Signal Fire escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 23
Atos e Confissões


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, meus lindos e minhas lindas!

Como vocês estão? Perceberam que eu estou animada, não é?
Pois bem, vou confessar para vocês: esse é meu capítulo preferido de "Signal Fire".
É uma turbulência de emoções, portanto, segurem-se nas cadeiras e mandem ver na leitura HUAHUASHUASHUAS

Boa leitura, galera!



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– Como é que é?! - Santana Lopez perguntou dividida entre a raiva e a incredualidade. A latina deu um passo em frente, aproximando-se predatoriamente da mulher ruiva que se encontrava encolhida no meio da sala. Santana queria que as últimas palavras ditas por ela nunca tivessem saído dos seus belos lábios... A advogada sentia a desintegração de cada pedacinho de sua relação com ela. A ruiva estava trêmula e respirava com dificuldade. - Não me faça perguntar de novo!

Dessa vez, o tom se elevou algumas oitavas e Santana perdeu o controle. Ela apanhou a mulher ruiva pelos antebraços e a puxou para perto. Os olhos acinzentados já estavam marejados e Santana não conseguiu sustentar os próprios olhos por muito tempo. A advogada se afastou, respirando fundo e entregando o pequeno escritório a um silêncio pesado e incômodo.

Julianne, ou melhor, a mulher que dissera ser ela, apoiou-se na mesa, de costas para Santana e pigarreou. Respirou fundo e suas mãos apertaram as bordas da mesa a ponto de seus dedos brancos ficarem ainda mais pálidos. Em seguida, suspirou para, enfim, dizer mais serena:

– Meu nome, de nascimento, é Kathryn Aleed. Eu nasci na Irlanda, em 1984 e vim para os Estados Unidos com seis anos. Meus pais foram mortos em acidente de carro e eu fui entregue à adoção. Eu não saí do sistema e acabei conhecendo o Michael ainda no orfanato onde eu estava... Melhor, seu nome é Joaquin. Ele tinha a história semelhante a minha: órfão, estrangeiro, sem família. Nós dois nos aproximamos e fomos bancados pelo governo norte-americano até os nossos 21 anos. Quando, enfim, atingimos a maioridade.

Santana permaneceu calada, de cabeça baixa e pensativa, uma interessante batalha se instalara em seus pensamentos. De um lado, a mulher doce e amedrontada que conhecera: Julianne Urie e agora, essa mulher completamente desconhecida, chamada Kathryn e que parecia ter muito a esconder. Julianne, agora, Kathryn, a observava apreensiva, com medo das reações da latina.

Kathryn, por sua vez, nunca tivera muita dificuldade em deixar pessoas para trás, ainda mais com a vida que levava. Mas com Santana fora diferente, desde que colocara os olhos na advogada naquele corredor, tivera todas as noções de vida que ela possuía alteradas. Sua lealdade cega a Joaquin já estava prejudicada há bastante tempo, mas a força para sair daquela situação só foi encontrada quando seus olhos enxergaram a imensidão dos olhos escuros de Santana. Ela soube, naquele momento, que precisava largar tudo para se entregar novamente a quem era.

Mas como abandonar o tipo de vida que levava? Como cair fora dos abusos de Joaquin se era tão dependente dele? Kathryn tirou toda a coragem que precisava de Santana e seu objetivo era ser feliz com a latina... Esperava esquecer que já se chamara Kathryn e que tivera uma vida antes de Julianne. Mas o passado é impiedoso e ele sempre te encontra, independente de quão longe você corra dele.

– Nos estabelecemos na Califórnia e, como acontece com a maioria dos órfãos que não saem do sistema, Joaquin se envolveu com atividades ilícitas. Desde tráfico de drogas a assassinatos. Não vou me defender, eu também me envolvi nesse tipo de coisa. Eu não sou pura, Santana. Minha ficha é tão longa quanto a ele. - Kathryn falara com o tom de voz pesado, frio e bem diferente do tom que Julianne usara. Instintivamente, Santana abriu a terceira gaveta do lado esquerdo e envolveu sua mão no punho da pistola que se encontrava ali. A ruiva se virou e os olhares se encontraram. - Mas eu nunca matei. Joaquin já matou muita gente.

– Você acabou de dizer que a dona da identidade que você assumiu morreu há dois anos, na Califórnia. Garanto que ela não morreu sozinha. - Santana sibilou entre dentes, baixando o olhar e apertando o punho da pistola. Sentia-se enganada, justo ela que aprendera a duras penas a não se deixar levar pelos sentimentos. - Você tem, com certeza, alguma relação com a morte dela. Direta ou indiretamente!

– Eu não a matei, Santana! - Kathryn explodiu e Santana se surpreendeu quando viu as lágrimas enormes que banhavam os olhos acinzentados. A ruiva se aproximou e Santana ergueu o braço direito, revelando a arma e apontando-a diretamente para o peito da outra mulher. Kathryn soluçou. - Duvide de qualquer coisa que eu diga, menos do que eu vivi com você e da minha inocência em relação a todos os assassinatos que Joaquin cometeu.

Santana vacilou, por breves minutos, diante da sinceridade desconhecida que aqueles olhos exprimiam. Kathryn parecia o extremo oposto de Julianne, mas quando ela falara sobre amor, Santana quase pode ver o brilho pelo qual se apaixonara chegar aos olhos da ruiva. Retomou a postura quando sentiu uma pressão no cano da arma, era Kathryn procurando se aproximar, Santana empurrou a arma contra o peito dela e furiosa, perguntou:

– Ao menos, os seus ferimentos eram reais ou foi ele que te mandou vir aqui me comprar?

