Premonição 3: Redenção escrita por Lerd


Capítulo 10
Posso Te Dar Meu Coração?


Notas iniciais do capítulo

Capítulo final da fanfic e da trilogia iniciada em "Sem Saída". Espero que gostem!



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Bem-aventurados aqueles que guardam os seus mandamentos, para que tenham direito à árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas.” (Apocalipse 22:14)


Max e Bimbo


Tudo doía. Para Melissa, especialmente, a dor era infindável, infinita, irreparável. Os dois homens que ela mais amara na sua vida, mortos. Da mesma exata e maldita maneira. Pelo mesmo exato e maldito motivo. Pela mesma exata e maldita lista. Seria poético se não fosse trágico. Para ela, principalmente. Doía. Forte.

Angel estava bem. Somerset disse que logo após eles sairem correndo atrás de Skip, o rapaz melhorou. “Estava dando seu último suspiro”, o detetive alegou, “quando magicamente voltou a vida. Um verdadeiro milagre”. Milagre. Podiam chamar assim?

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Melissa sentou-se no vaso sanitário, frustrada.

— Esse resultado tem que estar errado! Não pode ser!

Jogou o bastão no lixo do banheiro e começou a fazer um segundo teste.

— Não fica vermelho, por favor, não fica vermelho!

E o bastão não ficou vermelho. Dois testes, duas respostas diferentes. A garota suspirou e realizou um terceiro, o último. Se o resultado não fosse o esperado ela iria procurar um médico. Não havia maneira de estar grávida. A atitude dela ao tentar engravidar de Skip havia sido mesquinha, egoísta. O objetivo era nobre, mas outra criança não deveria vir ao mundo exclusivamente para salvá-la. Ela precisava vir ao mundo quando fosse a hora certa. Não era certo trazer alguém pra esse mundo por um motivo tão particular.

Retirou o bastão, ainda tremendo. O que viu a fez suspirar.

O bastão não havia ficado vermelho. Melissa não estava grávida.

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Melissa mantinha-se ao lado da cama de hospital de Bimbo segurando a mão do garoto. Era triste demais ver uma criança daquele tamanho com um aparelho de respiração tão grande conectado à ela. A loira segurava o choro. Ela estava ali para dar forças à Lily, não para fazê-la desmoronar.

— Eu não sei mais o que fazer, Mel. – Lily confessou, com os olhos cheios de lágrimas. — O Bimbo precisa de um transplante de coração urgente. O médico disse... — E tentou segurar o choro iminente. — Que se ele não for operado nas próximas trinta e seis horas... Ele... Meu amor... Ele... — E desatou a chorar, sem completar sua frase.

Melissa abraçou a amiga e tentou não chorar. Era difícil, quase impossível. Retirou forças de um lugar que ela não sabia que existia, para manter-se calma. Em seus braços havia uma mãe desesperada assistindo o filho morrer sem poder fazer nada para salvá-lo.

— Se eu pudesse... — Melissa começou. — Eu dava o meu coração para o Bimbo.

— Eu também. A Alice, mamãe... Até o Max perguntou se ele não podia dividir o coração com o irmão! É duro, Mel. É duro. Bimbo e Max são as pessoas que eu mais amo nesse mundo... Eles são seu irmão! São o legado de Bobby.

A outra suspirou. Ela sabia. Ver Bimbo morrer seria como ver Bobby morrer novamente. Seria como matá-lo de novo, de uma maneira ainda mais forte e cruel que da primeira vez. Era injusto.

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Angel esperava do lado de fora do quarto de Bimbo, dormindo na cadeira. Melissa chegou perto dele e o cutucou, dando as notícias ruins. O rapaz ficou completamente pesaroso com o que ouvira.

— Uma criança...

E de repente sorriu. Melissa assustou-se, mas o rapaz parecia radiante, como se alguma brilhante ideia tivesse surgido em sua mente.

— O Bimbo precisa de um coração, certo?

Melissa acenou positivamente.

— Pois eu acho que nós temos um.

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— Isso é insano!

— É nossa única alternativa, nós temos que arriscar.

— Se falhar ele morre!

— E se não tentarmos também. Nós precisamos. É a única maneira...

