A Cura Do Meu Coração escrita por Rafa SF


Capítulo 7
Capítulo 7




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Capítulo 7

—/-/Kagome/-/-

Meditava à espera do passar das horas depois do nosso momento empático ser interrompido com o despertar de Rin, e num segundo, Sesshoumaru demonstrou sua assombrosa velocidade em se posicionar no parepeito novamente, como se o tivesse feito pelas últimas décadas. Mas foi um falso despertar, a pequena somente se moveu e permanecia adormecida. 

Desde então, havia um acordo mútuo em fingir que nada aconteceu. 

Nem mesmo acreditei na possibilidade do youkai pensar que eu desistiria de tudo desse jeito, porém não o culpo por isso. Mal entendidos são desse jeito. 

Bom, eu gostaria de ser melhor vista por ele, apesar de não nos conhecermos a fundo. Até porque estávamos convivendo há alguns dias e, pelo tempo que durar, seria bom não ser julgada por preconceitos. De qualquer modo, não resta nada a fazer e suspirei, desisti da linha de pensamento, retornando a meditar. Posso jurar, pude sentir um fundo de reiki em meu núcleo, foi breve, mas real. Então concentro em recuperar o meu estado o mais breve o possível, pensaria nos pormenores depois.

Eventualmente, o sol nasceu escondido entre nuvens, tal como ontem e seria cada vez mais frequente tal comportamento com a chegada do inverno. Assim seria difícil de seguir viagem, esperava que o nosso destino estivesse perto o suficiente antes do cair da neve. Uma preocupação desnecessária, pois imagino que se fôssemos a algum lugar mais longe e, consequentemente, impossível de chegar sem sermos atingidos pelo clima, Sesshoumaru já teria indicado. 

Em algumas horas, Rin acordou manhosa e com frio, o que a fez permanecer na cama, enrolada nos lençois enquanto fui providenciar nosso café com a recepcionista. A senhora gentil nos providenciou sopa quente e frutos para o desjejum. O suficiente para seguirmos viagem.

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Dessa vez, Rin e eu íamos montadas em Arurun, depois que insisti que ela o fosse por parecer cansada. Isso acarretou uma pequena revolta e no fim, acabei montada no youkai dragão consigo. Acabei confessando que consegui reunir um pouco de reiki hoje. Ela não sabia que eu estava “bloqueada”, mas eu já havia comentado um esgotamento de minha energia após o acidente. De qualquer modo, o grupo conseguiu avançar mais rápido agora. 

Tínhamos que aproveitar cada tempo que desse para avançar na estrada, enquanto ela ainda existia. Rim estava agasalhada com meu casaco moderno, que por sorte, era o suficiente para afastar o vento frio de si. O ar matutino não me espantava tanto quanto o noturno e, enquanto o sol estava ao alcance, era fácil me sentir aquecida apesar de tudo.

—ah Kah-chan, estou tão feliz que você veio conosco! _ Rin iniciou, os lábios num sorriso sincero me contagiaram.

—É o mínimo que posso fazer em agradecimento pelos seus cuidados, pequena.

—Mesmo assim, estou feliz! Normalmente eu só comemoro meu aniversário com Jaken, Arurun e o Senhor Sesshoumaru, esse ano é a primeira vez que eu tenho outra companhia! _ Fui surpreendida pela informação.

—Seu aniversário? Gomen, Rin-chan, eu não sabia! 

—Are Are, não é como se fosse o dia correto que nasci, mas desde que Sesshoumaru-sama me salvou, nós comemoramos esse dia como se fosse meu aniversário. 

—Entendi, Rin-chan_ digo e adicionei:

—Será que tem algum presente que você gostaria de receber? 

—Lie, eu já possuo tudo o que preciso, somente sua presença será o suficiente.

Apesar de sua resposta, eu procurava em minha mente algo que pudesse presentear a menor, num agradecimento pela bondade e cuidado que recebi de si. Graça a pequena, fui capaz de ver outro dia. Também percebi que nossa convivência me fez vê-la cada vez mais como uma irmã mais nova. Eram momentos extremamente agradáveis os nossos, ademais, a menor me fazia esquecer dos acontecimentos recentes. 

—Mesmo assim, eu faço questão, Rin-chan. Onegai, se tiver algo que lhe agrade, me diga sem cerimônia._  Exigi confiante, vendo que ela finalmente aceitou minha proposta. 

—Hai, Kah-chan._ Sua voz saiu trêmula e não pude deixar de perceber suas orelhas avermelhadas e me controlei para não atacá-las com apertos devido à fofura. 

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Avistávamos montanhas no horizonte, e quanto mais perto, mais altas elas ficavam. Eu olhei para o grupo que andava diretamente na direção das pedras pensando se não deveríamos retornar, mas não. 

—Rin, leve a humana até as fontes. _ fala Sesshoumaru sutil, pelo visto, eles estavam acostumados ao local. Observei a breve troca de palavras, naquele diálogo único. 