– Joaquin já me espanca há anos, mas as coisas fugiram do controle desde que ele matou o casal Urie e assumiu a fortuna deles. Eles eram milionários reclusos, vindos da Inglaterra para aplicar recursos no ramo imobiliário norte-americano. Ninguém os conhecia, era a oportunidade perfeita e ele os matou. - Kathryn revelava tudo sem a menor emoção, parecia que tudo estava tão engasgado em sua garganta que ela resolvera falar de uma vez, sem se importar muito com o que suas palavras provocavam. Santana a encarava, inexpressiva. - Tudo subiu à cabeça dele. Inclusive, nossa relação. Quando eu vim até aqui naquela noite, eu vim como uma mulher ferida e continuo sendo, Santana. Eu ainda preciso de você, mesmo sendo quem eu sou agora. O fato de eu precisar de você não mudou. Muito menos meus sentimentos por você.

A mesa as separava, mas as duas pareciam extremamente próximas. Santana odiaria admitir, mas não havia mudanças no que sentia por aquela mulher, ainda a desejava e até mesmo podia amá-la... Mas sentia que a confiança fora quebrada. E confiança era tudo, afinal. Todo relacionamento parecia ter sido pautado na mentira e no acorbertamento. Santana estava temerosa sobre o que ainda poderia receber se perguntasse ainda mais. Não conseguia deixar de pensar em Brittany. A situação com a outra tinha proporções menores, mas era exatamente a mesma essência.

A tensão diminuiu quando tomou sua decisão e abaixou a arma, pode até perceber um pouco de esperança brotar na expressão de Kathryn, existia até um pequeno início de sorriso com um leve repuxar dos lábios róseos. Porém, ele logo se foi quando viu a expressão de Santana, fria e intangível, completamente absorta em remexer em seus papéis enquanto dizia amarga:

– A situação é essa: eu vou deixar de ser a sua advogada e também, vou te dar tempo suficiente para fugir de Lima. Você sabe que eu tenho amigos na polícia e vou pedir para cruzar seu nome com “Joaquin”, vocês podem ter assumido diferentes identidades, mas o banco de dados da polícia nunca apaga quem quer que seja.

Kathryn olhou para ela, completamente paralisada e incapaz de sentir, ou expressar qualquer coisa. Logo, quando as palavras de Santana finalmente fizeram sentido em sua cabeça, as lágrimas voltaram a cair. Desesperada, Kathryn apanhou as duas mãos de Santana que estavam sobre a mesa e apertou-as até que a latina teve que olhar para ela. Aflita, disparou:

– Por favor, Santana... Eu te amo. Eu só menti sobre tudo para te proteger, eu ainda sou a mesma que veio até você em busca de ajuda!

– Se você me ama o bastante, é melhor sair logo daqui! - Santana exclamou furiosa, soltando-se bruscamente e caminhando até a porta. A latina a abriu e ficou parada ao lado, esperando que Kathryn se movimentasse. - Eu vou contar até cinco e te quero fora daqui!

Santana ergueu o primeiro dedo ainda encarando Kathryn. Ergueu o segundo dedo e suspirou profundamente. Ergueu o terceiro dedo e Kathryn começou a chorar. No quarto dedo, as duas tinham perdido o contato visual e ruiva já apanhara a bolsa. Kathryn caminhou até ficar frente a frente com Santana, as lágrimas manchavam seu rosto pálido e seus olhos estavam avermelhados, opacos e sem vida. Ela respirou fundo e, abatida, disse:

– Eu vim atrás de você porque precisava de ajuda. Mas eu me apaixonei por você, eu amo você e espero que isso conte, algum dia.

Santana finalmente cedeu as lágrimas, mas mesmo assim teve força e conseguiu empurrar Kathryn para fora e bater a porta antes que ela visse suas lágrimas. Ainda chorando, a advogada caminhou até sua escrivaninha e buscou o celular, procurando o contato de Noah Puckerman em sua agenda.

A porta se abriu bruscamente e Santana, completamente descomposta, ergueu os olhos, pronta para mandar quem quer que fosse embora. Mas seu olhar encontrou Quinn que estava envergonhada e Rachel que, confusa, disparou:

– Julianne acabou de sair daqui e...!

Santana ergueu o indicador para que ela se calasse e suspirou aliviada quando escutou o celular de Puck chamando. Rachel e Quinn a observavam, preocupadas e curiosas. Sabiam que existira uma discussão, mas queriam saber o porquê e Quinn precisava conversar com a amiga justamente sobre a mulher que acabara de sair daquela sala. No terceiro toque, a voz rouca e cansada de Puck perguntou:

– Cansou de se queimar no fogo da ruiva e resolveu me acordar, Lopez?

– Cala a boca, Puckerman. Preciso que você faça uma pesquisa. - Santana pronunciou tudo em um fôlego só. Sua voz não condizia com sua aparência, estava autoritária, decidida. - Cruze os dados de Kathryn Aleed com Joaquin, orfanato, década de 90, ambos estrangeiros: ela é irlandesa e ele parece ser latino ou espanhol. Em seguida, procure crimes cometidos na Califórnia nos anos 2000 até 2018, ênfase para assassinatos e tráfico de drogas e armas. E por fim, cheque mais uma vez os Urie.

– O que você pretende com tudo isso, Santana?! Não faz o menor sentido! – Puck resmungou no outro lado da linha, porém, Santana conseguiu escutá-lo remexer em papéis e o clique de uma caneta de apertar. Ele estava anotando tudo, afinal. Santana respirou fundo e olhou para o teto. Uma enxaqueca incômoda estava tomando toda a sua têmpora esquerda. Ela apertou a região e fria, disse:

– Faça isso. Sugiro que se arrume, você precisará prender duas pessoas nessa noite e vai me agradecer muito por isso, mais tarde.

– O que diabos está acontecendo aqui, Santana?! - Rachel Berry perguntou aflita, assim que Santana desligou o celular e jogou-se na poltrona de couro, escondendo a face em suas mãos. Quinn engoliu em seco, ela conhecia aquela postura e sabia que logo a latina explodiria em lágrimas ou em xingamentos.

