A Cura Do Meu Coração escrita por Rafa SF


Capítulo 13
Capitulo 13




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—/-/Kagome/-/-

Eu odeio Sesshoumaru, odeio Sesshoumaru, ODEIO ESSE YOUKAI MALDITO.

Entoava pela milésima vez o meu novo mantra, enquanto observava o horizonte coberto de neve. Estávamos nas terras do Norte, acima de uma montanha mais alta do que posso mensurar, tendo a certeza de congelar até a morte. O exército do DaiYoukai estava acampado na base desse pico, preparado para mais uma noite invernal enquanto o dito cujo estava alegremente embalado pelo calor de sua cabana, com seus 8 generais malditos, traçando planos de guerra, enquanto eu tinha que fazer o trabalho sujo. 

Eu odeio Sesshoumaru, odeio Sesshoumaru. Cachorro sarnento. Haha, essa é boa, adicionarei ao mantra.

Calculei o tamanho da barreira que seria necessária para nos ocultar, apesar de contrariada, eu não queria ser responsável pela morte de tantas pessoas, simplesmente por não fazer minha tarefa. Eu não deveria somente proteger o exército principal, ocultando-lhes durante seu descanso, mas também deveria balancear tamanha energia demoníaca, com meu reiki, para que não fossemos notados pelos mais sensíveis dos rastreadores inimigos.

Enquanto isso, parte do exército seguia adiante, ao servir de bode expiatório para os olheiros do Norte, montando falsos acampamentos quilômetros além do nosso atual, eles davam uma falsa impressão do tamanho de nossas tropas ao inimigo. Era uma estratégia ousada, arquitetada pelo próprio Sesshoumaru. E quem mais pensaria numa loucura dessas? Não é como se seus antigos comandantes ousassem sair dos planos tradicionais para travar esse embate. Preconceituosos como eram, os generais tardaram a aceitar as estratégias do mesmo, porém, para a minha infelicidade, a autoridade do albino era o suficiente para lhes calar. Maldito senso de bando youkai.

Mas algo me dizia que outro motivo os ajudou a tolerar a minha pessoa. Já que seus comportamentos melhoraram após a primeira noite após adentrarmos esse território e a minha demonstração não intencional de força. 

Eu estava bastante insegura nos primeiros dias, era a única humana no exército e o excesso de youki me enjoava, porém fiz questão de esconder meu desconforto. Poucas horas se passaram e teríamos nosso primeiro descanso, após dois dias inteiros de locomoção. 

Durante nossa caminhada eu podia ouvir os rumores que se espalhavam. Ao invés de criticar a falta de montarias nesse lugar, escutava que estavamos nesse ritmo por causa do “mascote”, carinhoso apelido que me foi dado pelos soldados mais atrevidos. 

Queria só ver se teriam coragem de dizer isso na minha frente! 

Já haviam se passado horas do anoitecer, e somente agora foi decidido montar acampamento. Meus pés doíam e não via a hora de alguém erguer a minha barraca para que eu pudesse ao menos descansar, já que não sabia como fazer. Eu deixei claro para o cretino que tinha zero experiência nesse âmbito e ele deveria arcar com todas as possíveis necessidades que surgirem.

Enfim, eu estava à espera de alguém, mas parece que os soldados não seriam tão gentis quanto o Lorde. Ah, a ironia. 

Já que ninguém iria se dar ao trabalho, decidi tomar, temporariamente, como minha a barraca daquele quem me convidou. Essa é uma necessidade e ele deu a palavra. E com esse pensamento eu tive a coragem de invadir a tenda do Líder, em meio a reunião e sentar no primeiro lugar que vi disponível. Um sofá lateral naquela mesma sala. Não fiz questão de manter contato visual com ninguém, aliás, vou agir com naturalidade, quem mandou me trazer aqui?

Aproveitaria para esperar o processo de montagem aqui, nesse quentinha e aconchegante cômodo. Cheguei a observar um pouco do que se seguia, perdendo o interesse logo após. Pouco me interessavam os planos para amanhã ou depois.  

E foi dentro da barraca do Líder que decidi aleatoriamente meditar para passar o tempo, apesar do barulho, era um local seguro, já que teoricamente, Sesshoumaru estava ali e poderia intervir no pior dos casos. 

