Disparei pela porta de entrada e tropecei em algo que parava no chão de madeira podre sob a porta, caído no chão ergui os olhos, e sufoquei um grito. Assim como por fora, a casa parecia estar abandonada há anos, mas por dentro era como uma selva, móveis velhos, tábuas soltas, janelas quebradas, tudo tinha sido envolvido por árvores, arbustos e cipós, era como estar na floresta do acampamento, mal entrava luz dentro da casa, e só depois de alguns segundos que eu fui perceber que Tony e Annabeth também estavam envolvidos por folhas e galhos, que pareciam se mover, como se fossem controlados por alguém...

– Percy ! Atrás de você! – Gritou Annabeth com a voz abafada por trás de algumas folhas.

Senti algo segurando meu pé com força, tentei me levantar e correr e então caí de novo, quando notei, estava sendo puxado por um cipó ou a raiz de alguma das inúmeras árvores dentro da casa, eu estava sendo arrastado contra a porta de entrada que agora se encontrava fechada e então eu vi. Em frente a porta uma árvore crescia em questão de segundos, torneando galhos, criando folhas, contorcendo o tronco, não era uma árvore comum, estava chegando aproximadamente dois metros de altura, e criando o formato de um corpo feminino dois galhos na altura do tronco sinuoso representando os braços, e raízes logo abaixo como pernas, eu acompanhava o desenvolvimento com os olhos, jamais tinha visto algo igual, não era como uma ninfa...E então por ultimo o tronco afinou em um pescoço seguido de um rosto com olhos nariz e lábio entalhados em carvalho. Ela me olhava fixamente com uma expressão fria e um sorriso leve de canto de boca, tinha alguns símbolos em volta dos olhos como se alguém havia desenhado com uma faca, ou... Uma espada.

Me sentei de frente para a mulher e em um golpe rompi a raiz que segurava a minha perna e disparei para outro cômodo da casa, assim como esperado a árvore me seguiu, era incrível o modo como ela se movia, suas raízes se dispersavam pelo chão como tentáculos, ela impunha seus braços e troco para frente tentando me envolver com os galhos, fiz meia-volta girando Anaklusmos desferindo um golpe em seu tronco que além de um arranhão não a causou mais nada.

– Bravo semideus – Disse a mulher em tom irônico.

– Quem ou o que é você? – Perguntei me livrando das raízes que agora me envolviam de outra árvore.

– É um espírito da natureza Percy! – Gritou Tony, do outro cômodo da casa.

– Uma dríade que está mais poderosa por provavelmente por se aliar aos titãs – Annabeth complementou.

– Calados filhos de Atena! – Urrou a dríade, movendo os braços como se estivesse ordenando algo.

Aproveitei a distração e corri para os fundos da casa, a floresta era ainda mais densa do lado de trás, ouvi um ruído vindo de um carro velho no mesmo estado que a casa, vidros quebrados, ferrugem, sem pneus e pra variar também estava enrolado em galhos. Parecia incrível, mas tudo o que havia dentro e fora da casa estava dominado por carvalhos.

Me aproximei com cautela, o ruído parecia um choro, Amy, pensei, e então deitada no banco de trás lá estava ela, chorando com uma mordaça de galhos retorcidos na boca, mãos e pés envolvidos pela dríade que a sufocava.

– Olá novamente semideus, essa é sua amiga?

– Não a machuque! – gritei parado do lado de fora do carro

– Se entregue filho de Poseidon e nada irá acontecer a ela!

Hesitei, minha mão suava frio fazendo a contracorrente deslizar. Ouvi ruídos atrás de mim, Annie e Tony conseguiram se soltar.

– Fiquem aí ! – Ordenei

Eles param na mesma hora.

– Renda-se herói e sua namoradinha não sofrerá.

Abri a mão deixando a contracorrente cair ao chão, dei um passo a frente.

– Percy! – Annabeth tentou me impedir, mas Tony a segurou.

– Ele sabe o que está fazendo Annie.

– Não ele não sabe – Disse a dríade soltando os braços de Amy e olhando em minha direção, ainda dentro do carro.

Ela estava certa, eu não tinha a menor idéia do que estava fazendo, Amy era minha amiga e era novata se fosse preciso eu me sacrificaria, para salvar sua vida. Dei mais um passo.

– Venha herói.

Pude ver Annabeth chorando e escondendo o rosto nos braços de Tony que também desviava os olhos da cena, eu pude ver todas as minhas missões se passando pela minha cabeça em câmera lenta, todos os amigos que não tive a chance de salvar, todos os meus momentos com a Annabeth, agora eu tenho a chance jamais conseguiria viver comigo mesmo, se alguma coisa acontecesse com Amy e eu não tivesse feito nada.