Porém, Santana não fez nada disso. Ela parecia estranha, reclusa e pensativa. A advogada colocou-se em pé e foi até um armário de mogno na sala, abrindo-o e pegando uma garrafa de Black Label de dentro dele. Serviu-se de uma dose e voltou para a poltrona, tomou um gole e continuou calada. Rachel olhou de esguelha para Quinn, a loira deu de ombros e a morena perguntou mais branda:

– O que aconteceu, Santana?

– Se você me perguntar de novo, eu juro que arranco suas cordas vocais, anã. - Santana pronunciou ameaçadora e sem olhar para a dupla, focando-se essencialmente na tela desligada do computador. Rachel fez uma careta ofendida e abriu a boca para retrucar até que Quinn segurou sua mão e apertou, fazendo um sinal negativo com a cabeça. - E o que vocês estão fazendo aqui? Achei que eu estivesse brigada com a loira aguada e que você obedecesse qualquer coisa que ela lhe mandasse, como ficar longe de mim.

Rachel e Quinn se entreolharam, preocupadas. Não estavam ofendidas porque já estavam acostumadas com essas atitudes de Santana, era tudo para afastar qualquer que fosse a pessoa preocupada com ela. Quinn olhou significativamente para Rachel e a morena entendeu que era melhor ela sair da sala. Assim que a porta se fechou, novamente, Santana finalmente ergueu os olhos e irônica, perguntou:

– Quem morreu e te fez rainha, Fabray?

– Rachel quer recomeçar as coisas da forma certa, dessa vez. - Quinn ignorou a pergunta e falou tudo em um tom de voz sereno, sem medo algum de encarar os olhos escuros que flamejavam ressentidos em sua direção. Deu mais alguns passos e sentou-se na poltrona de frente para Santana, cruzou as pernas e respirou. - Vamos, fale logo. Não é como se eu não precisasse de você e você não me quisesse no momento.

Foi a vez de Santana ignorar a fala de Quinn. A latina terminou de tomar sua dose de uísque e levantou-se novamente, indo ao mesmo armário e, dessa vez, trazendo a garrafa consigo. Tornou a servir uma generosa dose e ergueu os olhos sagazes para Quinn e, cheia de escárnio, sibilou:

– E o que te faz pensar que eu possa estar precisando de você agora?

– Julianne acabou de sair daqui, esbarrou em nós no corredor e pelo pouco tempo que eu consegui vê-la, ela parecia chorar. Você estava chorando quando nós chegamos e, agora, acabou de fazer uma ligação extremamente estranha para o Noah. Você não está bem, San... Eu te conheço. - Quinn respondeu gentil e até arriscou um pequeno sorriso enquanto olhava para Santana que até chegou a abrandar a expressão antes de tornar a fechá-la, fria. Na defensiva, a latina tornou a falar:

– Não acho que me conheça tanto assim. Porque mesmo depois de eu te explicar toda a situação com Brittany e me abrir para você, de novo, você ainda insistiu em me julgar sem sequer saber como eu me sentia em relação àquela mulher que acabou de sair dessa sala!

O rubor rapidamente tomou a face de Quinn, sentia-se extremamente envergonhada por suas atitudes anteriores, mas jamais ia negá-las porque tomara todas as decisões pautadas em sua preocupação com Santana. Jamais vira a sua melhor amiga desabar diante de alguma coisa e quando se lembrava daquela conversa no almoço e do que Brittany fizera, sentia-se na obrigação de defender e colocar um pouco de juízo em Santana. Ou ela, com esse jeito agressivo e furioso, iria acabar se machucando de novo.

Santana precisava ser cuidada e Julianne Urie era o sinônimo de problema, todo mundo sabia disso em Lima.

– Exatamente porque você se abriu comigo que eu julguei da forma que julguei, Santana! - Foi a vez de Quinn explodir, um pouco magoada com a injustiça que estava sendo cometida. Santana arqueou a sobrancelha para ela e cruzou os braços embaixo dos seios na típica posição de bitch que tanto provocara os alunos do McKinley, até mesmo o sorrisinho irônico de canto estava em seu rosto. Quinn revirou os olhos diante da infantilidade da amiga. - Por Deus, S! Ela é problema, todos em Lima sabem disso. Eu só estava tentando te proteger da decepção que eu sabia que viria. Se Brittany, em quem eu confiava e quem eu admirava, fez aquela merda toda com você... O que uma desconhecida poderia ter feito contigo?! Eu só queria te proteger! Da mesma forma que te protegi durante o ensino médio. “Eu tenho sua retaguarda, Lopez”. Se esqueceu?

Santana desmontou sua pose aos poucos diante da declaração e, principalmente, da lembrança de Quinn lhe falando aquelas palavras. Primeiro, os braços relaxaram aos lados do corpo, em seguida, o sorriso desapareceu e, por sim, a expressão caiu em profunda surpresa e gratidão. A latina olhou para Quinn que, agora, a observava preocupada e, simplesmente, estendeu os braços para a amiga. Quinn, prontamente, a acolheu em seus braços para, no instante seguinte, sentir o corpo de Santana tremer e escutar o choro silencioso da amiga. Quinn beijou o topo da cabeça da amiga e, aflita, perguntou:

– O que ela fez contigo, San?

– Exatamente o que você previu, Q. - Santana respondeu com a voz embargada, ainda escondida no abraço que Quinn lhe dava. Os anos a fizeram uma pessoa solitária, mas Santana sabia que somente Quinn conhecia aquele lado frágil que ela estava demonstrando naquele momento. Quinn conhecia seus piores e melhores momentos e era impossível deixar uma pessoa assim de fora. Quinn era como se fosse uma extensão de si mesma. - Ela literalmente ferrou com a minha vida e levou o que restava embora.