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A cirurgia ocorreu como o planejado. Foi um sucesso. Bimbo já se adaptava com seu novo coração e parecia não ter havido qualquer espécie de rejeição. Um milagre, levando em conta as probabilidades de o doador ser 100% compatível. O garoto ainda estava fraco e precisaria de mais meses e meses de tratamento, mas já não corria risco de morte. Realmente um milagre havia acontecido, por fim.

— Angel, certo?

O rapaz acenou positivamente, analisando quem estava à sua frente. Reconheceu-a de imediato, pelos relatos de Melissa.

— E você é a Lily, né? Mãe dos garotos.

A garota mexeu a cabeça afirmativamente, e disse:

— Você sabe que eu jamais poderei mostrar o suficiente o quão grata eu sou a você, não é?

— Não foi nada. Era o que ele iria querer, de qualquer forma.

— Foi um gesto lindo, Angel! Não, foi mais do que isso... Doar o coração do seu irmão pro meu filho... Salvar a vida dele... Você e Skip são dois anjos na vida de Bimbo. Você aqui na Terra e ele lá, no céu, observando seu coração bater dentro do Bimbo...

Angel sorriu timidamente. Naquele momento ele teve a certeza de que havia tomado a decisão correta ao sugerir que o coração de Skip fosse doado à Bimbo. As chances de falha eram tremendas, mas por algum motivo divino, não ocorreram. Melissa dissera categoricamente naquele dia:

— Bimbo agora tem uma parte dos dois homens da minha vida.

E sorriu.

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O grupo estava reunido no parque que a maioria deles já conhecia, mas que não guardava boas memórias. Melissa, Alice, Lily, Kelsey, Angel, Damien, Matt, Max, Bimbo, Beth e Bludworth riam. De alguma forma todos eles estavam conectados pela lista. De alguma forma também todos eles conseguiram detê-la, em algum nível. Era quase como um piquenique de celebração, embora ninguém ali ousasse tocar no assunto. O elefante estava prostrado no meio da sala, o que deixava todos os assuntos meio que fadados ao fracasso. Eles tinham medo de reviver antigas memórias.

Certo era que o pior já havia ficado para trás. O que eles deveriam, agora, era tocar suas vidas tentando se esquecer do que havia passado. Amigos se foram, cicatrizes serão eternas. Crescer com as dificuldades, não é o que dizem os livros de auto-ajuda? Naquele momento tudo parecia ser fácil de acontecer. Não havia mais lista, por fim. Não havia mais desígnio da morte.

Mas, por quanto tempo?

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Heather saíra do hospital uma semana depois da tentativa de assassinato de Morgan contra ela. Ainda estava bastante machucada, o rapaz havia quebrado alguns ossos importantes do corpo da mulher. O rosto parecia inchado, mas naquele momento era o de menos.

— Quer ir pra casa? – Somerset perguntou, enquanto a acompanhava no corredor do hospital.

— Na verdade... Existe alguém com quem preciso conversar. E precisa ser agora.

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A conversa entre Heather e Melissa foi franca. A primeira perguntou tudo o que gostaria e deixou claro os motivos. Ela estava interessada em escrever um livro sobre Bobby e Kelsey. Contar aos outros sobre as premonições, sobre tudo.

— Esse livro pode ser a condecoração que Bobby jamais recebera pelo seu ato de heroísmo.

Melissa ponderou. Kelsey não ousaria dar a resposta antes da amiga. Se ela recusasse ver a história de Bobby sendo contada, a morena faria o mesmo sobre a sua própria.

— Se você não quiser, Melissa, eu não escreverei sobre isso. Nem um livro extra-oficial. Estou colocando as cartas na mesa: isso só vai acontecer se for oficial, se você concordar. Não existe outra maneira.

A loira estava em dúvida. Aquela era uma grande decisão. Seus pais teriam que ficar sabendo sobre Bobby para que aquilo acontecesse. Eles saberiam a verdade sobre o que aconteceu com ele, o que poderia ser uma forma de abrir uma velha ferida, trazer toda a dor do suicídio de Bobby à tona novamente.

— Eu preciso... Conversar com meus pais antes. Você entende, não é?

Heather mexeu a cabeça positivamente.

— Claro. Tome o tempo que precisar. Você também, Kelsey.

A morena concordou.

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A resposta positiva veio semanas depois. Melissa nunca contou à Heather ou à ninguém como foi a conversa com seus pais, mas, de alguma forma, eles ficaram sabendo. A curiosidade da jornalista por saber o que o casal achara disso foi extrema, mas preferiu não insistir: Melissa já estava expondo demais sua família.

