Live In Dreams escrita por maknaee


Capítulo 1
Live in Dreams


Notas iniciais do capítulo

Olha eu aqui de novo~ Dessa vez trazendo algo que eu gosto e me identifico mais escrevendo, meu ultimate OTP ever, KyuMin ♥
Essa fic é apenas uma série de coincidências felizes que ocorreram na minha vida. Uma delas é a música que indico como trilha sonora, uma musica que acabou dando título pra essa One, e que dá o tom certo pra com cada linha aqui contida:
http://www.youtube.com/watch?v=AzBBGBrjQ7g
Música essa que foi indicada pela minha Beta mais linda de todas asfjalfh Noir ♥♥♥
Então, sem mais delongas, boa leitura~



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E lá estava você, sentando em um banco qualquer com as suas perninhas balançando sem conseguir tocar o chão, olhando vagamente para todas aquelas pessoas de preto que passavam e sussurravam falsas palavras de consolo, fingindo uma tristeza que ninguém ali sentia. Você, educado como era, apenas mirava cada uma delas e acenava levemente, fingindo ouvir cada frase, vez ou outra esboçava até um sorriso falso, fingindo se importar com suas palavras, fazendo sua parte. Encenando seu papel naquela grande comédia que você tão pateticamente chamava de vida.

E eu sentia aquela vontade louca de me aproximar e te arrancar dali, tirar aquela expressão vazia de seu rosto, todos aqueles sorrisos falsos, queria te fazer olhar para mim e, então, eu o provocaria até que você perdesse o controle e gritasse comigo, até que lágrimas corressem pelo seu rosto pálido e você perdesse totalmente o controle sobre si próprio. Porque era disso o que eu precisava. Era disso o que você precisava.

Essa era minha forma torta de cuidar de você, de tentar fazê-lo sentir-se melhor. Porque desde aquele maldito acidente tudo mudara terrivelmente pra você. E eu tentara, de todas as formas que conhecia, te trazer de volta, puxá-lo pra mim, te tirar do grande pesadelo que sua vida se tornara. Hoje, vendo-o tão perdido ali naquele lugar, eu percebia como eu falhara miseravelmente em todas as minhas tentativas.

Queria te ver sendo quem realmente era, aquele que eu e apenas eu conhecia. Eu tinha certo orgulho disso e não era em vão, levara tempo e muita paciência para que eu, alguém que se criara sozinho e aprendera desde muito cedo a se virar por conta própria, aprendesse a conviver com alguém como você, que fora cercado de todos os mimos e carinhos desde muito pequeno. Você, Sungmin, tampouco me entendera. Não era fácil para alguém que tinha tudo assimilar que alguém podia não ter nada. Você carinhoso, delicado e dócil como um filhote, eu rude, grosseiro, bastante mal educado, exatamente como o garoto de rua que eu era.

Nossa história era apenas mais um clichê que já fora contado um milhão de vezes. O órfão perdido e o garoto rico, que tiveram os caminhos cruzados e descobriram-se ainda muito jovens em pequenos gestos e poucas palavras, aliviando as carências e necessidades um do outro, tornando-se inseparáveis e dependentes da presença de cada um na vida insignificante que o outro levava. Ainda sim éramos únicos, épicos. Tão diferentes em toda aquela similaridade que mesmo que nossa história fosse contada mais um milhão de vezes, ainda haveria alguém que pediria para ouvi-la de novo.

Havia pessoas como nós a cada esquina, amores como o nosso em todo o canto, vidas e experiências iguais. E ainda sim era tão deliciosamente diferente, simplesmente porque se tratava de nós dois, e isso mudava tudo. Pra mim era mais do que o suficiente.

Mas toda aquela história teria que ficar pra depois, no momento eu tinha mais com o que me preocupar. Olhei em volta, pensando em uma possível trajetória para a nossa fuga caso eu resolvesse simplesmente pegá-lo pela mão e o puxar pra longe dali para nunca mais voltar. Não demorou muito pra eu perceber que não daria certo. Havia gente em todo canto, cercando todas as portas e impedindo uma passagem rápida.