– Não vou lhe dizer que não avisei porque sim, eu te avisei. - Quinn bronqueou com uma risada que acabou fazendo Santana sorrir tristemente, as duas se afastaram e se olharam com carinho, Quinn colheu algumas lágrimas de Santana e foi até o copo de uísque, tomando o restante da dose. Depois, olhou séria para a amiga. - Eu nunca confiei nela.

Nesse instante, Rachel abriu a porta devagar com a expressão estranhamente ofendida. Quinn e Santana se entreolharam, sem saber o que perguntar e a morena revirou os olhos, disparando indignada:

– Não acredito que ela tenha feito alguma coisa, ela parecia tão quebrada quando Santana!

– Céus, agora eu me lembrei porque eu não gosto de você, Berry. - Santana fez o comentário ácido para, depois, sorrir. Rachel revirou os olhos para ela e crispou os lábios, ainda brava. Quinn bufou impaciente. - Aliás, você ainda vive escutando atrás das portas?

– Eu precisava saber se vocês não iam se matar, Lopez! - Rachel se defendeu ofendida e arrancando risos de Quinn e Santana. A morena pisou duro e cruzou os braços, irritada. Quinn se aproximou dela e lhe roubou um selinho, rindo em seguida. Santana ergueu as sobrancelhas para as duas e surpresa, comentou:

– Até onde eu sabia, vocês duas estavam separadas.

– A maré mudou, S... Estamos juntas, de novo. E espero que dessa vez seja para sempre. - Quinn respondeu apaixonada e com os olhos brilhando, o coração de Santana apertou saudoso dentro do peito, mas ela logo controlou toda a dor e se contentou em observar Rachel beijar o rosto de sua amiga e sorrir em seguida.

Logo, o silêncio se fez na sala e este era mais agradável e mais leve. Santana só estava incomodada com o observar atento de Quinn e Rachel em cima dela. Não estava sentindo o preço de sua discussão com Kathryn porque ainda não tivera um tempo, sozinha, para assimilar a dor e, também, porque não era do seu feitio canalizar tudo em lágrimas e tristeza... Porém, sabia que assim que chegasse em seu apartamento e se deparasse com as coisas dela e o cheiro dela por todos os cantos... Bem, seria uma noite difícil.

– Você realmente não vai nos falar o que aconteceu? - Quinn perguntou temerosa, atraindo a atenção de Santana que se perdera em seus pensamentos e na iluminação da cidade. A latina girou o corpo lentamente e apanhou a bolsa e as chaves, ela deu um sorriso triste e, misteriosa, respondeu:

– Vocês entenderão melhor amanhã. Mas só precisam saber que ela não era a pessoa que eu achava que fosse.

Quinn sorriu vitoriosa e deu o melhor de seus olhares “eu te avisei”. Rachel suspirou triste e afagou o ombro direito de Santana com um sorriso compreensivo. A latina deixou-se levar por aquela situação, sentindo, lentamente, o peso de tudo que ocorrera sair de seus ombros e a sonolência derrubar seu corpo lentamente. Olhou para as duas que, agora, caminhavam uma em cada lado: Rachel a sua direita e Quinn a sua esquerda e, autoritária, disse:

– Eu realmente espero que vocês não queiram transar hoje porque eu realmente não estou no melhor dos meus dias para dormir sozinha. Logo, vocês serão minhas babás.

– Você não vai estragar nossa noite, Lopez. - Rachel resmungou com um sorrisinho malicioso que provocou o rubor de Quinn e uma expressão estupefata de Santana. - Tenho certeza que Sam vai adorar cuidar de você.

– Só espero que as paredes daquele muquifo que você chama de condomínio sejam grossas, Quinn! - Santana avisou com o tom de voz ameaçador, porém, brincalhão, antes que elas entrassem no elevador. Rachel riu, mas Quinn olhou preocupada para a amiga.

Só ela sabia reconhecer quando uma brincadeira era o bode expiatório para Santana.

***

Quinn parou o carro no estacionamento de seu condomínio, Rachel já descera e antes da porta se fechar, escutou-a cantarolando uma música da Barbra e não pode deixar de sorrir para ela. Quinn olhou seu retrovisor e encontrou Santana parada com o próprio carro atrás de si, ela estava tirando algumas pastas de dentro da bolsa e a expressão estava franzida, estranha, até mesmo para a latina.

Quinn suspirou e franziu a testa. Sabia muito bem que não conseguiria as respostas que precisava de Santana. A latina podia ser um poço de verdades muito profundas quando estava machucada e não era preciso ser lá muito perceptiva para enxergar que alguma coisa fora quebrada dentro de Santana. Ela podia parecer uma muralha por fora, mas lá dentro estava tudo quebrado... Subitamente, Quinn desejou ter uma conversa extremamente agressiva com Julianne Urie, ela parecia merecer uma boa chacoalhada na realidade.

– Eu juro que a minha intenção só foi abrir a porta para você... - O tom de voz carinhoso de Rachel despertou Quinn para a realidade. Imediatamente, a loira sentiu suas bochechas corarem e Rachel sorriu abertamente quando viu o rubor subir pelo pescoço de sua garota e tomar conta de suas bochechas. Rachel piscou para ela, gentil. - Mas eu não consegui lhe tirar do carro, você fica ainda mais linda quando está pensativa.

Quinn agitou a mão direita como se dissesse que era besteira, Rachel gargalhou e se inclinou para dentro da porta aberta. Os olhares de ambas se cruzaram brevemente antes que os lábios se tocassem, as pontas dos dedos de Quinn tocaram a cintura de Rachel e a morena suspirou, sorrindo de encontro aos lábios da loira. Rachel respirou profundamente o cheiro de rosas que emanava dos cabelos de Quinn e ali quis permanecer por um bom tempo... Para sempre, talvez.