Podia sentir a energia intensa do conjunto de youkis dos generais à minha frente. Eles rodeavam um mapa detalhado da região e discutiam suas estratégias, então ampliei meus sentidos além desse acampamento. E de repente, sinto diversos youkais antes ocultos, a alguns quilômetros daqui, e de acordo com as intenções de seu youki, certamente eram espiões do Senhor do Norte. Então armei o arco sagrado do Monte Azusa, sem avisar aos rapazes concentrados e, no mesmo lugar o qual meditava, usei da própria energia para atirar no “nada” à frente. Pelo menos era assim que pareceu, quando eu fiz o movimento, tão brusco que chamou a atenção de todos no local, que estranharam a humana maluca. Mas somente prestei atenção nos âmbares surpresos, que encaravam a direção que atirei, certo, ao menos ele era esperto de perceber. 

— Sesshoumaru, faça o favor de buscar os corpos._ Indiquei-lhe e retornei à meditação. Apesar de ter começado o processo sem grandes intenções, como não haviam outros sacerdotes no local, era como se um paraíso de reiki esperasse para ser reunido, o que me incentivava a continuar. 

Logo após minha declaração, a confusão se instalou, os generais não imaginariam que eram vigiados desde tão cedo e passaram a noite tecendo alterações nas estratégias já montadas. 

O saldo desse dia foi que, com exceção de Tachibana Ryou, o braço direito de Sesshoumaru, e único disposto a fazer-me alguma companhia durante os meses que provavelmente eu passaria aqui, os outros decidiram por manter um acordo mútuo de indiferença. Eu não os provoco, eles fingem que sou somente uma ferramenta, assim todos ficamos felizes, ha, ha. 

Certo, meu humor tem estado um tanto alterado. 

Retornando ao frio excruciante daqui de cima, mais uma vez, eu me arrependi de ter sugerido tamanho favor para Sesshoumaru, com certeza, eu perderia alguns dedos congelados enquanto tentava lhe retribuir a dádiva da vida.  O território do Norte era conhecido por ter suas terras eternamente congeladas, e para melhorar a situação, o querido chefe da matilha decidiu que o melhor momento para invadir seria no MEIO DO INVERNO. Suspirei.

Eu odeio Sesshoumaru, odeio Sesshoumaru. Usava para me concentrar.

Eu deveria ter o cuidado de limitar as margens de nosso esconderijo, já que se uma grande parte sumisse de seus olhos, certamente o Senhor do Norte desconfiaria. E para tanto, eu mentalmente decorava as margens que impunha ao nosso exército, para me certificar que obedeceria aos planos dos velhos vira latas. Caso contrário, tenho certeza que seria arremessada para cima dessa montanha novamente. 

Quando me convenci de ter seguido todas as instruções, chamei pelo meu transporte: 

— Terminei, Sesshoumaru. _ Disse calmamente, poucos segundos depois o observei sair de seu casulo aquecido e voar até mim. Usava as mesmas roupas de sempre, sem importar-se com o frio, a sua única barreira era um manto felpudo, cor de sangue. Ao contrário de mim, que usava duas vestimentas além do usual por sobre meu traje sacerdotal, sem contar que utilizava a roupa térmica de treino por baixo de tudo. Ainda assim, eu sentia o vento gélido brincar de arrepiar minha espinha.

Uma coisa que mudou em nossa relação, foi a confiança velada que estabelecemos em nossa convivência. Assim como ele precisava de mim para garantir seus homens, eu precisava dele para garantir minha vida em meio a tanta hostilidade, enquanto arriscava a minha vida para cumprir suas ordens. Nada mais justo que ele tome a responsabilidade por mim. Como consequência, sempre que precisava de uma locomoção anormal, como agora, eu contava com sua benevolência. Ironia. Ironia.

— Vamos._ Ele estende a mão para que possa me erguer, mas quando tento alcançá-lo ele se move um pouco para trás, com um mínimo repuxar de lábios à mostra. 

Eu certamente o odeio.

— Não teve graça, Sesshoumaru!_ Reclamei nervosa, inferno, ele era imortal, mas eu tinha meus lindos 70 anos pela frente e estava disposta a envelhecer bem direitinho! 

— Discordo._ Ele fez questão de tornar claro, mas não voltou a atentar contra a minha vida. Cachorro sarnento. Pensei enquanto puxava seu braço em direção à minha cintura e o prendia ali. Também enrosquei sua gola com minha outra mão, certa de que o derrubaria se ele resolvesse brincar novamente. 

— Espero que tenha um jantar quente ao meu aguardo. 

