Ao sol, em um campo que figuraria com perfeição em algum lugar do paraíso, está deitada a Alma, livre em sua imensidão humana que, de modo paradoxal, é também seu cárcere. Tem cabelos de ouro, esparramados na grama. Tem pele de vidro, recendendo na luz. Seus olhos estão fechados, seus lábios estão sorrindo. Há uma luta pela frente, ela sabe, mas por enquanto seu desejo é ficar; permanecer. Aperta com mais força a mão que segura a sua.

Deitado ao sol, bem ao seu lado, está o Anjo. Seu rosto é plácido, é forte; remete à imponência divina. Os cachos dourados emolduram-lhe as feições e a mão que não segura a pequenina mão da Alma humana, mantêm segura a espada que lhe fora confiada pelo próprio Pai Celeste. Seus olhos também estão fechados e ignoram que seu inimigo, que deseja àquela Alma tanto quanto ele próprio, está deitado do outro lado, segurando-lhe a outra mão.

O Diabo está deitado ao sol, em um campo que nada tem a ver com ele, deslocado na beleza do cenário. Segura a mão da Alma delicada com força demais e com rudeza – não sabe ser gentil nos gestos, mas sabe ser manso na língua – e pensa, pensa muito em como vai convencê-la a descer com ele até os portões do Inferno. Mas por enquanto o calor da mão humana em contraste com o frio da sua é o bastante, e ele também fecha os olhos.

Ao sol, em um silêncio completo e numa calmaria plácida, estão deitados a Alma, o Anjo e o Diabo.