– Se vocês continuarem, eu juro que vou pegar um extintor para apagar o fogo das duas! - Santana exclamou enérgica, o casal se assustou dentro do carro e rapidamente se afastaram. Rachel acertou a cabeça no teto e uma expressão de dor tomou seu rosto enquanto ela vociferava:

– Pare de ser insuportável, Satã!

– Olha como fala comigo, pequeno hobbit! - Santana retrucou, extremamente imatura para a opinião de Quinn. Discretamente, a loira revirou os olhos e apanhou suas coisas, saindo do carro. Seu olhar cruzou com o de sua melhor amiga, em um ar de aviso que Santana rapidamente ignorou. Rachel bufou e, irritada, disse:

– Ninguém tem culpa do seu humor. Vai xingar a sua ruiva!

– Rachel, não. - Quinn disse séria assim que percebeu a alteração na expressão de Santana, ela estava com aquele ar assassino. Quinn virou-se para a amiga e suspirou, cansada. - Será que podemos subir as escadas, sem brigas, por favor?

As duas outras mulheres fecharam a expressão diante da bronca. Quinn deu um sorriso gentil e deu alguns passos a frente delas, sendo rapidamente acompanhada pelas passadas arrastadas de Santana e o andar rápido de Rachel. As três mulheres entraram no elevador em silêncio. Rachel tinha uma expressão contrariada e os braços cruzados na altura dos seios, Quinn estava mais relaxada e parecia segurar um sorriso, enquanto Santana estava com os lábios crispados, os olhos semicerrados e os punhos apertados ao lado do corpo.

Eram os retratos vivos da contrariedade, da paciência e da fúria, respectivamente. Mesmo tão diferentes, conseguiram permanecer em silêncio durante o lento trajeto de quatro andares percorrido pelo velho elevador. Quando o solavanco e o abrir de portas finalmente anunciou a chegada das três ao quarto andar, Rachel saiu primeiro, seguida de Santana que imitava seu andar e de Quinn que segurava as risadas com um acesso de tosse.

Porém, as três paralisaram no corredor quando visualizaram a figura de Sam Evans parada no meio do estreito corredor, bloqueando totalmente a passagem das três. O rapaz estava com um ar preocupado, mas que logo foi substituído por uma expressão irritada quando seu olhar encontrou o de Rachel. Quinn esperou qualquer reação do amigo, desconfiada depois de perceber o olhar frio que ele lançara a morena. Rachel também pareceu perceber e logo caminhou até Quinn, ficando ao lado dela. Santana olhou do casal para o loiro e, sarcástica, comentou:

– Acho que o clima está pesadíssimo no momento. Desconfio que a culpa seja da Berry, sempre é dela.

– Agora não, Santana. - Sam murmurou entre dentes, sem tirar os olhos do casal a sua frente. Santana ergueu as mãos em sinal de inocência e deu uma risada rouca e desdenhosa, antes de comentar:

– Tudo bem, mas acho bom você me trazer alguma coisa que contenha álcool, Boca de Caçapa. Eu preciso entrar em coma alcoólico urgentemente.

Logo após o comentário, Santana entrou no apartamento de Sam sem qualquer cerimônia. Quinn e Rachel continuaram a ser observadas pelo rapaz. Como Santana acabara de falar, o clima realmente estava pesado no corredor. Sam parecia esperar uma resposta para uma pergunta que Quinn sequer sabia que existia. Por fim, a loira suspirou e, entediada, perguntou:

– Vai ficar nos olhando até que horas, Sam?

– Eu só quero entender o que ela está fazendo aqui, ainda mais depois de tudo que eu vi acontecer com você nesses últimos dias. - A resposta de Sam fora direta ao ponto e atingiu Rachel em cheio. A morena encolheu os ombros e abaixou a cabeça, sufocando algumas lágrimas de arrependimento que tentavam derramarem-se em sua face.

Rachel sabia muito bem o que fizera a Quinn e sabia que tinha um longo caminho a percorrer até que pudesse resgatar aquilo que perderam quando quebraram a confiança uma da outra. E também sabia que Quinn também compreendia que deveriam recuperar a relação juntas. Mas era impossível não sentir o remorso e a culpa lhe corroerem ao ver a expressão de Sam. Ele parecia decepcionado e pior, enojado. Rachel já esteve várias vezes em frente a uma expressão daquele tipo, era claro que Sam não confiava mais nela.

Quinn, ao seu lado, estava calada e não pelos pensamentos pessimistas ou duvidosos que poderia ter a respeito de sua relação com Rachel. Estava quieta simplesmente pelo fato de que estava atônita e surpresa com a atitude de Sam. Nunca, jamais, vira seu amigo agir daquela forma, tão na defensiva. Os olhos esverdeados de Sam pareciam mais escuros e ele não alterara a postura, permanecia sério e tenso. Quinn mordeu o lábio inferior e estava nervosa quando respondeu:

– Não importa o que aconteceu comigo e o que ela fez, Sam. Nós nos entendemos, nós nos demos uma segunda chance e você, me perdoe a expressão... Mas você não tem absolutamente nada a ver com isso.

– Eu tenho muito que me preocupar quando envolve a minha melhor amiga que pode ter o coração quebrado, de novo, por uma egoísta. - Sam dissera com a voz carregada de contida irritação, ele tentava a todo custo não deixar o sangue subir à cabeça, sabia muito bem que suas palavras poderiam selar o fim de sua amizade com Quinn. A loira revirou os olhos e bufou, finalmente, perdendo a paciência. Rachel segurou-lhe a mão e afagou-lhe as costas, tentando passar um pouco de tranqüilidade, mas em vão. Os olhos verdes de Quinn já estavam cravados em Sam quando ela esbravejou:

– É o meu coração, Samuel! Quem é você para chamar Rachel de egoísta se viveu à mercê de Mercedes durante todos esses anos?! Eu via você chorar, eu recolhia e reconstruía seus pedaços... Mas, em nenhum momento, eu questionei a decisão que você tomara! Por isso, você não tem o direito de julgar nosso recomeço se você retrocedeu tantas vezes com ela!