Foi quando uma ideia ocorreu à cabeça de Heather.

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“Destino Final: Milagre”, escrito por Heather Diamond, foi lançado e em pouco tempo tornou-se um best-seller, recorde de vendas. Da forma que a jornalista esperava, embora não pelos meios que imaginou. Ela lançara o livro não como uma história real sobre dois adolescentes que tinham visões, mas como um livro de ficção. A decisão foi difícil, mas era a necessária: ela só iria manchar e expor a família de Bobby, tornando a imagem do falecido como a de um lunático. Kelsey também sofreria.

Por fim, Bobby acabou se tornando um herói, através de seu personagem no livro de Heather. A história escrita ali era intimamente conhecida por todos eles, e cada um dos que passaram por aquilo, reconheciam seus personagens. Alice, Lily, Matt, Damien, Kelsey, Angel, Melissa... A própria Heather! Todos estavam fielmente retratados ali, na forma de alter-egos. Não era o ideal, mas era o necessário. Heather sentiu-se orgulhosa de si mesma pela conquista. Sua carreira havia acabado de dar uma guinada...

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Somerset e Heather estavam abraçados dentro do navio esperando-o partir. O detetive a abraçava com carinho, beijando delicadamente suas bochechas. Os dois já estavam namorando há algumas semanas, e o relacionamento parecia promissor. Heather jamais esperara encontrar alguém tão diferente dela e que ao mesmo tempo tivesse tanto em comum.

— Eu te amo, sabia?

A jornalista riu.

— Eu sei.

Os dois mantiveram-se em silêncio por alguns segundos.

— Tem algo que eu sempre quis te perguntar, David. – O detetive riu ao ouvir-se sendo chamado pelo primeiro nome.

— Pois pergunte.

— É sobre aquele dia, na minha casa.

Somerset fez uma cara de frustração e bufou.

— Você me mandou perguntar.

— Eu sei. Continua.

— Você disse que teve uma premonição. Aquilo foi verdade?

O detetive riu largamente. Respondeu:

— O que você acha?

— Eu acho que não. Se fosse você teria colaborado com meu livro, certo?

— Talvez.

— Por que talvez?

— Não gosto de ser descrito.

A repórter riu.

— É ou não verdade, David?

Somerset pensou durante alguns segundos.

— Foi uma brincadeira. De certa forma eu estava a par dos acontecimentos e quis fazer uma tirada engraçada em um péssimo momento. Peço desculpas.

Heather deu com os ombros.

— Sem problemas. Não teve graça mesmo.

E os dois riram.

Foi quando uma frase fez Heather congelar. Um garoto de uns dez ou doze anos correu desesperado em direção à prancha que ligava o cais ao navio. Atrás dele sua mãe e algumas pessoas o seguiam, tentando acalmá-lo. A jornalista puxou Somerset para onde o grupo seguia, ouvindo o diálogo.

— Meu filho, espera! Você não está bem!

— Eu estou sim, mãe. Esse navio vai afundar, eu vi. Eu vi no meu pensamento.

A mulher puxou o garoto pelo braço, tentando obrigá-lo a entrar de volta no navio. Ele soltou-se com facilidade e correu em direção ao cais, obrigando a mãe a seguí-lo. Heather olhou para Somerset e os dois precisaram pensar pouco no que iriam fazer.

Heather pegou suas malas com uma rapidez incrível e começou a correr para sair do navio. Somerset à seguia, atrapalhado, confuso. Já no cais o casal viu o navio partir entre gritos felizes dos passageiros. O menino que havia saído estava sentado no chão, chorando. Sua mãe havia se sentado ao lado dele e estava abraçada com o garoto. A jornalista a ouviu dizer:

— Está bem, Tommy... Tudo vai ficar bem, amor...

E depois ouviu um estrondo. Olhou ao longe e viu o navio afundando lentamente. Um rebuliço de policiais e bombeiros formou-se rapidamente no local, enquanto Heather e Somerset olhavam apavorados para o garoto.

— Está... Acontecendo.