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— Pronto, foi aqui que senti os homens do esquadrão lontra, aqui estão os folhas. Além disso, diversos espiões estavam patrulhando essa região aqui. Acho que é isso, Generais._ Informei-lhes, com uma tigela de sopa na mão. Talvez, só talvez, eu tenha decidido que a barraca de Sesshoumaru era o meu espaço, por ser o único espaço devidamente quente nesse inferno gelado. Aprendi desde o primeiro dia, que se fosse esperar alguém preparar os meus próprios aposentos, eu dormiria à relva. 

Desde então estou aqui. 

Consequentemente, eu convivo diariamente com os cachorrinhos do Lorde e os ajudo no rastreamento das forças inimigas. Engraçado, que agora eles não são mais grosseiros, há, nada como adestrar uma matilha! Eu deveria dar alguns petiscos em troca?

— Ótimo, vamos encerrar por hoje._ indicou o albino chefe. Macho alfa da matilha.

Ficava complicado chamar Sesshoumaru de albino, já que boa parte dos soldados tinham cabelos acinzentados, então meus apelidos para si foram enxutos contra a minha vontade e tive de usar da minha limitada criatividade. Por sorte, os trocadilhos com cães ainda eram o bastante para manter minha mente ocupada. Observei os youkais se organizarem e sair, um a um, do local.

— Kagome-san, você irá para a fogueira hoje?_ Perguntou amigavelmente o General Kyou antes de sair, mas só de me imaginar no frio que estava lá fora, arrepiei da cabeça aos pés. 

— Hoje não, onegai, mande meus cumprimentos ao cozinheiro!

— Haha, hai senhorita._Deu por encerrada nossa curta interação e saiu da cabana, deixando-me sozinha com o meu companheiro de quarto. 

Hoje, completamos 27 dias de convivência pacífica, deveríamos comemorar. Refleti observando o albino concentrado, uma cena comum com o passar dos dias. Era claro que ele estava imerso nessa guerra, suas terras estavam em jogo, assim como todos que viviam nela e era comum vê-lo emendar as noites estudando, no seu “escritório”. 

Basicamente, onde estávamos. 

De um modo geral, a cabana dele tinha 3 cômodos, separados por divisórias de papel, tínhamos um escritório/meu quarto, com a mesa de reunião, a mesa do Lorde e o sofá que era o meu lar provisório. A “área de banho”,  um pequeno recipiente de água limpa e aquecida, que era usado para retirar o suor com panos e também onde tínhamos a privacidade de nos trocarmos e o “quarto” do Daiyoukai, os dois primeiros cômodos eram divididos diariamente entre nós, já que eu não poderia expulsá-lo de sua própria barraca. Por isso, em noite como essa, quando ele danava em não dormir, eu invadia seu quarto e aproveitava para dormir na cama macia do mesmo. 

Inicialmente eu até tinha vergonha desse ato, mas a necessidade faz o homem e estamos em guerra. Eu tinha de fazer escolhas difíceis diariamente e cama versus sofá, depois de andar quilômetros sem fim, era uma delas. Além do mais, eu tinha a palavra de Sesshoumaru de que ele não repetiria atitudes como outrora teve, ações que nunca foram novamente mencionadas, por sinal, em nenhuma das nossas breves conversas. Com o passar dos dias, eu tomei como confiável a atitude do mais velho, tanto que não importava quantas horas eu estava inconsciente, sempre o encontrava na mesma posição no dia seguinte. 

Com isso em mente, me levantei para ocupar a enorme cama do aposento, ele nem perceberia até ser tarde demais.

— Irá se banhar hoje?_ Perguntou simplesmente assim que me cobri, me assustando por seu bel prazer. Por sorte, eu já estava acomodada.

— Lie, está muito frio e eu não suei nada.

Ele “riu” com minha atitude. Entre aspas por que o pigarro suave que fez não poderia ser considerada uma risada verdadeira, no entanto, para Sesshoumaru, aprendi que esse som significava a sua diversão. Outra mudança a qual nossa convivência me proporcionou, foram esses curtos momentos de espontaneidade por parte dele, ou talvez, a habilidade que adquiri de identificar suas microexpressões, me dê essa impressão. 

Em algum momento, uma barreira entre nós foi pulverizada, e isso me faz acreditar que, agora, possuíamos uma espécie de coleguismo. Uma hipótese minha, era de que por ter nele uma sensação de familiaridade, em meio a tantos rostos novos, eu poderia relaxar em sua presença. E, imaginei que interpretava o mesmo papel para si. 