As palavras de Quinn foram ditas duramente e atingiram Sam em cheio. O rubor invadiu o pescoço e logo chegou às bochechas do loiro, ao mesmo tempo em que ele apertava as mãos em punhos fechados. Sam respirou uma, duas, três vezes antes de, finalmente, xingar baixinho e passar por elas, a passos duros e rápidos, até o elevador.

Assim que o elevador deixou o andar, Quinn tombou de encontro a parede e deixou os ombros caírem. Rachel logo a amparou, percebendo como ela estava frágil e como ela procurava esconder as lágrimas. A morena sabia como fora difícil para ela defender a relação das duas, Sam era seu melhor amigo, o irmão que a vida lhe oferecera... Rachel logo a envolveu em um abraço apertado e murmurou aflita:

– Você não precisava ter falado assim.

– Claro que eu precisava, Rach! - Quinn disse um pouco trêmula, Rachel não sabia se era por causa do que falara ou se ainda era reflexo da saída de Sam. As duas se afastaram apenas o necessário para que pudessem se olhar nos olhos, era intenso e emotivo, ambas estavam debilitadas. - Vamos recomeçar isso da forma certa e eu precisava te defender. Sam não tem o direito de nos julgar! Ninguém entende o que nós temos... Só nós duas sabemos o que é.

Rachel não conseguiu conter o sorriso que rapidamente tomou seus lábios, era tão bom ver e sentir Quinn defendendo-as daquela forma... A morena se aproximou lentamente e beijou os lábios de Quinn que sorriu entre o beijo, a puxando ainda mais para perto. Rachel conseguiu se afastar ofegante e contornou os lábios de Quinn com a ponta dos dedos antes de dizer tristonha:

– Eu sei que sim, meu amor. Mas se vamos recomeçar, melhor eu ir para a minha casa agora. Teremos todo o tempo do mundo quando resolvermos tudo aquilo que nos atrapalhou da primeira vez.

– Promete voltar para mim, depois? - Quinn perguntou manhosa, com uma expressão pidona e sorridente. Rachel riu dela e deu-lhe mais um selinho e rebateu com um sorriso:

– Me dê um bom motivo para voltar para você.

– Eu te amo, isso basta? - Quinn perguntou risonha, com os olhos brilhando ofuscantemente. Rachel agarrou-lhe o pescoço e a abraçou de novo, deixando um beijo molhado no pescoço pálido. Em seguida, se afastou e antes que desaparecesse no elevador, falou:

– É o necessário, meu amor!

Quinn sorriu para ela e entrou em seu apartamento. Estava nas nuvens e não seria Sam que a puxaria para chão.

Meia hora depois que Rachel saíra do condomínio de Quinn, Sam saiu do elevador e caminhou rapidamente para seu apartamento. Abriu a porta com uma força abusiva, assustando uma Santana Lopez que passava os canais da televisão, totalmente entediada. Sam a olhou com desprezo e furioso perguntou:

– O que você quer aqui, afinal?

– Finalmente, Evans! Achei que tivesse ido destilar a vodka na Rússia ou a tequila no México! - Santana respondeu sarcástica e mostrando o dedo do meio da mão direita para ele enquanto se recuperava do susto. Sam abriu a sacola que carregava e jogou a garrafa de vodka para a latina que a apanhou e a abriu, tomando um longo gole em meio a uma careta. - Que porra ruim é essa?

– Você disse que queria ficar bêbada, não especificou se queria coisa boa. - Sam respondeu frio e caminhando até o sofá, tomou a garrafa bruscamente a garrafa da latina e repetindo a atitude dela, fazendo, até mesmo, a careta após o gole. Santana olhou desconfiada para ele, de esguelha e perguntou:

– O que você tem, Boca de Caçapa?

– Minha melhor amiga está se arriscando a ter o coração partido de novo. - Sam respondeu frio e olhando entediado para a televisão, Santana tomou mais um gole da vodka e respirou fundo. Sam abrandou a expressão e suspirou. - Eu só não quero ter que recolher os pedaços dela depois, de novo.

– Melhor eu ficar quieta e me embebedar, eu não quero estragar a sua noite, Sam. - Santana murmurou baixinho, foi a vez de Sam olhar de lado, preocupado com ela. A latina ficou quieta e virou praticamente metade da garrafa para a garganta antes de entregá-la para Sam. O rapaz deu de ombros e cansado, disse:

– Acho que vamos precisar de mais vodka.

Nesse instante, o celular de Santana tocou e a latina já estava com os olhos nebulosos demais para atendê-lo. Sam se adiantou e o atendeu, do outro lado da linha, a voz foi rápida e não falou mais do que o necessário. Menos de três minutos, Sam recolocava o celular sobre a mesinha de centro. Ele olhou para Santana que tinha os olhos fechados e perguntou desconfiado:

– Suponho que seu problema está relacionado aos Urie, não é?

– Por favor, Sam. Me respeite. - Santana pronunciou irritada, ainda de olhos fechados. - A ressaca já será ruim demais amanhã sem que eu pense no que eu tenha que fazer.

Sam se calou e tomou um longo gole da garrafa de vodka.

***

– Quem aqui já leu alguma coisa de Ernest Hemingway? - Quinn perguntou aos seus alunos enquanto esses mantinham as canetas próximas aos fichários. Aquela era uma aula introdutória, mas a maioria estava preocupada em anotar tudo que ela falava. Ia começar a falar da “Geração Perdida” e esse autor, especificamente, era um dos seus preferidos.

Não foi surpresa alguma quando a mão de Christine ergueu-se no ar, a ex-cheerio agora se sentava ao lado de Claire que abriu um sorriso orgulhoso diante da atitude da namorada. Quinn sorriu abertamente para elas e escutou Arthur comentar brincalhão:

– Christine nerd, como sempre!