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Melissa deixou as flores no túmulo de Skip e virou-se para ir embora. Não queria ficar muito tempo ali, remoendo as dores da perda. Ela havia feito isso com Bobby e não fora saudável. Dessa vez ela queria só esquecer. A vida seguia, apesar de tudo... Sua faculdade, inclusive. Apesar de tudo ter mudado, pouca coisa realmente se modificou. Os maiores problemas, medos e inseguranças que ela tinha antes da lista, ainda estavam ali. De alguma forma a experiência havia pouco atingido o exterior da moça. Sua vida não mudara por fora. Já por dentro era fácil dizer que a mudança havia sido real e completa.

— Você veio.

A loira olhou para quem havia dito aquilo. Era Angel.

— Pois é.

E houve um silêncio mortal.

— Sabe... Quando a gente se conheceu, eu já sabia tanto sobre você.

— Como assim? – Melissa perguntou.

— Skip. Ele era apaixonado. De certa forma eu já te admirava antes de ver seu rosto.

Melissa corou.

— Eu também era apaixonada por ele. Fico triste por termos escondido nossos sentimentos por tanto tempo.

Angel então parou. Segurou Melissa pelos braços e olhou fundo nos olhos dela.

— Sobre isso...

A garota tremeu.

— Eu não quero mais esconder. Quando Skip estava vivo eu sentia que era errado, e nunca tive coragem de admitir tal hipótese. Era inviável.

Novamente o silêncio.

— Eu... Gosto de você. Não no início. Eu acho que o momento decisivo foi quando nós conversamos sobre Monica.

Melissa não soube o que dizer.

— Olha, Angel... Eu preciso de um tempo. Não sei o que dizer ou pensar sobre tudo isso.

— Você está certa. Tome o tempo que precisar.

E beijou a testa da garota, saindo sem despedir-se.

A loira não sentiu seu coração bater mais forte. Não sentiu as pernas bambas ou o frio na barriga. Se esses eram os indícios de um amor correspondido, não era o caso. Melissa não correspondia aos sentimentos de Angel.

Suspirou e afastou-se do túmulo.

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Melissa ria e divertia-se tomando chá com Bludworth.

— E como vai a universidade, Melissa?

A loira sorriu.

— Bem. Todo mundo parece ter superado as coisas muito bem. Sempre existirão as cicatrizes, mas acho que estamos fazendo o possível pra contornar tudo isso.

O homem balançou a cabeça, concordando.

— Fico feliz em saber disso.

E levantou-se. Seguiu em direção ao fogão e abriu o gás. Melissa viu o exato momento em que uma faísca saiu da tomada próxima à ele e entrou em contato com o ar. A explosão foi imediata, e em segundos Bludworth se transformara em pedaços flamejantes no chão da sala e da cozinha. Melissa tremeu e gritou, desesperada. Ela estava intacta, salva, mas seu melhor amigo estava morto.

...

Abriu os olhos. Estava sentada na sala da casa de Bludworth tomando chá.

— Fico feliz em saber disso. – O homem disse.

Melissa estava com os olhos completamente mareados. Atônita, horrorizada, desesperada. Não conseguia se mover ou dizer uma palavra. Bludworth não pareceu perceber e seguiu em direção à cozinha. Abriu o botão do fogão.

— Não!

Era tarde demais. Era tarde demais?


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Obituário


Rosaline “Roxy” Rosenbaum

Eric Martin Jones

Naomi Debra Leach

Manik “Pepper” Baskhar

Luther Boye "Lubo" DePooter

Jamie Walker

Bobby Scott Davies

Charlie “Cub” Healy

Ilona "Cicciliona" Staller

Liam Kasuke Hayata

Anthony "Tony" DuBois

Gretel Ann DuBois

Theodore "Theo" Chevalier

Maria Delgado

Kaleb Kleiner

Mia Kirklin

Teophilus "Trip" Rohrbough

Antonio "Chase" Velasquez

Stephanie "Sherry" Curnow

Cassandra "Cassie" Young

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Notas finais do capítulo

E é isso! Agradeço a todos os que leram e acompanharam a trajetória de Melissa, Alice e cia.! Espero que tenha sido um final que tenha atendido às expectativas. Tentei não fazer algo muito grande ou cheio de pompa, mas um final realista, simples, sem muitas reviravoltas. Por que nem sempre as coisas terminam de uma maneira extremamente alegre, nem extremamente triste. O meio termo é a chave.
E quanto ao cliffhanger da lista em que Heather e Somerset entraram... Não, não pretendo escrever um spin-off com eles. Mas quem sabe, né? XD



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