—Hai, Sesshoumaru–sama.

Rin segura minha mão e me guia montanha adentro, por uma trilha bem cuidada. 

Eu só conseguia pensar que não queria subir muito pela alta montanha, incerta de se água quente valia o esforço. Logo o pensamento sumiu, foi só sentir o revigorante vapor e todas as dúvidas de suas qualidades sumiram. Senti a respiração abafada do jeito delicioso que é somente sentido numa fonte termal, seu vapor agindo como detoxificante para meu corpo.

—É aqui, Kah-chan_ informa Rin e me ponho a explorar o lugar, confirmando se não havia ninguém nos arredores. Perfeito. 

Rapidamente retiro meu uniforme, dobro-o e o deixo em cima de uma pedra, não muito longe de onde pretendia ficar.  Prendi os meus cabelos num coque, para evitar ao máximo molhá-los e adquirir um resfriado e me viro, percebendo se a única a agir. 

—Vem também, Rin-chan?_ questionei para a menina envergonhada.

—Nani?

—Achei que iríamos aproveitar esse banho juntas!

—Ah, certo Kah-chan, já entro. _ ela diz tímida, certamente desconfortável em se despir na minha presença, não aguento e solto uma pequena risada.

—não precisa ter vergonha Rin-chan, veja, eu estou olhando para o outro lado!_ digo me virando. Aproveito para medir a temperatura da água com o pé, ela estava idealmente quente! Arigatou, Kami-sama, por esse paraíso da natureza! 

Sem mais demora, entro, sentindo toda minha pele se arrepiar, o prazer do banho quente invadindo-me deliciosamente. 

—Arigatou, kami-sama. _ Agradeci audivelmente, já tão relaxada que sentia minha consciência nublar-se com o vapor da água. 

A menor ainda me encarava corada, dessa vez, por causas naturais, o que a deixava novamente fofa. Mas me controlei. Poucos minutos depois, senti que ela estava mais à vontade, se dispondo a conversar comigo sobre algumas aventuras do meu grupo.

—É mesmo, Kah-chan?_ pergunta Rin achando graça da história que eu havia contado.

—Hai, teve uma vez que eu o mandei sentar tanto que ele passou o resto do dia choramingando do galo na cabeça!

—nossa Kah-chan_ Ela pausou para rir. 

—Tudo isso por que ele comeu a bala do Shippou-san?

—Ele mereceu! Quem mandou roubar os pirulitos que eu comprei especialmente para o Shippou?_ falo fingindo ainda estar zangada, o que só arrancou mais risos da pequena. Pouco tempo se passou e ela se levanta.

—Acho que tenho que ir, Sesshoumaru-sama ficará preocupado comigo. Mas pode ficar mais um pouco! Sabe o caminho de volta, correto?

Aceno afirmando, havia decorado o caminho.

—Cuidado ao voltar, Rin-chan!_ Desejei. Não me perdoaria por algo ter acontecido com a menor, torcia para que Sesshoumaru estivesse de guarda por perto para recebê-la.

—Vou ter._ Respondeu sem virar e vestiu-se com pressa e seguiu pela mesma trilha de antes. 

Acompanhei seus passos até onde pude e me permiti relaxar. Apoio ambos os braços em minha cabeça, e faço do ambiente o meu encosto. O céu cinzento me dizia que logo mais eu deveria me abrigar, para fugir de sua fúria. Não havia nuvens que pudessem ser distinguidas, o céu era um com o astro maior. 

Tinha certeza de que congelaria assim que saísse da fonte, uma preocupação para o futuro, de certo. Por enquanto, aproveito da calmaria do local e perco-me nas lembranças de minha infância, quando passava horas observando o azul anil. Quis, um dia, descobrir o quão infinito ele era, cogitando que se houvesse um limite, eu teria que descobrir onde era e procurei, caminhando, por um longo período até desistir. Meu avô dizia que céu nu é sinal de boa sorte, mas acho ser somente outra de suas crendices. Para mim, sempre me pareceu que o céu calmo indicava o prelúdio de uma tempestade.

Suspirei. Percebendo a necessidade daquele tempo a sós. 

Refletia sobre os últimos acontecimentos. No fundo, uma pequena parte de mim sempre soube da prioridade de Kikyou no peito de Inuyasha, a parte que eu busquei ignorar por todo esse tempo, tendo esperança de que estivesse errada. E constatar isso não me deixava menos confusa, tudo aconteceu muito rápido, mais veloz do que podia processar. E sufocou-me no processo. 

Somado a isso, a presença de Inuyasha no Oeste me fez questionar seus motivos, no fundo, buscando algum tipo de esperança que eu pudesse me agarrar. Em vão. Ele não merece esse tipo de comoção. Pensei firme e ignorei a decisão anterior de molhar os cabelos. Eu precisava escorrer tudo. Com isso em mente eu afundei na água quente, sentindo meu corpo desfazer-se sob o líquido.