Enfim, fui distraída pelo som da água da “área de banho” do lugar e o som da água serviu para guiar-me aos sonhos.

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Os dias possuíam uma certa rotina por aqui. 

Acordar, checar os arredores, comer e partir, o exército resolvia suas coisas enquanto eu esperava no acampamento, depois retornavam e partíamos novamente, até encontrar o local de nosso próximo descanso, quando eu agia para ocultar a todos, depois disso era só manter a atenção, checar constantemente se haviam falhas na barreira e esperar até o próximo dia, para repetir novamente a sequência.

Parando para pensar, o comportamento de vários soldados mudaram com a convivência comigo. Sendo que alguns até se dispõem a me chamar para suas reuniões após o jantar. O primeiro foi o cozinheiro, Murui, que de tanto eu elogiar sua comida, fez questão de aprender meus pratos favoritos e me alegrar diariamente com novos aperitivos. Nossa amizade era regada de prazeres gastronômicos. Ele me ensinava um pouco sobre seu trabalho e eu servia como cobaia para suas novas receitas. Com o passar do tempo, Murui foi me apresentando para outros soldados menos intolerantes. 

Depois, quando comecei a participar da equipe médica, vários foram os surpreendidos e fui capaz de quebrar pouco a pouco o preconceito de alguns. Estava contente de conseguir manter esse tipo de atitude, era assustador imaginar todos esses rapazes lutando com suas vidas em risco, não poderia nem imaginar o quão selvagem era o campo de batalha, mesmo assim, o pouco que poderia auxiliar lhes parecia bom o suficiente para mudar as suas visões de mim. Um ótimo progresso.

Com o tempo, percebi que poucos sabiam do meu verdadeiro papel naquele exército, as noites de fogueira eram os momentos de descontração desses homens, mas para mim, era mais parecido com uma hora para fofoca. Aqui eles eram livres para xingar seus líderes e espalhar suas sem vergonhices, um material verdadeiramente educativo ao meu ver. Quem diria que eu aprenderia tanto sobre aqueles vira latas!

— Kagome-san!_ Escutei o chamado do General Kyou, o único que se dispunha a reunir-se com seus próprios homens. Tadinho, se soubesse o que dizem de si, talvez ele não fosse tão amigável com os soldados. Dei de ombros. Bem, eu gostava dele.

— Kyou-san, aqui!_ Acenei para o albino dos olhos amarelos, ele ofereceu-me Rum e aceitei. Como sempre, um anjo de pessoa. 

Sobre a bebida, aprendi que os soldados a usavam para aquecer os ossos e não para comemorar qualquer coisa. Até porque vários conhecem alguém que pereceu nessa guerra, fato cada vez mais comum com o passar dos dias.

Troquei amenidades com alguns soldados, junto de Kyou, até que o mesmo se levanta repentinamente, de certo, para juntar-se a certo homem.

— Vou procurar Murui-chan._ Informou antes de sair noite afora.

— Meus cumprimentos ao cozinheiro!_  Levantei minha caneca, seguida de alguns soldados perdidos. Bêbados provavelmente. 

Enfim, tornei a encarar o fogo, concentrada em delimitar novamente o nosso acampamento. Utilizando do crepitar da fogueira como um microruído para aumentar o meu foco. Se tornou um hábito, de tempos em tempos, concentrar-me em sentir a kekkai, tudo para garantir que não houvessem erros na minha principal função aqui e assim, poderia deixar todos esses soldados dormirem em segurança.
Eu os observava com o olhar pesado. 

Amanhã, eu não poderia adivinhar quais deles estarão aqui. 

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Outro mês passou, depressa demais para ser considerado qualquer coisa acerca dele, tirando o fato de hoje ser um dos dias ruins.

As tropas inimigas dominaram nossos homens em número, o que passou batido pelo conselho de guerra, resultando numa derrota desastrosa. Os poucos soldados que foram resgatados estavam em estados graves, com pouca chance de recuperação. Mesmo assim, a equipe médica não desistia de sua função.

