O Jardim Secreto escrita por MarinaHinacha


Capítulo 3
Terceiro


Notas iniciais do capítulo

Atualização: 08/08/2022.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/176064/chapter/3

O loiro passa a mão na cabeça. Ele esfrega o lugar onde foi atingido. Depois ele leva a mão até pará-la na frente da cara. Reconhece mancha de sangue. Ele ignora. Pode perdoá-la facilmente. Só de escutar a voz dela, ele sorrir enamorado. Com a claridade do abajur, o homem pode contemplar a beleza da baixinha mulher.

— Não dirá nada?! — ela exclama:

— não temo você! Está ouvindo?!!!

O homem tem músculo e altura de um exemplo perfeito de herói grego mitológico. “Meu Deus se eu entrar em luta corporal contra ele, ele vai me matar no primeiro soco!”. Ela para de se mover quando sente a porta da varanda atrás das costas. Leva uma mão à maçaneta. A outra mão da Hyuuga mantém apontado o guarda chuva quebrado na direção do invasor. O homem perde o sorriso:

— Por que tu te assustas? — só há confusão na face dele:

— tu és Hinata. Não és?

— Como sabe meu nome?! Você é um stalker?! — ela abre a porta e anda para trás, entrando na varanda.

— Aonde tu vais? — ele avança na direção dela:

— eu quero conhecer-te.

Hinata se desespera e joga o guarda chuva na direção dele. Vira-se de costas para ele e dispara com toda sua velocidade. Alcança o parapeito. No entanto, quando está subindo na estrutura, dois braços musculosos entornam a cintura dela. É puxada para trás. Grita. Esperneia. Lacrimeja. Teme o que lhe acontecerá. A polícia não chegará a tempo! Um stalker pelado em sua casa só deve querer uma coisa com ela. E ela prefere morrer a passar por essa coisa.

— O que farias?!!! — pálido ele vira o corpo pequeno de frente para si. E a ergue bem no alto a segurando pelas axilas. Ela o chuta e tenta arranhá-lo na face. Ele se identifica:

— sou Naruto Uzumaki! Tu não me reconheces, Hinata?

— Que?!!! — a perolada abre as pálpebras. De arregalados perolados:

— anda espionando até o que ando lendo?!!!

— Ha! Ha! Ha! — ele gargalha e a abraça. Acarinha as costas dela:

— vivia eu no livro. Há graça viver em um livro e não poder ler a história que nele há. Dentro do livro só via eu escuridão. — Os lábios dele se encurtam. E coloca a pequena perolada no chão da varanda:

— um instante. Se vivia eu no livro, por que saí de um quadro?

— Quadro? — Hinata recua um passo.

— Um quadro. Pelas minhas mãos senti que não era como um dos quadros que há no castelo do rei de Samas. Mas ainda sim, um quadro.

— Qual dos quadros? Eu tenho vários no meu ateliê.

— O que seria um ateliê?

— Não importa. Apenas responda qual dos quadros!

Ele em nada se ofende com o tom gritante dela:

—  Desconheço. Com minhas mãos, senti eu que era um quadro. Mas tudo escuro estavas. Vivia eu na escuridão do livro. E de repente, pá, a bela imagem de um jardim. Um jardim muito parecido com meu jardim secreto. Eu não pensei duas vezes, corri eu pela escuridão até alcançar a imagem. Fiquei eu no jardim e percebi que não conseguia sair de lá. Era como se o mundo fosse limitado àquele jardim. Até que encontrei um quadro suspenso no ar. Todo branco ele era. Branco de luz. Depois de apreciar o jardim, decidi eu encostar no quadro de luz e descobri que poderia atravessá-lo.

O espaçamento que Naruto dividia com os outros escravos se tratava de ruínas de um castelo. Constantemente vigiadas. Em uma madrugada ele descobriu uma passagem secreta que se introduzia no subterrâneo e que o levou para um jardim abandonado. Muito longe das ruínas. Poderia facilmente fugir. Mas não o fez. Se fugisse, seus irmãos escravos seriam punidos. Manteve segredo. Usaria aquele lugar apenas para seu descanso.

Hinata está perplexa. Tinoni-Tinoni-Tinoni. É a sirene da viatura. O som da sirene traz a mente da Hyuuga para a realidade. “Não tem como eu acreditar nisso!” pensa ela indignada consigo mesma por crer em um breve momento no relato do estranho pelado. O tom sincero dele soou convincente. Mas Hinata não pode se esquecer da situação na qual se encontra. O som da sirene está baixo, mas como é início de madrugada, as ruas estão praticamente vazias. Dessa forma os policiais chegarão logo. Porém, após a curta conversa com o estranho, Hinata percebe que seu temor diminuiu. E conforme o tempo progride, ela não sente intenção dele de atacá-la. Repara no rosto masculino e percebe os três riscos pretos em cada bochecha. Um risco acima do outro e na horizontal.