A dríade estava sorrindo de braços abertos, Amy estava chorando e levava a mão ao bolso, não fazia idéia do que ela estava fazendo, ela tirou algo branco do bolso, um objeto pequeno não pude identificar, dei mais um passo, ela se esticou pro branco da frente a dríade nem notou, Amy ainda tinha seus pés presos e então, seu olhar queria me dizer alguma coisa, então eu li seus lábios dizendo “ Adeus Percy “ , ela moveu o dedo sobre o objeto criando uma pequena chama...Um isqueiro.

Tentei correr e impedir Amy, mas não adiantou, o estrondo ecoou pela floresta, me joguei ao chão assim como Tony e Annabeth o fogo subiu imediatamente pude ouvir o grito da dríade, peças enferrujadas do carro voavam por toda a parte.

– Amy ! – Gritei

– Percy, temos que sair daqui! – Gritou Annabeth em meio ao som do crepitar do fogo.

Tentei ir atrás de Amy, Tony tentou me segurar, eu o empurrei com força, e ele caiu ao chão, não sabia o que estava fazendo. O fogo estava tomando a casa, graças a maldição de Aquiles eu era resistente ao fogo, entrei no carro, peguei Amy no colo, estava muito quente, ela estava com queimaduras pelo corpo, e desacordada, a tirei do carro e corri para a rodovia seguindo Tony e Annabeth.

Chegando a rodovia deitei Amy na grama e sentei sem fôlego.

– Você quer me matar?! – Gritou Annabeth me dando um soco seguido de um beijo- Nunca mais faça isso cabeça de alga.

– Percy, ela vai ficar bem? – Perguntou Tony se ajoelhando ao lado de Amy.

– Não sei, ela está desacordada, talvez um pouco de Néctar...

– Percy...olhe! – Disse Annabeth impressionada.

E com motivos, não sei se era pelo fato de eu estar cansado e tonto, e quase derretendo mas eu pude jurar que Amy estava brilhando, digo, literalmente brilhando, havia uma luz dourada em volta do seu corpo, como uma aura. Ela abriu os olhos, parecia muito fraca.

– Amy você está... – Disse incrédulo.

– Me...desculpa Percy – Sussurrou Amy – Eu...eu..não queria, mas... ele me obrigou.. e...

– Do que você está falando Amy? Não deve pedir desculpas, você é uma heroína – Disse com os olhos cheios de lágrima.

– Sou uma traidora Percy...me desculpa eu fui...obrigada.

– Do que está falando Amy, obrigada a que? – Annabeth perguntou.

– Meu pai...ele me obrigou a ir ao...acampamento. – Amy dizia com lágrimas nos olhos e segurando a minha mão.

– Mas você disse que era filha de uma deusa - Eu disse segurando a sua mão - Só não sabia qual, mas era uma deusa.

– Percy me desculpe... eu não queria mentir...- Amy não tinha forças para falar, estava ficando cada vez menos brilhante – Meu pai... é... Oceanus.

Senti um arrepio na espinha que me fez congelar, eu não podia acreditar, ficamos em silencio, só se podia ouvir os soluços de Amy, que apertava a minha mão cada vez mais forte.

– Percy me...desculpe...você é um herói, não precisará mais derrotar meu pai...

– Sim eu vou precisar, Oceanus está ficando mais forte e...

– Percy não ! Eu estava ficando fraca quando saímos do acampamento, eu senti, se eu fico fraca é por que meu pai está fraco, e agora eu estou brilhando quer dizer que... Alguém já cuidou do meu pai por você.

– Como?! Ninguém mais sabia quem seria capaz de derrotar um titã?

– Isso não importa agora...obrigado Percy...você teria se sacrificado por mim...– Amy dizia e sua voz ia sumindo – Você é um herói...

Abaixei a cabeça, não pude deixar de chorar.

– Annabeth, Percy te ama, eu sinto isso, me desculpa se eu...

– Tudo bem Amy – Annabeth interrompeu - você é uma heroína.

– E Tony, você será um grande herói, assim como Percy – Amy conseguiu sorrir, Tony também estava chorando.

A ultima lágrima deslizou sobre seu rosto, e com um sorriso Amy fechou os olhos e então seu brilho acendeu mais intenso, desviei o rosto e quando voltei a olhar Amy não estava mais lá. Annabeth me abraçou.

– Percy... Você sabe, como eu te disse... ela irá para o Esílio.

– Eu não queria atrapalhar ou soar desconfiado...mas não sabemos se Ocenus está realmente morto – Disse Tony - Acho que deveríamos conferir

– Você está certo, vamos para a estátua da liberdade- Confirmei