– Arthur, olha como fala com sua colega! - Quinn bronqueou com um sorriso e o rapaz riu para ela e para as outras duas garotas que também riam. A professora observou que os demais alunos observavam a interação dos três confusos. Aliás, se tornara um hábito observar Christine e Claire com curiosidade, as duas não escondiam de ninguém que estavam próximas. Quinn retomou sua postura séria e caminhou até a sua mesa, sentando-se sobre ela e arrancando uns suspiros exagerados de alguns meninos da primeira fileira. - Muito bem, Christine. Qual livro do nosso Hemingway você leu?

– “O Sol Também Se Levanta”, Miss Fabray. E confesso que não foi uma das minhas leituras preferidas. - Christine respondeu um pouco insegura, principalmente ao criticar a obra do autor. Quinn deu um sorriso compreensivo e continuou:

– Eu entendo sua colocação, pensei a mesma forma quando li Hemingway. Ele é um dos autores mais difíceis de serem apreciados devido aos temas que ele trabalha... Mas, acredite, “O Sol Também Se Levanta” é a sua obra mais refinada nos aspectos literários e é justamente dela que vamos falar hoje.

Quinn respirou profundamente enquanto observava cada um dos seus alunos a observarem com os olhos vidrados em atenção. A loira sorriu enquanto seu interior preenchia-se com uma energia positiva e reconfortante, semelhante ao que sentia quando estava com Rachel... Pensar na morena não fora uma boa ideia, já podia sentir que estava suspirando. A professora sorriu para seus próprios pés e caminhou por entre as fileiras enquanto dizia:

– Esse livro, especificamente, é bem lírico, digamos assim. Hemingway é bastante semelhante ao seu protagonista. E o livro fala da boemia, coisa que todos nós sabemos que ele gostava.

Pequenas e tímidas risadas preencheram a sala e Quinn sorriu para sua turma. A loira ajeitou os óculos sobre a face e bateu as unhas na carteira do aluno mais próximo, pensativa em como instigar seus alunos a lerem a obra por conta própria. Continuou:

– O livro é pesado, não escondo isso de vocês. Mas quero que leiam. A melancolia e a solidão preenchem cada página e vocês, em algum momento, vão se identificar com o que ele escreve. Hemingway torna-se um grande companheiro quando você, finalmente, o compreende...

Quinn ia continuar sua explicação quando o sinal tocou e seus alunos agitaram-se para guardarem os materiais. Em meio aos sons de zíperes, fichários sendo fechados e corpos se levantando, a professora anunciou em tom alto e claro:

– Quero um pequeno texto sobre a “Geração Perdida” com ênfase na temática de Hemingway para a próxima aula. Prometo que teremos pontos extras para os melhores textos!

Os alunos fizeram um sonoro sinal de afirmação antes de, aos poucos, saírem da sala. Quinn recebeu acenos especiais de Arthur, Christine e Claire que, para a sua alegria, saíram caminhando juntos com Arthur carregando os fichários das duas garotas. Quinn caminhou até a porta para fechá-la, ainda tinha algumas lições para corrigir quando um pé extremamente grande bloqueou sua ação. A loira se afastou da porta observando o enorme corpo de Finn Hudson entrar em sua sala e fechar a porta atrás de si. Quinn arregalou os olhos e perguntou:

– O que raios você ainda faz aqui em Lima, Hudson?

– Ah claro... Então é aqui que você esconde. Consigo sentir o cheiro do seu fracasso em cada pedaço dessa sala de aula, Fabray. - Finn ignorou a pergunta e absteve-se em fazer um comentário extremamente desagradável, com o tom de voz irônico e a expressão maliciosa. Quinn revirou os olhos para ele e afastou-se o máximo que pode do homem e rebateu:

– Não é o meu fracasso, Hudson. E o cheiro do seu que está te incomodando tanto e me incomodando, também.

– Fracasso em relação a que, Fabray? - Finn finalmente olhou para ela, com a expressão maldosa que em nada lembrava o antigo líder do coral. Quinn engoliu em seco quando ele caminhou em sua direção. - Eu tenho tudo que você não conseguiu ter. Eu, o suposto fracassado, foi o que conseguiu sair de Lima e chegar em algum lugar.

– Mas você não tem a Rachel e nós dois sabemos que ela é o prêmio mais importante aqui. - Quinn retrucou com o melhor de seus sorrisos maldosos e com o tom de voz tão cruel que finalmente atingiu Finn Hudson em cheio. O rapaz encolheu os ombros e apertou os punhos, Quinn não se intimidou e ele perguntou exasperado:

– O que você fez, hein? Você não esteve na vida dela o tempo que eu estive e mesmo assim, ela se apaixonou por você!

– Primeira coisa, Hudson: ela sempre foi apaixonada por mim. E, segunda coisa, o que eu tive para fazer foi voltar para ela... Voltar e cuidar dela. Coisa que você não fez em New York porque estava ocupado demais saindo com uma modelo diferente a cada noite! - Quinn esbravejou totalmente irritada com a pretensão de Finn em culpá-la pelos próprios erros. A loira fuzilou-o com o olhar e Finn se encolheu. - Você sabe o que ela passou em New York, Hudson? Se você se preocupasse em saber, tinha descoberto que ela precisava de alguém. Sim, ela me afastou. Mas quando voltou à Lima, eu estive lá para ela porque, ao contrário de você, eu não a negligenciei por causa que a minha vida estava dando certo!

Finn ficou calado, com a cabeça abaixada e o corpo tensionado. Ele remoía as palavras com fúria enquanto evitava olhar para Quinn. Porém, a loira parecia não estar satisfeita. Quinn estava cansada de Finn querendo assombrá-las, ele não era nada diante do que elas tinham. Finn era passado, um passado que se arrastava atrás delas querendo uma parte da felicidade que as duas conquistaram depois de tanta luta. Finn não tinha o direito de querer mudar tudo agora e o essencial: ele não merecia Rachel, nunca mereceu e nunca quis merecê-la.