— “Coitado. Ele até se caracterizou como Naruto. É um nível de stalker muito avançado. Precisa urgente ser internado em uma clínica psiquiátrica.” Naruto, por que não veste algo?

— Claro. Peço-te perdão por isto também. Perdoe-me minha indecência. — De testa franzida ele reclama:

— seja quem me prendera no livro, poderia ter tido ao menos a “bondade” de aprisionar-me com vestes.

Nem com expressão de raiva o loiro se enfeia. Observa a Hyuuga. Ela também repara que ele fala como o protagonista do livro.

— Eu vou buscar algo para cobri-lo. Venha comigo. — Apressada ela anda pelo quarto. Evitando olhar para o que há entre as coxas grossas e másculas.

— Agradeço-te. — Naruto a segue, mas antes de passar pela porta, ele olha para trás:

— de onde é isto?

Ele se refere ao barulho da sirene que está mais alto.

— É um passarinho.

Ela mente. Evita explicar o que acredita que ele saiba. Pois ele só finge ser Naruto, no entanto, vive na mesma era que ela para saber o que é uma sirene. Do armário, Hinata pega uma toalha e se move até o loiro que se senta na beira da cama.

— É tão macio. — Ele sorrir apertando o colchão. Sobe e desce a bunda sobre a macia superfície. E fala todo enamorado:

— é aqui que tu beijas o livro. Adoro quando beijas o livro porque eu recebo o beijo. Teu beijo é doce.

Hinata espreme a toalha. Fitando o homem sorrir carinhosamente. “Como ele consegue me espiar enquanto leio?” Leu o livro somente antes de dormir. “O jardim secreto” foi sua companhia antes de uma boa noite de sono. Frequentemente o leu com porta e janela trancadas. E em algumas noites quando leu na varanda, ou de janela aberta, não tinha como ser espiada do outro lado da rua. Conhece de vista quem mora na casa do outro lado da rua, de frente para a sua, e quem mora nas casas vizinhas a essa. Tem certeza que esse homem loiro não mora em nenhuma delas. Nunca o viu antes. “Deus então como ele sabe que beijo o livro durante minha leitura?”. Nem mesmo Ino a vê fazendo isso. Nunca explicará a alguém sua relação com livros preciosos. Ter um momento, sozinha, para ler algo que ama é um ato íntimo. Quando imerge no mundo da leitura se deleita de prazer. Descrever isso para uma pessoa que não compartilha dessa sensação seria constrangedor. — Tome, por favor, cubra-se. — Entrega a toalha nas mãos dele. — Eu não demoro, por favor, me espere aqui.

— Esperar-lhe-ei.

“Quem fala isso hoje em dia, Senhor?!” Hinata pensa cada vez mais surpreendia pelo modo natural que o homem usa tal linguagem. Ele sorrir. Fica de pé e coloca a toalha em torno da cintura. Começa a amarrá-la. Hinata sai devagar do quarto e depois corre pela casa. Ofegante chega à porta da saída. E se alivia quando avista a viatura. São dois policiais de colete e arma na mão. Um deles tem um megafone. Alguns vizinhos espiam das janelas e das portas de suas casas. Hinata reconhece Genma aliviado ao vê-la. Ela se aproxima dele. Abre o portão da cerca e se detém na frente do Shiranui.

— Senhorita Hyuuga, está bem? — ele percorre a vista pelo corpo dela, procurando algum machucado:

— pelo que relataram, trata-se de um caso de invasão. Ele lhe fez algo?

Nesse instante, Hinata de calma restaurada, não tem vontade de pedir aos policiais que levem o estranho para a cadeia. Ela se recorda de todo o tempo que levou pesquisando sobre o livro. Pesquisou em várias línguas e recorreu até o lado trevoso da internet. Nenhuma resposta encontrou. O sujeito que se diz Naruto obviamente conhece o personagem para aperfeiçoá-lo tanto. Seria esse estranho a chave para descobrir sobre o autor do livro e descobrir o final da história? Refletindo nisso, há algo que Hinata percebe. A última página escrita do livro descreve Naruto pelado, tomando sol, depois de se banhar em um lago. E o homem loiro em seu quarto está nu.

— Senhorita Hyuuga? — Genma se preocupa. Considerando que ela esteja traumatizada com algo.

— Não. — Hinata responde e aperfeiçoa o tom seguro de sua voz:

— ele não me fez nada.