Amaldiçoei todas as gerações de cada pessoa que estava naquele maldito funeral, incluindo crianças e tudo. Odiava-as há tempos, a presença delas nunca me servira de nada e isso não mudaria agora. E elas nem estariam ali se não achassem que poderiam tirar algum proveito da situação. Nada atraía mais gente falsa do que um rico morto. Eu ainda estava considerando seriamente se eu achava mesmo uma pena o fato de esse rico ser o seu tio. O que tornava você, Sungmin, o único herdeiro da família, a pessoa mais rica da cidade. Não demorara muito e aquele bando de abutres já estavam ali, te bajulando, esperando ganhar uma fatia daquele enorme bolo que significava sua herança. Eu tinha tanto nojo daquilo tudo que podia vomitar.

Eu girava o corpo de um lado para o outro, começando a me sentir frustrado por não conseguir bolar um plano que prestasse. Eu era inteligente e sempre soubera disso, minha cabeça funcionava de uma forma diferente da das outras pessoas. Sempre fui capaz de notar os menores detalhes nas situações que aconteciam ao meu redor, coisas que passavam despercebidas aos olhos alheios – isso me possibilitava ver o mundo por um ângulo totalmente diferente do esperado. Eu via as coisas com muito mais clareza e agilidade do que as pessoas normais.

Isso me livrara diversas vezes das situações mais inusitadas que se possa imaginar. Eu saíra impune de muitas das armações que aprontei na vida por ser mais sagaz que os outros. Era útil e nos servira bem até hoje, eu não tinha do que reclamar. Mas claro que, como tudo tem um preço na vida, com esse pequeno dom não era diferente. Por reter muito mais detalhes do que uma pessoa normal, estar em lugares muito cheios me deixava vulnerável a uma torrente infinita de informações indesejadas e, ainda sim, impossíveis de não serem notadas. Era uma infinidade de coisas inúteis, muito mais do que eu conseguia suportar. Esfreguei os olhos, irritado. Eu mal conseguia ouvir meus próprios pensamentos.

Me aproximei de você, buscando sua presença como refúgio para a minha frustração, o turbilhão de sentimentos e ideias que passavam pela minha cabeça ao mesmo tempo me deixavam tonto e confuso, e você funcionava pra mim como um catalisador para as mesmas. Era só estar perto, tão somente sentir sua aura calma e pacífica me invadir, para tudo se esvair rapidamente. Então só sobrava você e o bem que me fazia.

Cheguei por trás do banco onde você estava, tocando seu ombro levemente. Você se virou devagar, e foi só seu olhar encontrar o meu para eu ser arrastado para aquele mar revolto que eram seus olhos. O misto de emoções era tão grande que eu demorei algum tempo para me recuperar e perceber que toda aquela tristeza não era minha e sim sua.

Me abaixei ao seu lado, tomando suas mãos geladas entre as minhas, tentando passar uma segurança que eu adquirira de você com o passar do tempo. Toda a sua confiança em mim me levara a acreditar que eu sempre daria um jeito em tudo, não importava como. Não disse nada, nem você tão pouco. Não era necessário. Me tira daqui. Eu praticamente podia ouvi-lo berrar em seu desespero interior.

Levantei-me depressa, meu desejo de tirá-lo dali renovado, e eu faria isso nem que tivesse que enfrentar a maior das multidões, ora se não era pra isso mesmo que serviam as bombas. Não demorou muito e meus olhos encontraram uma figura maciça no meio de toda aquela gente e eu quase sorri – era tudo o que eu precisava. Era Shindong.

Shindong era o gordo filho da vizinha, rico e mimado até o ultimo fio de cabelo, o garoto mal cabia sentado na cadeira onde se encontrava. A mãe, em algum momento da vida dele, o convencera de que toda aquela gordura era saudável e muito bem aceita na sociedade em que viviam. Claro que não era, mas, bom, cada um que se iluda com aquilo que lhe convém.

Mas o fato era que Shindong faria qualquer coisa – e eu estou dizendo qualquer coisa mesmo – por um prato extra de comida, e dava pra ver pela sua atual cara de aborrecido que não havia muita comida por ali. Me adiantei até ele, ensaiando um sorriso que eu esperava que soasse simpático o suficiente para conquistar sua confiança.

"Olá, Shindong! Como vai você?", indaguei cordialmente.

"O que você quer?", ele perguntou de forma um tanto grosseira "E como sabe meu nome? Você não é o mordomo ou sei lá o quê do menino Sungmin? Eu não falo com empregados"

"Ora, não seja ridículo!", retruquei perdendo a paciência, ele arregalou os olhos e eu dei de ombros, eu não tinha tempo pra gente idiota "Me diga, está com fome?"

