrependimento dentro deles, mas não cedeu, pelo contrário, ela endureceu e seus lábios crisparam-se. Santana não queria o arrependimento de Quinn, ela não poderia fazer nada em relação a ele. - Eu só queria que você soubesse que eu sou muito grata por tudo que você fez e peço desculpas pelo que eu fiz a você.

— Eu não quero as suas desculpas! - Santana explodiu impaciente, firmando a mão esquerda na moldura do portal, os dedos ficaram esbranquiçados e ela rangeu os dentes. Estava inquieta, furiosa e decepcionada, aquela não era a Quinn que ela queria ver. Ela queria que Quinn a enfrentasse. Ela queria que Quinn recuperasse o que Rachel tirara dela. - Não quando eu errei tanto quanto você em relação a Charlie e Kathryn.

Quinn olhou atônita para Santana, surpresa com a reação dela às suas palavras. Ela achava que um pedido de desculpas a deixaria mais próxima da latina, mas, aquelas palavras pareceram afastá-las ainda mais... Quinn admitiu que, talvez, não conhecesse a amiga. Porém, Santana tinha outra justificativa para sua reação e, calma e friamente, disse:

— Eu não sou ela, Quinn... Eu não preciso que você se desculpe porque eu errei tanto quanto você.

— Rachel não tem nada a ver com isso. - Quinn grunhiu entredentes, sentindo as feridas de seu peito fazerem-se vivas pelo latejar dolorido que se instalou em seu interior. A dor nublou seus pensamentos e chegou aos seus olhos, Santana sorriu deliciada para o que viu e a agrediu:

— Rachel tem tudo a ver com isso. Eu não quero e nem preciso do seu perdão, eu o quis há muito tempo e você o negou para entregá-lo a ela. O que você julgou em mim, você perdoou nela...

— Vocês não são as mesmas pessoas, Lopez! Você não pode exigir que eu aja da mesma forma em relação a vocês! - Quinn interrompeu e explodiu como um animal ferido, amedrontada e, ainda assim, perigosa. A loira tentou dissipar sua dor através do fechar dos seus punhos, mas suas unhas apenas cortaram as palmas de suas mãos. Santana deu um passo decidido para frente e fechou a porta do apartamento atrás de si, a latina cruzou os braços e observou Quinn atentamente, julgando as lágrimas da loira tanto quanto julgava os sentimentos dela.

Quinn estava ofegante, as olheiras embaixo de seus olhos evidenciavam suas noites em claro assim como seu corpo revelava que ela não se alimentava bem há dias. Os olhos estavam opacos, mesmo que as lágrimas o banhassem e Quinn não parecia estar em seu perfeito juízo. Rachel a despedaçara e tirara o melhor dela. Aquela Quinn não era metade do que a verdadeira Quinn, aquela que Santana encontrara ao voltar a Lima, era.

Santana amaldiçoou Rachel Berry. Amaldiçoou o egoísmo dela que tirou a vontade própria de Quinn, amaldiçoou os sonhos da morena que tiraram o chão de sua melhor amiga e, principalmente, amaldiçoou o amor que elas dividiam porque ele fez Quinn se amar menos e desistir.

Quinn parou de apertar os punhos quando sentiu a dor em suas palmas, ela relaxou os ombros tensos e abraçou o próprio tronco. Sob o olhar de Santana, ela sentiu-se ainda mais solitária porque a sua melhor amiga parecia intocável, inalcançável em cima de um pedestal. O que circundava Santana era algo que ela não mais possuía e sabia disso... Santana acreditava no amor que sentia por Kathryn e na justiça que seria feita, mas ela não parecia acreditar mais na amizade que possuíram.        

A tensão entre elas era palpável e aquele silêncio falava mais do que elas ousariam dizer. Dentro dele estava toda a mágoa, o abandono e a culpa de ambas. No silêncio, os fardos que carregavam eram alocados, mas não, dispersos. Elas precisavam falar, mas não ousavam revirar o que tinha acontecido. Quem desse o primeiro passo precisava ser corajosa e, essencialmente, precisava querer lutar.

E Santana nunca abandonava uma luta, ainda mais quando se tratava de sua melhor amiga.