As baixas nos números poderiam preocupar os generais, no entanto, para mim isso significa mais do que algoritmos. Desde que comecei a participar efetivamente da equipe médica, a morte tornou- se tornou uma palpável companhia. Descobri que vários soldados conseguiam suportar minha energia e assim, pude acelerar o processo de cura natural dos mesmos, mas infelizmente, esses eram poucos, menos do que eu esperava —ou precisava que fosse-e não pude ajudar tanto quanto gostaria nesse quesito, não mais do que um médico humano qualquer. De qualquer forma, durante a tarde eu busco acompanhar os feridos e auxiliar em seus tratamentos, utilizando algumas informações da era moderna para burlar um pouco a atual situação. Isso pode ter ajudado vários, mesmo assim, incontáveis homens tiveram em mim, um último ouvinte para suas preces e só pude rezar para acalentar as almas dos demônios mais fiéis. 

Os deuses não discerniam a origem dos seres. 

Estava exausta e quase no limite de reiki que tracei para nos manter ocultos durante a noite. Internamente, eu consolava-me ao pensar que se não fosse esse ledo e obrigatório esforço, se não fossem as outras muitas vidas que dependiam de minha kekkai, eu usaria tudo que tinha para ajudá-los, salvaria a todos ali, mesmo sabendo ser um desejo irreal. Tive de ser pragmática e informei que iria me ausentaria do posto médico, ouvi alguns agradecimentos, mas nada importava perante o peso que sentia no peito. 

Ao recolher-me na cabana principal, esperei a sensação de calmaria que estranhamente sentia ali,  mas nem o calor que me embalava era o suficiente para tirar a sensação de sangue nas mãos. 

Eram tantas vidas, kami-sama! 

Eu não pude perceber os outros seres no local, nem mesmo sua calorosa discussão desviou minha atenção, só caminhei automaticamente para a área de banho, controlando as lágrimas. Eu não poderia chorar, esses homens estavam aqui conscientes do risco que tomavam, orgulhosos de seus papéis. 

Seria injusto com seu esforço se eu me lamentasse. Foram eles que partiram.

Não percebi se esfreguei os pulsos por muito tempo, a sensação do calor que sentia ao afundar as mãos nos corpos moribundos era tão palpável quanto mais cedo. Nem mesmo a água, já fria, lavava esse sentimento de repulsa, então permaneci ali, esfregando e esfregando meus braços no rubro líquido até torná-los vermelhos pelo atrito. 

Kami-sama, onegai, guie esses homens em seu descanso. Rezava incessantemente.

Em algum momento, meus pensamentos tornaram-se altos, as preces sendo repetidas audivelmente enquanto continuava a esfregar-me no segundo recipiente de água limpa que servia de reserva, não era o suficiente. 

 Nem mesmo percebi que era observada pelo Daiyoukai até que o mesmo estivesse tão perto, na agora silenciosa barraca. Podia sentir o calor de seu corpo logo atrás do meu, embalando-me da mesma forma que seus braços faziam ao impedir-me de prosseguir com a inútil limpeza. Suas mãos firmes cobrindo as minhas ainda dentro da água. 

Eu sabia que era em vão. Ele sabia. Ninguém precisava por em voz alta os motivos.

O primeiro soluço veio, mas negava-me a liberar as lágrimas que se formaram, fixando minha turva visão nas marcas de seus antebraços, traçando seu caminho até os pulsos do mesmo e retornando, como uma forma de distrair-me de minha própria culpa. 

E novamente, conter meus atos foi em vão e tremendo, eu tentei retornar o processo de limpeza, buscando afundar os pulsos novamente na água.  Foi então que o aperto de suas mãos se firmou e sem ser rude, Sesshoumaru tornou claro que não permitiria que eu continuasse. 

— Kagome_ Ouvi sua voz ressoar por mim, aconchegando-me em sua vibração. Não havia acusações em seu tom ou mesmo foi brusco ao afastar-me do recipiente, então deixei-me ser guiada por ele. 

— Gomena…sai, Gomen, Kami-sama, gomenasai._ Repetia incessantemente no caminho, sem ter a certeza se em pensamentos ou em voz alta. Distraída o suficiente com meu lamúrios, para ser cuidadosamente deitada na cama do local e recoberta com as grossas mantas, sem alterar meu estado. Ao meu lado, ajoelhado no chão, estava Sesshoumaru, imóvel, como um guarda que vela sua protegida e assim ficou, sem reclamar, sem questionar. 

Só ficou, até que o sono me tirasse de meu estado catatônico.

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Notas finais do capítulo

Então, estava tomando meu café da manhã quando pensei, e se tivesse uma guerra? hahahaha
Até a próxima gente!!
Bjus Bjus Bye



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