Sua expressão espantada rapidamente deu lugar a uma muito interessada, parecia que agora ele falava com empregados.

"Estou morrendo de fome, mas não tem nada aqui para comer...", ele respondeu.

"Oh, eu posso te arranjar o que comer", falei alterando meu tom de voz para um mais sugestivo, tentando seduzi-lo com a proposta.

"Sério? O que?"

"O que você quiser, pelo dia inteiro, é só você escolher", Bingo! Eu tinha dito exatamente o que ele queria ouvir, tanto que ele quase deu um pulinho de excitação na cadeira quando eu terminei de falar, ainda bem que ficou no quase, eu temia pela vida da cadeira, coitada.

Mas então ele me fitou sério, e sua expressão de felicidade murchou um pouco.

"E o que você quer em troca?", Eu sorri, tão inteligente esse garoto!

"Ora, nada demais!", abanei a mão levemente, sorrindo. "Veja bem, eu só preciso de uma pequena distração para que eu possa fazer uma coisa e não estou conseguindo porque tem muita gente aqui"

"E o que você vai fazer?", indagou, curioso.

Não é da sua conta. Tive vontade de responder, a curiosidade dele não me era nem um pouco conveniente.

"Nada demais, meu caro, nada demais", respondi vagamente, olhando para o nada com uma expressão sonhadora "Nada que vá te atrapalhar a passar o resto do dia a apreciar as iguarias de nossa cozinheira. E, posso te garantir, ela cozinha como ninguém!"

Seus olhos se iluminaram de uma alegria que para sempre seria só sua. Eu sorri, satisfeito com a minha genialidade.

"Mas que tipo de distração estamos falando?", ele perguntou.

"Bom, isso eu vou deixar a sua escolha!", respondi voltando a te procurar com os olhos; eu tinha muito mais com o que me preocupar "Tenho certeza que você pode pensar em algo bom o bastante. Me dê cinco minutos para avisar para a cozinheira que ela vai ter visitas e, quando eu estiver de volta, pode começar, ok?"

"Ok...", ele não parecia muito seguro.

"Vamos lá, Dong-Dong! Estou contando com você!", Dei um ultimo sorriso cheio de confiança e sai, me encaminhando à cozinha as pressas e a encontrando – para o meu desespero – completamente vazia; corri para a pequena casa dos empregados que ficava nos fundos da mansão e escancarei a porta sem nem ao menos bater. Me deparei com a cozinheira sentada na sala ao lado do mordomo, seu marido, e de outras duas empregadas da casa, todos assistindo a televisão sem parecer se preocupar com nada. Pelo menos alguém naquele lugar não estava preocupado em fingir ser o que não era. Avisei-a da pequena visita que Shindong faria a cozinha, dando uma desculpa qualquer para justificar o fato de ela ter que passar o resto do dia cozinhando para o filho do vizinho, e voltei correndo, deixando-a resmungando que não podia nem curtir a morte alheia em paz.

Quando cheguei de volta à sala onde o velório estava sendo realizado, deparei-me com um tumulto perto de onde eu deixara Shindong e percebi que a distração já estava armada. Parei uns instantes, curioso para saber o que ele aprontara, e qual foi a minha surpresa ao ver – quando o circulo que tinha se formado à sua volta se abriu para deixar sua mãe passar – que o garoto tinha se jogado não chão e estava lá, a se estrebuchar como se sua vida dependesse disso. Sacudia-se tanto que, se não tivesse sido eu a armar toda aquela merda, tinha eu mesmo pego o telefone e chamado uma ambulância.  

Dei uma última risada antes de voltar a concentrar toda a minha atenção no que tinha que fazer. Te procurei com os olhos mais uma vez e lá estava você, abençoadamente sentado exatamente onde eu o tinha deixado. Esse é o meu garoto.

Corri até você, aproveitando que a atenção de todos estava totalmente desviada agora para a mãe de Shindong, que começara a berrar desesperadamente que seu filho ia morrer e, sem pensar duas vezes, te puxei pelo pulso e corri contigo para fora. Passamos pelos fundos, dando a volta na casa dos empregados e correndo através dos portões de trás da propriedade. Descemos a rua numa corrida desabalada, eu corria com todas as minhas forças sem jamais soltar sua mão, sentindo que o forçava a correr comigo - você provavelmente não tinha forças para aquilo – mas não me importava, se fosse necessário eu o pegaria no colo e continuaria correndo.