Genma Shiranui se impressiona:

— Nada? Conseguiu feri-lo? Prendeu ele em algum lugar da casa?

— Não. Não foi isso. Estou até com vergonha de dizer a verdade. Senhor policial. — Sem jeito ela esfrega a testa:

— não era um invasor. Era um amigo estrangeiro que me fez uma surpresa. Eu estava de recebe-lo amanhã de manhã. Ele morará comigo por um tempo. Eu deixei as chaves embaixo da porta. Pensei que ele chegaria cedo. Quando eu estivesse dormindo. Só que ele chegou cedo até demais há! há! há! ele quis me dá um susto e conseguiu. Eu não o reconheci no escuro há! há! há! quando finalmente reconheci ele, eu já havia gritado por ajuda. Estou morrendo de vergonha. Não sei onde enfiar minha cara.

A tranquilidade genuína e o constrangimento evidente dela são convincentes para Genma.

— Não se sinta mal. Enganos acontecem. — Ele coloca uma mão no ombro dela e depois olha para seu colega:

— Izumo foi um alarme falso. Mas vou verificar a casa dela e depois volto.

Izumo Kamizuki o assente. Tem cabelo liso e curto, estilo emo, com uma franja grande cobrindo o olho direito.

— Tudo bem se eu só verificar, correto? — Genma pergunta para Hinata.

— Claro. É o seu trabalho. Mas pedi para meu amigo tomar banho. Não sei se ele já acabou.

— Não tem problema.

Ela conduz o policial para dentro da casa. Vai acedendo as luzes conforme avançam de cômodo a cômodo. Ele estranha as gotas de tinta pelo piso. A perolada só reparou nelas nesse momento. Quando se entra na casa da Hyuuga se adentra na sala e se seguir a esquerda, entrará na cozinha. Se seguir reto pode escolher o corredor ou a escada. Na porta à esquerda, no final do corredor, a uma entrada para o ateliê. E para a direita, uma porta para o quintal dos fundos. Genma decide seguir o rastro de tinta. As manchas se dividem entre escada e corredor. Mas elas estão mais evidentes no corredor. E é nessa segunda opção que ele vai. Chega ao ateliê. Ele observa um dos quadros caídos com a tela voltada para cima. A tela se cobre com uma mancha cinzenta bem escura. As tintas se misturaram. Mais manchas de tinta estão espalhadas pelo piso. Percebe-se em várias delas a forma de pegadas incompletas.

— O que aconteceu aqui? Senhorita Hyuuga?

Hinata não o responde. De olhar fixo no cenário ela se lembra da fala do loiro:

“— um instante. Se vivia eu no livro, por que saí de um quadro?

Seus perolados analisam o chão e percebe que de fato as pegadas do loiro se iniciam a partir do quadro caído. Seu coração quase salta pela boca. Não deixou nenhuma chave sob qualquer uma das portas de sua casa. Segue com as chaves em sua mão. Quando desceu ao andar de baixo, ela encontrou as chaves penduradas em um pino na parede. Tanto a porta do ateliê e a da frente não apresentam sinal de arrombamento.

— “Será que esqueci a porta dos fundos aberta?

É a única explicação de como Naruto entrou na casa. Não pode aceitar que ele veio de um quadro! Não pode! Seria loucura! Seu temor cresce quanto ao Shiranui. Ele como um policial treinado pode perceber o lance das pegadas. Pensando direito. Poderia explica-lo que Naruto esbarrou no quadro e sem querer pisou na tinta fresca. Porém, crer que o Shiranui deduziria algo simples por conta própria.

— Senhorita Hyuuga? — Genma pega de volta a atenção da azulada:

— diga a verdade. Está sendo ameaçada? Para mentir e dispensar a ajuda policial?

— Não! Senhor Genma! De modo algum. Juro mesmo. É que escutei mesmo um barulho quando eu estava na cama. Mas retornei a dormir. Pelo jeito o meu amigo usou a chave do ateliê. Tenho certeza que foi um acidente. Uma pena que ele acabou derrubando o último quadro que pintei. A tinta ainda estava fresca. Venha, vou apresenta-los. Se ele ainda estiver no banho peço para ele pôr a toalha e sair um instantinho.

Ela se retira do ateliê e aguarda o policial atrás da porta. O Shiranui continua imóvel e dá mais uma observada. Hinata se esforça para parecer calma. Ela o chama por gesto de mão. Genma acaba atendendo ao chamado e ela se apressa para apagar a luz do ateliê e encostar a porta. Ela o guia para o quarto e o Shiranui se resume a um pensamento triste, por estar na casa da Hyuuga, porém, não do jeito que ele gostaria.

CONTINUA


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Jardim Secreto" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.