Quinn respirou fundo, ela ainda não tinha acabado com aquilo. Olhou para a figura derrotada diante de si e falou, mais branda:

– O que nos difere, Finn, é que eu sempre lutei por ela. Mesmo quando eu não compreendia o que eu sentia, eu lutei por ela. Você nunca fez isso, foi Rachel que sempre voltou para você em busca de algo que ela nunca teve. Porque você nunca teve nada. Você tirou tudo que pode dela e foi isso que te levou para onde você está agora. Quando você a pediu em casamento, você quis apagar o brilho dela e mantê-la aqui em Lima. E quando você foi chamado para jogar e não a informou disso, você a destruiu. Mesmo ela estando apaixonada por mim, ela acreditava que era importante para você.

Quinn parou para retomar o ar e Finn finalmente a olhou. Os olhos escuros do rapaz estavam com lágrimas e ele estava respirando com dificuldade. Quinn não se deu por vencida, ele quebrara o coração dela quando beijara Rachel e ela não ia poupá-lo dessa vez. Ele merecia. Ele acabara com tudo que, aqueles que ficaram em Lima, haviam construído. Kurt estava com vergonha do irmão e não dava sinal de vida, Sam brigara com ela por causa de uma atitude impensada de Rachel, Puck desaparecera... Finn merecia tomar um pouco de seu próprio veneno e ele o ia ter. Quinn o encarou, os olhos verdes presos em uma frieza mortificante e deu seu golpe final:

– Por isso, não me apareça depois de todo esse tempo se achando o dono da razão. Não esfregue o seu suposto sucesso na minha face porque eu bem sei que essa não é a verdade. Não reclame Rachel para si quando você não a merece. Não queira ser melhor do que eu sou, Hudson. Não queira ter o que eu tenho. Eu venci as minhas batalhas e as luto todos os dias enquanto você somente foge dos seus demônios.

Finn desabou no meio de seu discurso. Olhando-o chorar, o coração de Quinn se apertou e ela, inconscientemente, se aproximou dele. Agora, ele parecia aquele garoto bobão que a fazia rir enquanto tentava manter sua popularidade e sua imagem a todo custo. Lembranças do que os dois viveram chegaram à memória de Quinn e ela deixou-se levar para um tempo em que as coisas eram mais fáceis e somente ela dificultava tudo. Finn afastou-se dela e caminhou até a porta, ele parecia relutante entre sair ou ficar, Quinn o encorajou e disse, sincera:

– Vá embora, enfrente seus medos e quando você tiver amadurecido, eu terei o prazer de lutar com você pela Rachel se assim ela decidir. Mas agora, é crueldade consigo mesmo que você queira me enfrentar. Eu não sou melhor que você, mas sou uma mulher. E o tempo passou e você continua um garoto.

Finn finalmente saiu, batendo a porta as suas costas. Quinn sentou-se na cadeira de um de seus alunos e colocou as mãos trêmulas sobre sua face, permitindo-se respirar fundo enquanto tentava se acalmar. Suas emoções estavam à flor da pele e em tal intensidade que, no meio da discussão, a única coisa que ela queria, naquele momento, era encontrar Rachel.

“It’s hard to remember how it felt before

Now I found the love of my life

Passes things, get more comfortable

Everything is going right...”

Rachel estava na sala do Glee. As luzes estavam apagadas e o som da música estava baixo enquanto ela se movimentava de acordo com o ritmo. Seus quadris balançavam, da esquerda para a direita, enquanto ela movimentava a cabeça e mexia nos cabelos. Um giro em torno do próprio corpo foi executado assim que a música chegou ao refrão.

Quinn, assim que chegou a sala, não conseguiu tirar os olhos da pequena figura feminina no centro da sala. Estava meio escondida enquanto observava a morena se movimentar com tanta leveza e um quê de sensualidade que só estava fazendo com que o amor dentro de seu peito transbordasse. Ela era talentosa e, principalmente, era sua. No exato momento em que seus olhos encontraram a silhueta de Rachel, ela esqueceu tudo que sentira com Finn... Era tudo pequeno, sem importância. Rachel explodia dentro de si.

A morena continuou a se movimentar, seu corpo chegou ao chão e ela deslizou as costas enquanto esticava as pernas e depois, as relaxava em um rimo lento e hipnotizante. Tão logo chegara ao chão, se levantara e continuava a movimentar-se em pé, as mãos percorrendo sua cintura e suas pernas. Ritmo delicado, sensual... O ritmo de Rachel.

Quinn finalmente abriu a porta lentamente, a música dentro da sala parou ao mesmo tempo e Rachel olhou em direção ao barulho, sorrindo quando seus olhos castanhos encontraram os verdes de Quinn. As duas suspiraram, as duas sorriram... A fina camada de suor na pele de Rachel fazia parecer que sua pele era dourada e que ela cintilava. Quinn aproximou-se e tocou a cintura de Rachel relutante, sentindo o calor emanar do corpo pequeno e aspirando o perfume da morena antes de abraçá-la forte.

Os braços de Rachel a envolveram, e Quinn se aninhou naquele corpo que parecia tão infinito agora. Nenhuma das duas falou, as respirações entraram na mesma freqüência, assim como os corações. O silêncio se fez companhia, o sol se pôs do lado de fora enquanto as duas continuavam imersas no calor, no ar e no coração de cada uma.

***


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Notas finais do capítulo

Capítulo enorme e com mais reviravoltas do que a novela das nove HUAHUASHUHAS

Brincadeiras à parte, do que gostaram mais? Me dêem um feedback, poxa vida, sei que sumi... Mas eu mereço alguns comentários e recomendações não é? *-*

Enfim, muito obrigada por lerem, seus lindos!

Até a próxima,
FerRedfield



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