Continuamos a correr na próxima rua e depois na próxima, até que eu me adiantei por uma abertura estreita entre duas casas, indo parar na rua de trás. Atravessamos e demos de cara com um grande muro que cercava um prédio que fora abandonado há muito tempo atrás. Havia um buraco no muro que fora tampado por uma grande quantidade de grama que crescera além da conta pela falta de cuidado. Passei pelo buraco e o puxei pra dentro.

Estávamos no que antes fora a área de lazer do prédio, era um playground muito velho, a caixa de areia já tinha sido totalmente coberta pela grama, o gira-gira pendia perigosamente para um lado, havia mais um ou dois brinquedos que eu já não conseguia reconhecer o que eram de tão quebrados e enferrujados que se encontravam. A única coisa que parecia resistir de pé era o balanço, que ainda tinha certos vestígios da tinta azul que o cobrira um dia. Testei um dos lugares e ele rangeu sombriamente, mas permaneceu firme, então sentei você nele, te fitando com cuidado.

Você arfava dolorosamente, havia lágrimas em seus olhos que ameaçam a despencar a qualquer segundo – que eu não consegui definir se elas resultavam do esforço da corrida ou da dor que você sentia. Seu rosto estava suado e você parecia exausto.

Suspirei, tirando o seu paletó e o jogando de qualquer jeito no balanço vazio ao lado, tirei do meu próprio um lenço branco e sequei o suor que escorria por sua testa e bochechas, afrouxei o nó de sua gravata e abri os dois primeiros botões de sua camisa imaculadamente branca, então passei as mãos em seus cabelos milimetricamente arrumados, desgrenhando-os e o deixando mais parecido com o Sungmin que eu conhecia e gostava.

"Assim está melhor, hn?", indaguei com um sorriso no rosto. 

Você não me respondeu, sequer me fitava, afinal. Encarava o nada ainda com aquela expressão vazia.

"Vamos Min, fale comigo", pedi, sacudindo-o de leve, agoniado.

Nada. E eu já estava farto de toda aquela merda acumulada. Puxei-o pelo braço bruscamente, o fazendo ficar de pé frente a mim; sentia a raiva subindo a cabeça e que podia socá-lo se você não parasse com aquilo.

"Por que raios você está tão triste, afinal?", indaguei, mal conseguindo controlar o volume de minha voz "Do que tanto sente falta, hein?"

Te peguei pelos ombros e te sacudi com violência, estava começando a me desesperar, você insistia em permanecer mergulhado naquele torpor do qual eu começara a me sentir incapaz de arrancá-lo. Quando finalmente parei, você se limitou a piscar, e as lágrimas acumuladas em suas pálpebras rolaram pelo seu rosto pálido.

"Me responda!" berrei, furioso com sua falta de reação "É disso que sente falta?", e então eu levantei a manga de sua blusa, deixando a mostra uma quantidade surpreendente de vergões roxos em sua pele alva "É para isso que você o queria vivo?"

E eu me sentia tão patético como se estivesse falando com uma parede.

"Então talvez seja por isso!", e num átimo de puro ódio, abri sua camisa com um único puxão vigoroso, que fez com que seus vários botões voassem para todos os lados. Fitei seu dorso pouco definido e com tantas marcas, ou talvez até mais, quanto seus braços. Eu odiava ver aquilo, e sabia que você também: estas eram as lembranças mais recentes que seu tio deixara de presente.

O fato é que há anos a imagem de família perfeita que vocês haviam criado não passava mesmo disso, uma imagem. Desde que sua tia falecera de uma doença incurável, seu tio passara a te tratar como um estorvo, uma mera presença que não fazia nada mais do que lhe trazer lembranças e recordações de tempos que já não poderiam mais ser vividos. E pensar que um dia você chegara a sorrir quando alguém lhe dizia que você era parecido com ela. O amor de seu tio pela mulher falecida o enlouqueceu, e como se não bastasse passar seus dias a embriagar-se para esquecer da dor, ele também passou a descontar em você a frustração de não poder tê-la novamente, te amaldiçoando por ser tão maravilhosamente parecido com a falecida.