— Eu tenho plena consciência de que eu e Rachel não somos iguais... Afinal, eu fiquei, não é? - Santana não deixou que suas palavras soassem delicadas, ela queria que a intensidade delas atingisse Quinn integralmente. Ela queria que suas palavras a machucassem a ponto de ela reagir e contra atacar, Santana queria que Quinn voltasse a lutar, não por Rachel, mas por ela mesma. Quinn olhou para Santana, seu rosto contorceu-se pela dor provocada, o olhar verde finalmente brilhou e, dessa vez, não se tratavam de lágrimas. - Fui eu que fiquei quando você me mandou embora, sou eu que estou aqui, insistindo para que você volte. No fim das contas, quem não lhe deixou fui eu. Não tive seu pleno perdão, muito menos a sua compreensão... E ainda assim, fiquei.

Quinn continuou calada. Esperava que Santana a enfrentasse, mas não esperava perder tão miseravelmente. Esperava que Santana a compreendesse, mas não esperava que ela cutucasse suas feridas. A latina estava jogando em seu rosto as verdades que ela recusava-se a acreditar. Santana não lhe redimia e sim, lhe dava a penitência. Ela fazia Quinn enxergar além do véu, além do amor, além de Rachel... Santana mostrava o mundo real e, principalmente, o apresentava de novo a Quinn.

— E sabe por que, Quinn? Eu estive no seu lugar quando Brittany me deixou e eu sabia que você estaria sozinha quando Rachel se fosse... E eu sei que dói perder o eixo de sua vida por causa de uma pessoa. Por isso, eu fiquei. Alguém precisava estar aqui por você, alguém precisava entender você... Eu sempre tive a sua retaguarda, Fabray. Ainda assim, eu preciso que você assuma a frente da batalha, nós não vamos vencer essa guerra sem o seu comando. - Santana murmurou as palavras finais e, dessa vez, elas saíram delicadas e cheias de sentimento. Quinn deixou que as lágrimas chegassem aos seus olhos e deixou que elas lavassem a opacidade morta que antes habitava as janelas de sua alma e refletiam o seu interior.

Sua alma lavava-se em frente a Santana, assim como os pedaços de seu coração se aproximavam em seu peito. A latina era a única em muitas coisas, mas, somente ela era capaz de quebrar Quinn Fabray por completo para a mesma, enfim, se reconstruir. Santana colocara a última pá de terra, chutara o corpo moribundo de Quinn e, principalmente, quebrara a única coisa que Quinn ainda possuía.

A fúria que Quinn sentia revelava que ela ainda sentia algo por Rachel e Santana tirou aquilo dela, bruscamente, sem que ela pudesse sentir dor.

Santana lhe tirou Rachel e entregou-a de volta para si mesma.

Quinn deu às costas a Santana sem dizer nada, impactada pelo que sentia e pelo que renascia dentro de si. Santana sorriu satisfeita ao ver o brilho obstinado voltar aos olhos de Quinn, ela voltaria a lutar, seja lá qual fosse a causa e por quem quer que fosse. Quinn voltara ao campo de batalha e Santana sabia que aquela rainha não perdia as suas guerras. Quinn não mais mendigava ferida ou chorava dolorida e sim, assumia o controle de suas armas e ordenava seu exército.

— Você sabe que não está sozinha, não é, Fabray? - Santana gritou no corredor, virando-se para a porta de seu apartamento. Com a mão na maçaneta, ela escutou a voz enrouquecida de Quinn dizer:

— Agora, eu sei.

Santana entrou eufórica em seu apartamento, a sua companheira de guerra estava de volta e as duas lutariam, juntas, contra aquele inimigo que não era Rachel, nem Brittany ou qualquer outra e sim, elas mesmas. Elas mesmas, com seus pecados a serem pagos, com seus passados a serem abraçados e seus presentes a serem vividos da melhor forma. A vitória eram os futuros, os lugares mágicos que, caso vencessem, trariam suas recompensas e seus tesouros.

Quinn entrou inquieta em seu elevador. A loira buscara o perdão e Santana lhe dera muito mais a partir da penitência de sua alma e de seu coração, Quinn encontrou a salvação que não procurava.

Quinn voltou a viver e a acreditar.

***


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Aguardo o feedback de vocês... E, capítulo que vem, NACIONAIS!

Espero que estejam ansiosos como eu, pois a fanfic está em sua reta final... Obrigada por me acompanharem nesses quase 5 anos de fanfic, incluindo meu hiatus irresponsável Hahahahaha

Aguardo o feedback, até a próxima,
FerRedfield



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