"Tudo que eu quero é esquecer." Estava em transe. O calor da água invadindo cada um dos meus poros era a prova de minha existência, como se toda a minha vida pudesse ser resumida àquele momento de apatia.  

Já ouvi dizer que antes de morrer tínhamos vertigens sobre nossa vida. Desse modo, Kami nos mostrava todos os erros e acertos para permitir uma partida sem arrependimentos, isso é, se esse fosse o fim. Não é o meu caso, foi um pensamento intrusivo. Muito pelo contrário, eu estava pensando no futuro, ainda tinha muito a viver, seja nessa era ou em outra, iria fazer os meus dias terem um significado, usando aquilo que sei e sou boa, ajudar. 

Eu fui a sacerdotisa da jóia de 4 almas por bastante tempo, posso viver como Higurashi Kagome na era Feudal, talvez recomeçar num algum pequeno vilarejo, como a sacerdotisa local seja o suficiente por hora. 

Meu fôlego se esgotou, interrompendo meu momento de epifania e forçando-me a emergir. Assim que abri os olhos, dei de frente para um Sesshoumaru, sentado em posição de lótus, de costas para mim. Assustei-me quando senti, somente naquela hora, sua presença marcante, mas não raciocinei sobre seus motivos. 

—Não deveria abaixar a guarda, Miko _ diz a voz séria, inabalável e prepotente, como de costume.  Fiquei furiosa, contando até 10 e criando algum tipo de desculpa como “youkais não têm senso de decência, vergonha, etc” enquanto cobria meus seios com os braços, não acreditando na ousadia do albino. 

—Vá embora, Sesshoumaru.

Fitei suas costas com a questão de usar minha pior expressão somente em sua homenagem,  mas ele não se virou e permaneceu olhando fixamente para a trilha que Rin seguiu. Pena que esse gesto não foi o suficiente para me acalmar com essa invasão. O youkai não se movia. Logo, deduzi que ainda havia algo a dizer.

—Sesshoumaru.  Faça-me a decência de explicar por que está aqui._ Cada sílaba foi dita com métrica. 

—Rin retornou só._ O Daiyoukai testava a minha paciência e sinceramente, espero que por trás dessa incompetência social exista alguém sensato que entenda o perigo de provocar a minha fúria. 

—Isso era para ser algum tipo de explicação?_ Questionei irritada e vendo que ele não responderia, continuei

—Isso não faz o menor sentido._ Tornei claro e o vejo fazer menção de se virar em minha direção, porém fui rápida o suficiente para lhe fazer desistir da ideia.

—Parado!_ Gritei.

Ele virou rosto para fazer algum contato visual, talvez, ou somente espiar por detrás do vapor. Bruscamente eu afundo e molho parte de sua roupa. Sabiamente aproveito o momento para me esconder por detrás da rocha que me apoiava, não lhe daria a bênção de ter qualquer vislumbre de meu corpo.  Via em seus olhos que ele estava arquitetando algo.

O que foi?

— ....

O encaro atentamente, pronta para qualquer tentativa do maior de espiar pelos ombros, mas sua postura era diferente. Parecia estar em conflito e olhava ao redor ao invés de me responder prontamente, como vem feito sempre que conversamos.  

—Hanyou._ Iniciou e não pude evitar a surpresa.

—Inuyasha? Esteve aqui?_ Ele acenou, em concordância, mas não tive tempo de assimilar o que disse e então, mostrou algo que não imaginava, algo totalmente familiar a mim.

 —O arco sagrado do monte Azusa. _ Disse em compreensão, sem esconder o espanto em reaver o objeto.

  De súbito, me prontifiquei a recolher a arma, que ainda estava a alguns metros de distância. Esquecendo de minha condição atual momentaneamente até que o vento frio fez questão de alertar-me. Por sorte, ele permanecia imóvel e de costas. Sesshoumaru era quieto, do tipo que não fazia nada por simplesmente fazer. A mente estava sempre trabalhando, então imagino a razão que tinha para se fazer o esforço de me devolver pessoalmente o arco e flechas que usava.

Vi, de rabo de olho, que ele permanecia sem dirigir seus olhos a mim, pacientemente esperando que eu me vestisse. O fiz. 

Ele está sendo gentil do seu modo. 

—Arigatou mais uma vez, Sesshoumaru.  

Ele se virou, a poucos metros de mim, e deixou cair arco e sua aljava carregada. Encarei o objeto confusa, ele estava aqui para me devolver a arma, por qual motivo a jogou no chão? 

—Não sou mensageiro. Resolva por si mesma na próxima vez._ Disse de repente, a voz tão afiada quanto as espadas que carrega. Uma lâmina especializada em usar as palavras certas para ferir seu oponente. E fiquei paralisada com sua atitude, a sua frente e com o arco longo recurvado, extremamente trabalhado, entre nós. 

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Notas finais do capítulo

Então, gostaram?? *_*
Até mais, bjus bjus bye!