Isso significava ter que passar dias e mais dias à espreita, o esperando chegar pronto para a próxima surra. Com o tempo o medo se tornou o nosso maior companheiro e amigo, pois aquele homem horroroso pouco se importava se nos pegaria despreparados, era tão somente chegar para todo aquele inferno recair sobre nossas cabeças cansadas. E nas vezes em que eu conseguia te livrar disso, eu mesmo recebia o castigo, só por não ter em quem mais descontar a raiva.

E você se recusava a ir embora como tantas vezes eu havia proposto. "Ele é minha família" e "Ele não sabe o que está fazendo", "Você não vê que eu tenho a obrigação de cuidar dele?" Eram suas desculpas mais frequentes para ficar e, no fim, eu sempre aceitava, submisso às suas vontades como você era às vontades dele.  Então aquela droga de imagem de família perfeita só servia mesmo para a comodidade dos vizinhos, que puderam ouvir nossos gritos de desespero por todos aqueles anos sem fazer porra nenhuma.

Admito que muitas das marcas em seu corpo eu conseguia evitar, mas não podia dizer o mesmo das feridas que lhe marcavam a alma exausta. Você já tinha perdido demais em seus poucos anos de vida, era por demais doloroso vê-lo ter que suportar mais aquilo. Então ele finalmente se fora – depois de enfiar o carro num poste numa das muitas vezes que dirigira bêbado – e eu, um hipócrita de primeira linha – nem conseguia juntar falsidade o suficiente para fingir que estava triste. Mas ali estava você, à beira de uma insanidade que eu não estava disposto a deixar você cair.

"Me diga, Sungmin, é disso que sente falta? Daquele filho da puta vivo pra poder voltar pra casa mais uma vez e te bater como ele faz com as vadias dele na rua?"

A última coisa que senti foi o peso de sua mão sobre o meu rosto. Lembro de te ouvir se desculpar por isso muito depois, mas duvido muito que tenha realmente se arrependido. Eu não me importava, de qualquer forma, pois quando voltei a te fitar tudo que eu vi em você foi um misto de raiva, mágoa e uma abençoada consciência que brilhava em seus olhos muito vivos.

"Não fale assim comigo", você sussurrou, desamparado, cobrindo o corpo com a camisa sem botões.

Eu sorri institivamente, sentindo meu rosto arder por causa do tapa. Dei um passo à frente, mas você institivamente andou dois para trás, impedindo que eu me aproximasse. Você passou as mãos pelos cabelos já desgrenhados e olhou para os lados, sua respiração rascante era o único som que preenchia o ar frio daquela tarde, qualquer pessoa podia confundir suas atitudes com confusão, mas eu sabia que você estava apenas tentando segurar o choro que ainda estava preso em sua garganta.

"Sabe, tudo bem chorar, se você quiser..." sussurrei, voltando a dar um passo em sua direção, cauteloso "Sou só eu Min, lembra? Só eu, como sempre, não precisa ter medo"

Então você me fitou com seus olhos enormes cheios de medo e de dor e extinguiu a distancia que ainda restava entre nós dois com um passo tímido. Encostou a cabeça em meu peito e soluçou baixinho. "Fale" pedi, com os braços ainda inertes ao lado do meu corpo "Me conta o que dói tanto, Minnie"

"Por que todo mundo que eu amo vai embora?" você indagou, com a voz fraquinha, meio embolada "Eu sou tão ruim assim? Por que ninguém quer ficar comigo, Kyu?"

Passei meus braços em volta de seu corpo trêmulo, você finalmente tinha começado a chorar e seus soluços doloridos ecoaram pelo parque vazio e foram carregados pra longe pelo vento, e por onde aquela brisa passasse ela deixaria um pouco de sua dor e mesmo as pessoas mais felizes olhariam para o céu naquele dia perguntando-se de onde viera aquela melancolia repentina, e o céu choraria contigo, e elas saberiam que, em algum lugar do mundo, havia alguém muito pequeno que carregava uma dor muito grande, grande demais pra se suportar.

"Eu estou aqui, Min... Ainda estou aqui com você" sussurrei em seu ouvindo depois do que me pareceram horas.

Você riu, um riso cheio de amargura. Levantou a cabeça para que seus olhos pudessem encontrar os meus, e seu olhar risonho continha qualquer coisa que eu não sabia realmente dizer o que era, era como se você soubesse de alguma coisa que eu nunca saberia.

"E quanto tempo você vai demorar pra ir embora, assim como todos os outros foram?"

Tive vontade de te apertar mais contra mim e prometer que tudo daria certo dali pra frente, que eu nunca iria embora, que nada nunca poderia nos separar. Mas aquele tipo de frase não estava apta a ser dita por alguém como eu, não era convincente o suficiente para nós. De qualquer forma eu duvido que elas tivessem soado tão bem aos seus ouvidos naquele momento ou em qualquer outro. Você queria esperança, felicidade pura e genuína, e não mais um monte de promessas falsas. E talvez nada fosse ficar realmente bem, afinal.

"Então vamos embora daqui" propus, sabendo que era a coisa certa a fazer.

"Embora?" você indagou, confuso.

"Sim, vamos pra longe daqui, viajar pelo mundo e deixar tudo isso pra trás" eu ganhava mais confiança a cada frase que pronunciava. Sabia que era o certo porque eu vivera assim uma vez, antes de te conhecer, antes de me prender a ti e viver sua vida adotando-a como minha. Antes disso eu vivia livremente, acostumado a ir embora quando as coisas começavam a me aborrecer.

Estava acostumado a deixar, abandonar, esquecer. Corria sempre em busca daquela tal felicidade tão bem descrita por todos e que na verdade tão poucos realmente experimentaram. Estava acostumado a deixar tudo para trás sem nunca nem sequer olhar para trás. Antes tudo o que não me fazia bem era facilmente descartável. Mas isso tudo foi antes, antes de você.

"Suas lembranças vão te acompanhar aonde quer que você vá, Cho Kyuhyun" você citou, sabiamente.

"Sim, mas nada me impede de que eu crie novas lembranças, lembranças melhores..."

"Que não vão apagar..."

"Mas ao menos amenizar toda essa dor"

Você sorriu, e dessa vez era um sorriso bom, verdadeiro e cheio de esperança. Sim, você queria uma vida melhor, sem marcas, lágrimas ou infelicidade, e aquilo não estava ali, nós dois sabíamos disso.

"Me deixa te apresentar o meu mundo, Lee SungMin..." sussurrei em seu ouvido

E você não hesitou, simplesmente sorriu deixando seus olhos brilharem, ansiosos. Eu confio em você.

"Me leva" você respondeu.

E era tudo o que eu precisava ouvir. Te peguei pela mão, saindo daquele lugar pelo mesmo lugar que entrara, e passando o braço em torno de sua cintura, voltamos a subir as ruas numa calma e felicidade contagiantes. Não era como se tudo estivesse resolvido e esquecido, mas agora não havia nada que pudesse te prender, nós tínhamos uma herança para gastar e um mundo inteiro para conhecer, não havia com o que se preocupar. Seus olhos novamente me diziam que eu podia cuidar de tudo.

"Pra onde vamos agora?" você perguntou, enquanto passávamos pelo beco entre as casas.

"Bom, de começo nós vamos pra China" respondi, resoluto.

"E por que a China?"

"Eu prometi a uns amigos que iria pra lá um dia"

"Você já teve amigos? Já teve alguém além de mim?" eu ri do seu tom surpreso.

"Já, mas isso faz muito tempo"

Senti seus olhos curiosos sobre mim, mas essa não era uma coisa sobre a qual eu realmente gostava de falar. Ficamos em silencio durante quase todo o resto do trajeto; estávamos quase em frente casa quando você tornou a falar.

"Kyu?"

"Hn?"

"Promete que nunca vai embora?"

O som da minha risada ecoou pela rua vazia.

"Prometo que te levo sempre comigo"


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Notas finais do capítulo

Então chegamos ao final asjkfhaosfiuh Queria dizer que se você chegou até aqui, parabéns, você agora faz parte da minha história! :D Você pode não ter ideia do quão isso é importante, mas mesmo assim, obrigada! ♥
Queria agradecer especial e IMENSAMENTE á essa criatura incrível que atende pelo nome de Beatriz vulgo VenusNoir, que hoje me proporcionou uma das maiores felicidades da minha vida. Sei que talvez você não ache muito, mas pra mim é tudo! Obrigada Bia ♥
Olha todo esse sentimentalismo gente alkjfhaoiuf Mas hoje estou naqueles dias em que agente percebe que é a pessoa mais sortuda do mundo apenas por ser rodeada por tanta gente maravilhosa. Eu não seria nada sem cada um de vocês, juro!



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